Mais que amigos - Um Amor em NY escrita por Lucena
Quase uma hora depois, meu pai sai do quarto.
̶ Tá tudo bem, pai?
̶ Sim, tudo resolvido. Sua irmã vai querer falar com você, mas agora ela quer ficar um pouco sozinha.
̶ Ok.
A campainha tocou e meu pai foi atender.
̶ Ricardo!
Meu coração disparou. Ricardo não me avisou que viria em casa, ou será que avisou e eu acabei esquecendo? Não duvido disso ter acontecido.
̶ Mark! Como vai?
Ricardo abraçou meu pai.
̶ Muito bem, e você?
̶ Tudo certo.
Ele me olhou e veio em minha direção.
̶ Oi Emma.
Ele me deu um beijo. Não foi um beijo qualquer, rápido, foi um dos beijos mais intensos e longos que já aconteceu entre nós. Eu fiquei sem fôlego.
̶ Senti saudades. ̶ Ele encostou a testa na minha, e ficou me olhando, depois me deu um selinho.
̶ É, eu percebi.
Ele riu.
Quando olhei para o meu pai, o vi surpreso, mas divertindo-se. Me senti envergonhada. Ricardo nunca tinha me beijado daquele jeito na frente dele. Nós sabíamos que o meu pai era muito conservador, e não queríamos criar nenhuma situação desagradável entre nós.
̶ Você fica pro jantar?
̶ Claro Mark! Isso se não for incômodo.
̶ De maneira alguma. Eu vou avisar à Clara. Com licença.
Meu pai nos deixou a sós. Ele sabia que eu e Ricardo tínhamos muito o que conversar. Eu também sabia disso, mas não sabia bem como começar aquela conversa.
̶ Como foi a viajem?
̶ Foi tranquila. Nenhum contratempo.
Nós ficamos em silêncio.
̶̶ Você mudou alguma coisa?
̶ Como assim?
̶ O cabelo, não sei...
̶ Hã, não. Está como antes.
̶ Hum. Deve ser pelo tempo que fiquei sem te ver. Deus, como eu senti sua falta!
Ele me puxou e me abraçou forte, depois me deu outro beijo profundo. Eu comecei a achar estranho, ele podia ser carinhoso e tudo mais, mas aquele não era o comportamento dele. Deve ser carência, ou sei lá, saudade, como ele mesmo disse. Mas e se não for? Será possível que ele tenha mudado tanto em tão pouco tempo? E logo agora que eu vou viajar?!
̶ Você me disse que queria conversar.
̶ É, mas nós podemos deixar pra depois.
̶ Ok.
̶ Vamos ver se o jantar está pronto?
̶ Ah, sim! Eu estou faminto!
...
Sentados à mesa, a conversa inicial foi sobre a viajem de Ricardo. Ele contou como foi a convenção no Ceará, e sobre as cidades que visitou.
̶ Você deve ter se divertido muito lá!
Annabella estava muito mais solta, depois da conversa com o nosso pai.
̶ Não muito. A convenção durava o dia todo. O tempo que restava eu tirava pra descansar, rever algumas anotações, essas coisas.
̶ Mas e à noite, o que você fazia? ̶ Anna continuou.
̶ Eu saí algumas vezes, mas voltada logo pro hotel. Eu não sei, mas acho que perdi o gosto pela coisa. Quando se é solteiro isso é bom, mas quando se tem alguém,... ̶ Ele me olhou. ̶ ... isso não faz muito sentido.
̶ Nossa! ̶ Anna estava claramente surpresa. Parece que ela realmente acreditava que Ricardo não gostava de mim. Acho que agora ela percebeu que estava errada.
̶ Ricardo, você sabia que nós vamos pra Nova York?
Meu sangue gelou ao ouvir o que Leo disse. Acho que transpareci algo, pois Anna me olhou, e logo em seguida complementou:
̶ É verdade, nós vamos no natal.
Ufa! Por ora, eu tinha escapado! Fiquei surpresa pela ajuda de Anna. Ela teve a chance de abalar a minha relação com Ricardo, e tenho certeza que se ela e nosso pai não tivessem se resolvido, ela o teria feito. Precisava agradecê-la depois.
̶ Isso é ótimo! Eu fui lá em um natal, alguns anos atrás. A cidade fica maravilhosa.
Ricardo pareceu não perceber a tensão que se desenrolou entre nós com o assunto. Meu pai queria acalmar o meu coração e mudou logo de assunto.
̶ A viajem foi tranquila, Ricardo?
̶ Sim, Mark! Mas eu estava muito ansioso pra chegar, então, ne, consegui descansar.
̶ Ele estava com saudades da Emma, pai!
Todos rimos quando Leo disse isso.
̶ É, eu estava.
...
̶ Então, você parece um pouco tensa Emma. Aconteceu alguma coisa?
Nós estávamos no escritório do meu pai. Eu tinha repassado, durante o jantar, o que eu queria conversar com Ricardo.
̶ Aconteceu.
̶ O quê?
̶ Eu vou pra Nova Iorque.
Ele pareceu achar engraçado.
̶ Eu sei, Emma.
̶ Sabe? Mas, como...
̶ O Leo disse isso no jantar. Você esqueceu?
̶ Ah, foi. Ele disse. Mas não foi isso que eu quis dizer...
Eu fiquei em silêncio, sem saber como continuar.
̶ E então?
Ele estava me olhando, esperando que eu continuasse.
̶ Ricardo, eu não vou pra Nova Iorque no Natal. Eu vou no próximo mês.
Ele pareceu confuso.
̶ Eu não sabia que as suas férias já estavam próximas.
̶ Não são férias. Eu vou à trabalho.
̶ Ah, então você vai fazer uma viajem de negócios. Isso é bom! Eu só espero que você não fique lá por muito tempo. Já ficamos separados demais, você não acha?
Ele veio em minha direção, me deu um pequeno beijo e me abraçou.
̶ Ricardo, eu vou à trabalho, mas não vai ser uma viajem curta. Eu vou ficar por alguns meses. Eu vou morar lá.
̶ Como é?
Senti um frio na barriga com aquela pergunta.
̶ Recebi uma proposta do meu chefe. Ele me indicou para uma experiência na sede do banco, em Nova Iorque.
̶ Quando foi isso?
̶ Há duas semanas.
̶ E você só me conta agora?
̶ Ah, eu estava esperando você voltar. Não achei justo te contar por telefone.
̶ Justo? Você acha que foi justo decidir algo tão importante como isso sem consultar seu namorado?
̶ Eu não tive como recusar...
̶ Me diz uma coisa, Emma. Você, em algum momento pensou em mim? Em nós? Você lembrou que tem um namorado?
̶ Aonde você quer chegar com isso?
Ele estava decepcionado, eu pude ver em seus olhos. Acho que ele sabia a resposta.
̶ Onde eu quero chegar? O que eu significo pra você Emma?
̶ Ricardo, você é meu namorado.
̶ Eu sou seu namorado. Mas o que eu significo pra você? Eu sou um passatempo?
̶ O quê? Não! Nós namoramos há anos! Você não pode achar que não significa nada pra mim!
̶ E eu significo, Emma?
O tom de voz dele estava alterado. Se aumentasse mais um pouco, ele estaria gritando.
̶ Você está distorcendo as coisas, Ricardo.
Ele parou, ficou me olhando por alguns segundos.
̶ Você me ama?
̶ Como?
̶ Eu perguntei se você me ama, merda!
Naquele momento eu não reconheci o homem que estava na minha frente.
̶ Amo. Nós estamos juntos a muito tempo, como poderia não amar você?
Ele não pareceu convencido. Na verdade nem mesmo eu sabia se estava convencida da minha resposta.
̶ Eu não posso perder você Anna!
̶ Você não vai! Vão ser só alguns meses...
̶ Você sabe o que pode acontecer durante esse tempo? Lá você vai conviver com outras pessoas. Vai ter um novo círculo social, novos amigos, quem sabe até conhecer outra pessoa!
̶ Ricardo!
̶ As coisas mudam Emma... As pessoas mudam!
Eu tinha a prova daquilo bem na minha frente. O namorado que eu tinha não iria reagir dessa forma. O que aconteceu com Ricardo durante essa viajem?
̶ Você não confia em mim. E se você não confia, eu não vejo porque...
̶ Casa comigo Emma!
̶ O quê?
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