My Idol escrita por Nathalie Chan


Capítulo 1
My Idol


Notas iniciais do capítulo

Esta é uma história que se passa paralelamente a Encanto Grego e suas demais sides, em um momento um pouco anterior à história principal. Espero que apreciem! ♥



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Querido diário, eu quero lhe confidenciar quem é o meu ídolo... Ok! Não é nenhum grande segredo, mas sabe como é... Não tenho amigos para contar nem tenho coragem de contar essa história à minha mãe, por mais que ela seja muito boa comigo. E, sim, eu devo ser muito boba mesmo, digo, por escrever assim como se você fosse gente... Como se fosse me entender. Mas, voltando ao assunto... Como ele pode ser tão lindo? E, principalmente, como ele não se dá conta disso? Dizem que Deus não dá asas à cobra, mas eu adoraria ter umas asinhas para poder voar até a janela do quarto dele para espiá-lo! É que parece soar um sino na minha cabeça quando ele troca de roupa no vestiário... E o tempo passa tão rápido que eu nem consigo apreciar direito aquele corpo musculoso e másculo... E ele ainda me confidenciou que gosta de dormir sem roupa. Por que, então, não me convidar para dormir na casa dele? Não que eu já não tivesse tentado me autoconvidar, já que ele mesmo não me convida, só que ele diz que o pai dele é meio careta e que ia me estranhar. Ah, eu sei que eu sou estranha, mas é para tanto? Será que se eu vestisse roupas de menino ele olharia para mim de outro jeito?

A propósito, diário, meu nome é Adam Palmer de Verônica, por mais que goste de ser chamada simplesmente de Verônica, assim no feminino mesmo. Acontece que quando eu usava roupas de menino, todos me confundiam com menina, porque tenho os cabelos longos e bem cuidados; porém, agora que passei a usar roupas de menina, todos me estranham. Deixa eu te explicar melhor... Não é que eu queira cortar a minha masculinidade fora, não me entenda mal! Mas, eu não me sinto nem menino nem menina, entendeu? Aliás, você já ouviu falar em androginia? Claro que não, você é um diário! Dããã... (e eu sou meio louca, todos dizem isso). Resumindo, é que eu me sinto bem melhor usando roupas de garotas. Não gosto de calças, pois elas me apertam demais. Falando nisso, tive de ir ao psicólogo e até ao psiquiatra quando disse à minha mãe que eu não me achava um garoto. Foi o primeiro passo. Depois, e com muita insistência, eu consegui que a escola me aceitasse como eu sou, ou que a maioria das pessoas fizesse vista grossa, pelo menos! Mesmo assim, muitos dos meus colegas ainda me maltratam, sem falar que, em casa, meu pai me ignora, ou finge que nem me conhece por não querer uma filha purpurinada, como ele mesmo diz.

Mas, vamos voltar ao assunto principal, que é o meu ídolo... Era mais um dia daqueles cheios de tédio, quando eu soube que um garoto brigão de outra turma tinha ido parar na minha sala. Claro que eu nem pensei em chegar perto dele, pois disseram que ele era bem forte e eu não queria apanhar! Porém, a professora mandou ele se sentar bem do meu lado e eu não consegui deixar de olhar para ele, não depois de notar aquele corpo lindo e moreno, longe de ser aguado como o corpo dos britânicos, ou de prestar mais atenção naqueles cabelos espetados e nos olhos azuis bem escuros que ele tinha... E que cara de bad boy era aquela? Até me perguntei, na hora, se não tinha morrido e ido parar no céu, porque só isso explicaria aquela perfeição toda. Então, ele olhou para mim, e eu devia estar com aquela cara de tonta, porque não conseguia tirar os olhos dele, tanto que ele começou a rir de mim. Eu, obviamente, fiz um bico, contrariada como estava, mas ele continuou me olhando de rabo de olho e com um sorriso de lado... Estava me paquerando sim!

E eu fiquei tão abobada sem saber o que fazer no intervalo, que eu resolvi correr. E corri muito mesmo! Era claro que ele ainda não tinha percebido que eu era um garoto vestido num uniforme feminino, então, eu provavelmente ia apanhar quando ele descobrisse... Foi por isso que corri, mais ainda quando vi que ele tinha corrido atrás de mim. O meu azar (ou sorte?) foi dar de cara com uns malucos que sempre me batiam quando achavam uma oportunidade. Fui logo sendo puxada pelos cabelos por um deles, observando outro se aproximar para me bater.

E eu fechei os olhos, esperando por um soco que, felizmente, não veio... Por quê? Porque quando abri os olhos de novo, vi o novato socando o cara que queria me bater, o que fez com que o que estava me segurando fugisse. Nessa hora, eu caí ajoelhada no chão, chocada como estava, vendo o novato sossegar só depois de dar uma voadora no garoto que tinha tentado escapar ileso. Comecei a tremer de medo, mais assustada ainda, pensando nas coisas que ele faria comigo quando descobrisse o meu segredinho. Eu já tinha os olhos cheios de lágrimas e fiz a melhor cara de piedade que eu podia, depois que o vi se aproximar e... Estender a mão para me ajudar a levantar? Como?

Segurei a mão dele firmemente e me levantei, sentindo os joelhos doídos porque eu os havia ralado no chão; as pernas estavam bambas, completamente bambas. Foi então que ele me segurou com mais força e me pegou no colo, segurando-me como se eu fosse uma princesa. Aí, sim, eu senti um aperto grande no peito por não conseguir sequer desfazer aquele mal-entendido. Alheio à verdade, ele andou assim comigo até a enfermaria, os colegas assustados em verem o novato me carregando daquele jeito. Fui deitada com cuidado na maca e ele ficou de braços cruzados. Parecia bem nervoso. Somente depois de a enfermeira sair foi que eu juntei coragem para dizer a ele a verdade sobre mim, e, imaginava eu, apanhar mais. Acabei surpresa, pois ele foi mais rápido do que eu, no fim.

xxx

- Manigoldo.

- Hum?

- Meu nome é Manigoldo... E o seu?

- Verônica. – Respondi rápida, ainda tomada pelo medo.

- Mas que covardia é essa? Nunca vi garotos se juntarem para bater em uma garota! – Ele parecia bem irritado com a situação.

- Bem... É que eu... Como eu posso dizer? Hum... Eu não sou... Uma garota.

- Anh?

- Eu me visto assim, como uma garota, mas... Na verdade, eu sou um garoto.

- Garoto? Não é possível! – Ele arregalou os olhos, chegando mais perto. Sem cerimônia, levou a mão ao meu queixo, levantando e olhando meio desconfiado, com os olhos estreitos. Puxou o lençol que me cobria, do nada. – Meu pai disse que é falta de educação, mas que seja...

- Ah! – Um pequeno grito escapou por meus lábios quando senti a mão dele segurar a minha saia e levantá-la, tudo sem um pingo de receio. Observei a cara de assustado que ele fez ao constatar o que eu já havia dito. Tudo bem que eu vestia uma calcinha, confortável até, mas é claro que tinha um volume ali, mesmo que não fosse exatamente grande. E ele simplesmente largou minha saia, se virando de costas de imediato.

- Seu frocio, você me enganou!

- Seu o quê? – Perguntei, confusa, no que ele saiu andando e eu me levantei para ir atrás dele. Como os joelhos ainda doíam, foi inevitável não resmungar pela dor que senti, tanto que ele voltou atrás e me ajudou a voltar para cima da maca.

- Idiota! Seus joelhos não estão doendo?

- Um pouco...

- Então...

- Isso não é nada! Já apanhei muito mais de outras vezes, então, vou voltar para a aula. Obrigada por me salvar... É que ninguém nunca fez isso por mim antes. – Comentei.

- Você é gay, não é? É por isso que eles te batem?

- Ah! Nem eu sei. Quer dizer... Eu gosto de garotos, sim, gosto mesmo. Mas, acho que eles fazem isso mais por causa das roupas... Nunca perguntei o motivo e eles nunca disseram também.

- Idiotas! – Ele resmungou, estalando os lábios em um (lindo) tique nervoso.

xxx

E lá estava eu perdidamente apaixonada pelo Manigoldo, aquele novato que, além de bater nos garotos e me salvar de mais uma surra, os chamou de idiotas. E eu me sentia quase que como uma princesa mesmo, sendo socorrida pelo príncipe encantado. Só que ele com certeza me esfolaria viva se eu dissesse alguma coisa assim. Fazia o tipo meio bruto e durão, sabe? Mas, mesmo sendo daquele jeito, ele não reclamou quando passei a segui-lo por todos os lugares, e, desde então, eu nunca mais apanhei na escola e me apaixonei ainda mais. Ou melhor, ele não reclamava da minha perseguição implacável sobre ele, mas resmungava bastante por causa da minha maquiagem, de vez em quando me perguntando o motivo de eu não virar um homem de verdade em vez de me vestir como uma menina. Mas, a essa altura, eu já tinha percebido que ele dizia isso porque se preocupava comigo, por mais que ele não demonstrasse essas coisas.

xxx

Manigoldo e Verônica matavam aula no alto do prédio da escola. Os dois tinham as costas coladas uma na outra para se ampararem enquanto observavam a vista lá de cima. O italiano, primeiramente, tirou um baralho do bolso, entregando algumas cartas ao inglês para jogarem. Depois, respirou fundo ao ver que suas cartas não eram nada boas. Até chegou a pensar em roubar alguma carta no montinho, mas a voz do outro o interrompeu.

- Sabe Mani, eu realmente acho que você é gay.

- O quê? Essa conversa de novo? – Manigoldo se virou de lado, fazendo com que Verônica batesse com as costas no chão.

- Ai, seu bruto... Mas é que eu tenho quase certeza disso! – E fez um bico, levando uma das mãos onde agora doía. – E qual o problema nisso? Eu não vou te olhar diferente se você for... E você mesmo disse que não é preconceituoso.

- Eu não sou preconceituoso, mas também não sou gay! Garotos são todos feios, só a mamma é bonita! Mas a mamma não conta porque é minha mamma e eu tenho todo o direito de achar ela a mais linda do mundo...

- Mentiroso! Lembro muito bem de você ter me paquerado quando nos conhecemos... E não venha dizer que não! – Verônica sorriu de lado, vitorioso, cruzando os braços enquanto observava Manigoldo desviar o olhar do dele.

- É que... Seu frocio! Eu achei que você era uma garota... Assim, não conta!

- Então quer dizer você me acha bem bonita? Por que não fica comigo?

- Porque você é garoto! E ainda anda vestido de drag queen!

- Pois eu já notei que você dá uma espiadinha nas minhas pernas de vez em quando. – Um sorriso malicioso se formou nos lábios de Verônica, no que Manigoldo estalou os lábios, irritado.

- Porque às vezes me esqueço de que você é um garoto, droga! Quem manda andar de saia e deixar essas pernas lisas? Fica parecendo uma garota mesmo, seu cosplayer dos infernos!

- Fica resmungando aí e procurando desculpinhas, mas tem umas garotas que te dão bola e você as ignora completamente... Não fica porque não quer.

- E o que você tem a ver com isso, trava louca? Eu fico com quem eu quiser! – Manigoldo já estava vermelho, completamente irritado com o amigo.

- Eu já disse várias vezes que gosto de você, mas você nunca me leva a sério.

- Conta outra. – Manigoldo revirou os olhos, cansado das brincadeiras do amigo.

- Eu gosto mesmo de você.

- Mas que merda! Cala essa sua boca!

- Pelo menos me ajuda a levantar, seu bruto! Você que me derrubou...

Verônica fez sua melhor cara pedinte, no intento de comover o outro, o que deu muito certo, já que Manigoldo se aproximou e abaixou para ajudá-lo. Mal sabia o jovem italiano que aquela cena não passava de uma armação do colega, que aproveitou do momento de sua distração para lhe roubar um beijo. Surpreso, afastou-se imediatamente, limpando a boca com a manga da blusa.

- Seu retardado, está me sujando todo com esse seu batom de drag queen! Não tinha um menos escandaloso não? Tinha que ser azul escuro?

O loiro arregalou os olhos, mas não pelas palavras duras que ouviu, muito pelo contrário... Havia um brilho de esperança neles.

- Você quer dizer que se eu tirar todo o batom, você me beija? – E Verônica quase deu um pulo de alegria ao ver o outro suspirar longamente, dando-se por vencido.

- Só dessa vez, já que você está tão obcecado... Mas, não quer dizer que eu goste de garotos! – O italiano suspirou, encarando os olhos lilases do amigo, que tirava todo o batom com a manga da própria blusa.

- Eu já disse que não sou um... – Verônica ia resmungar quando foi envolvido pelos braços fortes de Manigoldo, que o abraçou e atacou seus lábios em um beijo afoito. E beijaram-se ardentemente, sem darem sinais de interromperem aquele contato mesmo quando o ar lhes começou a faltar... Verônica sentindo-se a própria protagonista de um filme romântico enquanto Manigoldo parecia ter realmente se esquecido de que beijava outro garoto. Seria mesmo?

- Pronto! Agora, você já pode parar com essa besteira de ficar me agarrando o tempo todo... – Manigoldo apressou-se em interromper os devaneios do amigo, que ainda permanecia extasiado pelo beijo.

- Não, não.... eu quero mais! – O loiro resmungou, impressionado com o preparo físico do italiano que sequer ofegava, ao contrário dele, que tinha de respirar profundamente para se refazer daquele “choque”.

- Desgruda, Verônica! – Manigoldo estalou os lábios em um tique nervoso e se afastou um pouco do outro, movendo um dos ombros para trás, depois o outro, alongando-se.

- Mani, como você é cruel! - O loiro cruzou os braços, inconformado com a aparente frieza que o amigo apresentava. Definitivamente, ele devia ser mesmo um bad boy. Pelo menos, tinha talento para isso.

- Eu te dou um beijo e você diz que eu sou cruel? Cínico!

- Eu? Você me deu esperanças, seu mau caráter!

- Esperanças? Não confunda as coisas. E pare de gritar como uma garota grudenta!

- Eu já disse que não sou garoto nem garota, sou eu mesma e ponto!

- Lá vem você com essa história de novo... Saco! Não vai virar homem nunca?

- Se eu virasse, você me beijaria de novo? Namoraria comigo?

- Hã? – Manigoldo franziu o cenho, incrédulo com a pergunta do amigo. – Tá ficando louco? Eu já disse que não gosto de garotos!

- Mas gosta de mim, não gosta?

Verônica estreitou os olhos enquanto observava Manigoldo massagear as têmporas, estalando os lábios, mais uma vez, e suspirando em seguida. O italiano se levantou e pegou o montinho de cartas espalhados pelo chão, colocando-o sobre a saia do amigo.

- Você é meu melhor amigo, então, é claro que eu gosto de você. – E deu de ombros, antes que o outro pudesse voltar a questioná-lo, deixando-o completamente no vácuo.

- Mani, volte aqui! Você não me respondeu!

Verônica assistiu, contrariado, ao outro ir embora sem maiores explicações, acenando um “tchau” sem ao menos se virar de frente para ele. Manigoldo era sempre assim... Esquivo, rebelde, turrão, bruto... Mas, aos olhos do inglês, simplesmente maravilhoso. Era impossível ficar bravo com ele por muito tempo. Por vezes, tentava ignorá-lo, porém, não conseguia resistir ao olhar intimidador e exigente que o outro lhe dava quando era deliberadamente ignorado. Sabia que a infância dele não tinha sido fácil, e que, talvez por isso, ele sempre agisse com as pessoas de forma tão arisca.

E, por detrás de toda aquela casca de durão, Verônica fingia não conhecer os aspectos mais sensíveis do outro. Fingia não perceber que o italiano se deleitava quando suas mãos tocavam o piano da escola em melodias clássicas, tal como com os carinhos que fazia naqueles cabelos espetados, mesmo que ouvisse muitos resmungos do outro, que dizia que ele estava tirando o gel de seu cabelo. Enfim... Manigoldo jamais admitiria apreciar qualquer uma dessas coisas.

O loiro suspirou, guardando as cartas que o outro tinha largado sobre seu colo. Teve vontade de picotá-las para depois jogá-las em pedaços bem pequenos naqueles cabelos espetados, tudo para somente despertar a ira daquele italianinho medito a enfezado. Contudo, contentou-se em sorrir sarcasticamente, satisfeito com alguma piadinha interna. Tinha de admitir que, apesar das muitas maldades que se passavam por sua cabeça, ele jamais teria coragem de colocá-las em prática. Sim! Tudo porque o alvo de todas as travessuras pensadas era justamente... O seu ídolo.


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Notas finais do capítulo

Gostou?

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Muito obrigada,

Nathalie Chan