- Recomeçando escrita por HungerGames


Capítulo 21
Capítulo 21




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O mês parece passar rápido demais, mas depois do que aconteceu as coisas ficaram mais fáceis, ainda era difícil andar pela rua e encontrar Gale, era ainda mais estranho ver ele e Katniss se falando mas como eu prometi eu realmente me esforcei e tive que prender o ciúme cada vez que isso acontecia, até que na semana passada Gale foi convocado para voltar para o 2 e alguns outros distritos, tenho que confessar que essa notícia foi recebida com um sorriso no rosto, é muito mais fácil lhe dar com ele longe do que aqui tão próximo da Katniss, o único que realmente está triste com a notícia é Rory, ele já estava animado com a presença do irmão de novo, sinto por ele mas não posso dizer que esteja triste por isso, mas também sei que ele voltará, apenas estou aproveitando enquanto ele não volta, as coisas parecem bem melhores assim, cada coisa no seu devido lugar.
Amanhã é meu aniversário e esse foi o assunto do dia inteiro.
– É claro que vai ter festa! - Delly afirma assim que os garotos dizem pra ela que eu não quero festa, eu reviro os olhos e tiro o avental, já estamos fechando a padaria e todos estão na cozinha tentando me convencer.
– O aniversário é meu! E eu não quero festa - eu repito pela milésima vez, não é que eu odeie festas mas eu pensei em tirar o dia para mim e para Katniss, com a padaria cheia eu tenho passado o dia inteiro por aqui e ela está cada dia mais envolvida com os projetos sociais que agora além da Distribuição estão começando a organizar um projeto para as crianças, já que a maioria apenas estuda na escola e não tem nenhuma outra opção de estudo ou preparação para outra coisa que não seja trabalhar nas minas, e a maioria delas não vê esse como o trabalho dos seus sonhos, Katniss acabou se envolvendo nisso também, por enquanto são só reuniões mas já é o suficiente para afastá-la de casa durante o dia e a gente só se encontrar a noite.
– Vocês já falaram com a Katniss? - Delly pergunta me dando as costas e falando com os garotos, eu começo a rir.
– É sério? - eu pergunto achando graça – Katniss odeia festas mais do que eu! É mais fácil vocês me convencerem - eu aviso e é verdade Katniss odeia festas, na verdade tudo que reúna muitas pessoas não é o seu pensamento de programa perfeito.
– Ah Peeta! Por favor... - Delly pede juntando as mãos quase implorando, eu nego e me viro pra entrar no escritório.
– A gente faz tudo! Você só precisa estar lá e sorrir! - Benny insiste vindo atrás de mim, todos o seguem para dentro do escritório.
– Nunca tem festas por aqui! Vai ser legal! - Delly pede fazendo uma cara triste.
– Ia ser bem legal mesmo! - Rory também entra na onda, eu me jogo sentado na cadeira.
– Não precisa ser uma festa grande - até Philip insiste, eu passo a mão no rosto respirando fundo, eles não vão desistir, talvez eu possa deixar meus planos com Katniss pra depois.
– Se eu concordar vocês param de me encher? - eu pergunto e Delly já pula comemorando – Eu ainda não aceitei! - eu aviso e ela me olha ansiosa – Ok! Façam o que quiserem! - eu falo me dando por vencido, eles comemoram e saem já combinando o que farão, eu continuo sentado rindo enquanto ouço as vozes deles discutindo o que farão.
– A Katniss não vai passar aqui? - Delly pergunta voltando ao escritório, eu olho pro relógio e já são cinco horas, ela deveria ter passado aqui, eu estranho um pouco mais como hoje é dia da distribuição de novo ela deve ter se enrolado com alguma coisa ou talvez esteja cansada demais.
– Hoje é dia da Distribuição! Ela deve ter se atrasado! - eu falo convencido disso.
– Nós precisávamos da opinião dela - ela fala ansiosa.
– Não acho que seja uma boa ideia, essa coisa de festa não é muito dela! - eu aviso sem querer forçar Katniss a fazer isso, Delly concorda um pouco desanimada mas sai do escritório – Delly! - eu chamo por ela e ela volta – Nada demais, por favor, eu não quero uma festa! Só uma coisa rápida entre a gente! – eu peço e ela concorda, mas entra no escritório e fecha a porta como se quisesse esconder algo.
– Algum problema se a Grace for? - ela pergunta me examinando, depois da nossa conversa ela não tem aparecido na padaria como ela costumava aparecer e quando aparece é no mesmo horário que Katniss está, os abraços e beijos inesperados também pararam, mas ainda assim ela é a Grace e continua tão imprevisível como antes, porém eu não posso negar que eu goste dela, mesmo com esse jeito que ela tem, sem contar que ela e Benny já estão quase se acertando, Katniss já não parece tão incomodada com ela como antes.
– Sem problemas! - eu confirmo e ela sorri já saindo de novo.
Eles voltam a falar alto, eu termino de organizar as coisas na mesa e saio, tudo já está organizado e nós saímos da padaria.
– Então amanhã as cinco! - Delly avisa me olhando animada.
– Eu tenho outra escolha? - eu pergunto me virando pra eles.
– Não! - Benny responde dando de ombros.
– Então, as cinco! - eu confirmo e eles riem.
– Ei! Ainda é cedo! - a voz do outro lado da rua grita na nossa direção, nos viramos e Grace atravessa a rua se aproximando de nós.
– Adivinha...Amanhã é aniversário do Peeta - Rory anuncia assim que ela se aproxima.
– Festa! - ela comemora.
– Sem tanta animação! - eu peço– Eu estou sendo obrigado - eu aviso e ela ri.
– Obrigado ou não, festa é festa - ela afirma sem se abalar.
– É só uma coisa rápida! - eu falo e começo a andar na direção de casa eles continuam lá parados.
– Eu posso ir né? - ela grita enquanto eu me afasto, eu me viro parando no caminho.
– Adiantaria te proibir? - eu pergunto e ela ri.
– Nem um pouco - ela confessa, eu rio e volto a andar, coloco as mãos no bolso e sigo o caminho, já passa das cinco, a tarde já começa a cair, eu olho as crianças correndo pelo caminho, as pessoas que passam sorrindo e cada dia que passa a imagem daquele Distrito pobre e acabado fica ainda mais distante da nossa realidade, em alguns minutos chego a Aldeia, Haymitch também vem entrando enquanto carrega uma sacola.
– Compras? - eu me surpreendo.
– Apenas o necessário! - ele responde, levanta a sacola e eu vejo duas garrafas.
– Por que será que isso não me surpreende? - eu falo com ironia, ele ri e nós entramos pela Aldeia – Como foi a Distribuição hoje? - eu pergunto curioso, deve ter acabado tarde já que Katniss não passou pela padaria.
– Mesma coisa de sempre, longa e cansativa! - ele resume enquanto nos aproximamos da casa dele.
– Acabou tarde? - eu pergunto naturalmente.
– Não muito - ele responde depois de avaliar a pergunta.
– Ah, antes que eu me esqueça, amanhã o pessoal da padaria vai vir pra cá... Eles devem trazer alguma coisa, então mesmo sabendo que você vai aparecer de qualquer jeito... É as cinco - eu aviso, não poderia deixar ele de fora.
– Pra quê? - ele pergunta confuso, eu rio, eu realmente não esperava que ele fosse se lembrar.
– Só aparece ok? - eu aviso e me afasto.
– Eu não vou levar presente! - ele fala e eu me viro surpreso – Eu tenho uma boa memória - ele pisca e ri, já entrando em casa, eu também estou rindo mas antes preciso tirar a última dúvida.
– Que horas acabou a distribuição? - eu pergunto tentando esclarecer por que Katniss não foi a padaria.
– Antes das quatro! - ele fala e entra fechando a porta na minha cara.
Antes das quatro? Katniss sempre passa na padaria quando acaba e isso geralmente acontece por esse horário, eu achei que as coisas pudessem ter atrasado mas pelo visto foi o mesmo horário de sempre, não entendo por que ela não foi até lá. Eu entro em casa e tudo está calmo, vou até a cozinha, a metade de um bolo salgado está em cima da mesa, eu pego um garfo e experimento um pedaço, o sabor é muito bom, não foi Katniss quem fez, ela já melhorou na cozinha mas não tanto, Greasy deve ter feito, depois do inverno ela retornou ao trabalho, na verdade agora ela cuida da casa do Haymitch, Katniss decidiu que não era necessário mantê-la aqui, ela já está ficando velha e Katniss não acha certo tê-la limpando e lavando tudo enquanto ela não faz nada, claro que não falamos isso pra ela, apenas dissemos que preferíamos que ela cuidasse mais da casa do Haymitch, única coisa que ela ainda faz é o almoço, até por que Haymitch sempre almoça aqui mesmo, eu pego mais um pedaço do bolo e percebo que silêncio ainda está o mesmo, eu subo as escadas correndo, eu passei o dia inteiro sem vê-la e pra mim isso é muito tempo, eu saí ela ainda estava dormindo e agora a tarde já está caindo, eu realmente sinto falta dela.
– Katss?! - eu chamo entrando no quarto, ele está vazio mas o barulho no banheiro me diz que ela está lá, eu me sento na beirada da cama e tiro meus sapatos, me levanto e tiro a camisa também, a porta do banheiro abre – Fiquei te esperando! Você não apareceu...- eu falo indo até ela.
– Eu to um pouco cansada - ela se desculpa e quando eu a olho realmente parece cansada, mas mais do que isso, seus olhos estão levemente vermelhos e inchados.
– Ei, o que foi? - eu pergunto preocupado, minha mão traz seu rosto pra de frente pro meu e ela desvia o olhar.
– Nada! - ela fala como se estivesse segurando algo, meus dedos passam pelo seu rosto e eu encontro seu olhar.
– Você chorou? - eu pergunto mesmo já sabendo a resposta, ela nega mas já posso ver as lágrimas voltando – Por que você chorou? - eu pergunto ignorando sua negativa, ela olha pra cima como se estivesse segurando o choro – Por favor, me fala - eu peço realmente preocupado, Katniss não é de chorar, ela fica com raiva, angustiada, irritada mas chorar é sempre sua última opção, se ela realmente chorou e já está quase chorando de novo é por que alguma coisa grave aconteceu – O que aconteceu? - eu reforço a pergunta e encosto minha testa na dela, então ela começa a chorar, eu me surpreendo com isso, meus braços a envolvem mas ela não corresponde meu abraço, seus braços continuam largados ao lado do corpo e o único movimento que tem é do tremor do seu corpo, eu não sei o que pode ter feito ela ficar assim mas seja lá o que for já tem toda minha preocupação, eu acaricio seus cabelos e beijo sua testa, seu choro diminui e agora ela me abraça de volta, apoia sua cabeça no meu peito e fica em silêncio, eu continuo abraçado nela e acaricio seus cabelos, deixo que ela se acalme e depois de alguns minutos ela se solta de mim, passa as mãos pelo rosto limpando-o.
– Desculpa! - ela fala quase como um sussurro.
– Não tem o que se desculpar - eu garanto passando minha mão pelo seu rosto.
– Eu só tô cansada! Eu vou deitar... - ela avisa respirando fundo – Tem bolo salgado...se o Haymitch ainda deixou alguma coisa - ela fala e se afasta indo pra cama.
– Sim, ele deixou - eu afirmo – Mas você não vai me falar o que aconteceu? - eu pergunto indo até ela que se senta na cama me olhando, eu me sento de frente pra ela e espero ela falar, ela fica por alguns segundos apenas me olhando nos olhos.
– Alguma vez você me odiou? - ela pergunta diretamente e eu a olho confuso – Eu não estou falando dos flashes! Eu to falando de você...Peeta Mellark, meu marido, meu melhor amigo, a única pessoa que eu tenho, alguma vez você se deu conta de quem eu sou? - ela pergunta sem desviar o olhar do meu, eu não entendo sua pergunta.
– O quê? - eu me surpreendo – De onde você tirou isso? - eu pergunto confuso sem saber como ela pode pensar isso– Eu nunca te odiei! Eu ... Eu te amo Katss e eu sei exatamente quem você é! - eu afirmo.
– Eu vou entender se você disser que sim! - ela avisa e eu a corto.
– Olha eu não sei de onde você tirou essas ideias, mas para com isso - eu peço, seguro suas mãos, endireito minha postura e a olho firme – Katss, eu te amo! E eu sei quem você é, você é a mulher da minha vida! - eu esclareço lentamente.
– Eu fiz coisas...- ela começa a falar mas eu a paro.
– Que eram necessárias! - eu completo e ela me olha de um jeito triste– Você fez o que precisava ser feito! E eu te admiro e te amo ainda mais por isso - eu falo e ela me olha surpresa – Seja lá o que você estiver pensando esquece... Passou! - eu garanto e beijo sua testa – Não vale a pena mexer nisso! - eu alerto e encosto minha testa na sua de novo – Eu senti muito, muito a sua falta hoje... - eu falo baixo deixando nossos olhares se encontrarem, ela força um sorriso.
– Eu também senti a sua! - ela afirma mesmo ainda estando abalada, eu aproximo nossas bocas mas espero sua permissão e ela aparece quando ela encosta os lábios no meu, nos beijamos e quando o beijo termina ela sorri, dessa vez o sorriso é sincero embora ainda seja discreto.
– Eu preciso tomar um banho! - eu aviso e me levanto, pego uma roupa limpa e vou pro banheiro, não demoro muito saio de lá apenas com a calça de moletom, depois do inverno congelante o clima tem esquentado um pouco, Katniss já está deitada, isso só mostra que ela ainda está estranha, ela não dorme tão cedo, eu me aproximo e subo na cama.
– Você não vai jantar? - eu pergunto com meu rosto no encaixe entre seu pescoço, sinto-a sorrir, levanto meu rosto esperando sua resposta.
– Eu tô sem fome! - ela responde desanimada.
– Você tem que comer alguma coisa! - eu alerto.
– Eu já comi! - ela garante – E minha cabeça está explodindo! - ela fala com a mão tampando o rosto, eu seguro sua mão e afasto do seu rosto, meu olhar segue cada traço seu, ela leva a mão até meu rosto e seus dedos seguem o contorno dele, passando pelas minhas sobrancelhas e descendo até minha boca, seu olhar também segue esse caminho e então eu aproximo nossas bocas e a beijo, nossos lábios se encaixam perfeitamente, sua mão vai pra minha nuca e seus dedos se entrelaçam no meu cabelo, minha boca escorrega para seu pescoço e meus lábios seguem por sua pele, mas suas mãos vão pro meu ombro me impedindo.
– Peeta não! - ela avisa enquanto se desvia de mim, eu paro e me separo dela, eu a olho confuso – Para! Não! Eu... Realmente tô cansada! Minha cabeça está explodindo! - ela explica enquanto passa as mãos no cabelo e no rosto, eu continuo apenas olhando pra ela que puxa o lençol e se cobre.
– Tudo bem! - eu falo tentando não demonstrar toda minha surpresa e decepção, eu me afasto saindo da cama, eu pego a camisa que tinha por cima da cômoda, apago a luz e saio do quarto, desço as escadas e paro olhando lá pra cima, mesmo depois que nós brigamos Katniss nunca me afastou dela e ela acaba de fazer isso agora, eu ainda não sei o que isso quer dizer, eu visto a camisa que ainda estava segurando e vou até a cozinha mas se eu tinha alguma fome ela desapareceu, por isso eu dou meia volta e saio, caminho até o escritório, entro e me sento, a mesa está uma bagunça, papéis estão espalhados, Katniss com certeza usou o escritório hoje, eu não sei qual a dificuldade que ela tem em guardar as coisas na gaveta, sempre que ela usa o escritório é a mesma coisa, eu junto os papéis, a maioria deles é sobre o novo projeto que eles estão tentando implantar, tem também as folhas onde estão os nomes e endereços das famílias, eu separo tudo e coloco na gaveta que eu já havia separado para isso, depois de tirar os papéis eu vejo que o livro que nós fizemos também estava no meio da bagunça, eu abro o livro na folha onde agora está colada a foto de Annie e o filho do Finnick, eu sorrio olhando pra esse pequeno pedaço deles, os olhos verdes parecem saltar da foto, Finnick estaria muito feliz, ou melhor, ele está feliz, onde quer que ele esteja eu sei que ele está vendo o futuro que, graças a ele também, o seu filho vai poder ter, assim como eu espero que meus filhos também possam ter, mas pra isso Katniss primeiro teria que concordar em tê-los e eu sei que essa ainda é uma tarefa difícil, tudo ainda está muito recente mas eu não desisti e acho que nunca vou desistir dessa vontade, um filho meu e da Katniss seria muito mais do que um sonho realizado, seria a verdadeira definição da felicidade, mas antes disso eu preciso primeiro entender o que está acontecendo com ela hoje, primeiro ela não foi a padaria, eu chego em casa e ela estava chorando e agora ela acaba de me afastar dela na cama, o que mas está me incomodando não é ela ter me afastado e sim o por que ela fez isso, alguma coisa está afetando-a, ela parece angustiada, diferente do que ela estava ontem ou nos outros dias, alguma coisa aconteceu nessa reunião de hoje eu só preciso saber o que foi, eu vejo as horas e ainda é cedo, eu me levanto rápido e saio do escritório, é inútil perguntar pra ela, apenas uma pessoa pode me responder, eu saio de casa e em poucos passos alcanço sua casa, não me preocupo em bater por que a porta sempre está aberta, eu entro e o cheiro de roupa limpa e perfume me surpreende, Greasy deve ter trabalhado duro hoje, eu vou até a sala e ele não está, eu o acho sentado a mesa, a garrafa na sua frente quase vazia.
– Olha quem chegou... - ele anuncia com a voz alta como se tivesse outra pessoa além de nós dois.
– O que aconteceu com o papo de pegar leve? - eu pergunto puxando uma cadeira e me sentando, ele faz uma careta e enche um copo, então ele empurra pra mim – Sem chance! - eu afirmo empurrando o copo pra ele.
– Sem chance! - ele repete fazendo uma voz fina eu balanço a cabeça sem acreditar que esse é o mesmo cara que nos salvou de duas arenas, mesmo o trabalho não tendo sido perfeito, ainda assim é difícil acreditar que esse velho bêbado e fazendo caretas é o mesmo que conseguiu driblar um sistema e tirar dois vencedores dos jogos, ele bebe o copo que me ofereceu, enche de novo e me oferece.
– Eu já disse que não! - eu repito e ele ri.
– Então eu não respondo nada - ele fala dando de ombros.
– Quem disse que eu quero te perguntar alguma coisa? - eu finjo, sabendo que ele vai querer se aproveitar disso, ele ri ainda mais.
– Essa hora você devia estar com sua linda e arrogante esposa mas está aqui na minha casa, então alguma coisa está errada - ele explica sua teoria e da mais um gole no copo, eu não confirmo nada – Nós temos algumas opções aqui: Ou ela é insaciável e você teve que correr, ou, você é insaciável e ela teve que te expulsar, ou, a mais grave de todas, ela não quis nada! - ele fala e eu desvio o olhar dele – Tuchê! Acho que já temos um vencedor - ele fala vitorioso.
– Eu não vim falar disso! - eu afirmo enquanto ele bebe.
– Mas você QUER falar disso - ele garante e pisca.
– Não! - eu nego – Eu só quero saber se aconteceu alguma coisa hoje enquanto vocês estavam fazendo as entregas - eu pergunto e ele me encara, enche o copo e empurra pra mim.
– Você bebe! Eu falo! - ele garante, eu balanço a cabeça mas mesmo desaprovando minha curiosidade em saber fala mais alto e eu viro o copo e bebo em um único gole.
– Como um homem de verdade - ele fala rindo.
– Fala.. - eu exijo e ele parece pensar, depois de alguns segundos ele dá de ombros.
– Nada! Ela foi a mesma irritante, intolerável e desagradável de sempre - ele responde se levantando e indo pra sala com a outra garrafa cheia, eu pego a garrafa da mão dele.
– Você já bebeu demais! - eu aviso mais pra minha surpresa ele não reclama e nem tenta pegar de volta apenas segue até o sofá e se joga nele.
– Vai ver o problema é com você! - ele sugere se endireitando no sofá.
– Que problema? - eu pergunto sem ter certeza do que ele está insinuando.
– A falta de sexo dessa noite! - ele esclarece naturalmente.
– Você ainda não desistiu não é? - eu pergunto reprovando isso, ele nega com a cabeça – Ok! Obrigado pela ajuda - eu falo e m viro pra ir embora.
– Ainda tá cedo e pelo visto você já perdeu sua diversão de hoje! - ele fala com ironia– Um pouco de tempo entre homens não vai te fazer mal - ele avisa, eu paro e me viro pra ele que agora está com os pés na mesinha me encarando, só então que a minha ficha cai e eu começo a entender essa súbita curiosidade e vontade dele em falar de "assuntos de homem", na verdade ele só quer conversar, olhando pra ele agora, jogado no sofá no meio dessa casa vazia e silenciosa eu me lembro de outra pessoa, eu mesmo, tirando o álcool teve uma época em que eu sabia exatamente o que era ficar sozinho e é horrível, como Delly me disse: "Ninguém quer ficar sozinho", nem mesmo o Haymitch, essa insistência dele é quase como um pedido de ajuda mas ele é orgulhoso demais pra admitir isso, houve uma época que eu realmente estava com raiva dele por ter mentido e me escondido coisas mas hoje em dia, agora, eu só consigo enxergar o cara que salvou a vida da pessoa mais importante pra mim, de certa forma ele cumpriu a promessa que me fez e a salvou, eu não posso e nem quero ignorar isso, mesmo do jeito dele, com todos seus erros ele fez o melhor que pôde, por isso eu volto os passos e me sento.
– Você já comeu alguma coisa? - eu pergunto encarando ele, que revira os olhos.
– Isso é irritante - ele fala e aponta pra mim, eu solto uma risada, ele pega a garrafa que eu coloquei na mesa e já ia abrir quando eu puxo dele de novo.
– Isso não muda o fato que você bebeu demais - eu aviso colocando a garrafa longe dele.
– Talvez você devesse ir - ele sugere dando de ombros.
– Agora eu faço questão de ficar! - eu falo rindo e colocando os pés sobre a mesinha assim como ele está, ele ri.
– Então ela te dispensou hoje... - ele fala me olhando curioso.
– Não te interessa - eu respondo diretamente e ele ri.
– Uau, foi uma dispensa e tanto! - ele completa com ironia.
– Não foi uma dispensa - eu falo tentando não me importar.
– Você tá aqui comigo e não com ela! Foi uma dispensa - ele conclui.
– Por que você não arranja uma namorada! - eu sugiro e ele me olha sem aprovar a ideia.
– E como vai ser a festa amanhã? - ele muda de assunto.
– Não é uma festa! - eu aviso.
– Que seja! - ele descarta minha observação – Aquela garota, Graça, vem? - ele pergunta curioso.
– É Grace! E sim ela vem! - eu o conserto e confirmo, ele faz um som de reprovação.
– Você vai conseguir outra dispensa amanhã! - ele avisa rindo e eu nego com a cabeça, realmente não acho que será um problema– O que a Katniss disse quando você contou? - ele pergunta me olhando.
– Ela ainda não sabe! Eles decidiram hoje e eu ainda não tive chance de falar com ela sobre isso - eu confesso e anoto mentalmente que quando eu voltar pra casa se ela ainda estiver acordada eu devo avisar logo sobre a vinda deles, não seria uma boa deixar ela descobrir apenas quando eles chegarem lá em casa, eu continuo no Haymitch, jogando conversa fora, falando de diferentes assuntos, pra não fugir do folgado que ele é, eu ainda tive que preparar um dos pães com nozes, depois dele insistir muito eu libero apenas mais um copo pra ele com a promessa de que amanha ele passará o dia inteiro limpo, nenhuma gota, ele aceita, quando terminamos e eu vejo as horas já são quase onze da noite, então eu me despeço e saio de lá deixando ele deitado no sofá, eu saio levando a garrafa comigo, afinal se tratando do Haymitch apenas a palavra dele é um pouco duvidosa, eu entro em casa e continua tudo tão quieto quanto antes, eu escondo a garrafa no fundo do armário da cozinha e subo, a porta do quarto está aberta, eu entro e a fecho lentamente, caminho na ponta dos pés quando a vejo deitada, eu vou pro banheiro escovo os dentes e vou pra cama me sento de costas pra ela, passo a mão nos meus cabelos e mesmo com a dúvida do que aconteceu, eu me sinto satisfeito com essa noite, com certeza não estava nos meus planos passar conversando com Haymitch mas eu acho que no fundo ele estava certo, um pouco de "tempo entre homens" não é tão ruim, acho que posso fazer isso outras vezes.
– Você demorou! - a voz dela baixa e cautelosa que me desperta, eu me viro para olha-la e ela está com o corpo virado pra mim.
– Eu estava com Haymitch! - eu falo enquanto escorrego meu corpo na cama e me deito de barriga pra cima, eu viro meu rosto pra ela – Sua cabeça melhorou? - eu pergunto preocupado, ela confirma mas não muito animada.
– Eu achei que você não viesse mais - ela revela desviando o olhar do meu, eu viro meu corpo pra de frente pro seu passo meus dedos pelo seu cabelo e ela volta a me olhar, eu acho que nunca conseguirei entender ela complemente, há algumas horas atrás como o Haymitch jogou na minha cara ela me "dispensou" e agora ela está me dizendo que estava com medo que eu não viesse, quer dizer, afinal de contas o que ela quer? Mas mesmo sem entendê-la eu ainda a amo tanto quanto antes, confusa, mau-humorada, irritada, não importa, basta eu olhar pra ela e a verdade é inegável; eu beijo sua testa e volto a olhar em seu olhos.
– Eu sempre vou voltar! - eu afirmo a maior verdade que eu sei, então ela aproxima os lábios do meu e me beija, sua língua invade minha boca e eu correspondo, sua perna se encaixa entre as minhas e o beijo aumenta mas quando sua mão sobe a minha camisa sou eu quem paro o beijo, meu corpo cai na cama de barriga pra cima, ela me olha surpresa e confusa, eu tampo meu rosto com o braço.
– Você ainda tá com raiva? - ela pergunta cautelosa.
– Eu não fiquei com raiva! - eu afirmo e realmente é verdade, eu fiquei surpreso talvez um pouco decepcionado também mas não com raiva, eu sei que pode parecer que eu estou dando o troco mas não é isso, eu só não quero força-la a fazer o que ela não quer, eu tiro meu braço do rosto e a encontro me olhando – Tá tudo bem! - eu garanto e me viro pra ela de novo, meus dedos passam pelo seu cabelo – Eu tô aqui, você tá aqui! Pra mim isso basta! - eu falo e meu braço a envolve, colando seu corpo no meu, eu beijo sua testa e ela coloca a cabeça no meu peito, seu corpo relaxa em contato com o meu, e ela também me abraça, ficamos assim por alguns minutos e então eu me lembro de contar pra ela.
– Amanhã o pessoal insistiu em vir pra cá! - eu anuncio e ela levanta o rosto pra mim.
– Achei que você não quisesse festa - ela comenta me olhando curiosa.
– E não quero! Mas eles não iam desistir! Então eu concordei com alguma coisa rápida aqui em casa mesmo! - eu explico – Tudo bem? - eu pergunto querendo saber o que ela pensa sobre isso.
– Tudo! Que horas? - ela pergunta curiosa.
– As cinco! - eu aviso e ela concorda – A Grace vem... - eu aviso com certo receio.
– Eu imaginei que viria - ela fala e volta a cabeça pro meu peito.
– E isso é ruim? - eu questiono e ela nega com a cabeça.
– Acho que nós já acertamos nossos pontos - ela fala com certo mistério, eu aperto meus braços em volta dela e beijo sua cabeça. Nós ficamos abraçados, a perna dela entre as minhas, sua cabeça sobre meu peito, sua respiração tranquila e seus dedos passando pelo meu braço, aos poucos meu corpo também relaxa e eu pego no sono, acordo com Katniss se debatendo, ela parece assustada e fala palavras desconexas, o desespero pode ser percebido facilmente, eu me sento e tento acorda-la.
– Katss! Acorda, não é real - eu aviso enquanto tento encostar nela mas ela afasta minha mão e continua de olhos fechados e se debatendo – Katniss não é real - eu falo mais firme e consigo puxar ela pra mim, seus olhos se abrem, ela se afasta de mim em desespero, encosta na cama gritando, sua mão na cabeça, sua respiração pesada.
– Katss sou eu! Peeta - eu falo e ela levanta o rosto pra me ver.
– Peeta! - ela parece só ter me percebido agora – Eu não queria Peeta! Eu não queria - ela repete várias vezes cada vez mais desesperada e começa a chorar.
– Tá tudo bem! Calma! - eu vou até ela e a abraço, ela aperta seus braços em mim – Tudo bem! - eu a acalmo fazendo um som tranquilizante, só então eu sinto a diferença na sua pele, eu solto o abraço e coloco minha mão na sua testa – Você está queimando - eu me assusto quando a sinto tão quente, seu corpo também está tremendo, eu coloco a mão no seu pescoço apenas pra confirmar que ela realmente está com febre, eu a encosto na cabeceira da cama.
– O quê que você tá sentindo? - eu pergunto lentamente.
– Eu não queria Peeta! Foi tudo culpa minha! - ela apenas repete a frase como se estivesse em choque.
– Katss, por favor... Olha pra mim - eu peço virando seu rosto pra de frente pro meu, ela me olha um pouco perdida e então seu olhar muda pra dor.
– Você vai embora? - ela pergunta voltando a chorar.
– Eu não vou a lugar nenhum! Eu to aqui com você! - eu falo e a abraço de novo.
– Você vai! Você vai! A culpa é minha - ela repete entre o choro, cada segundo que passa eu fico ainda mais preocupado, Katniss não é assim, nunca aconteceu nada desse tipo, ela parece totalmente desesperada e eu não faço ideia do por quê, ainda tem essa febre, eu passo a mãos pelo seu cabelo pra acalma-la.
– Não é culpa sua! Tá tudo bem! - eu afirmo e a aconchego em mim, eu procuro qualquer sinal que me mostre o por que ela está assim ou se tem alguma coisa que eu possa fazer pra melhorar, mas ela apenas repete a mesma frase e me abraça forte, eu a embalo em mim e espero ela se acalmar, ela para de falar mas ainda me abraça forte, quando eu coloco a mão em sua testa de novo percebo que a febre aumentou, um desespero começa a crescer em mim, seja lá o que for está abalando ela além do normal, por mais que ela tenha momentos angustiados ela sempre manteve o controle e agora ela parece ter desabado e eu preciso fazer alguma coisa, começando pela febre.
– Sua febre aumentou! Você tem que vir comigo - eu falo baixo tentando convencer ela a se levantar, eu nos arrasto até a ponta da cama, e me levanto trazendo ela comigo, ela esfrega a mão no rosto e parece perdida por isso eu tenho que guia- lá até o banheiro, entro e acendo a luz, seus olhos se fecham com a claridade, mas ela se mantém parada – Você precisa tomar um banho ok? - eu aviso e ela tenta tirar a camisola eu a ajudo, ela levanta os braços e eu tiro jogando a camisola pelo chão, tiro sua roupa de baixo também e então ajudo ela a entrar no box, abro chuveiro na água fria e a coloco em baixo, ela se esquiva e sai debaixo do chuveiro, eu a seguro.
– Tem que ser fria! A febre tá muito alta - eu aviso e ela se coloca na água de novo acabo me.molhando também, ela desiste de sair e deixa a água caindo pela sua cabeça, ela fecha os olhos e eu a deixo assim por alguns segundos, então eu passo minha mão pela sua testa de novo e ela já está mais fria, ela abre os olhos e me olha, então ela me abraça, eu não me importo em me molhar apenas aceito e correspondo seu abraço, ela me solta e me olha nos olhos, ela não diz nada apenas me observa, eu fecho o chuveiro, saio do box e pego uma toalha, ela sai e para ao meu lado, eu começo a enxuga- lá mas ela mesma pega a toalha e se enxuga, eu pego a sua camisola, ela se veste, saímos do banheiro eu a sento na cama e enxugo seus cabelos, sua febre baixou, eu termino de secar seus cabelos, coloco a toalha em uma cadeira que está no canto do quarto, volto paro na sua frente e me ajoelho ficando na sua altura.
– Você tá bem? - eu pergunto preocupado e ela confirma com a cabeça– O que está acontecendo? - eu pergunto calmamente, ela me olha e passa a mão no meu rosto, ela já não está chorando mas ainda mantém o silêncio – Você não é assim Katss! O que aconteceu? - eu insisto.
– Você deveria me odiar sabia? - ela fala mantendo seu rosto sério e pensativo.
– Não tem a menor chance disso acontecer! - eu afirmo.
– Mas deveria! – ela fala com voz baixa.
– Chega! Eu não quero mais ouvir isso! Acabou! - eu falo decidido e me levanto, eu a deito na cama e vou pro seu lado – Você precisa parar de se culpar! Aquilo acabou e não foi culpa sua - eu aviso e passo a mão pelos seus cabelos – Você precisa dormir um pouco! - eu falo e beijo sua testa, eu a abraço e ela se aconchega em mim, eu lembro da minha roupa molhada e me solto dela.
– Eu tenho que trocar minha roupa! - eu aviso e ela concorda com a cabeça, eu saio da cama e vou até a gaveta tiro minha blusa e minha calça e coloco outras então eu volto pra cama, me deito ao lado dela e a puxo pra mim de novo, não sei quanto tempo demora pra ela pegar no sono mas quando isso acontece o sono é inquieto, ela repete palavras sem sentido e se mexe várias vezes, eu olho pro relógio e já são quatro da manhã e ela permanece inquieta, sua febre já está começando a voltar devido sua reação, eu me levanto vou até a gaveta e pego um remédio que o Dr. Aurelius tinha me dado para quando eu tivesse muita dificuldade de dormir como não é um remédio forte eu decido dar a ela, pego um copo de água que tinha no quarto e vou até ela, acordo-a e lhe dou o remédio, ela volta a se deitar ainda inquieta mas em poucos minutos seu corpo relaxa, ela para de murmurar as palavras confusas e consegue dormir ao contrário de mim que não consigo sequer piscar os olhos, eu realmente estou muito preocupado com ela, eu nunca a vi dessa maneira antes, nem quando estávamos na Capital, eu preciso saber o que foi que aconteceu, ela não ficaria nesse estado por nada, eu olho pra ela que agora dorme tranquilamente passo minha mão nos seus cabelos e na sua testa, a febre passou, já é uma boa notícia ainda assim é horrível vê-la desse jeito, ela é sempre forte, vê-la vulnerável não é algo normal, as horas passam, o sol já começa a nascer, eu me levanto vou até o banheiro quando saio da lá vejo que ela ainda está dormindo e deve continuar assim por mais algumas horas então eu a cubro com o lençol e saio do quarto, eu desço as escadas e vou pra cozinha, coloco uma água no fogo e enquanto isso começo a preparar o pão de queijo, talvez isso melhore o ânimo dela ou pelo menos a faça comer alguma coisa, enquanto o pão assa eu faço um café forte pra mim, depois de uma noite acordado eu realmente preciso disso pra conseguir levar o dia, eu me sento enquanto tomo o café, eu termino e continuo sentado apoio meu cotovelo na mesa e esfrego as mãos no rosto tentando me livrar do sono, talvez eu precise de mais café, o pão fica pronto e eu o retiro do forno, como se tivesse sentido o cheiro Haymitch entra e vem até a cozinha.
– Achei que você ainda ia tá dormindo! - ele comenta enquanto vai pegar uma faca.
– Eu nem dormi ainda! - eu falo enquanto me sento, ele para e me olha sorrindo.
– Então acabou a greve? - ele pergunta rindo, eu nego com a cabeça ainda sério.
– Não era greve! - eu conserto – Katniss não está bem! - eu aviso e ele se senta de frente pra mim.
– A clássica dor de cabeça? Relaxa, isso acontece - ele fala com ironia.
– Eu tô falando sério! Não é brincadeira! Katniss não está bem, eu nunca a vi dessa maneira! Ela passou metade da noite queimando em febre - eu explico e agora ele para com seu sorriso e parece preocupado também.
– O que aconteceu? - ele pergunta me olhando.
– Eu não sei... Ela teve vários pesadelos, ficava murmurando, se debatendo! Eu tive que dar um remédio pra ela dormir, eu...eu não sei o que pode ter acontecido!– eu declaro perdido – Ela estava estranha, falando coisas que eu não sei de onde ela pode ter tirado... Alguma coisa aconteceu e tem a ver com o passado! - eu afirmo.
– Sempre vai ter a ver com o passado! - ele concorda com a voz baixa – A verdade é que um passado como o nosso sempre está presente! - ele fala de um jeito triste e cansado, eu queria poder negar mas é impossível, ele está certo, o passado está presente nos nossos sonhos, pesadelos, nos meus flashes, quando as pessoas nos olham na rua, foi ele quem nos tornou quem somos hoje.
– Você não percebeu nada de diferente nela? Alguém falando alguma coisa? Eu não sei... Qualquer coisa diferente - eu peço na esperança de que ele lembre de algo, ele balança a cabeça parece tentar lembrar.
– Ela estava normal! Estava até animada por que parece que o projeto vai sair do papel! - ele fala negando que algo tenha acontecido mas eu sei que aconteceu.
– Tá! E como foi o dia de vocês? Vocês distribuíram as coisas, voltaram pra cá, mais o que? - eu insisto.
– Nós nos dividimos em dois grupos, um ia de carro e o outro ficava aqui! Katniss foi junto comigo por que ela não quis me deixar longe - até aí tudo normal, depois que ele roubou as balas Katniss avisou que ficaria de olho nele – Foi tudo normal! Entrega, agradecimento, outra entrega outro agradecimento, até que a acabou, nós voltamos, ouve uma votação pra pintar ou não a frente da sede - que é a casa daqui da Aldeia que eles usam pra guardar as doações e se reunirem – A decisão foi de pintar... Ei, espera... - ele parece se lembrar de algo.
– O que? - eu logo me atento.
– Agora eu me lembro, Katniss votou sim e até comemorou quando ganhou mas depois que ela voltou, ela disse pra ver isso outro dia e saiu - ele explica.
– Voltou de onde? - eu pergunto nervoso.
– Daqui - ele fala sinalizando a casa – Ela disse que vocês tinham algumas latas de tintas no...
– Porão! -
eu completo junto com ele e acho que já sei o que houve, ele me olha curioso.
– Droga! Droga - eu repito e me levanto saindo da cozinha e indo até lá confirmar minha suspeita, Haymitch vem logo atras de mim.
– Então o porão é o problema? - ele pergunta pelo caminho.
– O que ela pode ter visto sim - eu afirmo e abro a porta do porão, está escuro, eu desço as escadas com cuidado e Haymitch me segue, eu vou até o canto e confirmo minha suspeita.
– Merda! - eu xingo assim que vejo tudo descoberto, Haymitch acende a luz e então tudo se revela.
– Uau - é só o que ele consegue dizer, ele para ao meu lado olhando as telas que deveriam estar cobertas – Acho que já temos a resposta - ele fala se aproximando das telas. Como parte do tratamento Dr. Aurelius me incentivou a pintar meus pesadelos e tudo com o qual eu tivesse dúvida ou me perturbasse de alguma maneira e foi o que eu fiz e as vezes ainda faço por que realmente me ajuda, mas a maioria das coisas que me perturbavam tinha a ver com tudo que eu passei na Capital ou com Katniss, essas telas são os que geralmente aparecem nos meus flashs, em um pouco mais de dez telas eu tenho meus piores pesadelos desenhados e metade deles Katniss é a "vilã", em algumas seus olhos exprimem o ódio que eu tanto via nos meus flashs, outra ela apenas está coberta de sangue no meio de corpos espalhados pela rua do Distrito, as que ela não aparece são as em que eu e Johanna aparecemos, os fios colados ao corpo dela, a cela que nós dividimos por um bom tempo,a tortura de Darius, tudo está aqui e ela nunca deveria ter visto.
– Como que você guarda uma coisa dessas aqui? - ele pergunta me acusando e se virando pra mim.
– Eu...eu...não tinha onde guardar - eu falo arrependido – Katniss odeia esse lugar, ela mesma me disse, ela disse que lembra o lugar onde vocês se esconderam no Treze! Ela nunca entra aqui! Eu nunca ia imaginar que ela viesse aqui sozinha! - eu falo mas não consigo evitar a culpa que me atinge.
– E você não pensou em se livrar deles? - ele questiona.
– Pensei! Mas o Dr. Aurelius disse não ser boa ideia! Essas imagens são as borradas, as que aparecem nos flashs, funciona como um controle! É mais fácil lhe dar com elas numa tela do que na minha mente - eu explico e ele olha pra mim de um jeito solidário – Eu devia ter destruído! Droga, é tudo culpa minha - eu murmuro passando as mãos pelo cabelo.
– Você não podia imaginar! - ele fala e coloca a mão no meu ombro – Quer dizer, foi realmente uma ideia idiota esconder isso aqui mas ... essa também é sua casa! - ele me olha sem ironia, ele apenas está tentando melhorar as coisas, porém de um jeito " Haymitch " – Se é assim que você consegue lhe dar com tudo isso então ela vai ter que entender! - ele fala dando de ombros, ainda assim eu não consigo não me culpar, eu não devia ter guardado essas coisas, agora eu entendo por que ela estava com aquelas suposições que eu a odiava, depois de ver essas imagens ela deve ter pensado isso, mas não existe a menor possibilidade de isso ser verdade. Nós saímos do porão depois que eu tampo as telas com um pano, Haymitch volta a tomar seu café da manha, eu me sento com ele mas não consigo comer nada.
– Ficar sem comer não é algo inteligente - ele murmura quando percebe que eu não estou comendo– Não que você faça muitas coisas inteligentes - ele emenda com ironia, eu o olho sem achar graça, ele parece se arrepender de falar – É você que diz que o café da manhã é a refeição mais importante! - ele fala dando de ombros.
– Eu vou esperar Katniss acordar - eu falo e olho pro relógio, pelas horas o efeito do remédio já deve estar passando, o que significa que ela deve acordar a qualquer momento, Haymitch termina seu café em silêncio e algumas vezes eu sinto o olhar dele em mim, eu me levanto e começo a preparar o café da manha pra Katniss, com certeza ela não comeu direito ontem, enquanto eu estou fazendo Haymitch se levanta e já estava chegando na porta.
– Ah, meus parabéns! - ele fala e fecha a porta me deixando parado olhando a porta fechada, eu já havia me esquecido que dia é hoje, se não fosse ele falar eu realmente não teria me lembrado, então eu me lembro que o pessoal vira pra cá, eu largo o que estou fazendo e vou pro escritório, disco o número da Delly e em poucos segundos ela atende.
– Alô? - a sua voz é de quem estava em movimento.
– Delly? É o Peeta - eu me identifico.
– Claro que é! Eu já conheço sua voz sabia? - ela fala animada – Ei, eu devia ligar pra você hoje e não o contrário! - ela fala como se estivesse me reprendendo mas ainda posso sentir seu sorriso.
– Eu tinha que falar com você logo... Não da pra ter festa hoje! - eu aviso e sinto seu som de decepção.
– Eu achei que nós já tínhamos resolvido isso - ela fala respirando fundo.
– Katniss passou mal! Ainda não está muito bem, então, eu realmente não estou no clima - eu falo diretamente.
– Ah, poxa! Eu estava tão animada, todos estávamos - sua voz é de alguém realmente triste – Mas o que ela tem?
– Ela teve febre...Foi uma noite longa -
eu resumo sem querer explicar detalhes.
– Eu estou triste pela festa, pelo seu aniversário mas eu te conheço o suficiente pra saber que você não devê estar mesmo no clima... Sinto muito ter acontecido isso hoje! - ela fala ainda chateada – Mas Katniss tem muita sorte de ter você! - ela garante mas eu não tenho tanta certeza já que foi por minha culpa que ela está assim hoje.
– Avisa aos outros por favor! Quem sabe na próxima - eu falo tentando parecer otimista, ela concorda e desliga depois de desejar melhoras para Katniss, eu saio do escritório e volto a organizar o café pra ela, arrumo a bandeja com todas as coisas que podem fazer ela querer comer, subo as escadas e entro no quarto devagar, coloco a bandeja na cômoda ao lado da cama e me aproximo dela, ela ainda está dormindo, eu passo os dedos pelo seu cabelo e pelo rosto, ela se mexe e abre os olhos.
– Bom dia - eu falo baixo com meu rosto próximo do seu.
– Bom dia - ela fala com a voz baixa enquanto esfrega os olhos.
– Eu trouxe o café! - eu aviso e pego a bandeja trazendo pra cama, ela se senta arrumando o cabelo e ainda parecendo com sono, ela se levanta rápido e vai pro banheiro, alguns minutos depois ela volta, já parece despertada, ela se senta ao meu lado.
– Eu não to com fome! - ela fala olhando a bandeja, eu afasto-a do nosso meio, me arrasto e paro de frente pra ela, meus dedos passam pelo seu rosto e ela me olha.
– Você viu não foi? - eu pergunto e ela me olha sem saber como eu soube, mas não preciso explicar do que eu to falando por que ela sabe.
– É daquele jeito que você me vê? - ela pergunta e eu nego rapidamente.
– Não! Claro que não! Aquilo é... É... Mentira! Não é real! - eu não sei o que falar – Katss, o que você viu... Você entendeu errado! - eu falo mas ela nega com a cabeça – Aquilo faz parte da terapia, é só um jeito de controlar os flashs, o Dr. Aurelius indicou - eu explico tentando fazê-la entender.
– Quando você tem os flashs são aquelas imagens que você vê? - ela pergunta me observando, eu poderia mentir pra aliviar as coisas mas não é hora pra mentiras por isso eu confirmo.
– Na maioria das vezes - eu concordo.
– E quais são as outras imagens?
– A gente não tem que falar disso -
eu afirmo não querendo piorar tudo.
– Eu preciso! Eu quero entender... - ela afirma sem parecer que vai desistir, eu respiro fundo e concordo, talvez seja melhor assim.
– Na maioria das vezes as imagens são borradas e confusas! Apenas algumas se sobrassem - eu explico e ela se mantém atenta.
– As minhas? - ela questiona.
– Geralmente! - eu confirmo – No começo era mais difícil diferenciar mas agora eu já consigo! Por isso as telas que você viu! O que não é real ou é confuso eu coloco lá! Então, depois que os flashs passavam era mais fácil encara-las e saber se eram ou não reais! - eu explico do jeito mais claro que consigo.
– Eu nunca vi você com uma daquelas - ela comenta confusa.
– Elas não são mais tão necessárias quanto antes, agora quando os flashs aparecem ou eu tenho essas confusões é bem mais fácil de lhe dar do que antes - eu afirmo e seguro sua mão, seu olhar vai para nossas mãos e depois ela me olha nos olhos.
– Como que você consegue continuar comigo vendo aquilo? - ela pergunta com a voz baixa.
– Por que eu te amo e esse sentimento é muito maior do que qualquer coisa! - eu declaro e ela passa os dedos no meu rosto.
– Ainda assim é difícil! - ela fala com a voz triste.
– Eu não disse que era fácil! - eu afirmo – Mas eu tenho você aqui comigo! Nós estamos juntos nessa lembra? - eu pergunto com um sorriso fraco – Não era pra você ter visto aquilo, mas você viu e eu não posso mudar isso! Eu só quero que você saiba que aquilo não importa, não é real! O que eu sinto por você é! Eu escolhi continuar do seu lado, não por que é fácil mas por que não existe outra opção pra mim, você é a minha vida, é quem da sentido ela! Tentaram mudar isso mas é impossível! Eu te amo e essa é a única certeza que eu tenho! - eu declaro olhando nos olhos dela então ela se aproxima de mim e seus lábios encontram os meus, o beijo é lento e apaixonado, quando ela para o beijo seus olhos encontram o meu novamente.
– Que bom que você consegue, por que eu não sei como seria... - antes que ela termine eu a beijo de novo, minha língua invade sua boca com toda fome que eu tenho dela, seus dedos se entrelaçam no meu cabelo e ela corresponde o beijo com a mesma necessidade que eu, nossos corpos se juntam e o beijo avança ainda mais, sinto suas mãos nas minhas costas e minha mão segura sua cintura colando ela em mim, quando estamos sem ar que o beijo para, agora um sorriso já aparece no seu rosto, eu também sorrio quando a vejo assim.
– Melhor assim! – eu falo sorrindo e lhe dou um beijo rápido – Agora você precisa tomar café – eu aviso me afastando dela, que faz uma cara não muito boa – Quando foi a ultima vez que você comeu? – eu pergunto e ela revira os olhos – Quando? – eu repito.
– Desde o almoço! – ela fala baixo e já se ajeitando de frente pra bandeja, eu a olho reprovando mas ela logo pega o pão e morde olhando pra mim.
– Melhor assim! – eu cofirmo e também tomo café junto com ela, mesmo ela negando ela estava com fome, por que ela acaba com a bandeja em poucos minutos.
– E você estava sem fome? – eu brinco com ela enquanto ela termina com seu suco, ela ri.
– Eu não sou a favor de desperdícios! – ela fala dando de ombros, eu rio da resposta dela, então puxo a bandeja afastando-a de nós dois, aproximo meu corpo dela e ela se inclina pra trás sorrindo.
– Eu acho que nós temos um assunto pendente – eu falo com ironia deixando nossos lábios próximos demais ela sorri, sua mão sobe do meu peito para minha nuca e então ela me puxa pra mais perto sem muita demora nossas bocas estão juntas e nossas línguas se misturam em perfeita sintonia, o beijo é forte e faminto e enquanto minha mãos percorre seu corpo ela levanta minha camisa e a tira assim como eu faço com sua camisola, logo nossas peles se encostam e o calor do corpo dela junto ao meu é tudo que eu poderia querer agora.
O resto do dia assim como eu tinha planejado passa com nós dois juntos, depois dessa madrugada e da revelação de hoje eu achei que o dia seria bem diferente mas ele está conseguindo ser ainda melhor, ter Katniss junto a mim, seu corpo colado no meu, ouvir sua risada e mesmo quando ela se irrita com algo que eu fale e me reprova com seu olhar, ainda assim eu vejo que tudo está encaixado e tudo vale a pena se eu a tiver comigo, eu sei que terão dias que ser]ao mais difíceis que outras mas quando eu a sinto tudo parece perfeito e eu sei que nada me fará sentir assim. Um dia inteiro deitados, juntos, exceto pela hora em que eu fui preparar nosso almoço, quando a noite começa a cair nós tomamos um banho na banheira, saímos de lá, Katniss se veste e insiste em descer, mesmo que eu queira continuar com o resto do dia aqui em cima, ela insiste e nós descemos, nos sentamos no sofá e Katniss liga a televisão, um programa novo sobre música ou algo assim está passando, eu me aproximo dela e meu rosto se encaixa no seu pescoço ela ri mas se desvia.
– Eu quero ver televisão! – ela anuncia sorrindo.
– Não quer não! –
eu falo com ironia e meus lábios passam pela sua pele, ela se esquiva mas sem muita intenção de se afastar, eu rio, pego o controle e desligo a TV.
– Peeta – ela reclama – Eu estava vendo – ela tenta pegar o controle mas eu o afasto dela e quando ela está o alcançando cai por cima de mim, eu seguro sua cintura e quando nossas bocas iam se encontrar as vozes entram pela sala gritando e comemorando.
– SURPRESA – eles gritam e invadem a casa, Katniss ri e sai d ecima de mim que ainda estou entendo o que está acontecendo.
– Eu achei que tinha cancelado – eu falo mas estou rindo.
– Ninguém merece mais uma festa do que você – Katniss afirma sorrindo e me beija, mas antes que o beijo avance a gritaria nos separa, todos vem me abraçar e parabenizar, eles trouxeram um bolo, salgados, pães e quando eu pergunto por que eles vieram já que eu havia cancelado, Delly conta que Katniss ligou pra ela e remarcou tudo, eu fico feliz com a noticia, eu não queria uma festa mas é bom ter eles por perto, na metade da festa eu vejo Philip e Delly cochichando em um canto e quando eu pergunto a ela, ela responde com um sorriso no rosto que eles estão namorando, é bom vê-la assim tão contente, é ainda melhor olhar e ver a casa cheia de pessoas sorrindo, com exceção do Haymitch que está em um canto discutindo algo com Katniss.
– Hoje vocês não vão brigar –
eu me aproximo e entro no meio deles.
Ele que começou – Katniss murmura.
– Ele que começou –
ele imita ela falando – Quantos anos você tem? – ele pergunta implicando com ela, ela já ia responder quando eu a puxo pela cintura.
– Ok! Chega! Você vem comigo e você sem bebidas – eu aviso e saio puxando Katniss.
Nós nos reunimos com os outros na sala e as conversas começam, mesmo com o começo do dia que tivemos eu me sinto feliz com o dia de hoje, por que mesmo com os altos e baixos as coisas sempre entram em seus lugares, quando Katniss me beija rapidamente e libera um sorriso, tudo faz sentido, mesmo com as partes ruins, essa é a vida que eu quero pra mim.


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