No dia seguinte Anita chegava da escola, depois da noite de ontem, da qual ela tinha inventado uma desculpa esfarrapada para fugir do jantar em família e se entocar no quarto antes que alguém percebesse seu desconforto absurdo em ter Ben debaixo do mesmo teto que ela novamente.

– Oi. – Ela falou, vendo a mãe, Bernadete e Abelardo na cozinha.

– Oi Anita, saudade sabia. – Bernadete disse com um abraço.

– Eu também Bernadete. – Anita afirmou, talvez ela voltasse para a casa da ex-madrasta o mais rápido do que Bernadete pensava.

– Anita cadê aqueles pedidos antigos, que você ficou de ajeitar pra arquivar na contabilidade. – Abelardo questionou.

– Humm, estão no meu computador, eu não imprimi porque queria que você desse uma olhada. – Anita falou.

– Posso ver agora. – Ele respondeu.

– Eu vou pegar meu notebook então. – Anita afirmou.

– O Pedro tava com teu computador Anita. – Vera disse.

– E cadê, não vai me dizer que ele saiu com ele. – Anita perguntou.

– Não, acho que deve ter deixado lá no quarto dele. – Vera explicou.

– Eu vou lá pegar e já venho então. – Anita falou subindo as escadas.

Quando ela entrou no quarto, viu uma cena que a chocou e lhe deixou, estesiada sem ação, ela pensou em voltar e não intervir, mas seu coração tocado diante do que seus olhos viram fez com que ela se aproximasse. Ben sentado à cama no quarto de Vitor e Pedro, com uma toalha ao lado, e a camiseta sendo prensada contra os olhos, desolado completamente perdido. Ela se sentiu como se a dor do garoto fosse a sua, depois de tantas brigas ver Ben assim pela mãe que estava muito doente lhe deixou confusa, então movida por um impulso Anita caminhou até ele, e se ajoelhou diante de Ben, colocando sua mão no joelho dele.

– Ei o que você faz aqui, porque você tá assim. – Anita perguntou a ele.

Ben que até então não tinha percebido a presença de Anita, levantou a cabeça e encarou os olhos da garota apenas.

– É desculpa por eu estar assim aqui em cima. – Ben falou, estando recém saído do banho, sem a camiseta e enxugando suas lágrimas com ela.

– Não foi isso que te perguntei, perguntei pra você porque que você tá chorando ai sozinho. – Anita disse paciente.

– Eu não estou chorando não, só to preocupado só isso. – Ben afirmou.

– Tá sei, e também não tá triste, vai fala o que foi. – Anita falou se sentando ao lado do garoto

– Minha mãe essa história da doença dela. – Ele respondeu.

– Eu já imaginava que fosse isso. – Anita afirmou, angustiada pelo estado de Ben.

– Mais eu não quero te perturbar com isso. – Ben disse.

– Não tá perturbando, vai fala comigo às vezes se a gente dividir as nossas tristezas é mais fácil de lidar com elas. – Ela afirmou tentando confortá-lo.

– Você quer saber da verdade Anita. – Ben falou se virando para ela.

– Fala. – Anita consentiu.

– Eu tava feliz, de repente tudo virou, minha vida acabou, e agora eu descubro que minha mãe pode morrer. – Ben disse com a voz embriagada pelo medo.

– Eu sei que deve ser difícil, mas você tem que ser otimista. – Ela falou, levando sua mão ao encontro da mão de Ben.

– Eu não sei se eu consigo confiar nisso Anita, a verdade é que eu to com muito medo, esses últimos exames que ela fez hoje apresentaram uma piora. – Ele desabafou.

– A tua mãe é forte e eu sei que os médicos disseram que ela tem chance. – Anita tentou conforta-lo.

– Médico Anita, lógico que ele não ia falar pra ela, que ela corre risco de morrer, e sem falar no dinheiro que a minha mãe tá gastando, que ela nem tem. – Ben afirmou preocupado.

– Tá eu não posso prever o futuro ou coisa do tipo, mais você tem que ser confiante, e quanto a dinheiro todo mundo aqui tá ajudando, não se preocupa com isso. – Anita disse definitivamente o garoto não estava nada bem.

– Eu to perdido não sei mais o que fazer, o pior é que eu não quero que a minha mãe se preocupe comigo. – Ben disse abraçando a garota em um impulso, Anita sempre lhe dizia as palavras certas e hoje ele precisava muito de um abraço que o acalmou como antes, antes dela sair de sua vida. Anita por sua vez, pega de surpresa pelo garoto não soube como dizer não ao abraço e acabou correspondendo, por mais que ficar muito perto de Ben a fizesse balançar, quanto aos seus sentimentos por ele.

– Ai Ben, por favor você tem que confiar. – Anita disse a ele.

– To com medo de dar tudo errado Anita, no fundo minha mãe é a única coisa que eu tenho na vida. – Ele afirmou, deixando a emoção tomar conta de si.

– Olha pra mim Ben. – Anita disse, saindo dos braços do garoto.

– O que. – Ele falou apenas.

– Você não tá sozinho, você tem uma família aqui esqueceu. – Anita falou tentando animá-lo.

– Todo mundo esta me olhando torto e você sabe porque. – Ben justificou.

– É pode ser, mais ninguém vai virar as costas pra você, eu não vou virar as costas pra você. – Ela falou não acreditando nas suas últimas palavras.

– Eu estou sem chão. – Ben afirmou.

– Ei acredita vai dar tudo certo. – Anita disse, levando sua mão ao rosto de Ben.

Ben encarou os olhos de Anita, confuso, por um momento ele se perguntou porque justo Anita estava ali em sua frente, o acalmando com palavras de conforto, ele havia machucado muito a garota também, com palavras duras, com seu envolvimento com Sofia e tudo mais, naquele instante seu coração se apertou e sua tristeza só fez aumentar, talvez pela primeira vez de verdade ele havia se dado por conta que havia magoado o amor de sua vida de uma maneira enorme, e que talvez Anita nunca o perdoasse e com razão, por mais forte que ela se fizesse no fundo seus olhos carregavam toda a mágoa a cada olhar lançado a ele. Ben a encarou querendo muito que o tempo voltasse e que ele pudesse ter a garota de volta novamente, foi então que ele a olhou nos olhos, e aproximando seu rosto ao dela, Anita percebendo Ben tão próximo viu uma confusão tomar conta de si e seu coração disparar, os dois se aproximaram-se cada vez mais vendo suas respirações ficarem curtas e sem ar, ambos estavam envolvidos um com o outro que nem pensaram em se afastar, então os dois se aproximaram mais ainda, encostando seus lábios em um beijo calmo, repleto de saudades, paixão e esperança, esperança que eles pudessem acabar com os medos um do outro, ali por meio daquele beijo. E durante alguns instantes foi o que eles sentiram, que seus medos, mágoas e tristezas tinham desaparecidos, até que calmamente eles foram se afastando, abriram os olhos e deram de conta do que havia acontecido, os dois se olharam incrédulos consigo mesmos.

– Meus deus Anita, que loucura, eu, eu, eu não sei o que dizer. – Ben falou confuso.

– Isso não podia ter acontecido me desculpa, eu tenho que ir. – Anita disse, saindo pela porta sem chão, deixando Ben sentando no mesmo lugar, sem saber o que dizer completamente atordoado, e partilhando de uma felicidade que ele não sabia o que era.