—Maldição. — Indagou o ruivo enquanto massageava suas têmporas, tudo aquilo estava lhe deixando muito irritado. Sua respiração estava ofegante, o peitoral que se encontrava nu, subia e descia pela busca de ar. O motivo era as horas incessantes que havia se submetido em treinamento árduo.

Algumas horas atrás os melhores homens que havia em seu reino estavam a treinar com ele, mas com a probabilidade de uma nevasca cair preferiram se abrigar em suas casas, já que onde estavam ficava em meio à floresta um pouco longe das construções do reino Sabaku No.

Era um extenso campo verde, no momento levemente branco com a neve restante da última nevasca, rodeado por árvores gigantescas, carvalhos em sua maioria, um lugar tranquilo para treinar ou até mesmo pensar, já que raramente havia alguém por ali, por este motivo um de seus lugares preferidos.

As rajadas de vento se tornavam onipresentes, e seus pensamentos corriam pelo campo. Socou o tronco grosso de uma árvore em sua frente, já havia feito isso tantas vezes que agora sentia um liquido denso descer por entre seus dedos, o cheiro de ferro logo pode ser captado, mas não ligou para tal fato. Nada lhe adiantava quando os problemas surgiam em sua cabeça.

Não havia gostado em nada a forma com que Fugaku falou sobre a Haruno, como se uma garotinha fosse o pior dos demônios, uma maldição que possuía o poder de destruir tudo e todos. Para ser sincero Gaara sentiu vontade de rir ouvindo o que o velho Uchiha dizia, mas digamos que esse não seja um habito do ruivo, na verdade, raras eram às vezes em que ele se permitia ao menos sorrir.

Ele havia crescido vendo a bela amizade de seu pai com Hikashu Haruno, viu nos olhos castanhos fidelidade que nunca encontrou nos olhos de nenhum outro homem, e era por esse motivo que Itoku sentia-se na obrigação de ajuda-lo, até mesmo ofereceu seus homens para lutarem contra os Uchihas, mas Hikashu não aceitou, pois não queria prejudicar o amigo.

Itoku ficou péssimo ao saber que os Harunos foram eliminados pelos os Uchihas e ele não pode fazer nada, já que quando havia uma guerra entre dois clãs, outros não poderiam se intrometer, era um tipo de lei sagrada, a qual sempre achou estúpida.

Lembrava-se de seu pai irado ao saber do fim da guerra, Itoku teria atacado os Uchihas, como um tipo de vingança, isso se os conselheiros não houvessem o impedido, lembrando-o de que seria suicídio, se os Harunos, com tamanho poder que tinham, não puderam vence-los, quem poderia?

Com a idade avançada e as preocupações sempre existentes, veio a falecer quando Garra tinha acabado de fazer 14 anos, deixando todo o reino em seu comando, apesar de ser um adolescente, já era maduro para sua idade e por isso até hoje o reino era prospero, e o ruivo visto como um dos maiores reis que já governaram seu clã.

O tempo passou rapidamente, a garoa já caia e as rajadas de vento tornavam-se brutais. Ainda se encontrava na mesma posição do momento que socou o tronco da árvore, abaixou a cabeça sentindo as gotículas geladas da chuva caírem sobre seu corpo, molhando a pele quente exposta.

Fogo e gelo, duas substâncias distintas, mas uma mistura interessante. A dor parecia ser algo atraente aos olhos verdes do Sabaku No, já que a mesma sempre esteve presente em sua vida, agora podia sentir que quebrou um de seus dedos, mas no momento só desejava sentir a deliciosa chuva banha-lo. Mas o que ele não sabia era que suas angustias iriam sumir com a chegada de uma sobrevivente em sua vida.

–-------------------------

Os olhos verdes esmeralda tinham um brilho assassino, uma mescla interessante poderia dizer. Konan podia ver isso claramente, a rosada, tão delicada como aparentava ser, mais semelhante a uma boneca de porcelana, frágil e inofensiva, jamais poderia imaginar o quão perigosa aquela garota podia ser, mas agora enxergava isso apenas por ver a maneira confiante e orgulhosa com a qual encarava Itachi.

Se estivesse recebendo aquele olhar tão desapontado, irritado e obscuro que o moreno lançava à rosada, Konan com certeza teria se encolhido, pedido desculpas e fingido que jamais havia acontecido, mas não Sakura, a garota não se importava por ser pequena e ter de olhar para cima para poder encarar Itachi, nem que ele fosse mais forte, ou que ela estivesse desarmada, em desvantagem devido as circunstâncias, ela simplesmente o estava enfrentando, encarando-o nos olhos, com a postura de uma verdadeira guerreira e inabalável princesa de sangue puro, a qual realmente era.

Observando esses detalhes acabou por se desconcentrar da discussão, sendo que agora se encontrava levemente perdida nos acontecimentos, mas o principal motivo de tudo aquilo era o fato de que Sakura queria ir para o reino Sabaku No e Itachi queria seguir em frente, ao encontro de Tsunade Senju, a qual ele tinha certeza de que lhes ajudaria.

–O Sabaku No não é confiável, não sabemos nada sobre ele – Itachi se controlava para não gritar com a “criança birrenta” a sua frente, como um bom Uchiha o moreno odeia ser contrariado, e era exatamente isso que a rosada estava fazendo – ele pode muito bem nos entregar ao meu pai, é isso que você quer? Matar a todos nós?

—Itachi será que dá pra me ouvir? Eles não são inimigos, o antigo rei era amigo do meu pai, eles eram aliados, ou já se esqueceu disso? – Sakura assim como o moreno estava controlando sua voz, afinal, damas não gritam, por mais que quisesse muito fazer isso naquele momento, ela se manteve sob controle.

—Me escute você Sakura, Gaara é frio e calculista, nunca deixou transparecer nenhum tipo de sentimento, não que eu tenha visto ou ouvido falar, assim como o pai ele mantém o reino muito fechado, é quase impossível conseguir qualquer tipo de informação de lá e não é como se eles fossem considerar uma boa ideia abrigar fugitivos de Fugaku, depois da morte de seu clã eles apenas fizeram acordos pequenos e comerciais conosco por pressão e medo de uma nova guerra, eles não são amigos, não vão nos ajudar.

—Eu não concordo com isso – Sakura bateu o pé, deixando bem claro que não iria mudar de ideia, não adiantava o que ele pudesse dizer – esta tirando conclusões precipitadas, julgando sem saber dos verdadeiros fatos por trás de suas ações.

Itachi bufou completamente irritado. Konan encarou aqueles dois orgulhosos que não iriam ceder, era até divertido ver a cena, bem, ela conhecia os Uchihas o suficiente para saber que quando colocam algo na cabeça, não há quem a tire, e como Sakura fora criada entre eles, com toda a certeza não mudaria de ideia.

Olhando pelo lado mais lógico, Itachi estava certo, quer dizer, ele diferente de Sakura tinha argumentos, bons argumentos, já a rosada simplesmente contava com a confiança estampada em suas palavras, e apenas isso jamais seria suficiente para fazê-lo considerar a ideia.

—Vamos procurar Tsunade e sem mais discussões – Itachi cruzou os braços determinando o que fariam. Isso indicava que o assunto estava encerrado e que não iria mais discutir.

—Ótimo! Vocês vão atrás dela e eu vou para o reino Sabaku No. – Sakura sorriu vitoriosa, cruzando os braços imitando o gesto do moreno, apenas para irrita-lo.

Itachi lhe lançou um olhar extremamente furioso, e se fosse o Sasuke em seu lugar aposto que já teria perdido o controle e arrastado a rosada com ele, mas não, o Uchiha mais velho era mais racional, não perdia o controle tão facilmente e sempre tentava entender os dois lados da história, ao seu modo tentava não julgar antes de saber os fatos concretos, mas algumas vezes ele simplesmente aderia ao modo Uchiha de ser, como estava fazendo agora.

—O que você quer tanto fazer nesse reino? Por que essa insistência toda? – Konan pela primeira vez interferiu na discussão, tentando impedir que as coisas piorassem, sabia que aqueles dois jamais brigariam de verdade, a ponto de deixarem de se falar, mas mesmo assim não gostava de discussões entre eles.

—Assuntos a tratar – Sakura desviou seus olhos para a jovem de cabelos arroxeados, dando um mínimo sorriso ao perceber sua confusão – algo que encontrei no castelo, preciso falar com o rei, mas receio que ele não vá receber um Uchiha muito bem.

—Exatamente por esse motivo que não devemos ir até lá – Itachi falou como se aquilo fosse à coisa mais óbvia de todas, parecendo satisfeito que finalmente haviam entendido que deviam seguir seu plano.

A rosada o encarou descrente, apenas tentando achar uma maneira de dizer o que estava em sua mente, que não seriam eles a ir até Sabaku No Gaara, e sim apenas ela. Havia pensado bastante sobre isso no caminho e sabia que se ela fosse só haveria menos possibilidades de chamar atenção, além de que seria mais bem recebida.

Konan que observava a jovem percebeu o impasse em que ela se encontrava, as esmeraldas pareciam perdidas, talvez relutantes no que dizer, parecia pensar na melhor forma de falar com Itachi o que realmente desejava, uma maneira que sua cabeça dura a entendesse e concordasse com a mesma.

Como sempre fora muito intuitiva e conseguia captar as coisas rapidamente ela logo entendeu o impasse da jovem Haruno, sabia como seria complicado convencer Itachi daquilo, como um bom irmão mais velho ele jamais permitiria que Sakura fosse sozinha, não sem ajuda.

—Mas Sakura não é uma Uchiha. – Konan falou simplesmente do nada, recebendo olhares surpresos com sua declaração – Então eu e o Itachi devemos ir até o reino Senju e conseguir ajuda, e Sakura precisa resolver os assuntos com os Sabaku Nos e como muito provavelmente ele não vá nos receber bem, é melhor que ela vá só, ter dois poderosos reinos do nosso lado será excelente para problemas que poderão surgir no futuro.

A rosada sorriu com a declaração da amiga, logo já estava a abraçando, agradecendo-a pela ajuda, ao contrário do Itachi, que se encontrava com a expressão impassível e um olhar sanguinário, na verdade, se olhasse atentamente podia-se ver seus olhos treme-luzindo entre vermelho sangue e ônix.

Mesmo sem concordar, deixou-se ser vencido pelas as damas e assim permitiu que Sakura seguisse seu plano, afinal, ela era uma ótima estrategista e não recordava de nenhum de seus planos ter falhado, um argumento que a mesma usou para acalmar Itachi.

Antes de qualquer coisa a aconselhou a tomar cuidado e não confiar totalmente nas pessoas, algo que Sakura já sabia, mas que ele fez questão de reforçar, ela era uma joia preciosa para Itachi, uma irmã mais nova que mesmo sabendo se cuidar, ele sentia a necessidade de protegê-la, de tudo e de todos, o motivo de está onde estava. Sakura o abraçou e o moreno carinhosamente depositou um beijo no topo dos cabelos rosados. Quando se afastara Itachi simplesmente montou em seu cavalo e declarou que iriam acompanha-la até onde pudessem e só então ela seguiria viajem sozinha.

Seguiram a cavalo em direção à fronteira Senju-Sabaku No, saia um pouco da rota, mas não se importavam, apenas queriam garantir a segurança um do outro o máximo que pudessem.