”Quando acho que no mar estou nadando, me deparo com uma surpresa, que na areia me afundo tão cega estava que não soube distinguir essas duas grandezas.”

Tola!

Minha mente me julgava com toda a intensidade e eu não tirava suas razões por achar isso de mim. Fui tola a todo o momento, tola por não saber da intensidade do sentimento que sentia, que agora me corroía por dentro e me fazia correr cada vez mais para longe daquele que me fez descobrir tal sensação.

Sentia os galhos perfurarem meus pés, mas eu não ligava para as pequenas pontadas de dor, a dor maior se encontrava em meu coração. Tinha deixado os sapatos para trás, antes mesmo de adentrar a floresta, pouco se via dentro daquele emaranhado de árvores, mas era o suficiente para enxergar alguns metros a minha frente e facilitaria que alguém não me encontrasse naquela escuridão iluminada fracamente pela lua.

Parei bruscamente e quase caí no chão quando um galho prendeu-se em meu longo vestido como já estava com as mãos os puxando para cima de forma que facilitasse minha corrida o puxei fortemente, vendo o tecido se rasgar e deixar um pedaço de pano rasgado e sujo no local. Logo depois retornei a fazer meu percurso sem destino certo.

Sentia meus cabelos se desmancharem do penteado aos poucos, até estarem completamente soltos. Tanto tempo foi gasto para ficar perfeita e no final de tudo terminei daquela maneira, voltando a ser a Sakura de sempre, mas meus pensamentos sobre mim mesma foi se esvaindo conforme o que via.

Passei tantos anos de minha vida brincando naquela floresta, apesar de jamais ter ido para tão longe, nunca passou em minha mente que ali escondido existia um pedaço do paraíso na terra.

Meus paços forram desacelerando conforme a minha visão era preenchida por tal maravilha, em meio à floresta aonde as árvores circulavam e davam espaço para que a lua iluminasse tal perfeição, existia uma cachoeira que caia magnificamente sobre um pequeno lago, que possuía pedras ao seu redor com um gramado de um verde vivo e com diferentes e belíssimas rosas para dar o toque final, um quadro perfeito para que milhares de telespectadores admirassem.

Desabei a beira do lago de águas cristalinas, a lua brilhava sobre ele e lançava uma luminosidade mágica na clareira, as flores, respingadas pelo leve branco da neve que começava a cair novamente, lançavam um aroma leve e aconchegante ao lugar, no fundo eu sentia que já havia estado ali, mas tinha certeza de que não conhecia o lugar, que jamais havia ido tão fundo na floresta.

Senti gotículas de agua cair sobre minha pele exposta dos braços, olhei para o céu mais não havia nuvens e quando toquei em meu rosto foi que percebi as lágrimas que caiam silenciosamente, a dor dilacerante que sentia não me permitia pensar em nada mais, muito menos no frio que estava a se instalar em meu corpo, ou no fato de que eu não tinha ideia de como voltar ao castelo, tentei enxugar as lágrimas, pois sabia que chorar não resolveria nada.

Soltei um grito quando vi meu reflexo na água, automaticamente me afastei da beira do lago, não podia ser! Era impossível que aquilo realmente fosse meu reflexo, juntando toda a coragem que tinha me aproximei novamente, fitando meu reflexo e me obrigando a ficar parada, mesmo que aquilo me apavorasse mais do que qualquer outra coisa.

Meus longos cabelos róseos normalmente rebeldes estavam lisos, levemente ondulados, caindo perfeitamente ao redor do meu rosto, minha pele normalmente branca estava quase mais clara que a neve que começava a se acumular ao meu redor, provavelmente graças ao frio.

Mas o que estava realmente me assustando era o fato de que meus olhos verdes agora já não estavam mais verdes, eles estavam em um tom prateado aterrorizante, da mesma cor da lua. Fiquei fitando meus olhos aterrorizada, sem conseguir me mover.

— Sakura! – pude ouvir a voz grave conhecida gritar meu nome por trás do leve tom de pânico que sentia, mas só fui realmente acordar quando fui levantada e virada bruscamente na direção da pessoa que eu buscava evitar naquele momento, mas fiquei com a cabeça baixa não queria encara-lo – deuses, o que você estava pensando? Fugir daquela maneira da sua própria festa foi à coisa mais estúpida que você já fez.

— Quem é você para falar qualquer coisa de mim? – gritei de volta o empurrando para longe de mim e me afastei irritada – Em Sasuke? Por que veio atrás de mim? Não devia estar com a Karin?

—Sakura, em primeiro lugar não fui eu quem estava escutando atrás da porta do seu quarto e logo depois comecei a dançar com o seu melhor amigo, como se fosse namorados – ele falou irritado, praticamente rosnando, estava de costas para ele, mas tinha certeza que suas mãos estavam fechadas com força, para tentar se controlar.

— Exatamente Sasuke, Naruto é seu melhor amigo, e meu também, achei que soubesse que nada aconteceria entre nós, além disso, você estava se agarrando com a Karin, justo aquela vadia – estava tão revoltada que por um momento esqueci completamente da cor dos meus olhos e olhei para ele, indignada, mas quando me lembrei olhei para o chão rapidamente, torcendo para que ele não tenha reparado, mas foi tarde demais.

— Sakura seus olhos... Olhe para mim – podia ouvir seus passos se aproximando, mas não obedeci, não queria que ele visse meus olhos assustadoramente prateados, ao perceber que eu não ia olha-lo Sasuke sem delicadeza nenhuma segurou meu queixo e me forçou a encara-lo – Ho deuses, você está se transformando, mas seus olhos não deviam mudar de cor, não é assim que funciona para plebeus e os Uchihas ficam com os olhos vermelhos não pratas, a menos que... Que pertença a algum outro clã...

Parei de prestar atenção em suas palavras quando o ar faltou aos meus pulmões, era como se eu houvesse levado um soco no estômago, mas ao invés da dor passar e do ar voltar tudo só se intensificava.

Tentei em vão puxar o ar, mas era como se minha traqueia houvesse se fechado, caí no chão não aguentando com o peso do meu próprio corpo, Sasuke caiu comigo, me segurando firmemente em seus braços fortes, aquilo até traria conforto se estivesse respirando e a dor não estivesse se espalhando por todo o meu corpo.

Quando finalmente consegui respirar novamente estava quase perdendo os sentidos, o ar voltou tão rapidamente como se esvaio me fazendo tossir várias e várias vezes até que meus pulmões se acostumassem novamente ao ar, mas a dor ainda continuava se espalhando, meus instintos estavam em alerta total, era como seu eu pudesse ouvir tudo e sentir tudo a quilômetros de distância e aquilo estava me enlouquecendo, era fora do normal.

— Sakura se acalme logo tudo vai ficar bem, basta respirar fundo e ter paciência – a voz do Sasuke era tranquila e baixa, quase carinhosa, ele estava acariciando levemente meus cabelos, ainda me segurando fortemente.

Mas eu senti que aquilo estava errado, eu não devia estar ali, não devia estar com ele, eu tinha que sair dali, era isso que todos os meus instintos me diziam, eu tinha de correr o mais rápido que pudesse, eu tinha que encontrar o lugar certo, só não sabia onde era esse lugar.

— Não, fique longe de mim – gritei me afastando bruscamente dele, não sabia que eu tinha tanta força, já que o empurrei com tanta força que ele deslizou uns dois metros de onde estava.

Antes de poder olhar a expressão em seu rosto eu corri, mais rápido do que jamais havia imaginado correr em toda a minha vida, minha visão embaçou completamente, meus sentidos sumiram por um tempo e a dor desapareceu, quando dei conta do que havia acontecido eu simplesmente ouvi o som de tecido rasgando e quando menos esperava estava correndo em quatro patas.