A tarde Amy foi navegar na internet, e ao entrar em sua rede social viu que havia uma mensagem. Ela pensou que era de alguma colega de escola, que lhe escrevera para perguntar como estavam sendo suas férias, ou então de Sinead, lhe convidando para sair novamente. Mas não era nenhuma das duas coisas. A mensagem era de Ian.

Amy não falava com ele desde o dia da festa, que foi no mesmo dia que ele lhe dera o livro de presente. Na mensagem Ian lhe perguntava se ela estava lendo o livro, o que estava achando, e se conhecia e já tinha lido a série Desventuras em Série. Amy ficou surpresa pois Ian não parecia do tipo de garotos que gosta de ler. Ele mesmo deu a entender isso.

Amy respondeu a mensagem de Ian, mandou uma para sua colega da escola, depois fez pesquisas sobre livros. Ian lhe respondera a mensagem uma hora depois dela ter mandado, e assim eles ficaram conversando sobre livros. Amy nunca imaginou que dividiria sua paixão – os livros – com o primo quem ela menos gostava. Era surpreendente o fato de Ian gostar de ler tanto quanto ela, e também o fato dele ter pedido para ela não contar a ninguém, senão poderia manchar sua reputação. O que era uma tremenda idiotice pois, ler é um dos melhores prazeres na vida, e a pessoa aprende palavras novas, a escrever melhor, a se expressar melhor, fica mais inteligente, e etc... Então como isso pode manchar a reputação de alguém?

Quando Amy viu já estava quase na hora do jantar. Tinha passado umas três horas no computador, quase duas conversando com Ian.

No dia seguinte, Amy combinou com Dan que os dois voltariam à biblioteca, mas dessa vez não fariam isso escondido. Quer dizer, Grace saberia que eles estariam lá, mas ela não poderia saber o que Amy fazia. Dan vigiaria a porta.

— Certo — disse Dan sentado numa das mesas onde poderia vigiar a porta, e ver Amy. — veja o que mais nós podemos descobrir.

Amy foi naquela mesma estante, puxou o mesmo livro, a mesma alavanca, a mesma janelinha se abriu, e a mesma pasta estava lá. Ela foi procurar papéis novos e leu em voz alta o suficiente para que Dan ouvisse:

— Terceira semana: Os mesmos resultados, porém mais efeitos colaterais... Observação: Quanto maior a dose, maior os riscos de efeitos colaterais. Em alguns casos o efeito não poderá ser revertido.

Amy se lembrou de que Ian lhe dissera em uma das mensagens que certo dia não aguentou ler nem um capítulo do livro visto que sua cabeça doía muito. Dan lembrou-se de Isabel dizer que Natalie desmaiara. E se eles ficassem com esses efeitos para sempre? Ou pelo menos por muito tempo?

Amy continuou a ler:

— Risco de morte para cada paciente

* 12% - Mary-Todd, Madison e Reagan Holt;

* 37% - Ned e Sinead Sterling e Jonah Wizard;

* 48% - Hamilton Holt, Natalie e Ian Kabra;

Os outros não correm mais riscos devido ao fato de não apresentarem os resultados. Motivo desconhecido.

Amy olhou para Dan com os olhos arregalados. Risco de morte? O Benzarol poderia mata-los? Os dois apenas ficaram se olhando sem dizer uma palavra. E se um de seus primos morresse? Sinead, Hamilton ou Ian? Como Grace se sentiria? Ela seria capaz de ir até o fim sem saber o que aconteceria?

— Dan a Grace não pode... — Amy parou de falar como se não houvesse palavras.

Ela fechou e guardou tudo, e os dois saíram da biblioteca sem dizer nada. Ambos estavam pensando em Grace, no Benzarol, e em seus primos.

* * *

Na manhã seguinte, lá estava Dan voando no helicóptero particular dos Holt. Mary-Todd pilotava. Dan por um momento se esqueceu do que Amy lera na biblioteca na noite anterior, e só conseguia ficar maravilhado com a bela visão que tinha lá de cima. A imensidão das árvores, as casas bem pequenininhas, parecendo formigas.

— Isso é muito legal, não é? — gritou Hamilton para Dan. — Não vejo a hora de poder pilotar. Mamãe está me ensinando.

— Já era para o Hamilton ter aprendido — gritou Mary-Todd — mas ele tem estado tão no mundo da lua ultimamente!

Dan se lembrou de que era um dos efeitos colaterais. Ela também havia esquecido o nome de Dan várias vezes. Outro efeito colateral. Ele ficou pensando se ela desmaiasse ali naquela hora, e o helicóptero caísse. Rapidamente Dan afastou os pensamentos e tentou aproveitar o passeio.

* * *

— Está ficando perigoso. — disse Grace à Fiske e Mclntyre. Eles estavam na biblioteca vendo os relatórios.

— Natalie já desmaiou três vezes. — disse Fiske ­— Ainda bem que o médico está fazendo um bom trabalho e dando desculpas para isso.

— A maioria deles tem dores de cabeça, — disse Mclntyre — e alguns tem dificuldade de raciocínio, e outros perda de memória. Nenhum deles apresentam todos os sintomas juntos.

Grace estava concentrada no risco de morte. Não poderia continuar com isso. Ainda mais que Dan, Amy e Nellie já sabiam.

— Dan e Amy descobriram. — disse Grace —Essas crianças são mais espertas do que pensei. Nellie me ligou hoje. A coitada estava preocupada se seria despedida. Eles devem ter lido o bilhete que deixei para você Fiske, e confundiram tudo.

— A propósito — disse Fiske — a senhorita Gonzales já foi demitida, e já lhe demos o Esquecerol. O que faremos com Isabel?

— Use o Esquecerol nela também. Ele apagará a memória dos últimos dias por isso tem que ser logo.

— Mas afinal — disse Mcntyre — vamos continuar com o tratamento?

Grace baixou a cabeça. Não sabia o que fazer. Não poderia fazer dano a seus parentes. Dan e Amy talvez não a perdoariam. Ela não se perdoaria.

— E quanto a Nellie, Dan e Amy? — perguntou Fiske.

Grace pensou um pouco. O que ela poderia fazer? Usar o Esquecerol? Ou contar-lhes tudo?

— Use o Esquecerol neles também. — ordenou Grace.