Tomoeda High escrita por Uma Qualquer


Capítulo 25
Convite




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Na sala dos professores, Lau e Sebastian se encarregavam de contabilizar os lucros do festival da semana anterior. Depois de separar por turmas o total para montar o ranking, deviam somar novamente e dividir para as instituições de caridade a quem a renda era destinada.

– Fizeram um ótimo trabalho –comentou Lau, com seu forte sotaque chinês. – Mas sem dúvidas, ninguém foi páreo para a 4-O esse ano.

– Os alunos trabalharam bem– Sebastian concordou. – Só precisaram usar a criatividade... E perder duas de suas colegas de turma.

– Elas realmente não vão voltar?

– Não. Mas bem, não é como se mudassem de país. Os garotos poderão visita-las quando puderem.

– Mas não é a mesma coisa, né... Afinal, eram companheiras deles.

– Isso é verdade– ele murmurou, pensativo.


– Exames? –indagou Touya. –Mas vocês disseram que ela já podia receber alta!

– Descobrimos algumas... Particularidades no corpo de sua irmã– explicou o médico. –Achei melhor fazer alguns exames de rotina, apenas para verificar se está tudo bem.

Touya imaginou Sakura na maca de algum laboratório, cercada de cientistas, sendo testada, operada e dissecada como se fosse um extraterrestre.

– Então, é melhor o senhor dizer isso a ela pessoalmente– disse resoluto.

Ele aguardou poucos minutos do lado de fora do quarto. Quando o médico saiu, tinha um sorriso vazio no rosto.

– Kinomoto-san está liberada– disse. – Realmente, não entendo por que a deixamos aqui tanto tempo. Ela está com uma saúde perfeita.

– Obrigado, doutor– Touya curvou-se para ele.

Sakura já estava guardando os presentes que havia ganho em sacolas e se arrumava para ir embora.

– Certifique-se de nunca usar essa habilidade em mim– ele a advertiu.

A garota sorriu para ele. –Você é meu nii-san, eu jamais faria algo assim contigo.

Claro, Touya assentiu num suspiro conformado.

Não que não confiasse nela, mas a tinha visto atacar Nadeshiko anos atrás. Se ela realmente achasse necessário, faria qualquer coisa com ele.

– Falando nisso– a voz dela o tirou de seus pensamentos. –Eu vou precisar de uma coisa enquanto estiver em casa. Acha que pode conseguir pra mim?

– Se está falando do seu “suprimento especial”, está tudo arranjado. Tive que recorrer a um banco de sangue clandestino. Espero que você não se incomode com comida congelada.

– Oh, está perfeito– ela exclamou agradecida. – Se estiver frio o bastante, não vai chamar a atenção de nenhum caçador. Mas... Banco clandestino? Quer dizer que você entrou em contato com o mercado negro?

– Na verdade, foi o too-san. Acho que ele conhece algum yakuza que pode arranjar essas coisas pra ele.

– Poxa, não imaginei que ele fosse tão barra pesada.

– O too-san é um cara mais durão do que aparenta – Touya concluiu, ajudando-a com as sacolas. – Já liguei pro Yukito, daqui a pouco ele passa aqui pra nos buscar.

– Ele sabe...?

Touya assentiu. – Ele é de confiança.


O convite havia sido trazido por um pombo-correio. Ninguém menos que a líder dos Guardiões de Tokyo intimava os irmãos Li a visitarem seu café.

– Não é um bom sinal– Syaoran observou.

– Claro que não – disse Kurogane. – Uma vampira em nosso território, escondendo-se do nosso radar até agora. Isso no mínimo iria demandar uma nova reunião entre todos os Guardiões, mas esse convite... Não imagino o que pode passar na cabeça dela.

Enquanto limpavam a neve do pátio, bem mais tarde naquele dia, Tsubasa resolveu perguntar como Syaoran pretendia lidar com Sakura dali em diante.

– Vai mesmo ficar longe dela? Óbvio que ela só disse tudo aquilo porque não quer que você se meta em problemas por causa dela.

– Eu sei disso. Mas também não posso voltar atrás no que eu prometi tão cedo. Pode ser que ela não esteja pronta.

– É sério isso...?

– Você não viu como ela estava– Syaoran parou, apoiando o queixo sobre o cabo da vassoura, e soltou um suspiro pesado. –O Touya-san não falou muito sobre o passado dela, mas disse que alguma coisa terrível tinha acontecido com ela tempos atrás. Tão terrível que ela preferia morrer a ter que passar por isso de novo. A Sakura... Bom, ela tem a mesma aparência de antes. Quem não a conhece como nós pode dizer que não houve nada de mais, mas dá pra ver nos olhos dela. Tem um cansaço, uma tristeza, que não estavam ali antes. É como se ela carregasse um fardo muito pesado. Não sei se essa coisa de relembrar o passado fez algum bem a ela.

– Vamos saber daqui pra frente– Tsubasa ponderou. – Só nos resta ver como ela vai encarar a verdade agora... E como vai lidar com a mãe dela também.

– Só acho que ela não merecia passar por tudo isso...

– Nem você, Syaoran.

Ele olhou para o irmão, meio surpreso com a preocupação dele.

– É... Valeu– murmurou incerto. – Bem, vamos torcer pra isso se resolver de um jeito ou de outro. De qualquer forma, mesmo que a Sakura não saiba ou nem queira, vou ficar esperando por ela.


Ela sorveu as últimas gotas do líquido vermelho, e então estendeu o copo ao irmão. Touya rapidamente o levou à pia, onde o encheu de água e deixou os resíduos descerem pelo ralo.

Tinham que tomar bastante cuidado. Em Tokyo um Guardião sempre sabia quando um ato profano, que consistia em beber sangue de alguém vivo, estava para acontecer. Mas não consideravam que havia profanidade ao se tomar o sangue de qualquer outro animal, nem de alguém morto. Para completar, Tokyo era um território sagrado, que constantemente restaurava as forças dos vampiros; logo a necessidade de sangue se atenuava bastante enquanto se estava ali.

Sakura de fato não sentia muita sede, mas Touya achava melhor dar a ela sangue humano, devido à quantidade de anos que ela passou sem se alimentar apropriadamente. Afinal, ele não podia esquecer que, mesmo por impulso, ela havia despertado de seu sono direto para o pescoço de Nadeshiko. Não era algo que ele queria correr o risco de passarem novamente. Esperava apenas a bolsa de sangue descongelar o bastante para ficar líquida, e uma vez a cada três dias, Sakura esvaziava uma delas. Desde que o sangue estivesse frio como o de um morto, não chamaria a atenção de ninguém.

Enquanto Touya lavava o copo, Sakura buscou uma maçã e a mordiscou, sentada junto à janela. Gostava do sabor do sangue, mas não achava certo tê-lo em sua boca ao falar com o irmão. Eram pequenas regras de etiqueta que estava criando para si mesma ao conviver com um humano. Não olhar demais as veias no pescoço dele. Não fazer movimentos sorrateiros ou surpreendê-lo com alguma habilidade nova. Não exalar hálito de sangue ao falar com ele. Querendo ou não, Sakura tinha sido a responsável por deixá-lo órfão, anos atrás. Não podia passar a Touya a sensação de que ele estava convivendo com uma predadora em potencial, que o atacaria enquanto ele estivesse dormindo.

Ela o observava dormir às vezes, não era mentira. Mas não porque desejasse atacá-lo. Ela só queria ser capaz de dormir tão tranquilamente quanto ele.

Olhou para um vão no muro junto à saída do condomínio, onde era possível alguém ficar sem que alguém visse ali de cima. Lembrou com pesar do fim de tarde em que Syaoran a trouxe para casa, e acabaram passando ali vários minutos, embora menos do que desejassem realmente. Vinha pensando nele sempre, desde que voltou para casa. A certeza absoluta de que o tinha afastado para sempre de sua vida, embora a tranquilizasse, também a deixava arrasada. Então ele podia mesmo aceitar aquilo tão facilmente?

Sobre o kotatsu estavam algumas das lembranças de suas amigas. Tomoyo as trouxe para ela; tinha vindo visitá-la poucos dias depois que ela voltou para casa, e havia dito aos outros que Sakura estava muito doente e iria se tratar em outra cidade. E claro, não estudaria mais na Tomoeda.

– Tenha cuidado quando sair por aí– recomendou, ligeiramente aborrecida. –Não quero que alguém te veja no meio da rua e venha dizer que eu estava mentindo.

– Não tem lugar nenhum para onde eu vá sair ao ar livre no momento, fique tranquila. Além do mais, você sempre vai poder dizer que era a Tsubasa e não eu.

– Realmente… –Ela a fitou pesarosa. –Sua mãe não falou em deixar a Tomoeda. Tem certeza de que quer mesmo fazer isso?

– Ela estar lá é só mais um motivo para que eu não queira voltar.

Tomoyo deixou os ombros caírem. Nenhuma das resoluções de Sakura a agradava de maneira alguma.

– Nesse caso, também vou sair– contou. – Estive no colégio esse tempo pra cuidar de você, pra garantir que não faria nenhuma besteira quando recobrasse suas memórias. Mas parece que não posso evitar isso, não é?

– As pessoas vão sentir sua falta– Sakura tentou argumentar, triste com a decisão repentina de sua amiga.

–Posso estudar em casa mesmo, e até minha mãe vai ficar satisfeita com isso, o que não é algo exatamente ruim. Então... Se cuide, Sakura.

Ela ainda lembrava a mágoa e a decepção estampadas no rosto de Tomoyo, mas o que podia fazer a respeito? Envolver as pessoas que tinham algum significado para ela num problema com o qual não tinham nada a ver?

Deu outra mordida na maçã, observando o muro. E então, notou que havia uma presença ali.

Uma presença que ela não podia ignorar.

– Fique aqui– Touya acabava de tirar o avental e calçar as sandálias. Devia ter herdado alguma habilidade da mãe, pois sabia reconhecer presenças muito bem, mesmo a que estava lá fora sendo tão fraca para ser notada.

Ele desceu as escadas do condomínio, ansioso. Não sabia de quem se tratava, mas podia sentir algo bastante singular em sua presença, algo que só havia naqueles que pertenciam ao que ele preferia chamar ‘o povo de Sakura’. Se estava ali, só podia ser por ela.

– Kinomoto-san– um rapaz louro, pouco mais velho que ele ou Yukito, entrou pela passagem e se curvou respeitosamente. – Trago uma mensagem para sua irmã. Minha mestra deseja vê-la.

– E quem é a sua mestra? –Touya meio que já imaginava a resposta.

– Trata-se da mãe dela.

Sakura vinha descendo as escadas, envolta num pesado xale de inverno apenas por costume, pois não sentia frio.

– Quando ela deseja me ver?

– Se possível, imediatamente, minha senhora.

Sakura olhou para o irmão, que estava em dúvida. Devia mesmo deixá-la ir com aquele estranho? Mas ela lhe dizia para confiar nela. Era o que devia fazer então.

– Voltarei logo– ela prometeu antes de sair.

Mas mesmo assim, Touya continuava preferindo que ela não tivesse ido.

Ao voltar para dentro, uma nova visita surpresa. Um pombo estava pousado na janela, com um rolinho de papel amarrado a uma das patas, arrulhando para chamar sua atenção. Não saiu da janela até que Touya fosse lá e apanhasse o rolinho.

– Um convite…? –Ele leu o conteúdo, confuso. – Para Kinomoto Sakura, de… Quem é esta pessoa?


A sala era tão pequena como o resto do casebre, mas parecia bem aconchegante. Havia um chá quente e bolinhos sobre o kotatsu, que era decorado por vários origamis em forma de flores de cerejeira.

– Desculpe-me se as boas vindas não parecem apropriadas– Tsubasa sorriu, sentada na mesa diante dela. –Estou mais acostumada a lhe dizer adeus do que olá.

Sakura sentou-se diante dela, observando os origamis.

– Achei que não gostasse de flores.

– Das de verdade, não. Elas nascem, brilham por pouco tempo e morrem rapidamente. Mas seu pai adorava flores de cerejeira. Foi ele quem escolheu o seu nome.

– Não me lembro do meu pai.

– Ele morreu muito antes de você nascer. Era humano, assim como você foi em sua primeira vida.

Ela fitou a mãe, que lhe observava com um leve ar de ansiedade. –Por que me chamou?

– Há algo que preciso entregar a você. E, bem... Queria ver como estava. Me preocupei muito com você, desde o momento em que a salvei da morte.

Sakura sorriu. – Entendo. Ficou bem preocupada, a ponto de me trancar num templo e me deixar lá a mercê de ladrões e bandidos por décadas, até que alguém resolvesse me tirar de lá.

A ironia pareceu entristecer Tsubasa.

– Eu não a abandonei– disse. –Nunca deixaria que lhe fizessem mal. Havia uma proteção especial no templo, cuidando para que nenhum perigo se aproximasse. Quando os Kinomoto chegaram lá, estive por perto para saber de suas intenções. Só lhe confiei a eles porque sabia que poderiam cuidar de você. E eu tinha mais razão do que imaginava… Aqui está você, ciente do seu passado, mas disposta a seguir em frente com sua vida.

– Não fale do que não sabe– Sakura resmungou. –Além do mais, uma pessoa teve que morrer no processo.

– Ninguém disse que seria fácil– Tsubasa fechou o assunto. Apanhou o bule e começou a servir chá para as duas. – Bem, vou lhe entregar aquilo que lhe pertence. É algo que seu falecido marido havia deixado para você.

Sakura observou atônita ela erguer a manga do quimono, tirando do bolso seis cartões de plástico, com a impressão do banco nacional. Cartões de crédito.

– O que é isso?

– Logo depois que vocês se casaram, ele abriu uma caderneta de poupança para você. De lá para cá a conta não foi movimentada, ficando apenas a acumular os juros desde aquela época. Cuidei para que o banco não fechasse a conta e abri novas, porque a quantia já não cabia numa só. O resultado são essas seis contas, com mais de um século e meio de juros acumulados nelas. Nem as guerras e nem as crises econômicas afetaram muito o valor total. Faça bom proveito.

Ela piscou devagar. – E o que eu deveria fazer com isso?

– Aí é com você– Tsubasa sorriu. –Se vai tentar viver disfarçada no mundo humano, provavelmente vai precisar de algum deles.

Sakura lembrou-se de Touya, que largou um de seus empregos de meio período apenas para lhe fazer companhia. É, talvez aquele dinheiro fosse servir para algo.

– Fico muito feliz que tenha vindo– Tsubasa comentou, bebendo um pouco do seu chá. –E que esteja bem, e… Protegida pelo seu irmão. Sinceramente, não esperei que fosse escolher continuar ao lado dele.

– Eu disse que ia te matar se você me trouxesse à vida outra vez– Sakura apanhou sua xícara. – Achei que já esperasse por isso.

– É verdade. – Ela sorriu novamente, olhando para a filha de modo despretensioso. – Então, por que aceitou meu convite? Ainda está firme em sua decisão de me matar?

– Não– ela tomou um gole e pousou a xícara de volta à mesa. –Não me faria nenhum bem, nem lhe faria algum mal. Prefiro me preocupar com outras coisas, como com o porquê de você ter entrado em Tokyo na surdina e feito seu servo me despertar. Agora, todos somos alvos fáceis para os Guardiões desta cidade.

– Ora, não superestime os Guardiões. Apenas você está no radar deles. Fai tem passe livre na cidade, enquanto eu não emito presença alguma.

– Mesmo? Bom saber que você tinha tudo planejado desde o começo. Pena que eu não estava sabendo de nada. Mas por que Fai me despertou, afinal?

– Porque você estava sofrendo– o rosto dela tomou-se de consternação. – Tinha me dito que detestava mentiras, e a perspectiva de estar vivendo uma a assustava mais do que tudo. Agora que você já tem uma nova vida, não vi problemas em lhe trazer de volta.

– Claro– ela sorriu rancorosa. –Você nunca vê problemas em me trazer de volta.

– Sou sua mãe, Sakura. É claro que eu não vejo.

Ela se ergueu da almofada, olhando para Tsubasa friamente.

– Na verdade, eu vim porque tinha algo a dizer– declarou. –Você pensa que está agindo como uma mãe ao me trazer de volta, mas não está. Só está sendo hipócrita, e covarde. Não consegue conviver com sua própria dor sem usar seus poderes para acabar com ela, e sem se importar com minha própria dor. Ao menos eu assumi que não podia seguir em frente. Mas você não. Você sempre deu um jeito de me fazer viver de novo, e acha isso a coisa mais normal e altruísta do mundo.

Sua mãe a fitava calmamente. – Tem algo mais a dizer?

– Sim. Fique longe de mim.

Ela assentiu, como se já esperasse por aquilo.

– Bem, não posso discutir com você as opiniões que tem a meu respeito. Não vou dizer que não sou egoísta, quando todos nesse mundo somos. Mas se quer que eu mantenha distância, é o que vou fazer.

Sakura a observou levantar-se, ajeitando uma manta grossa de inverno sobre os ombros. Refletiu que gostaria de odiá-la um pouco mais, mas a vida que levava agora lhe fizera perceber que era algo inútil. Afinal, nada do que perdeu voltaria se isso acontecesse.

– Quanto ao que os Guardiões podem lhe fazer, eu não me preocuparia – Tsubasa aconselhou. – Se não esconder nada deles, eles não terão nada para usar contra você. As pessoas por quem tanto teme, também não serão prejudicadas se você for sincera.

– Então terei que contar sobre vocês dois– Sakura concluiu.

– Podemos nos cuidar. Não se preocupe conosco.

Ela lhe lançou um último olhar antes de sair. – Não estou preocupada. Obrigada pelos cartões.


– Então, a filha vai sair da Tomoeda, mas a criatura continua lá.

– Aparentemente sim, jovem mestre.

Ciel suspirou impaciente. – Achei que haveria uma chance de confrontá-la, enquanto ela estivesse sozinha. Mas não posso fazer nada enquanto tudo o que ela faz é ir da escola para casa todos os dias.

– Eu não teria tanta pressa– Sebastian sorriu, diante do olhar confuso do garoto. –Tsubasa não entraria num território do qual foi banida, arriscando tudo o que tem, apenas para encontrar sua filha. Ela poderia fazer isso, mas já demonstrou que possui outros interesses. Ter trazido Fai consigo prova isso.

– E que outros interesses seriam?

– Fai foi recrutado por ela anos atrás, aqui mesmo, em Tokyo. –Sebastian tirou uma série de documentos de uma pasta sobre a mesa. –Pelos registros dos Guardiões, Fai D. Flourite estava devidamente registrado no conselho, junto a um Guardião de nome Kurogane. O que houve na época permanece nebuloso, mas ao que parece, Fai não está aqui apenas para ajudar sua mestra. Ele deve ter contas a acertar com seu antigo parceiro, e sua presença aqui junto de sua mestra é bastante propícia.

– E daí? Ela é uma boa samaritana que veio ajudar o servo a acertar as contas do passado dele. Algo mais?

– Sim. Você.

Ciel desencostou-se da poltrona, olhando para Sebastian. – Eu?

– Ela mencionou você nas duas vezes em que nos encontramos, conforme já lhe relatei. Obviamente sabe que sua presença aqui, jovem mestre, não é mera coincidência. Deve ter percebido que estamos no rastro dela há anos. Mas se ela não lhe dá abertura para que você a confronte, sem que cause nenhum problema com os Guardiões, deve ser porque ela decidiu que ainda não é a hora.

– Então, ainda por cima, tenho que esperar que ela decida quando é a hora– Ciel riu desanimado. –Realmente, eu tenho muita sorte.

– Ao menos, ela parece ser mais precavida que o jovem mestre –Sebastian disse, com um sorriso leve nos lábios. –Enfim, está na hora de ir para a cama. Você tem aula amanhã cedo.


Sakura odiava deixar o irmão preocupado, mas não podia evitar sair de casa sem ele, pela segunda vez naquele dia. Agora já estava perto da meia noite, uma hora estranha para chamar alguém para jantar. Encolhida dentro do kimono e do xale de mais cedo, ela espiava os grandes prédios que se erguiam ao seu redor, imaginando onde um café poderia estar naquele lugar.

Sua espera não demorou muito. Ao dobrar uma esquina, avistou um pequeno terreno murado, ladeado por dois edifícios. No alto do portão de ferro, brilhava em ferro prateado o símbolo de uma grande meia-lua.

– Aconteça o que acontecer, não fale mais do que achar que deve– ela ouviu uma voz conhecida.

Vinha da esquina oposta. Ela viu Tsubasa e Syaoran se aproximarem, usando seus uniformes de Guardiões. Os dois se surpreenderam ao reconhecê-la.

– Kinomoto-san– Tsubasa saudou-a. – O que faz aqui?

– Fui convidada– ela baixou o olhar, tentando não olhar para Syaoran, que não parava de lhe encarar.

– Ah, sério? –O mais velho sorriu, tentando quebrar o clima tenso que se formou imediatamente. –Pois nós também fomos. Nossa chefe gosta mesmo de surpresas.

– Chefe…?

– Ela é a líder dos Guardiões– Syaoran informou, e Sakura não pôde mais ignorá-lo.

– …Entendo.

Antes que Tsubasa tocasse no portão ele se abriu, revelando um amplo jardim de acesso à entrada. Eles foram na frente, mas Sakura hesitou um pouco.

– Pode vir– o mais velho falou. –Ela não vai te fazer nenhum mal. Talvez a nós; mas você vai ficar bem.

Ela engoliu em seco. Se era mesmo a líder dos Guardiões, por que não lhe chamara antes dos outros? Era ela a criminosa ali. Os Li não tinham que pagar por sua presença em Tokyo.

– É disso que tenho medo– murmurou devagar, baixando a cabeça.

Percebeu alguém lhe estendendo a mão. Não precisou olhar para ver que era Syaoran.

– A gente sabe – ele disse. – Mas nossa líder é uma pessoa justa. Se sua presença aqui for realmente algo contra as leis de Tokyo, ela vai lhe dizer. E ninguém mais vai se machucar.

A voz dele, pensou, sentindo o peito apertar. Sua presença reconfortante. Como sentiu a falta dele, por todos aqueles dias… Mas mesmo agora, sequer era capaz de segurar sua mão.

Conteve uma lágrima e os seguiu, enquanto eles se dirigiam à entrada do café.



End of the First Cour


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Notas finais do capítulo

Obrigada a você que leu e acompanhou até aqui. É, Tomoeda High terá mais uma parte, vai levar um tempo, mas irei postá-la.
Não gostei muito de como as coisas terminaram, mas enfim. Sakura está ryca, Syaoran de molho na friendzone, e ambos Tsubasa ficaram de canto na história, sem falar no Ciel... Mas enfim. Vou tentar melhorar no 2nd cour. Comentários podem me orientar no rumo da história, se os leitores estiverem dispostos a deixar suas opiniões e sugestões... Enfim. Té maisinho.