Facilis Densensus Averno escrita por Heosphoros


Capítulo 20
Amar é Destruir


Notas iniciais do capítulo

"Quem luta com monstros deve velar para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu, por muito tempo, contemplas a um abismo, a ti também o abismo contempla".

Friederich Nietzsche



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Haviam ruídos baixos, sussurros, que o vento trazia por baixo da noite nublada e escura nas extensas ruas cinzentas. Você pode ouvi-los todo o tempo e, inclusive, compreendê-los se fizer um esforço necessário... Ou, mais especificamente falando, se tiver um destino.

Clary Fray possuía um, mas não era o dela.

Enquanto apertava mais seu capuz contra o rosto, ela pensava de novo e de novo como foi parar ali - na alta madrugada, em uma tortuosa e pouco iluminada ruela, em algum lugar em Londres que ela não reconhecia. A memória foi chegando junto com um súbito arrependimento.

Começou com uma sensação fria de ausência e dúvida. Enrolada nos lençóis da própria cama, ela sentiu falta do abraço de Sebastian envolvendo-a. Os olhos verdes se abriram no breu e, adaptando-se com as sombras, ela teve um vislumbre do irmão pondo seu casaco e recolhendo um brilho prateado que se apagou em suas vestes.

Sua kindjal.

Clary só sabia de uma coisa; aquilo não terminaria bem. E sentindo-se traída e com um certo medo por ele, ela vestiu seu capuz o mais rápido que pôde e o seguiu distante, por entre ruas escuras e pessoas sombrias. A cada passo que ela seguia da cabeleira branca e brilhante há metros de distância dela, era um lamento maior de ter tomado aquela decisão.

Mas ela não podia voltar. Não se Sebastian fosse fazer algo de ruim - a si mesmo ou a alguém. Ela apertou o passo, mas confiante, e foi se escondendo à medida que se aproximava da figura alta vestida de negro.

Sebastian virou uma rua, na direita, mais apressado. Clary teve que esforçar suas pernas curtas para segui-lo e depois, imediatamente, desacelerá-las ao ver que ele havia parado. O irmão dela agora pairava em frente a um prédio cinzento, de dois andares, revestido com várias plantas que se enroscavam até a janela mais alta.

Ele subiu algum degraus e bateu na porta branca. Clary enfiou-se atrás de uma parede, ainda na esquina, e estreitou os olhos para ver mais.

Um homem abriu a porta. Usava uma espécie de pijama de veludo da cor de vinho. Ela teve que se concentrar muito e só passou alguns minutos até ela perceber quem era, notando que os cabelos espetados pareciam brilhar ao luar.

Magnus Bane.

. . .

– Magnus - o jovem com cabelos feitos de luar possuía uma expressão perturbada, até mesmo louca, enquanto encarava a ele com aqueles inquietos olhos pretos como aquela madrugada - preciso de ajuda.

– São quase duas horas da manhã, Sebastian - ele resmungou, esfregando os olhos com graciosidade - certamente a ajuda pode esperar o sol nascer.

– Não pode - havia uma leve coloração escura embaixo dos lindos olhos do rapaz, as de alguém que perdeu muitas noites de sono - acho que possui alguns agentes da Scottland Yard na taberna onde me hospedo, ou talvez da própria Rainha. Não posso ficar por lá e não há nenhum outro lugar mal frequentado num raio de 100 metros... só você.

– Seu pai está morto, Morgestern - Magnus disse enojado, provando mais uma vez o quanto qualquer notícia que rondasse por Londres chegava aos ouvidos dele - executado nas masmorras particulares de Imogen. Falta pouco para acharem você.

– Então, de fato, acharam Valentim... - os olhos vagueram para todos os lugares - eu posso te pagar.

– Não, Sebastian, não pode.

Algo demoníaco e assustador se acendeu naqueles olhos negros. Erguendo as duas sobrancelhas e esquivando a mão direita para o bolso das vestes, Sebastian Morgestern sussurrou:

– Então posso te matar. Aqui. Agora. Não tenho medo, Bane. Matarei você e qualquer gaysinho que esteja enrolado em seus lençóis de seda nesse exato momento.

Magnus deu um passo para trás, que quase vacilou. Não podia ser... O garoto certamente estava tentando convencê-lo de todas as formas tolas que conseguia.

– Você está blefando.

Sebastian Morgestern sorriu, sombriamente.

– Estou mesmo? - olhou para cima, para as extensas janelas com cortinas brancas que o próprio Magnus havia trocado naquela manhã. Janelas que davam em um único lugar que realmente importava. Onde ele dormia.

– Vá embora, Sebastian - Magnus disse, preocupando-se - você está fora de si.

Ao invés disso, o garoto deu um passo à frente.

– Não quero ir embora! Vamos lá, Magnus. Uma noite; eu e Clary... E então vamos embora. Ou o namoradinho que estiver no seu quarto vai ter de transar com você no Inferno.

Magnus cerrou os punhos, de repente com raiva de estar sendo ameaçado.

– Veja só quem de nós está falando no Inferno.

– MAGNUS! - um grito, de cima. A conhecida e sinuosa voz fez com que o jovem capitalista olhasse para cima apressadamente, preocupado com o tom com que ela foi invocada.

Os olhos azuis e os cabelos negros de Alexander foram a última coisa que Bane viu, antes de sentir a pontada gélida de dor na barriga e, logo após, os braços de Sebastian conduzindo-o ao chão. Ele caiu no calçamento, a mão pressionada contra o ferimento ao lado do umbigo que sangrava como uma fonte.

– ALEC - gritou, tentando ignorar a dor lacinante que sentia ao fazê-lo - CORRA!

Nem pôde ouvir qualquer risada fria e sarcástica vinda de Sebastian, pois o mesmo já havia entrado, em busca da única coisa que realmente valia a pena para Magnus se lamentar de ter um sangramento terrível na barriga. Aqueles olhos de safira brilharam para ele, pareciam ter sussurrado um "eu te amo", antes de se afastarem para dentro.

Cansado demais, Magnus pensou em Alexander, e fechou os olhos.

. . .

Jace estava acordado, os olhos vidrados no céu negro e cinzento e na lua minguante pouco visível entre a bruma das nuvens, que sorria para ele com um escárnio entretido. O universo inteiro, naquele momento, gargalhava da vida desgraçada que Jonathan Herondale - ou Morgestern, se ele ainda se sentisse digno da podridão daquele nome.

Enquanto o mundo ria, havia uma decisão a ser tomada.

Decisões delicadas jamais devem ser tomadas no auge de algum sentimento tão forte. Infelizmente, elas o são, na maioria das vezes.

Com uma mão pressionando com um ódio cego a raiz dos próprios cabelos, Jace traçou linhas de tinta preta sobre o papel diante dele com sua pena. Palavras foram se formando; decididas, traídas e irritadas tais como os sentimentos dele. E enquanto a coloração dourada de seus olhos tornava-se úmida, ele decidira acatar a única coisa certa que Valentim Morgestern o ensinara.

Amar é destruir. Ser amado é ser destruído.

Enquanto dobrava a carta, cuidadosamente endereçada a Simon Lewis, Jace só pensava em como fora destruído naquela manhã. Em como não se arrependera em passar o resto do dia trancafiado no quarto pequeno e escuro, torturando-se pelo erro que a vida dele era.

Clarissa, a única coisa que ele convictamente amava, era também o maior objeto de seu ódio. Ela e Sebastian - cujos sons apaixonados de desejo Jace teve o desgosto de escutar por trás da porta de madeira do quarto dela, se é que era só dela.

Quando tomou outra decisão, foi a de finalmente sair de seu quarto.

E cometer o erro no qual poderia se arrepender até que sua carne perecesse.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu tenho desculpas a dar. Tem se tornado cada vez mais díficil postar aqui na fic porque tenho muito trabalho de escola para fazer e o curso técnico também ta muito puxado - e chato, mas isso é outra coisa.

Infelizmente hoje não teve Clastian, mas amanhã terá!!!! Reservarei um momento para voces saberem o que os dois fizeram antes dessas tretas começarem . . . :3

A, outra notícia ruim. . . a fic ta acabando :'( resta-nos uns tres capítulos, mais ou menos. Podemos chorar? Podemos.

QUERIA TAMBÉM AGRADECER ATRASADA AS RECOMENDAÇÕES LINDAS DA LUIZA FAIRCHILD, DA SACHIKO SHINOZAKI E DA GISTAR. GAROTAS, VOCÊS SÃO ÓTIMAS. ACHO QUE NUNCA VOU ME ESQUECER DESSA FIC, POIS VOCÊS SÃO LEITORAS MARAVILHOSAS E INESQUECÍVES.

Amo cada uma de voces, que comentam sempre e me incentivam com recomendações. Saibam disso, ok?



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