Cheguei à escola mais cedo. Lanie me esperava como sempre. Entramos na sala e ela me desejou toda sorte do mundo. Era mútuo. Rick estava no fim da sala. Ele poderia estar preocupado com tudo, menos com a prova de literatura. Quanto ao orgulho, só me fazia sentir dor e levar-me a agir de forma estranha. Fiz a prova inteira fazendo um esforço tremendo pra não desviar meu pensamento ao fundo da sala onde Rick estava. As horas de intervalo eram as mais difíceis. Esbarrar com o Rick nos corredores daquela escola e não receber dele um olhar me doía muito. Essa situação se arrastou pela semana inteira. Por mais que eu tentasse disfarçar eu sentia por dentro uma angústia enorme. Tinha em mim uma dúvida eterna se eu deveria falar com ele ou não. Lanie tentou por várias vezes me dizer que o melhor era eu o chamar para uma conversa franca. Mas todas as vezes que eu pensava em me aproximar eu o via com a Sherry ou com outra menina qualquer.

Outra semana se passou e finalmente os resultados de todos os exames ficaram prontos. Lanie me puxou ansiosa pelo corredor em direção ao quadro de notas. Ela sabia minha matrícula decorada e rapidamente visualizou que eu tinha média A em literatura. Isso era fantástico!

–Kate! Kate! Você conseguiu amiga! E eu também! – Nos abraçamos em comemoração até Espo chegar.

–Ei chicas! Que festa! Deixa-me passar e ver se posso comemorar junto com vocês.

Espo demorou cerca de 2 minutos para se virar com um semblante radiante. Lanie correu ao seu encontro. Eles trocaram poucas palavras. Espo olhou para mim e para ela, em seguida balançou a cabeça em sinal positivo. Lanie o abraçou se pendurando.

–Parabéns Espo. – Falei animada.

–Valeu Kate! Tenho sorte de ter estudado com a Lanie. – Trocamos sorrisos.

Lanie estava muito feliz, já que Lanie e Espo estudaram para as provas juntos. O último dia da semana não foi tão bom quanto poderia ter sido. Eu ainda não tinha visto ou ao menos falado com Rick. Lembrei-me da aposta feita entre mim e ele. Mas me dei por vencida. Acho que não irei falar com ele nunca mais.

No cair da noite mamãe tentava me convencer do que fazer no meu aniversário. Eu não estava com vontade de nada. Estava a procura da saída mais simples. Talvez um bar livre. Comer uns petiscos e só. Antes que eu dissesse que não queria falar sobre isso agora não teria dado tempo, meu celular tocou. Não reconheci o número. Mas mamãe saiu do quarto antes de eu dizer alô.

–Alô.

–...

–Alô?

–Kate?

–Quem é?

–Sou eu, Rick. – Senti-me a beira de um infarto eu acho. E nada que eu descreva chegará perto do que eu senti.

–...

–Eu preciso falar com você.

–...

–Está me ouvindo Kate? – A voz dele era decidida, porém trêmula.

–Estou. Pode falar. – A voz embargava.

–Estou aqui na porta do seu prédio. Você pode descer um instante?

–Rick. O que você quer? – Eu suplicava.

–Apenas desça. Não te tomarei mais que 5 minutos. Prometo.

Apenas desliguei. Passei as mãos por entre os cabelos. Era um claro sinal de que eu não sabia de forma alguma o que realmente eu deveria fazer. Ele me fere tanto ao me ignorar. Porque devo atender ao primeiro contato? Tantas vezes meu olhar implora pelo dele dentro daqueles corredores. Porque agora? Eu só saberia se fosse até ele. Calcei-me. Coloquei duas gotas de perfume, puxei o casaco, avisei pra mamãe e desci.

Ele estava de costas para a portaria e trazia algo nas mãos.

–Rick. – Minha voz sussurrava. Talvez por medo. Talvez apenas por parte de mim querer voltar correndo e subir pra casa como se não houvesse opção.

Ele se virou devagar. O olhar dele encontrou o meu. Ele então se aproximou, ainda sem dizer nada. O olhar sem nenhum momento parar de me encarar.

–Eu... Eu... Eu me lembrei da aposta. Eu vi sua nota em literatura. Você venceu. Esposito me contou. – Ele ainda me olhava com um olhar sem expressão, mas cheio de significados para mim. Ele não carregava nenhuma arrogância no tom da voz. Ele falou pausadamente. Dócil, porém desconfiado.

–Verdade. – Eu agora desviava o olhar. Caso contrário não conseguiria segurar as lágrimas por mais tempo. Eu esperava um pedido desculpa acima de qualquer aposta.

–Eu te trouxe meu caderno. – Ele me estendeu o caderninho preto. – Minha palavra não vai mudar.

–Acho que essa aposta não é mais necessária Rick. – Eu engolia secas palavras e atitudes minhas pela garganta.

–Eu dei minha palavra Kate. E irei carregar ela até o fim.

–Se você prefere assim. – Dei de ombros segurando o caderno. – E você? Como foi sua nota em economia?

–Tirei B. Mas se quiser retirar sua aposta eu não vou me incomodar.

–Oh, por favor, Rick! Não fale assim. Você manteve o que prometeu. Manterei o que eu prometi a você também. – Seria tão difícil para mim. Mas eu tinha que me manter de cabeça erguida. Sempre.

–Ok então. – Ele deu um suspiro alto. – Mas... Eu preciso ir agora. Se não se importar pode me mostrar quando terminar de ler meu caderno. – Ele deu um pequeno sorriso de lábios fechados. Um típico sorriso de canto de boca.

–Ok, tudo bem. – Balancei a cabeça de forma positiva.

–Apenas me ligue quando terminar. Eu venho pegar.

–Ok. – Ele virou se afastando. Virei-me a caminho da entrada da portaria. Mas ouvi a voz dele sussurrar meu nome.

–Kate. – Engoli e sequei rapidamente uma lágrima insistente. Virei-me para ele. – Esse caderno é importante para mim. Estou entregando ele a você. Você entendeu? Apenas você... Até mais.

Ele simplesmente desceu as últimas escadas e saiu a caminhar pela rua. Eu corri para o elevador. Não havia mais razão para segurar. Minha força se foi. As lágrimas desciam enquanto eu estava abraçada ao caderno dele.