Rachel ainda não tinha certeza do motivo pelo qual estava entrando naquele acampamento. Ela nunca gostou muito de ficar na natureza e essas coisas, mas Santana insistiu tanto que foi quase impossível dizer não.

Santana era sua melhor amiga desde sempre. Se conheceram com 5 anos e nunca mais se desgrudaram.

Por isso, quando a latina apareceu com a ideia de viajarem para um acampamento de férias em San Diego, que juntava estudantes de até 18 anos de toda a América em uma floresta, Rachel foi praticamente intimada a ir.

A morena só aceitou porque realmente não teria nada melhor pra fazer do que isso e porque se não fosse, sabia que Santana ficaria a enchendo pelo resto da vida.

Mas foi só botar os pés na trilha que as levaria para o acampamento que Rachel se arrependeu de ter vindo. Ela definitivamente não tinha nascido para acampar, já estava cheia de picadas de mosquito e com o mau humor num nível elevado.

-Dá pra parar de reclamar, Hobbit? - Santana falou.

-Mas eu não tô falando nada!

-Mas tá com essa cara que você faz quando não quer fazer algo e é contrariada. Olha, se anima, vai ser bem legal! - Santana deu uns pulinhos no meio da trilha, fazendo Rachel rir – E quem sabe você até não encontrar o amor da sua vida aqui, hein?

-Ah, mas é claro! - Rachel soltou uma risada irônica – Santana, sério, o amor da minha vida deve estar em casa lendo um livro ou assistindo algum seriado. Ele não vai estar no meio do mato acampando por um mês e meio, longe da civilização!

-Aí que você se engana, cara amiga – Santana falou – O amor da sua vida pode ter um amigo maravilhoso que o obrigou a vir aqui, assim como eu estou fazendo com você! Por falar nisso, pede pra ele apresentar esse amigo maravilhoso dele pra mim?

-É sério que a gente tá discutindo sobre um garoto que não existe e que é amigo de outro garoto que também não existe?

-Ai, quanto pessimismo – Santana revirou os olhos – Claro que eles existem! Vamos lá, animação! Acho que já estamos chegando.

-Yaaaay – Rachel falou, fingindo animação, fazendo Santana revirar os olhos novamente.

Ao que elas entraram no acampamento, Rachel percebeu que talvez estivesse um pouco enganada. O lugar era muito grande e muito, muito bonito, até mesmo para ela que não gostava de ficar em contato com a natureza.

-Seus nomes, por favor? - um homem que ficava na entrada do acampamento perguntou assim que avistou as duas amigas chegando no lugar.

-Eu sou Santana Lopez e ela é Rachel Berry – Santana respondeu enquanto o homem procurava o nome delas em uma prancheta.

-Ah sim, podem entrar. Peguem uma barraca aqui – o homem falou, pegando uma barraca num monte onde tinham muitas outras e as entregou – Podem montar onde vocês quiserem.

-Obrigada! - Rachel respondeu, simpática – Vamos achar um lugar logo.

-Nossa, que animação é essa? - Santana perguntou – Há dois segundos você tava a ponto de me dar um soco na cara por ter te feito vir aqui e agora tá toda alegre?

Rachel não respondeu, estava muito ocupada olhando todas as dependências do lugar. Era bem organizado, tinham quadras de vôlei, futebol e basquete, uma piscina, refeitório e um lindo jardim que fica mais ao fundo da floresta. Com certeza foi um “acampamento” muito bem bolado.

-Ai Hobbit, já andamos demais – Santana se jogou no chão – Vamos montar aqui mesmo.

-Ah, aqui não – Rachel falou, depois de observar o lugar.

-Ué, por que não? - Santana perguntou.

-Não tá vendo aqueles meninos montando a barraca deles logo ali?

-Hã, tá... E o que é que tem?

-Acho que não é permitido meninas dormirem perto dos meninos e...

-Rachel, pelo amor de Deus – Santana revirou os olhos, já começando a abrir o pacote onde estava a barraca – Dá pra parar de ser tão santinha? O cara lá falou que podíamos montar onde a gente quisesse. E, sinceramente, eu não vejo nenhum problema em ter aquela bela visão. Sério, olha aquele loiro...

Rachel tentou procurar onde estava o tal garoto loiro que Santana falava mas seus olhos pararam em outro garoto e ela quase teve uma parada cardíaca imediata.

Fazendo palhaçada ao tentar montar a fundação da barraca, estava o garoto mais bonito que Rachel já tinha visto na vida. Ele era completamente diferente dos garotos que ela conhecia em Lima. A pele branca dava pistas de que ele talvez não gostasse de ficar muito no sol que rondeava San Diego naquela época do ano, os olhos castanhos escuros observavam o lugar, o cabelo castanho e pateticamente perfeito estava em um caprichado topete e a boca fechada em um bico de concentração... Até que ele virou o rosto e viu que Rachel o fitava.

Ela desviou o olhar e começou a pegar os componentes necessários para montar a barraca, pensando que ele provavelmente estaria se perguntando porque a novata o estava encarando com a boca aberta, até que Santana interrompeu seus pensamentos.

-Parece que está faltando um parafuso aqui. Eu vou lá pedir para o cara da recepção, fica aqui pra guardar nosso lugar – a latina falou, levantando-se.

-Espera, não, eu vou com você! - Rachel falou, em vão, já que a latina já estava longe e não a escutou.

-Oi, vizinha - Rachel ouviu uma voz masculina falar atrás dela e seu sangue gelou. Ela virou-se, só para se certificar de que ele não estava falando com ela. Mas, bom, ele estava, já que tinha um sorriso cheio de dentes brancos voltado para ela.

-Ahn... Vizinha?

-Sim, somos vizinhos de barraca! - o garoto falou e Rachel se derreteu com o sorriso dele – Será que você tem algum parafuso sobrando? Nós estamos com um faltando lá na nossa barraca.

-Ahn, não temos não – Rachel respondeu, meio desconcertada. Então era só por isso que ele veio falar com ela – Na verdade, minha amiga foi justamente buscar um. Aqui também está faltando.

-Ah sim, entendi – o garoto falou e continuou encarando Rachel.

-Que foi? - Rachel falou, já corando com o olhar do garoto.

-Daonde eu venho, quando alguém pede um parafuso emprestado pra uma pessoa e ela não tem, essa pessoa fala o seu nome – ele falou, sorrindo de um jeito engraçado.

-Ah, então eu sou obrigada a te dizer meu nome? - Rachel falou, sorrindo também.

-É sim – Finn respondeu – Senão irá para a cadeira elétrica.

-Ai meu Deus, por favor, não! - Rachel falou e Finn riu – Sou Rachel. Você?

-Finn.

-Você é daqui mesmo? - Rachel perguntou, enquanto Finn se sentava ao lado dela na grama.

-Se eu sou de um acampamento?

-Não, idiota – ela o empurrou de lado – Você é de San Diego?

-Sou sim. Mas vou me mudar no fim das férias. Meu pai vai se casar e vamos nos mudar para a cidade da futura esposa dele.

-Para onde vão?

-Não sei ainda, ele não me explicou direito. E você? É daqui?

-Não. Sou de Lima.

-Nunca fui para lá. É legal?

-Eu gosto – Rachel deu de ombros.

-É meio longe, não é? Seus pais deixaram você vir sozinha?

-Bom, eu não vim sozinha, vim com a minha melhor amiga, por isso foi mais fácil de convencer minha mãe. E eu não tenho pai, fui criada só pela minha mãe que, inclusive, também vai se casar no fim das férias.

-E você está animada com isso?

-Como assim?

-Quero dizer... Você gosta do seu futuro padrasto?

-Vi ele uma vez só, mas pareceu ser uma ótima pessoa. O problema é...

-O que?

-Ele tem um filho, que vai vir morar com a gente quando eles se casarem. Eu não o conheço, mas...

-Entendo, minha futura madrasta também tem uma filha. Da minha idade, ainda. Vai ser meio complicado ter que conviver com uma “irmã” assim, do nada. Sou filho único.

-Eu também! - Rachel exclamou – Meu Deus, que medo, nossas vidas são parecidas demais!

-Tem razão. Isso se chama destino – Finn falou sério, encarando a boca de Rachel, que logo corou novamente.

-Voltei, Hobbit! - Santana apareceu do nada e só então percebeu e presença de Finn ali – Ahn, eu não sabia que tínhamos companhia...

-Ahn, eu não quero atrapalhar, vou voltar pra minha barraca e... - Finn começou.

-Não, garoto não se preocupe! Se for pra desencalhar a minha amiga, pode até dormir na nossa barraca! Sério, eu durmo na grama!

-Santana, cala a boca! - Rachel falou, totalmente envergonhada, principalmente porque Finn começou a gargalhar.

-Sou Finn – ele falou, cumprimentando Santana.

-Santana – a latina sorriu e sentou-se na grama.

-Santana, o Finn veio aqui perguntar se tínhamos algum parafuso – Rachel falou, desesperada para sair daquele clima constrangedor – Onde você buscou?

-Ah, eu peguei lá naquela casinha de recepção, na entrada do acampamento. Por que você não leva o Finn lá, Rachel? - Santana falou com uma voz engraçada, ficando óbvio que ela queria jogar Rachel pra cima de Finn.

-Ahn, seria um prazer ter você como minha companhia – Finn falou .

-Tudo bem, vamos – Rachel sorriu para Finn e levantou-se.

Mesmo parecendo meio estranho para Rachel que Finn estivesse querendo a companhia dela, ela o seguiu, enquanto ele apenas sorria para ela e cumprimentava todos, desde garotas lindas e maravilhosas se oferecendo (o que Rachel, por sinal, não gostou muito), até nerds e atletas. Ele era simpático e cumprimentava a todos. Eles finalmente chegaram na tal recepção, para a sorte de Rachel, já que o silêncio entre eles já estava começando a ficar constrangedor.

Quase que instantaneamente, Finn foi cercado de garotas.

-Finn! - Elas gritaram, quase que juntas.

-Garotas! Olá... Como foram durante o ano? - ele perguntou, com um sorriso galante.

-Uma maravilha! E você, Finn, como está? - uma garota loira perguntou, claramente se oferecendo para Finn.

-Estou ótimo, Quinn! - Finn respondeu, sem dar muita bola para a tal Quinn - Bom, garotas, essa é a Rachel. Ela é minha vizinha de barraca.

Finn sorriu para Rachel. Um sorriso simples, porém encantador, que fez Rachel sorrir junto mesmo que ela nem quisesse sorrir. Ela riu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

-Oi... - a morena cumprimentou as garotas, que agora a olhavam de cima a baixo.

-Meu Deus! Seu cabelo é perfeito! Que tipo de shampoo você usa? Alguma hidratação? - uma das garotas perguntou rapidamente, fazendo com Rachel pensasse em chamar a polícia, pois tinha uma louca desconhecida pulando histericamente enquanto segurava algumas mechas de seu cabelo.

-Na verdade, ele é assim mesmo – Rachel sorriu – Nunca fiz nenhum tipo de hidratação.

-NATURAL? - todas as garotas berraram juntas, menos a tal Quinn, que apenas olhava Rachel com desdém.

-Sim... - Rachel sorriu novamente.

-Posso ajudar? - um homem, uniformizado e com um crachá escrito “Bob, recepcionista” apareceu no balcão de informações.

-Oi, então, a barraca do meu... ahn, amigo aqui veio com um parafuso faltando, será que você teria um pra dar? - Rachel perguntou e ouviu sussurros das meninas, logo após se atrapalhar pra dizer o que Finn era dela.

-Ah sim, claro. Esse é um problema que vem acontecendo muito – Bob respondeu enquanto mexia em algumas caixas, finalmente achando um parafuso em uma delas – Aqui está.

-Muito obrigado – Finn agradeceu e então se virou para as meninas, que o olhavam esperançosas – Eu já vou indo meninas. Aproveitem o acampamento!

-Ahn, Finn, você já vai? Não quer... Dar uma volta comigo? - a tal Quinn se manifestou novamente.

-Não dá, Quinn – Finn respondeu, enquanto puxava Rachel pela mão – Que tipo de cavalheiro eu seria se deixasse Rachel voltar sozinha pra barraca dela?

-Não precisava me acompanhar. Sua namorada pareceu ficar bem chateada... - Rachel falou, quando ela e Finn já estavam no meio do caminho para voltar no lugar onde estavam as barracas deles.

-Ela não é minha namorada – Finn respondeu simplesmente – E não tem essa de “não precisava me acompanhar”. Eu quero te acompanhar, tá?

-Bem, ela parece gostar muito de você – Rachel falou, ainda se concentrando no fato de Quinn não ter tirado os olhos dela, quase como se quisesse comê-la viva, e em como ela deu em cima de Finn.

-Esquece ela – Finn balançou a cabeça – Olha, eu vou falar isso aqui porque se eu falar mais perto da nossa barraca, meus amigos vão ficar me zoando e eu não vou ter sossego.

-Fale... - Rachel falou, um pouco nervosa pela expressão séria que Finn ficou.

-Eu... Eu gostei muito de você, Rach – ele falou, meio sem graça e Rachel se derreteu por ele novamente – E hoje vai ter uma festa de boas vindas. Eu iria adorar se você fosse comigo. Quero que você seja minha acompanhante.

-Ahn, eu... Eu gostei muito de você também – Rachel falou, tentando esconder que estava tremendo de nervoso – E claro que eu quero ser sua acompanhante.

-Ótimo! - Finn abriu um sorriso tão grande que Rachel corou novamente, vendo a felicidade do rapaz. Até que Finn parou de sorrir e começou a se aproximar de Rachel... Ela sabia muito bem o que ele queria fazer, mas não tinha certeza se já era o momento. Tinham acabado de se conhecer! Então, quando ele estava a centímetros da boca dela, ela virou o rosto e ele beijou a bochecha da morena. Ele pareceu meio desconcertado no momento, mas logo entendeu que ainda era cedo para se beijarem – Até mais tarde, Rach.

-Até mais tarde, Finn – Rachel falou enquanto assistia o mais alto se dirigir a sua barraca e, então, seguiu para a sua.

-Finalmente hein, Hobbit! - Santana exclamou, assim que Rachel entrou na barraca – Ih, tá sorrindo à toa, é?

-Eu não – Rachel tentou disfarçar.

-Desencalhou? - Santana perguntou, com um sorriso querendo brotar em seus lábios.

-Nem se eu quisesse – Rachel respondeu – Mas ele meio que me chamou pra ir numa festa com ele... Mas nem é nada demais, todo mundo vai e...

-Hobbit, me diga exatamente as palavras que aquele garoto falou pra você.

-”Hoje vai ter uma festa de boas vindas. Eu iria adorar se você fosse comigo. Quero que você seja minha acompanhante.” - Rachel falou.

-Acho que vou chorar por você ter decorado o que ele falou – Santana falou, fingindo que estava enxugando lágrimas – Só isso?

-Ahn... Ele meio que falou que gostava de mim.

-Ai meu Deus! - Santana gritou.

-Santana, para de gritar! Ele tá aqui do lado, lembra?

-E você ainda diz que não desencalhou – Santana gritava, fazendo Rachel entrar em desespero.

-Para, Santana! - Rachel falou e Santana finalmente parou, mas continuou rindo muito – Santa infantilidade, viu só?

-Tá bom Rach, parei parei – Santana falou – Mas falando sério. Você... gosta desse garoto?

-Eu... Eu gosto – Rachel falou, meio que em um sussurro.

-Então... você está pronta para superar o J-

-Não fala o nome dele – Rachel pediu para a amiga.

Rachel teve apenas um namorado na vida. O nome dele era Jesse. Rachel e Jesse se conheceram quando ambos tinham 14 anos e começaram a namorar quando completaram 15. Jesse sempre foi um ótimo namorado para Rachel. Até que, um dia, ele estava a caminho da casa dela e viu um canteiro com várias flores. Decidiu ir até lá pegar uma flor para a namorada. E ao atravessar a rua, um carro desgovernado o atropelou. Rachel ouviu o barulho da batida e foi na janela ver o que tinha acontecido. Assim que viu Jesse jogado no chão e um carro fugindo, ligou para a ambulância e saiu correndo para ver como estava o namorado. Ele disse a ela que a amava e morreu nos seus braços e, desde então, Rachel não conseguia gostar de mais ninguém.

-Desculpe – Santana pegou a mão da amiga – Você sabe que pode demorar o tempo que você quiser, né? Você só deve se relacionar de novo quando estiver pronta...

-Já passaram 2 anos, Santana – Rachel falou, com algumas lágrimas em seus olhos – Eu estou pronta. A morte dele não foi o único motivo para eu não me relacionar. Eu simplesmente nunca mais encontrei ninguém especial. Bom, pelo menos até agora.

-Finn é especial? - Santana perguntou, sorrindo.

-Finn Hudson é definitivamente especial.