Barbazul e o Menino Cinzento escrita por Salomão


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura. Espero que goste :)



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O céu estava nublado e um vento preguiçoso levantava toda a poeira e imundice das ruas. Uma simples ventania era capaz de revelar as sobras de uma sociedade estagnada e desconexa. O dia parecia cinza e combinava com a cacofonia dos sons, todo aquele caos urbano se tornara algo banal no cotidiano das pessoas, como se completasse o significado de nossa existência. Prédios robustos e encardidos criavam labirintos onde pessoas se perdiam em meio a vícios e grosserias. Todos circulavam pelas avenidas e rodovias pilotando diferentes carros e seguindo rumos distintos, porém, as pessoas pareciam interpretar uma única harmonia suja. Ninguém se importava com isso, exceto um garoto.

Ele parecia não pertencer aquele cenário. Seguia um rumo diferente, o que poderia ser classificado como impossível. Mas não havia o que discutir, o garoto possuía um ar atípico e quem sabe uma tonalidade especial, que o destacava naquele ambiente cinzento e pesado. Igual à menina de vestes vermelhas que caminhava desorientada em meio á guerra do antissemitismo num filme preto e branco chamado a Lista de Schindler. Andava lentamente, tentando atrasar o seu percurso até o destino rotineiro. Aquele caminho tornara-se algo religioso para o garoto. A fé e a inocência de uma criança o faziam continuar com aquilo.

Toda aquela ventania culminou numa chuva torrencial que encharcava as roupas simples do menino e lavavam seus cabelos ruivos. Ele olhou para o céu e sentiu as gotas geladas dançarem sobre o seu rosto. A sensação era reconfortante e libertadora. As outras pessoas fugiam da chuva porque talvez tivessem medo de serem libertadas? Talvez sim, talvez não.

O asfalto estava molhado, mas os carros continuavam a avançar e rasgar o chão sem piedade. Foi necessário apenas poucos segundos, um som metálico absurdamente alto, gritos de horror e uma criança chorando para se ter duas almas a menos no mundo. Palmas para a sociedade e sua harmonia previsível. A mais bela homenagem feita naquele cenário foi o aceno cordial de um mendigo que passava. Talvez seu sorriso fosse pelo fato de conseguir algumas moedas sujas de sangue que deslizaram para próximo de si, e não uma forma de compaixão inesperada pelos indivíduos que morreram.

O garoto observava tudo da calçada e uma sensação de vertigem o dominou quando o acidente ocorreu bem na sua frente. Por um minuto pensou que fosse um dejá-vu, mas lembrou-se de que seus pais já estavam mortos. A morte dos desconhecidos que jaziam atropelados a sua frente fora semelhante à de seus pais, e isso o fez recordar de um sentimento ruim misturado a uma chama minúscula de esperança. Tal esperança que o fazia ir todos os dias ao cemitério. O pobre garoto pensava que seus milagres mais íntimos aconteceriam a qualquer instante.

Dois corpos encharcados de água e sangue, uma criança desconhecida aos prantos, sirenes e pessoas curiosas. Não havia amor e compaixão. Apenas a inevitável reação da sociedade ao diferente e inesperado. Era mais importante ter uma notícia surpreendente para contar nos bares, do que ter uma reação mais humana e solidária. Pobres humanos... Pobre sociedade ingrata.

Anônimo aos sentimentos dos outros, o garoto continuou a caminhar graças à esperança primitiva de uma criança de sete anos. Não entendia muito o porquê de fazer isso, porém, não era tão importante. Ele amava seus pais e não queria esquecê-los. O que é mais do que suficiente e justificável. Contudo, as pessoas de hoje não entendem isso, ou acham melhor ignorar. Atualmente, a imaturidade de uma criança é mais humana do que a natureza formada de um adulto. Ele deu uma última olhadela para a criança que chorava, compadeceu-se da situação idêntica a dele e continuou seu caminho. Gostaria de ser forte e ajudá-la, mas era fraco como todos os outros humanos que também ignoravam a nova órfã.

. . .

O garoto permitia que sua mão deslizasse nas paredes dos prédios e das casas. Talvez ele não soubesse disto, mas essa era uma tentativa inconsciente de querer se manter conectado a realidade, sentir que fazia parte de alguma coisa. Humanos não são criaturas solitárias. Muito pelo contrário, gostam de companhia, mas não sabem lidar com isso. Não sabem se sentirem confortáveis com determinadas situações, mas isso é compreensível.

De súbito, ele sentiu que a superfície sob os seus dedos ficou mais fria. Não era culpa da chuva incessante, pois teria tido a mesma sensação enquanto tocava as outras fundações. Aquele aspecto gélido pertencia a cenários tristes. Tão tristes, que até concreto e tijolos ganhavam um tom mórbido. E um cemitério encaixava-se perfeitamente nesse perfil.

Ele recuou seus dedos, pois não queria sentir aquela sensação. Não porque era um ruim, mas sim porque era reconfortante. E isso era perigoso. Tinha medo de se conformar com a morte e se deixar levar, igual ao que o casal de atropelados fez. Não podiam fazer nada além do que ficar deitados para todo o sempre. E quem é capaz de dizer se isso é bom ou ruim? Até soa como um desafio.

O menino procurava uma maneira de transpor o muro, pois sem nenhum motivo aparente, o cemitério estava fechado nesse dia. É o que sempre dizem: não há sossego nem para os mortos. Até eles precisam trancar seu território para não serem assaltados! Encontrou uma falha no muro e se arrastou e contorceu-se através dela. Sua camisa branca ganhou um tom barrento, mas isso pouco importava.

Observou todo o ambiente e viu os costumeiros túmulos e crucifixos brancos. Andava entre eles e nenhum tipo de sentimento ou afetuosidade aflorava. Encostava seus pequenos dedos na superfície lisa de mármore dos mausoléus porque era uma criança curiosa e que não conseguia manter-se quieta, algo normal nessa idade. Não era uma criança extrassensorial e todos agradecem por isso. Seria doloroso demais para ele ter que suportar não só a dor provinda da perda de seus pais, mas de todos os outros túmulos que também choravam e gritavam por atenção.

Naquele cenário, duas coisas expulsavam a cor cinza: o garoto e as flores azuis. Tais flores que descansavam sobre um único túmulo. Não havia outros tipos de decorações nos outros. Apenas nesse túmulo, sortudo e felizardo, existia um presente de alguém que ainda estava vivo.

Aproximou-se do túmulo e o encarou por alguns segundos. Pensou em como as flores eram bonitas e quase as transferiu para os túmulos onde seus pais descansavam. Sentiu-se triste por não ter trago as mais belas flores e palavras afetuosas, mas o garoto não sabia que a sua presença era o presente perfeito. Não só para os seus falecidos pais, mas também para um idoso que descansava sob uma árvore perto dali.

Lágrimas brotaram dos olhos do garoto ruivo, mas não havia alguém para consolá-lo. Eram lágrimas de solidão. Você não vai entender como isso é doloroso se nunca esteve sozinho no mundo. Uma parte insubstituível do garoto havia morrido, e nada poderia ser feito. Irracionalmente, o garoto virou o rosto em direção à árvore. Não existe coincidência, mas sim o inevitável, logo, não são necessárias justificativas. Culpe o destino, ou o instinto, se quiser.

Protegendo-se da chuva debaixo da copa árvore, havia um idoso. Estava naquele conhecido estado em que nenhum humano gostaria de estar: sozinho. O garoto andou até ele e parou na sua frente sem dizer palavra alguma. Apenas permaneceu encarando o velho, deixando sua mente infantil decifrá-lo como um enigma.

O idoso não se sentia merecedor da presença de outro humano. Chegara a essa conclusão anos atrás, mas contrário a tudo isso, lá estava um garoto observando-o. Um garoto novo, ruivo e tristonho. Todo enlameado e com dois caminhos traçados pelas lágrimas no seu rosto poeirento. Seguindo a filosofia do “Por que não?”, idoso e menino começaram a conversar.

– Olá, garoto. Meu nome é Lutor, mas meus antigos amigos chamavam-me de Barba Azul. O que faz nesse cemitério? Já é raro hoje em dia ver crianças brincando na rua, quem poderia dizer que encontraria uma aqui... Num lugar tão triste.

– Eu vir brincar com papai e mamãe – disse o garoto enquanto apontava para um dos inúmeros túmulos sem flores. – Mas meus tios falaram que eles não vão conseguir fugir daquelas caixas de pedra. Isso é certo?

– Qual é o seu nome? – perguntou Lutor, ignorando a pergunta inicial do garoto por motivos mais nobres do que você pode imaginar. Ainda existia uma chama de bondade no coração do velho homem.

– Oscar. – disse o ruivo.

– Um belo nome, garoto – disse Lutor enquanto o avaliava. – Desculpe-me a rudeza, mas preciso lhe contar uma verdade. Talvez você seja infantil demais para entender isso, mas falarei mesmo assim. Seus pais não irão brincar com você.

– Eu sei – respondeu Oscar para a surpresa de Lutor. – Mas eu não consigo desistir disso. Simplesmente os amo demais e sonho com eles todos os dias. É como se minha mente esquecesse a verdade todo dia quando acordo.

– Você é bem maduro. Tem consciência das palavras que usa. Gostei disso!

– Obrigado, Barbazul. – Oscar transformara seu apelido em uma única palavra. Mal sabia ele que em outros mundos, repleto de fadas e vilões, o velho Lutor adorava ser chamado assim.

– Sempre tive vontade de ter um neto, Oscar. Mas não possuo filhos. Poderia fazer um favor para um velho como eu? Gostaria que fingisse ser meu neto só por um dia. Só por alguns minutos...

– Tudo bem. Não me importo.

– Obrigado. Um dia você vai entender o significado de tudo isso. Posso lhe contar uma história? Isso é muito comum entre netos e seus avôs.

– Sim, isso seria interessante.

– Sente-se. – disse Lutor apontando um lugar próximo a si. – Isso! Bom, há muito tempo existia um homem muito rico. Rico demais! Sua mansão era repleta de cachoeiras de ouro e prata. E ele adorava jogos de azar. O que o mais atraía nisso era o fato de sempre ter sorte. Sempre! – ele gesticulava muito enquanto contava a história. Seus óculos quase caíam a cada movimento brusco. Oscar parecia se divertir com isso. - O azar só existia para os seus adversários. A cada cartada ele sentia-se mais milionário, pois sabia que iria vencer. E nunca estava errado. Vencia e vencia. Dia e noite.

– Como alguém podia ser tão sortudo?

– Não conte a ninguém, mas nem o homem sabia. Sentia-se abençoado e sua rotina era perfeita. Seu estilo de vida era inabalável. Porém, tudo aquilo não passava de uma mentira. Uma bela peça teatral. O homem ignorava quando os outros diziam que a sorte era má e vilã! – enfatizou. - Nos cantos perdidos de sua vida, sua esposa vivia sozinha e ignorada. Até a menor riqueza do mundo era mais importante do que a mulher desse homem ingrato. Não sabia ele que o seu maior troféu era ela.

Lutor encarou a copa da gigante árvore. O vento ainda permanecia arrancando folhas secas e agitando os galhos, porém, num nível quase sussurrante. Como se até a atmosfera tivesse parado para escutar as poucas palavras que o velho precisava contar. Aquele lugar se transformara num lugar atípico e atemporal. Não existia o tempo ali. Nesse cenário onírico, várias histórias foram contadas e vivenciadas, tornando as pessoas e suas lembranças em personagens infinitos.

– Aquele homem pensava que nada ruim aconteceria na sua vida. Bebia de forma desmedida e drogava-se até no café da manhã. Lágrimas brotavam dos olhos da mulher a cada agulha que perfurava a pele de seu marido. E ele não se importava!

– Como pôde existir um homem assim?! – Oscar perguntou.

– Essa é a pergunta que faço há anos. – respondeu Lutor com uma aparência cabisbaixa. – Como pôde existir um homem assim? Por que raios existiu um homem tão vil?

– E o que aconteceu com a esposa dele?

– Após alguns anos, o azar resolveu brincar com a vida desse homem. Perdera milhões nos cassinos e culpara sua mulher por tudo. Dizia que pelo fato de ela não se encaixar no estilo de vida dele, a sorte o achou ingrato demais. Para ele, a sorte o julgava como desmerecedor da alegria que ela proporcionava, já que sua mulher parecia não ligar e ignorar toda a riqueza que estava presente em sua vida.

– Eles se separaram?

– Sim, e da forma mais trágica possível. Ela pediu o divórcio, mas ele não aceitava de forma alguma. Mantinha-se descrente em relação à atitude dela. Os dois discutiram, e acabaram por se engalfinhar numa briga. O homem, perdido para os vícios e dominado por uma irracionalidade, acabou assassinando sua mulher.

– E por que ele fez isso? – perguntou Oscar.

– Ele acreditava que poderia voltar a ter a sorte que havia perdido. Uma atitude pobre para um homem que desaparecia em meio a bebidas e a drogas. – Lutor não conseguia encarar o olhar do menino.

– Lutor, por que você matou sua esposa?

Isso realmente surpreendeu o idoso. Ele pretendia revelar que era o personagem de toda aquela história ruim. Que fora culpado pela morte daquela mulher que tanto amava. E que os fantasmas de seu passado ainda o perseguiam. Escolhera uma criança para falar sobre isso porque acreditava que tal não conseguiria descobrir a verdade e só revelaria seu segredo se a criança parecesse capaz de entender. Oscar se mostrara mais do que uma simples criança e interpretara tudo sozinho. E não hesitara em confrontar os segredos do velho Lutor.

– Porque eu sou fraco e um humano horrível. E o pior de tudo é que sinto saudade dela. Um sentimento que existe por minha culpa. Eliminei alguém que amava e criei uma lacuna na minha existência. Degrado-me por causa disso e me culpo todos os dias. Não porque sou incapaz de ter minha vingança, como se outro humano fosse o culpado pela morte dela. Sou tão pobre de alma que me forço a acreditar que isso é o máximo que posso fazer, porém, a verdade é que tenho medo de acabar com tudo. Não tenho forças suficientes para agir como deveria.

– E por que me contou tudo isso?

– Porque pensei que uma criança não teria a capacidade de me julgar. Que aceitaria meu desabafo sem motivo aparente. Mas você foi melhor que isso. Não poderia imaginar que encontraria um neto tão bom. E o significado de eu contar-lhe tudo isso é que independente de como sua vida esteja ruim, você ainda é capaz de proporcionar algo de bom para outra pessoa.

– E eu te proporcionei algo de bom?

– Sim. Você foi minha válvula de escape. Não conseguiria fazer o que tenho de fazer se não fosse a sua presença e o meu desabafo. Graças a você, vou ser capaz de seguir em frente. Quero que entenda que mesmo que seus pais tenham morrido e sua vida esteja horrível, você conseguiu ajudar alguém. Ainda há esperança. Tenha fé em si mesmo e ajude os outros. Não deixe que mais pessoas se percam. Use a minha história como exemplo.

O garoto ficou em silêncio por alguns minutos. Tentava imaginar o que aconteceria com Lutor a partir de agora. Sem que Oscar percebesse, dois policiais surgiram do lado do idoso e seguraram os seus braços.

– Obrigado, Oscar. Você foi um ótimo neto. Não se esqueça das flores azuis.

Ele nada respondeu. Apenas observou Lutor ser levado para dentro de uma viatura. O idoso não resistira, pois aceitara seu destino. Concordara em pagar pelos seus erros e tentar obter um mínimo de redenção. Ele estava sendo procurado há anos e fora capturado. Um assassino que responderia pelos seus pecados. Mas para Oscar, não passava de um velho amigo que compreendera o que deveria ser feito.

O ruivo começou a caminhar de volta para a sua casa. Nada de especial o esperava lá. O que importava era o caminho. Primeiramente, parou em frente ao túmulo onde flores azuis jaziam. Leu o nome que estava grafado na mensagem póstuma. Encostou seus dedos na superfície lisa de mármore e disse:

– Perdoe-o, Felicia. Ele é um bom homem e irá pagar pelos seus erros.

Oscar deu mais alguns passos e encarou os túmulos de seus pais. Beijou ambos e, dessa vez, lágrimas não escorreram de seus olhos. O que surgiu no seu rosto foi um sorriso.

– Papai e mamãe, descansem em paz. Não irei esquecer-me de vocês. Tornarei-me um grande homem e trarei milhares de flores azuis. Prometo.

Oscar não olhou para trás. Não precisava, pois havia compreendido tudo. Porém, sentia que a árvore o observava. Inexistiam palavras para definir a sua importância, mas sabia que aquela não foi a primeira vez que árvore protagonizara um papel importante na vida dos humanos. Ela estava lá o tempo todo e ninguém a notava. Só a procuravam quando o refúgio era necessário. E indiferente a isso, ela permanecia inabalável e escutava tudo o que deveria ser dito.

Novamente, encontrava-se em meio à cidade cinzenta. Buzinas de carro gritavam pelas ruas. Os prédios grotescos impediam a visão de grande parte do céu. De longe, viu que a menina órfã estava sozinha e sentada perto de um lixão. Ninguém surgira para salvar ela ou consolá-la. Lembrou-se das palavras de Lutor e caminhou até ela.

Em meio a todo o caos que nos cerca, as pessoas esquecem-se dos valores humanos. Só a rotina importa, e tudo que tenta atrapalhá-la dever ser removido. Nem a tristeza de uma criança era suficiente para comover as pessoas. Todos se tornaram frios demais. Gritam demais e não sabem medir esforços para ofender outras pessoas.

Indiferente a tudo e a todos, Oscar ajoelhou-se. Limpou o rosto da menina que nunca havia visto em toda a sua vida. Encarou um rosto surpreso e olhos vermelhos de tanto chorar. Abraçou-a. Ficaram assim por longos minutos, duas crianças enfrentando destinos cruéis. Em meio à ignorância e o desprezo que pulsava em cada esquina. Duas pessoas eram capazes de se amar.

Os seus passados e seus nomes eram banais. Tampouco era necessário um motivo. Eles apenas necessitavam da presença de outro alguém, um ser humano que soubesse compreender e compartilhar dos mesmos sentimentos. Não ligavam para o fato de as pessoas estranharem o abraço deles. Era algo irrelevante. A única coisa que importava era gerar um dos sentimentos mais belos: a compaixão.


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Notas finais do capítulo

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