Nothing Left To Say escrita por Rhiannon


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Ooi :v então, eu não sei de onde tirei coragem pra postar, mas estamos aqui e-e. Eu tentei dar o melhor de mim, não sei se ficou bom. Algumas coisas vão ser esclarecidas nos próximos capítulos, então se alguma coisa ficar confusa pode deixar que vai ter explicação. É isso.



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Nico

Não sou uma pessoa masoquista, na verdade está longe disso, mas as vezes pensamentos suicidas invadem minha mente. Não me leve a mal, por favor. Mas depois de tudo o que eu passei... bem, um vaso de vidro sempre quebra quando caí no chão. Dá pra consertar, mas nunca fica igual.

Não é algo que eu me orgulhe, mas já cheguei bem perto de cortar meus pulsos e, acredite, não foi pra chamar atenção. Porque se fosse apenas para ganhar atenção eu sairia por aí fantasiado de milho. Mas eu não fiz nada que afetasse meu físico, apesar de tudo, pois pensei muito no meu pai. Ter três filhos mortos não deve ser muito legal.

O ar fresco da noite balançava meus cabelos já bem bagunçados. Estava apoiado no parapeito da janela, meu quarto fica no terceiro andar, não é muito alto, não o suficiente para morrer se me atirasse daqui. Minha casa é realmente muito grande, não que eu me importe, na verdade não dou a mínima para o dinheiro que meu pai tem. Trocaria toda essa fortuna pela vida da minha mãe e das minhas duas irmãs.

De onde estou posso ver o grande gramado da minha casa, a quadra de basquete e a piscina. Tudo isso é inútil. Eu jogava basquete, mas parei há cinco anos quando Bianca, minha irmã, morreu. Ela me incentivava, sempre jogávamos juntos, pra uma garota ela era muito boa, mas nos últimos meses de vida ela estava muito fraca devido aos remédios que tomava e tudo mais, eu era muito novo e não entendia muito bem o que estava acontecendo, pra mim Bianca estava apenas doente. Nunca passou pela minha cabeça que ela morreria.

E a piscina... bem vamos dizer que eu tenho trauma. É. Foi traumatizante encontrar o corpo da minha irmã mais nova, Hazel, boiando na água. Ela estava morta há pelo menos duas horas, tantos empregados pra encontrarem seu corpo frio e sem vida boiando no meio de toda aquela água e sangue, mas no final foi eu quem a encontrei.

Meus dedos bateram na caixa de cigarros dentro do meu bolso, mas não podia fumar, não com meu pai em casa. Como eu sou seu único filho que sobrou, ele as vezes é meio paranoico me proibindo de várias coisas. Mas meu lema é: Regras foram feitas para serem quebradas.

Meu pai é uma das únicas pessoas que eu confio nesse mundo, minha família se resume a ele. Hades Di Angelo, ou como a maioria conhece, Scott Walker, foi um astro do rock com uma carreira curta demais para seu talento, depois da morte da minha mãe, Maria, ele abandonou a música e se tornou empresário, para passar mais tempo com os filhos.

– Nico?

Viro-me para trás e encontro o meu pai, usava o costumeiro terno preto. Ele é era uns bons 10 centímetros mais alto que eu, seu cabelo negro um pouco grande quase chega no ombro, sua feição é rígida, nem parece o mesmo homem de anos atrás que passava horas em cima de um palco tocando guitarra para uma plateia de milhões de pessoas, tem os olhos negros e a pele pálida que herdei dele. Minhas irmãs puxaram mais para minha mãe. Eu herdei praticamente tudo do meu pai, menos o modo como ele é bom em fazer amigos.

– Está tudo bem? – Ele perguntou, então fica claro que está preocupado. Desde que Hazel cometeu suicídio, Hades fica atento a cada demonstração de tristeza minha, as vezes chega a ser irritante.

– Sim – Respondi com um meio sorriso – Tudo bem.

– Como foi a escola? - Pergunta afrouxando a gravata e se aproximando de mim.

Sinto minha expressão de tudo bem vacilar por um momento, mas acho que ele não percebeu.

– Como sempre – Respondi vagamente – Como foi o trabalho?

– Nada demais – Ele me olha como se estivesse me analisando, seu olhar passa para a janela atrás de mim, então suas orbes negras voltam a me encarar, sinto um frio percorrer meu corpo ele parecia sentir um misto de decepção e irritação – Então não tem nada para me contar?

Troco o peso do meu corpo de um pé para outro. É claro que ele já sabia. Devem ter ligado para o trabalho dele. Droga.

Meu pai solta um suspiro e então se senta na cama.

– Fale em sua defesa – Disse apenas.

Fiquei quieto por uns instantes, sem saber ao certo o que falar, apenas pensando no quanto ele devia estar chateado comigo.

– Hã... desculpe – Falei por fim, encarando o chão.

– Um simples desculpe não vai resolver muita coisa, agora me diga por que é que você se meteu numa briga de novo?

– Não foi bem assim – Murmurei voltando a encara-lo. Ele tinha os braços cruzado, visivelmente irritado.

– Não? Então a cabeça daquele garoto... seja lá qual for o nome dele, simplesmente pulou pro seu punho?

Ele estava fazendo aquilo novamente, me interrogando.

– Só foi... um pequeno desentendimento – Falei um pouco baixo, na verdade tudo o que aconteceu foi que um garoto me deu um soco no estomago, eu dei um soco na sua cara e logo alguém apareceu para separar a “briga”. Já é a segunda escola que frequento no ano, se eu fosse expulso a coisa ia ficar feia.

Ele arqueou as sobrancelhas e me olhou como se não acreditasse em mim.

– É sério, pai. Não vai acontecer de novo.

Ele se levantou e caminhou até mim, ficando bem na minha frente. Tive que levantar o olhar para encara-lo.

– Eu já ouvi isso muitas vezes, mas vou acreditar em você, mas lembre-se que se aprontar mais alguma coisa...

– Eu sei.

– Que bom que sabe.

Sua expressão suavizou um pouco, mas eu pude sentir pelo seu olhar que isso não tinha acabado aqui. Mais tarde teríamos uma conversa longa.

– Vamos conversar depois – Falou, comprovando meus pensamentos – Mas agora eu preciso resolver uma coisa no meu escritório. Tudo bem?

Sorri minimamente, ele bagunçou meus cabelos antes de sair pela porta me deixando sozinho.

Me joguei na cama. Eu não sou de arrumar confusão, em geral a confusão vem até mim. E o fato que eu não sou bom em fazer amigos ajuda nisso. Thalia disse uma vez que eu perdi a confiança nas pessoas, as vezes eu penso que ela está certa.

Thalia é a única pessoa nesse mundo que eu considero minha amiga e confio verdadeiramente nela, é a única pessoa que sabe sobre minha sexualidade. Fora os outros caras que eu já fiquei, claro.

Para meus 17 anos de vida eu já aprontei muita coisa, e perdi muitas pessoas. Thalia sabe disso, fora meu pai ela é o único ser humano que mantenho contado. Pode me chamar de antissocial, mas é a mais pura verdade.

Levantei-me da cama e fui até a minha estante de livros. Eu precisava tirar umas coisas da cabeça, livros sempre me ajudam, me levam pra outra dimensão, um lugar melhor que esse. Escolhi um livro qualquer e li até pegar no sono.

*

Eu estou numa espécie de campo, o céu tem um tom acinzentado, como se a qualquer minuto pudesse começar um temporal. A grama em meus pés está queimada, não há árvores, flores nem nada, apenas uma vastidão de grama queimada. Atrás de mim há um penhasco, pedras e então... nada, só escuridão.

Penso que estou sozinho, mas quando me viro vejo minha mãe, não me lembro muito dela pois morreu quando eu tinha um ano de vida, mas eu sei que é ela no momento que a vejo. Sua pele está bronzeada, seus cabelos negros voam no vento, seus olhos castanhos estão vidrados em mim, ela usa apenas um vestido branco longo que balança no vento. Seria uma bela visão, se seu vestido não estivesse completamente sujo de sangue. É assustador, seu olhar diz “Você é um bom menino, Nico, me abrace” mas quando olho para o sangue espesso e escuro me lembro que ela morreu no parto de Hazel, sem ver a filha mais nova, isso faz uma tristeza enorme crescer dentro de mim. Tenho vontade de chorar, mas por algum motivo não faço nada.

O vento se torna mais forte, balança meus cabelos e quase me derruba no chão, então duas pessoas se materializam ao lado de minha mãe.

Ao lado direito está Bianca, sua pele está pálida, seus olhos castanhos parecem encarar o nada, sua feição é estranhamente vazia, isso me deixa perturbado. Bianca sempre fora alegra, mas agora sua expressão não transmite absolutamente nada, ela usa um vestido igual ao da minha mãe, mas ele está completamente limpo.

Ao lado esquerdo está Hazel, seus cabelos cacheados preso num coque mal feito, a pele bronzeada como lembro-me bem, de toda nossa família ela foi a única que gostava de sol, o que é irônico considerando a maneira como ela morreu. Ela usa um vestido branco até a altura dos joelhos, sua expressão não demonstra nada. Hazel segura uma faca na mão e, sem hesitar, crava a faca no próprio peito, sufoco um grito enquanto observo o sangue jorrar da ferida, ela mantinha a mesma expressão, parecia não sentir dor nenhuma.

Fecho meus olhos com força, não quero ver isso, não quero ver nada, é como lembrar da morte delas, das pessoas que eu mais amava.

De minha mãe eu não lembro bem porque era muito novo, mas durante toda a minha vida ela fez falta. Cada vez que eu via a mãe dos meus amigos era como arranhar meu coração, eu sentia dor e inveja, me sentia deslocado por não ter ela por perto.

A morte de Bianca foi lenta, o câncer foi a matando aos poucos, ficava cada vez mais fraca, a cada dia que se passava ela ficava mais distante, até que finalmente se foi. Sua morte foi como arrancar um band-aid, lentamente e cada vez sentindo mais dor.

Hazel foi a que me pegou de surpresa, quando ela completou 12 anos foi diagnosticada com o mesmo tipo de câncer de Bianca. Eu esperava que o processo se repetisse, mas não, um ano depois ela cortou os próprios pulsos na piscina de casa. Nunca soube exatamente o motivo que a levou a fazer isso.

Abro os olhos lentamente, a pessoa que está na minha frente é a que eu menos quero ver nesse mundo.

Leo Valdez

Está da mesma maneira que eu lembro, seus cabelos encaracolados, a expressão divertida em seu rosto como se estivesse tramando uma pegadinha, sua pele bronzeada do sol, seu sorriso. Exatamente o mesmo.

Ele está a poucos centímetros de mim, levanta as mãos e então me empurra, eu caio diretamente na escuridão do penhasco.


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Notas finais do capítulo

Se você leu até aqui obrigado :D Comentem pra mim saber se devo continuar.



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