Paz Temporária - Sombras do Passado escrita por HellFromHeaven


Capítulo 5
Red Moon Forest




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A aula acabou como em um dia qualquer. Cherry arruma suas coisas e se prepara para voltar para casa. Depois de sair da escola, Cherry se despede de Sarah e começa seu caminho de sempre para sua casa, mas no meio do caminho é parada por um garoto com o uniforme da Knowledge Nest. O garoto era alto, tinha cabelos curtos, negros e levemente espetados com olhos de um azul quase cinza.

– Você é a aluna nova que tem poderes psíquicos?

– Mais ou menos, Paul. O que posso dizer é que meu mais novo apelido é “Mãe Dinah invertida”.

Os dois riem por alguns minutos e, depois de recuperar o fôlego, voltam a conversar.

– Esse pessoal da escola não perdoa... Enfim, poderia provar para mim que você realmente é uma “Mãe Dinah invertida”?

Cherry sorri e olha para Paul como se tivesse aceitado um desafio de vida ou morte.

– Claro, só me dê alguns minutos.

– Tudo bem, desde que realmente valha a pena.

– Você é um garoto “revoltado” que não aceita muito bem as regras do colégio e estava detido na prisão do mesmo por tentar convencer a sala de que existem seres sobrenaturais...

– Grande coisa, disso todo mundo já sabe.

– Olha, se você quer mesmo que eu fale então não me interrompa.

– Ah... desculpa, pode continuar.

– Como eu estava dizendo... um garoto revoltado que só é tão revoltado com o sistema porque seu pai foi levado em um “recrutamento relâmpago” para uma operação praticamente suicida em uma base na fronteira entre Harvyre e Cherland e morreu na mesma. E como a mãe é ausente, achou conforto em histórias sobre seres místicos. Como acreditar nesse tipo de coisa é o mesmo que ter distúrbios mentais na nossa sociedade, sua raiva contra o sistema acaba aumentando a cada dia que passa.

Paul fica encarando Cherry espantado por alguns minutos. Ela esboça um sorriso de satisfação no rosto, como um piloto que acabou de vencer a final do campeonato.

– Acredita agora, Sr. revoltado?

– Sim, mas... você não é como eu esperava.

A satisfação de Cherry muda subitamente para uma mistura de surpresa e frustração.

– Não? O que você...

Paul segura Cherry pelos ombros e a sacode olhando dentro de seus olhos.

– Você é melhor!

– Anh?

Cherry já não entendia mais nada. Sua frustração e sua surpresa sumiram, deixando espaço apenas para confusão. Estava tão confusa que nem sabia o que dizer ou fazer e apenas ficou estática enquanto Paul a sacudia pelos ombros como uma criança sacode a mãe para fazer manha.

– Isso foi do caralho! Imagina o que dá pra fazer com um poder desses!

– Er...

– Todos aqueles putos que negaram a existência de seres sobrenaturais, poderes e deuses vão ter que engolir o orgulho diante dessa garota fodona.

– Paul...

– Você pode fazer outras coisas com a mente? Diz que você poder levitar coisas... e ler mentes...

– PAUL!

– O quê?

– Eu só vejo o passado das pessoas, mais nada.

– Oh... entendo.

Paul soltou os ombros de Cherry um pouco envergonhado.

– Me desculpe, é que eu adoro coisas sobrenaturais. Pena que nunca consegui presenciar nada de mais...

– Bem... esse tipo de coisa não existe.

– Então como me explica sua habilidade?

– Eu realmente não sei explicar... Aliás, eu tenho uma puta curiosidade para saber o porquê de eu poder ver o que vejo.

– Não tem nem ideia de como isso funcione?

– Bem, o máximo que posso explicar é o que vejo. Agora, o porquê e como eu não sei.

– Entendo. Você sempre viu as coisas assim?

– Não, pra falar a verdade não tenho ideia de quando eu comecei a ver o mundo desse jeito. Só tenho uma vaga lembrança de quando eu tinha quatro anos. Fora isso não me lembra de nada até eu acordar naquele hospital.

– Que droga hein. Não conhece alguém que possa saber algo sobre você?

– O máximo que sei é o lugar onde me encontraram.

– Já pensou em pesquisar sobre o que tem perto de lá?

– Nem rola, é só uma estrada que passa pela Red Moon Forest. Não tem nada por lá.

– A Red Moon? Vish, então complica. Aquela floresta é tensa. Aposto que é amaldiçoada!

– Bem, amaldiçoada ou não. Aquela floresta é perigosa.

– Pois é, acontecem muitos desaparecimentos por lá.

– É. Enfim, tenho que ir andando.

– Tudo bem, agora que eu saí da “cadeia” vou aproveitar e andar por aí até escurecer.

– Boa sorte então.

Os dois se despediram e seguiram seus caminhos para lados opostos. Cherry acabou se lembrando que seu pai havia avisado que chegaria bem mais tarde naquele dia. Como anda tinha muito tempo, resolveu andar por aí. Começou a andar sem rumo apenas para matar o tempo. Como ficava praticamente o tempo todo na rua na época em que morou no orfanato, Cherry conhecia muito bem a cidade. Quando se deu conta estava na estrada e à sua frente, tenebrosa e imponente, estava a Red Moon Forest. Cherry ficou contemplando a floresta por um tempo, quando de repente é surpreendida por alguém:

– Assustadora, não?

Cherry dá um leve pulo e olha para a origem das palavras. Era uma pequena menina. Tinha uns 12 anos, cabelos pretos compridos e olhos azuis. Ela olhava Cherry com um sorriso cativante em seu rosto.

– É... assustadora.

– Por mais que seja assim, eu tenho uma imensa vontade de entrar lá e sair explorando tudo. Deve ser divertido.

– Se não fosse tão perigoso poderia mesmo ser divertido. Eu gosto de andar por aí explorando tudo.

– Sério?! Então por que a gente não vai lá?

– O quê? Você está louca?

– Eu não ia falar nada porque você poderia contar pra minha mãe, mas eu entro lá quase todo dia.

– Sério? Nunca se machucou?

– Não, é só ter jeito que você consegue andar por lá. Vamos que eu te ensino.

A menina puxou Cherry pelo braço e ambas entraram na floresta. Cherry poderia ter resistido, mas parte dela queria entrar naquela floresta. Principalmente porque ela poderia achar alguma pista sobre seu passado.

– Meu nome é Lucy, e o seu?

– Cherry. Você tem alguma ideia de onde estamos indo ou só está andando sem rumo?

– Eu sei sim. Conheço um lugar muito legal por aqui.

– Tudo bem então...

Cherry pensou em procurar no passado da garota o tal lugar de que ela falava, mas seus olhos estavam sendo atraídos pela floresta e sua vegetação densa. Eram árvores enormes e pouca vegetação rasteira. Os troncos das árvores tinham uma coloração marrom escura, quase preto, e suas folhas eram de um verde musgo, deixando a floresta bem escura. Cherry não conseguia enxergar direito o caminho que tomaram, mas pôde notar uma trilha no chão. Após uns 10 minutos, elas chegaram a uma espécie de cabana abandonada.

– Viu só? Não é legal?

– É eu não podia nem imaginar que existia algum tipo de construção por aqui.

A cabana era de tamanho mediano, a madeira parecia muito antiga e desgastada, não havia nem vidro nas janelas, eram apenas buracos nas laterais. A cabana ficava em um descampado sem nem ao menos grama. Cherry ficou observando a paisagem admirada com o quão bem aquela cabana ficava ali.

Antes que se desse conta, a garota já estava chamando seu nome de dentro da cabana. Cherry entrou na casa que estava com a porta entreaberta. Quando colocou a mão na porta, a mesma caiu. Cherry ficou encarando a porta no chão e depois olhou para os lados para ver se tinha atraído alguma coisa por causa do barulho. Como não viu nada, apenas continuou andando em direção à garota. Andou por uns dois cômodos indefinidos e achou Lucy parada em frente a uma estante com livros. Lucy encarava um livro no topo da estante e tentou pegá-lo, mas não o alcançava. Cherry pegou o que restava de um banco, subiu nele e pegou o livro. Quando olhou bem para ele, viu que estava em perfeito estado. Cherry achou aquilo bizarro demais levando em consideração o resto da casa e olhou para o lugar de onde tinha tirado o livro. Lá havia um pequeno botão quase imperceptível. Cherry pensou em apertar o botão, mas a garota segurou uma de suas mãos e disse:

– Guarde isso, eles estão vindo!

– Eles?

– Apenas guarde!

Cherry colocou o livro de volta no lugar e foi puxada por Lucy até uma moita fora da cabana. De lá podiam observar o que ocorria dentro da cabana.

– O que está acontecendo? Quem são “eles” e o que é aquela cabana?

– Shhh. Eles vão acabar te ouvindo, olhe.

A garota apontou para dentro da cabana. Um barulho foi ouvido e a parede do lado da estante começou a tremer. Ela se abriu e de dentro saíram dois homens vestidos de branco e usando algum tipo de máscaras de oxigênio. Eles saíram da cabana e adentraram na floresta carregando um saco preto grande. Cherry ficou paralisada e nem sequer prestou atenção nos homens, ou seja, não viu nada sobre eles. Por algum motivo aquela visão a afetou muito. Lucy a cutucou para que voltasse a si.

– Vamos embora antes que eles voltem.

– T-tudo bem...

As duas voltaram pela mesma trilha que tinha vindo. Cherry estava se movendo apenas porque Lucy a estava conduzindo. Não conseguia tirar a imagem dos homens de sua cabeça. Não sabia o porquê, mas aquilo a perturbava muito. Estava perdida em seus pensamentos quando ouviu uma voz familiar.

– O que você está fazendo aqui, baixinha?

– P-paul?

Quando se deu conta estava fora da floresta e Paul a encarava.

– O que você está fazendo aqui? Não me diga que entrou sozinha na floresta?

– Não, eu estava com essa garot...

Cherry olhou ao redor, mas Lucy havia desparecido.

– Mas o quê...

– Algo errado?

– Não viu nenhuma garota aqui comigo?

– Não, eu estava voltando para casa e vi você saindo da floresta sozinha, até achei que tinha alguém junto com você, mas resolvi esperar um pouco para confirmar. E quando eu vi que você ficou parada olhando para o nada resolvi ver se algo tinha acontecido.

– Está tudo bem...

– Tem certeza? Não está machucada? Essa tal garota que você disse ficou para trás?

– Não... está tudo bem, ela deve ter ido embora enquanto eu vegetava. Acho que vou para casa agora.

– Tudo bem. Mas da próxima vez que quiser entrar aí me chame. Posso não fazer muita diferença... mas ainda é melhor que você entrar sozinha.

– Pode deixar. Nem sei se vou entrar aí outra vez mesmo... pelo menos não por enquanto...

Cherry voltou para casa, mas seu pai ainda não tinha retornado. Tirou suas roupas e foi tomar um banho. Entrou na banheira e ficou apenas olhando para cima. Ainda não tinha conseguido tirar aquela imagem da cabeça.

– É... Parece que vou ter mais uma noite sem sono... Por que será que estou tão incomodada com isso... e... aquela garota simplesmente desapareceu? Acho que minha cabeça não está boa hoje...

Ela ficou quase uma hora apenas olhando para o teto. Depois daquilo apenas jantou e ficou esperando seu pai voltar do trabalho. Ele chegou por volta das 11 horas. Cherry ficou deitada no sofá olhando para o teto até esse momento.

– Oi filha, como vai?

– Bem, e o senhor?

– Só estou cansado. Jantou?

– Sim... Pai sabe a Red Moon Forest?

– Sei.

– Por que dizem que ela é tão perigosa?

– Porque muita gente desapareceu por lá. O máximo que encontraram dessas pessoas foram restos dilacerados. Não se sabe se diz muito sobre isso, mas acredito que isso seja coisa de algum cientista por aí.

– Cientista?

– É. Eu cheguei a ver um dos corpos atacados... aliás... você deve saber disso e aquilo não foi obra de nenhum ser humano ou animal conhecido. E tem muito cientista por aí que faz merda, assim como aquele sobre o qual você me falou no dia em que veio aqui.

– Então você acha que... eles criaram algo que saiu do controle?

– Provavelmente. Deve ser algum rico aí com uma “curiosidade” incrível. Aliás, não me surpreenderia se uma pessoa dessas tivesse um laboratório na floresta. Eu já até comentei isso com alguém, mas ninguém quer investigar afinal... se não for crime contra o regime, a polícia mal se move.

– Entendo...


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