Paz Temporária - Sombras do Passado escrita por HellFromHeaven


Capítulo 2
Mudança de vida




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Dois anos se passaram e Cherry acabou se conformando com seu poder. Já não se importava mais com a solidão, acabou fazendo amizade com ela. Até adquiriu um hobby: sentar na praça central e ficar observando os passados de pessoas aleatórias. Seu hobby lhe garantiu passagens para visões doentias de assassinos frios e cruéis disfarçados de pessoas boas e histórias de sofrimento, depressão, enfim, a verdadeira face da humanidade.

Agora com 14 anos, olheiras profundas por conta de pesadelos constantes, estatura baixa, magra, cabelos e olhos negros, Cherry deixa um sorriso sádico estampado em seu rosto o tempo todo. A garota era conhecida por toda a cidade, pena que sua fama não era nada boa.

O dia 23 de dezembro passava como outro qualquer, Cherry voltava da praça central, onde estava praticando seu hobby, quando uma das tutoras do orfanato a chamou para seu quarto. Cherry seguiu a voz, pensando que seria castigada por algum motivo qualquer. Já se preparava para se desculpar quando abriu a porta:

– Eu peço desculpas por meu comportamen...

Cherry fica muda quando percebe a presença de um homem alto de cabelos curtos e negros ao lado da tutora. Depois de encará-lo por um tempo percebeu que não se tratava de uma bronca, mas de algo totalmente diferente, uma adoção.

–Cherry, esse é o Sr. Winter, ele quer te adotar.

A tutora dizia aquilo com um tom de desgosto.

Cherry continua muda e sem reações. O nervosismo toma conta de seu corpo e o máximo que consegue fazer é sorrir de uma forma estranha e um tanto quanto assustadora.

– É isso mesmo pequena. Vamos ser uma família a partir de agora. Você não vai ter uma mãe já que sou solteiro e para compensar eu tomarei conta de você com atenção redobrada.

Família, uma palavra quase sem significado para a garota. E mesmo assim, causa um grande impacto aos ouvidos de Cherry.

Depois de assinar os documentos necessários, o homem a leva para casa em um carro, algo que poucos tinham condições de comprar. Cherry permanece em silêncio até chegarem ao destino. Lá, Cherry ficou esperando na sala enquanto o Sr. Winter levava seus poucos pertences a seu novo quarto.

Enquanto espera, Cherry observa um porta-retratos com uma fotografia de um casal sorridente. Eram Rob e Christina Winter. Ela havia morrido sete anos atrás em um bombardeio, quando moravam em uma cidade próxima à fronteira. Ela estava grávida de cinco meses e desde sua morte, Sr. Winter sentiu-se cada vez mais solitário. Quando ele voltou, Cherry logo perguntou:

– Você me adotou por pena, curiosidade ou para preencher o vazio que sua mulher e sua filha deixaram?

A pergunta o atingiu em cheio. Ele ficou chocado por alguns instantes e depois respondeu:

– É... parece que você faz jus à sua fama. Acho que posso ser direto com você. Na verdade, eu estava muito solitário e quando vi sua história no jornal, fiquei realmente fascinado com esse seu dom incrível!

– Dom? Acho que está mais para maldição.

– Oh, me perdoe. Essa maldição incrível. E eu, como cientista, não pude resistir a juntar o útil ao agradável.

– Hm. então pretende abrir minha cabeça para ver como essa droga funciona?

– É claro que não... você sabe que não sou esse tipo de cientista,

– Eu sei, só estou brincando com você.

Sr. Winter era um cientista que fazia medicamentos a partir de plantas e ervas modificadas geneticamente por ele mesmo. Trabalhava como terceirizado para a Ecopharm, uma indústria farmacêutica local, e aos 32 anos se sentia realizado com sua profissão.

– É que, como todo cientista, sou muito curioso.

– Eu sei bem até aonde pode chegar esse tipo de curiosidade. Certo dia estava observando um cientista qualquer que trabalha na Biogen, aquela empresa que fabrica praticamente de tudo. Ele também era muito curioso e estava testando uma nova substância da empresa em animais. A substância deveria tornar as células do hospedeiro mais resistentes à radiação. Mas os testes em animais não satisfaziam o cientista. Então, ele levou uma criança de rua para sua casa, apenas um órfão qualquer, e aplicou a substância nela. Depois, ele modificou totalmente um micro-ondas e o usou para testar a criança. Pena que com isso, ela sofreu mutações e morreu depois de agonizar por mais ou menos uns 10 dias.

–... É... Agora entendo o porquê de você chamar sua habilidade de maldição. Você deve ter visto muita merda não é, pequena?

– Você não tem ideia.

Depois da conversa, Sr. Winter mostrou o restante da casa à garota e preparou o jantar. Ele cozinhava bem, mas é claro que o fato dos ingredientes estarem em bom estado ajudava. A comida do orfanato era praticamente sobras que o governo doava. Então aquele simples jantar foi como um banquete para Cherry. Aproveitaram o tempo para conversar e depois de uma hora, Sr. Winter levou Cherry ao novo quarto da garota.

– Espero que goste de morar aqui. Infelizmente não poderei ficar muito tempo com você... mas tentarei ser o melhor pai do mundo!

– Tudo bem, eu sei que você tem que trabalhar. Já estou acostumada a ficar sozinha mesmo, vou me virar.

– Que bom que você compreende. Ah! Amanhã vou te matricular na escola Knowledge Nest. Não fica muito longe daqui e o ensino é muito bom. Boa noite... Filha.

– B-boa noite... p... p-pai...

Demonstrações de afeto, mesmo pequenas como um “boa noite” eram novidade para Cherry. O que a fazia sentir-se estranha.

Alguns dias se passaram e Cherry começava a pensar que poderia se acostumar com sua nova família, apesar de a palavra ainda soar de um modo estranho nos ouvidos da garota.


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