Cheguei à casa de Bella às 19h29min.

Bati à porta e esperei por longos dois minutos, que ela a abrisse para mim. Como prometido ela não estava pronta. Sorriu a me ver e disse que só faltava calçar os sapatos. Apesar de eu ver claramente que aquilo era uma mentira, fiquei com esperanças de que conseguiríamos chegar na festa na hora certa. Ledo engano. Meia hora se passou. Maquiagem, enésima troca de vestido, cabelo, retoque da maquiagem, troca de sapato, acessórios e enfim, depois de ainda voltarmos porque ela havia esquecido o celular dentro da geladeira, seguimos para a festa da minha sobrinha.

– Acho que eu demorei um pouco mais que planejado. – Falei para Jasper quando ele veio nos cumprimentar. Pelo canto do olho, vi Isabella corar levemente.

– Tudo bem, Edward. Pra te ser sincero, o namorado da Reneesme ainda não chegou, então a festa em si não começou também. – Ele fez uma cara de preocupado. – Não sei se eu gosto da proximidade da minha filha com esse garoto...

– Pelo que eu sei, ele faz o estilo do Emmett. Você nunca teve problemas com o Emmett.

– O Emmett é um bom homem, pode ser arruaceiro, pode se meter em confusão... Mas as intenções dele sempre foram as melhores. Mas esse garoto... Ele não me parece bom, nem para minha filha, nem para ninguém... – Olhei atentamente para meu cunhado, ele não era do tipo que se preocupava à toa. Talvez eu devesse mesmo conhecer esse namorado de Reneesme.

– Eu vou conversar com ela sobre esse garoto, mas acho que hoje deveríamos aproveitar a festa. O que você acha?

– Que você tem razão. – Ele sorriu e só então notou minha acompanhante – Ah! Oi, Bella.

– Olá, Jasper. – Ela o abraçou. – Sei que posso soar um tanto intrusa, mas sabe o que eu acho? Você deveria confiar mais na sua filha. Há chances de ela estar errada? Claro que há, mas também pode ser outra coisa... Bem, só confie nela. Está bem?

– Obrigado. – Eles abraçaram-se novamente.

– Ih! A aniversariante sou eu e meu pai que fica ganhando os abraços? – Reneesme apareceu de mãos dadas com a mãe. Quem não as conhecesse diria que eram irmãs, com 33 anos, Alice parecia ter, no mínimo, 10 anos a menos do que realmente tinha.

– Rê – Abracei-a apertado. – Meus parabéns!

– Obrigada, tio. – Falou e virou-se para Bella – Olá, moça! Eu te vi no hospital sabia?

– O Edward me falou que você me visitou, obrigada e parabéns.

– Você já lembra do meu tio, Bella?

– Hã... Eu... Ainda não.

– É uma pena. Vocês eram um casal tão lindo... Isso significa que você também esqueceu de mim, não é? E do quanto nos tornamos amigas? – Isabella me olhou com uma expressão de desespero. E eu encarei minha sobrinha, perplexo. Até ela havia entrado no jogo de mentir para Isabella? Que tipo de família era a minha? – Você até me falou de um amigo seu... Jacob. O conheci no hospital, ele é muito mais bonito do que você me falou.

– Eu não lembro...

– Não lembra nem do Jacob? Então tá ruim, hein!?

– Dele eu lembro, não me lembro de ter te falado dele.

– Ah! Tudo bem, eu não estou magoada. Vou reconquistar sua amizade, assim como meu tio reconquistou seu amor. Aliás, quando vai ser o casamento? Já remarcaram a data? Estou ansiosa pra ver o tio Edward casando, ele é meu tio preferido.

– Como é a história? – Emmett falou assustando a todos. – Eu vou embora agora.

– Não, não, tio Emm. – Reneesme correu para abraça-lo. – Eu estava brincando.

– Estava? – Franzi as sobrancelhas fingindo-me de zangado.

– Droga, parem de me deixar confusa!

– Emmett e Edward, não comecem a roubar os holofotes para vocês. – Alice abraçou a nós dois. – O aniversário é da minha filha, então ajam como os adultos que vocês teriam que ser. Afinal, quantos anos vocês tem mesmo? 29 e 27? Não é o que parece...

– Não posso fazer nada maninha, eu sou o caçula. Fui influenciado por dois irmãos mais velhos deveras infantis.

– Cala a boca Emmett, nada nem ninguém é capaz de influenciar você. – Dei-lhe uma tapa na testa. – Só a Rosalie, porque bem sabemos que ela manda em tudo.

– A Rosalie é assustadora! – Jasper exclamou.

– Isso é mesmo, e vocês nunca a viram na TPM.

– Que coisa feia, papai. – A Aninha, que estava nos braços da Rosalie falou. – Eu já não te disse que falar da mamãe desse jeito é feio?

– Oi minha filha, oi meu amor.

– Oi meu futuro-ex-marido. – Rosie brincou e todos riram. Menos o Emmett, que fez um bico. – Te amo. – Ela disse beijando-o de leve, fazendo a Ana bater palmas e dar gritinhos felizes.

– Vocês dois são esquisitos. – Reneesme disse. – Tá vendo onde você foi se meter, Bella? Numa família cheia de gente doida! – Minha acompanhante, que observava tudo calada, apenas sorriu e acenou com a cabeça.

Mais e mais pessoas chegaram. Amigos e amigas da minha sobrinha, amigos e amigas dos pais dela. Em uma hora todos os convidados haviam chegado. Inclusive o tal namorado de Reneesme, Daniel. Não chegamos nem a conversar, menos de meia hora depois de ter entrado na feste ele já estava saindo, com a desculpa de que precisava ajudar a mãe nele “num negócio”. Talvez fosse verdade, talvez não.

Em algum momento da festa Bella se separou de mim, dizendo que ia para o banheiro. Quarenta minutos depois eu ainda estava sozinho, esperando que ela aparecesse. Desisti de esperar que ela encontrasse o caminho de volta pela multidão e fui atrás dela. Andei quase dez minutos, até que a vi. Sentada num sofá do canto, conversando com um cara. Ela parecia feliz e a conversa parecia entretê-la.

– Quem é o Mané ali? – Emmett perguntou colocando-se ao meu lado.

– Eu não sei, mas sei quem é o Mané aqui. – Apontei para mim.

– Ela parece estar gostando da conversa do cara.

– Bem observado, irmão. Agora me diz algo que eu já não tenha notado...

– Ela parece um pouco... Alterada? – Tornei a olhar para Isabella e vi que ao seu redor tinham algumas garrafas vazia, e outra meio cheia. Se aquilo tudo fosse dela a noite não iria acabar muito bem.

– Eu não vou ficar vendo isso, eu vou pra casa. Você fica responsável por ela, tá certo?

– Você vai deixar o cara lá?

– Ela não está reclamando, eu não posso interferir. – Dizendo isso virei para o lado oposto ao qual Isabella estava. Teria saído caminhando, se Emmtt não tivesse me puxado pelos ombros e me feito olhar novamente a cena.

– Acho que aquilo lá é um protesto... - E realmente era. O tal cara tentava dar um beijo em Bella, e ela tentava, a todo custo, empurra-lo para longe. Mas, talvez por contribuição de todo o álcool ingerido por ela, mal estava conseguindo se manter sentada. O que facilitava muito o lado do cafajeste. Emmett começou a andar até os dois, mas eu pedi que ele parasse e passei em sua frente. Se alguém tinha que resolver aquilo, esse alguém era eu.

– Você pode soltar a moça, rapaz.

– Não, não posso.

– Eu não fiz uma pergunta.

– Não? – Ele virou-se para mim e parou. – E quem você pensa que é?

– Ele é meu namorado, meu noivo, eu não lembro muito bem.

– Se ele conseguisse te satisfazer, você lembraria. – Ele disse e tentou beija-la novamente.

– Me soltaaa.

Não pensei duas vezes, puxei o cara pelo colarinho da camisa e soquei o nariz dele. Escutei um barulho de ossos quebrando e sorri. Teria o batido novamente se Emmett não tivesse aparecido e me puxado para longe, vi Rosalie puxar Bella logo em seguida. O cara que eu havia socado ficou no chão gemendo de dor, não cheguei a ver quem correu para ajuda-lo.

Resolvi que estava na hora de ir pra casa. Perguntei se Isabella gostaria de ir comigo, ou se ela preferia que outra pessoa a levasse. Após se despedir da minha família, fomos embora. Era mais uma das nossas viagens silenciosas. Não por não ter o que dizer, mas talvez por não saber como começar, optei pelo silêncio.

– Obrigada. – A voz dela quebrou o silêncio. – E desculpe por estragar a sua festa.

– Tudo bem.

– Você está com raiva?

– Está tudo bem.

– Você não respondeu minha pergunta, Edward.

– Não, não respondi.

– Você está estranho...

– Estou um pouco cansado, só isso.

– Não, não é isso. Eu sei que não é, eu conhe...

– Você o quê? Você ia dizer que me conhece? – Ri abafado. – Me poupe Isabella Swan. Você nem se lembra de mim. Não lembra minimamente de mim... – Parei o carro e me virei para ela – Eu estou cansado de me esforçar... No começo eu achei que você pudesse voltar a se lembrar de mim, ou, pelo menos, do que sentia por mim. Mas é tudo um esforço perdido... E, sinceramente? Eu estava olhando para minha família hoje, meus irmãos, seus filhos... O Emmett me disse que a Rosalie está grávida. Meu irmão vai ser pai novamente... E eu queria tanto sentir essa alegria.

– Edwar...

– Me deixa terminar de falar, por favor... Será que você consegue me entender? Minha irmã tem uma família maravilhosa, meu irmão tem uma filha linda, uma esposa que ele ama e ainda vai ganhar um novo filho. Eu sou muito feliz por eles, de verdade, mas eu queria sentir essa felicidade que eles sentem. No entanto o que eu estou fazendo com a minha vida? Estou investindo todo o meu tempo numa mulher que nem sequer sabe quem eu sou, que nem sequer se esforça pra lembrar, ou pra descobrir... Quando você aceitou ir a festa comigo eu achei que ia ficar tudo bem, que você, mesmo não lembrando o motivo, sentisse algo por mim, e que estava começando a se dar conta disso, aí eu ia fazer de tudo pra você ser feliz, pra nós dois sermos felizes juntos... Entretanto, lá estava você hoje, com outro cara.

– Eu não queria nada com ele, eu...

– Você me magoou e me decepcionou muito.

– Eu sei, eu só queria...

– Pra mim acabou por aqui.

– Acabou?

– Acabou. – Falei secamente, depois de um tempo em silêncio ela apenas assentiu com a cabeça e abriu aporta do carro para sair. Antes de ir, olhou para mim uma última vez e disse:

– Estou me demitindo da Cullen Enterprises.

– E você vai trabalhar onde? – Perguntei realmente preocupado, lógico que eu não esperava que ela fosse continuar trabalhando comigo por muito mais tempo, mas esperava, ao menos, que fosse dar um tempo até arranjar um novo emprego.

– Sua responsabilidade comigo chegou ao fim, eu sei me virar. – Ela sorriu. – Espero que você seja feliz. Espero que encontre alguém que consiga realizar todos os seus sonhos. De verdade.

– Adeus Isabella. – Disse não querendo desejar o mesmo a ela. Porque eu era egoísta, porque eu queria que ela fosse feliz comigo, porque eu queria realizar todos os sonhos dela, mas aquilo não era possível. Não mais.

– Adeus Edward.

Então eu acelerei o carro e parti.