Ouvi uma movimentação se aproximando, mas não desviei os olhos dele. Sua face era tão calma.

–Lucy! –Gray deslizou na grama, parando ao lado. –Lucy!

Jellal chegou logo atrás, ajoelhando-se do outro lado.

–O que aconteceu? –Jellal perguntou em desespero.

Não consegui falar nada. As palavras não saiam, por mais que eu abrisse a boca.

–Levem ele pra Wendy, rápido. –Erza gritou.

Juvia se ajoelhou ao meu lado, e pousou sua mão em minhas costas. Gray em um instante, fez o que pareceu ser uma maca improvisada com Ice Make. Jellal e Gray o colocaram na maca, e Jellal olhou com receio.

–Ele esta muito quente, logo vai derreter. –Foi o que ele falou.

–Daí é só fazer uma nova camada de gelo. –Gray respondeu.

Jellal tirou a camisa, e pôs entre sua mão e o gelo, para conseguir levar. Gray, lógico, não teve problema com isso. Cada um pegou um lado, e começaram a andar.

Tentei levantar me, mas não consegui. Juvia passou um de meus braços por de seu pescoço, e levantou me com facilidade, me ajudando a ir atrás dos garotos.

–E Erza? –Eu falei, sem olhar para trás antes de entrarmos na densa mata.

–Juvia acha que ela vai ficar até Sting acordar. Depois disso, Juvia não sabe o que ela pretende fazer com ele.

Acho que aquelas arvores nunca foram tão assustadoras. Acho que o frio da sombra nunca me incomodou tanto. Acho que o tempo nunca se arrastou tanto. Acho que eu nunca tive tanto medo.

Respirar, um ato inconsciente, se tornou difícil para mim. Minhas pernas tremiam, e eu mal sabia como conseguia caminhar. Juvia fazia enorme esforço para me ajudar, mas eu vi que não íamos conseguir seguir caminho por muito tempo.

Já não víamos Gray e Jellal há um tempo. Mesmo tendo que carregar Natsu, eles conseguiram ser mais rápido. Mas mesmo assim, Juvia parecia saber por onde me guiava. E então, as arvores a nossa frente se mexeram, e por elas Gajeel apareceu.

–Achei vocês. –Ele falou ao se aproximar.

–Gajeel, como você... –Juvia começou a falar.

– Estávamos treinando aqui por perto, quando vimos Gray e Jellal levando Natsu. Jet e Droy estão ajudando a levar-lo também, e Wendy já começou a cuidar dos machucados mesmo no caminho. Gray disse para procurar vocês, ele falou que Lucy também estava machucada. –Ele falou.

–Eu estou bem comparado a Natsu.

–Pode deixar que eu levo ela agora Juvia. -Falou enquanto me pegava nos braços. –Isso na sua mão foi... –E então eu apontei para onde começava o decote da minha regata onde estava seu nome gravado. - Que filho dá mãe!

–Não se preocupe Lucy, Wendy deve ter alguma coisa para fazer cicatrizar logo. –Juvia falou ao meu lado.

–Por favor, vamos logo. – Eu falei, e então começamos a seguir por onde Gajeel apareceu.

–E essas faixas no seu braço, foi ele também? –Gajeel voltou a perguntar.

Eu apenas balancei a cabeça positivamente, mesmo sabendo que não era verdade. O caminho passou rápido. Juvia teve que dar uma leve corridinha para acompanhar os largos passos de Gajeel. Mas em fim chegamos a casa.

Quando adentramos pela porta, todos os olhares se lançaram sobre nós. Mas a única coisa que eu conseguia fazer era procurar com os olhos por Natsu e Wendy. Eu não os encontrei, o que me assustou de imediato. Levy correu até nós, Gray logo atrás dela.

–Onde ele esta? –Falei rapidamente.

–Calma, Wendy esta cuidando dele. –Gray falou.

–Você esta bem, Lu-chan? –Levy perguntou preocupada. Gajeel sentou-me em uma poltrona, mas eu logo levantei.

–Onde ele esta? –A urgência fazia muita presença em minha voz.

–Ele esta no meu quarto, se acalme Lucy. –Levy falou. Tentei ir de volta para o extenso corredor por onde entramos, mas Gray barrou minha passagem se pondo em minha frente.

–É melhor você não ir. –Ele falou.

–Por que? Me deixa passar. O que esta acontecendo? Ele estão tão mal assim? –Eu praticamente cuspi tudo de uma vez só, rapidamente. Senti meus olhos ficarem úmidos, e então falei mais devagar. –Gray, eu preciso... Preciso vê-lo.

Passei por ele, que ficou imóvel. Acho que ele entendeu minha necessidade. Escorei me na parede e fui o mais rápido possível até o quarto. Ao abrir a porta, estremeci, minhas pernas tremeram. Vê-lo deitado daquele jeito, foi forte demais pra mim. Mas mesmo assim, avancei. Cai de joelhos ao lado da cama, no lado contrario ao que Wendy trabalhava. Peguei sua mão, ela era extremamente quente. Levei-a aos lábios, e a beijei delicadamente, sentindo seu calor em meus lábios.

Eu observava cada movimento de Wendy, que estava de olhos fechados, para se concentrar mais. Minha tensão só aumentava mais a cada instante. Eu via o rosto inconsciente de Natsu reagir a cada toque de Wendy em seus ferimentos.

Após alguns minutos, que pareceram se arrastar por causa da aflição que eu estava sentido, Wendy simplesmente abriu seus olhos. Foi como se ela estivesse dormindo, e acordasse por lembrar-se de algo. Ela olhou para mim, parecendo nem ter reparado na minha presença.

–E então, como ele esta? –Perguntei.

–Ah, ele não esta nada bem nesse momento, mas vai ficar. É uma sorte ele estar inconsciente, pois se não estaria nesse momento se remexendo de tanta dor. –Ela olhou-me, e provavelmente viu o pânico em meu rosto, pois logo continuou. –Mas agora ele vai ficar bem. Eu usei muita magia nele.

–E quando ele vai acordar? –Perguntei, porem agora não a olhava mais, e sim para ele. Seu rosto estava tranqüilo.

–Não sei dizer bem. Pois eu realmente usei muita magia nele. –Ela respondeu, e também virou seu rosto para o olhar – Lucy, vou precisar de ajuda para limpar todo esse sangue que esta nele. Se você não esta se sentindo bem, eu posso chamar outra pessoa.

–Não, eu estou bem. –Falei prontamente.

–Vou pegar alguns curativos então. –Ela falou ao sair do quarto.

Acariciei seu rosto estranhamente tranqüilo.

–Que susto que você me deu. –Falei baixo.

Wendy voltou, trazendo consigo uma maletinha. Me entregou um pedaço de algodão e um frasquinho com um liquido amarelado, tinha um odor forte,que queimava o nariz só de sentir o cheiro. Limpei seu braço e seu abdômen, deixando para ela só os machucados em si. Eu o sentei na cama, com muita dificuldade, apoiei seu corpo no meu, para Wendy conseguir tirar o seu colete. Depois eu o deitei novamente, tomando cuidado para não machucá-lo.

–Agora só temos que esperá-lo se recuperar. Então vamos cuidar dos seus ferimentos. –Ela falou.

–Não, eu estou bem, vou cuidar disso quando ele acordar. –Eu disse.

–Parece estar doendo. E ele pode não acordar tão cedo.

–Não esta doendo. –Menti. –Eu posso esperar.

–Tudo bem então. Me chama quando quiser. –Ela me falou, deixando me sozinha com ele.

Lucy off.

Autora on.

Em meio as arvores, que tinham seus galhos balançados pelo vento forte, em baixo das folhas que caiam a todo instante, cercada pelas finas gotículas de água que vinham com o vento, Gray a viu. Ela estava sentada encostada em uma arvore caída, de costas para a casa. Seus braços envolviam as pernas encolhidas junto ao corpo, e seu rosto escondido nos joelhos. Gray andou devagar até ela, com certa preocupação.

–Juvia. –Ela ergueu a cabeça rapidamente, ao reagir por seu chamado. –Você esta bem? Bom, imagino que não esteja muito bem, já que seu namorado esta tão ruim.

–Juvia não agüenta mais, ela precisa falar uma coisa. –Ele se sentou ao seu lado. Ela voltou a esconder seu rosto. Gray levou sua mão até seu rosto, e o ergueu delicadamente.

–Pode falar pra mim, qualquer coisa, sempre. –Ele falou,com um olhar que lhe passava confiança. Mas mesmo assim, ela não se sentiu confortável, e escondeu seu rosto novamente.

–É sobre Natsu, e Juvia... –Ela falou baixo, mas mesmo assim ele escutou.

–O que foi que esse bosta fez? –A raiva era evidente em sua voz. –Se ele te magoou... Ah, não vai ser tão cedo que ele vai se recuperar. –Ele falou serrando os punhos.

–Ele ajudou Juvia. –Foi a única coisa que ela falou.

–Oi? –A confusão era evidente em sua voz.

–É, ele ajudou. Ele fingiu Namoro com Juvia. Para lhe dar um troco pelo modo que tratava Juvia. –Juvia falou rápido.

A reação de Gray foi a mais imprevisível possível para a azulada.Ele riu. Ela logo levantou a cabeça para olhá-lo.

–A idéia não foi de Juvia. Ela sabe que isso não te afetou em nada, você agora namora Lucy. Juvia sabe que é ridículo. Por favor, não ria... –Algumas lagrimas começaram a brotar de seus olhos.

–Eu fico tão feliz em ouvir isso. –Ele logo readquiriu o tom sério em sua voz. – Você não tem noção do quanto isso me afetou. Juvia, desculpa por todas as vezes que eu te fiz chorar, desculpa todas as vezes que eu não lhe dei a atenção que você merece, me desculpa te fazer sofrer. E, me desculpe tem percebido só agora, o quanto eu preciso de você, o quanto eu te amo.

–E Lucy?

–Não existe Lucy, não existe namoro, não existe nada. Foi tudo uma grande mentira.

Ele falou sorrindo, ela sorriu instantaneamente. Juvia se lançou em seu colo, ele abriu os braços, e a envolveu com ternura. Os corpos colados pelo grande abraço. Juvia descansou sua cabeça em seu ombro.

–Juvia não consegue acreditar. –Ela sussurrou.

–Eu é que não consigo acreditar, que todo aquele tempo, todo aquele ciúmes, era tudo tão desnecessário. –Ele falou, afagando seus cabelos.

Eles passaram um longo tempo daquele jeito, sem falar nada. Para ela, o seu colo era o melhor lugar que poderia estar. Para ele, senti-la em seus braços era a melhor sensação que já sentiu.

–Eu sei que você se sente bastante receosa em relação a mim. Eu não a culpo, já te fiz sofrer tanto. Sei que você merece coisa muito melhor do que eu. E também, entendo se você não quiser nada comigo. E também... –Ele foi interrompido por Juvia, de uma forma surpreendente.

Ela a beijou. Os braços do garoto, que ainda estava ao redor de seu corpo, a puxaram mais para si, intensificando o beijo. Juvia passou seus braços em volta de seu pescoço, colocando sua mão entre os negros e curtos cabelos de Gray. O beijo que no inicio foi calmo e carinhoso, um beijo apaixonado, deu lugar a um beijo intenso, cheio de querer. Juvia escorou um joelho em cada lado do quadril de Gray, e levantou seu corpo um pouco, para que o beijo pudesse ser em uma melhor posição. As mãos de Gray deslizavam em suas costas, e seus braços a prendia com mais força.

Quando o beijo acabou, ambos estavam ofegantes. Juvia sentou se novamente em suas pernas. Eles se encaravam, suas respirações descompaçadas, seus corações batiam forte.

–Preciso te fazer uma pergunta. –Ele falou.

Antes dela ter tempo de perguntar o que era. Ele se levantou, levantando a também. Gray se ajoelhou ao seus pés, e segurou suas mãos.

–Gray, o que esta fazendo, levanta daí. –Ela falou, não entendendo nada, tentando puxa-lo.

–Juvia, você quer namorar comigo? –Ele em fim criou coragem para lhe perguntar.

Ela ficou em silencio por um tempo, sem reação. Gray se desapontou com seu silencio. Ele largou umas mãos, e se levantou derrotado, olhando para o chão.

–Desculpa, não sei no que estava pensando, tudo bem, você ainda não me perdoou, eu ...

–Sim. –Ela falou baixo, ele olhou para ela no mesmo instante.

–Ãm?

–Depois desse beijo, acho que a resposta não pode ser diferente de Sim. Sim, sim, sim. –Ela falou animada.

Um sorriso enorme invadiu o rosto do garoto naquele momento. Ele a abraçou, e a levantou do chão. Os braços fortes do moreno a seguravam pela cintura. Juvia passou seus braços em volta do pescoço de Gray, enquanto esse a girava no ar.

–Para. –Ela disse rindo, com certo medo. –Juvia vai cair.

–Você não sabe o quanto estou feliz. –Ele falou rindo. – Eu vou te fazer feliz, juro.

–Você já faz Juvia feliz só de estar aqui. –Ela falou sorrindo.

Ele a colocou no chão, e lhe deu outro beijo. Porem, esse beijo foi bem mais calmo do que o outro.

–Vem, eu preciso contar pra eles que estamos juntos. –Gray falou enquanto arrastava Juvia para dentro da casa.