Hopeless Wanderer escrita por little wolf boy


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Pré-Hogwarts.

Harley e Peter Daves.



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Aquela era talvez a primeira vez que o sorriso de Harley era quase tão grande quanto o de Peter.

Dois garotos ruivos sentados no chão de madeira desgastada vibrando em seus lugares, dois pares de olhos verdes brilhantes indo de segundo em segundo verificar a porta, duas expressões alegres e ansiosas quase que completamente iguais.

Havia aquele “quase”, contudo. Seus traços irlandeses e britânicos pronunciados eram os mesmos, a altura e corte de cabelo também. Se os dois ficassem de frente, seria como olhar para um espelho. Mas sempre havia aquele detalhe crucial que permitia a todos que, se observassem um pouco mais atentamente, os deixavam distinguir os gêmeos.

Peter tinha um sorriso longo que quase lhe rasgava a face, exibindo os dentes brancos e alinhados sem pudor. Seus olhos verdes brilhavam como faróis e se desviavam para pontos diferentes em cada segundo. As mãos do garoto batiam um ritmo qualquer impacientemente na perna, e mudava de posição de minuto em minuto, numa inquietação sem fim.

Harley, por outro lado, estava bem diferente. Oh, não duvide: Seu sorriso era só um pouquinho menor do que o de Peter. Não porque estivesse menos feliz, mas a estranheza de fazer o gesto em demasia lhe impedia de dar um sorriso enorme como o do irmão. Se perguntou, não pela primeira vez, se os lábios e maxilar do ruivo não doíam, sendo forçados por tanto tempo tão frequentemente. Os seus mesmo estavam começando a doer depois de algumas dezenas de minutos mantidos na mesma posição. Esse desconforto, no entanto, não parecia afetar seu irmão cheio de sorrisos.

O brilho em seus olhos igualavam ou pelo menos chegavam perto dos de Peter, mas não batia suas mãos em agitação ou se remexia. Ao contrário: seu corpo relaxava com serenidade, como que se preparando para a adrenalina que logo iria abrigar. Revirava entre os dedos uma peça de xadrez, um rei, feita em mogno quase negro, do jogo que ele e Pete tinham entalhado junto do pai. Os cortes eram rudes e bruscos, mas tinham um quê de beleza em si, ou talvez essa impressão só se devesse ao valor emocional atribuído a peça.

De repente, a porta se abriu com um rangido familiar. Aidan entrou, as botas de couro enlameadas sujando o chão (O que gerou uma reclamação quase resignada de Siobhan da cozinha). Ele espreitou da soleira, os olhos verdes brilhando e um sorriso secreto e convidativo no canto dos lábios. Antes mesmo que pudesse dizer uma só palavra, os dois garotos ruivos tinha saltado em seus calcanhares, correndo em direção a porta. O homem ficou lá por alguns segundos antes de soltar uma risada estrondosa e seguir os filhos.

Os três iam em direção ao estábulo, que ficava não muito longe da casa rústica. Os meninos andavam em um meio trote, quase vibrando de antecipação, enquanto o homem seguia atrás, mais calmo, embora seu rosto mostrasse certa ansiedade também.

Ele estava cansado, isso era um fato, escrito nos ombros largos ligeiramente caídos e na forma que seus pés meio que se arrastavam no caminho. Seu corpo, embora forte e resistente, implorava por sua cama quente e talvez um beijo amoroso de Siobhan antes de cair no sono. Não podia deixar de ver a reação dos meninos, contudo. Afinal, trabalhara toda a noite e parte daquela manhã nisso, não podia desistir na linha de chegada.

— Bem, aqui estamos, garotos. — Anunciou ele enquanto entravam na construção bem feita, a voz forte ecoando um pouco. — Fiquei a noite preparando eles para vocês, então é só montar. Pete, o Floco é dócil, mas vai com calma. Har, toma cuidado com o Estrela. Ele pode ser bem impaciente e apressadinho, okay? Podem montar. — Disse o homem, um sorriso cansado no rosto, o leve sotaque do campo proeminente em sua fala. Apesar da fadiga, foi para o lugar onde Tempestade Iminente (Um nome um tanto pretensioso para um cavalo, mas Aidan gostava) batia os cascos. Não poderia perder o olhar no rosto dos garotos nos primeiros momentos em que montassem seus próprios cavalos.

Os meninos não perderam tempo. Harley avançou com rapidez para o lugar onde ficava Estrela Negra, seu garanhão, um mustangue de pelos negros e olhos de ônix que era mais esguio que musculoso. O pai dos garotos os acostumava aos cavalos desde que eram pequenos potros. Assim, Estrela não se assustou ou recuou relinchando como faria para qualquer outra pessoa quando o pequeno ruivo levantou a mão para passar por sua crina macia e acariciar seu focinho, montando num movimento fluído. Alguns lugares a frente, Peter já estava montado em Floco de Neve, seu mustangue branco.

— Ah, e antes que vocês partam avoados como sei que vão. — Aidan lançou a eles um olhar severo nesse parte, embora levemente divertido. — Tomem isso. — Tirou um pano puído de cima de uns caixotes deixados de lado, revelando dois chapéis de caubói de couro macio. Os olhos de Harley se arregalaram em veneração. O sorriso de Peter, sendo biologicamente possível ou não, era ainda maior. Aidan sorriu, daquele jeito que acentuava suas rugas de riso ao redor dos olhos, e colocou os chapéis na cabeça dos meninos. Eles disseram um “Obrigado, pai” reverente em uníssono. — Tudo bem, podem ir. — Disse, ele mesmo montando Tempestade e dando impulso.

Harley não pensou uma segunda vez. Ficar montado num cavalo sem correr parecia simplesmente errado, e Estrela compartilhava sua impaciência. Não levou mais de alguns segundos depois dele dar impulso para o mustangue partir num trote rápido e depois numa corrida. Montar no cavalo negro, no qual ele estava acostumado a cuidar e sinceramente gostava, era ótimo. O vento batia com violência no rosto e resfriava seu corpo. Não demorou muito para sentir frio na manhã gelada, estando vestido só com um jumper leve, mas não se importou nem por um segundo. A adrenalina corria em suas veias, o incitando a correr mais rápido, mais rápido e mais rápido. Em pouco tempo se perguntou se as patas de Estrela estavam mesmo tocando o chão. Só a corda do chapéu amarrada a seu pescoço o impedia de voar para longe no esquecimento.

Não sabia quanto tempo havia passado. A velocidade, a adrenalina e o prazer em tudo aquilo ocupavam sua mente por completo. Quando voltou, porém, viu que o sol estava alto num céu sem nuvens, e Floco repousava no estábulo junto de Tempestade. Seu pai e Pete não estavam a vista. Embaraçado, percebeu que se esquecera dos dois no meio da sensação viciante de velocidade. Levou um cansado mais aparentemente satisfeito Estrela Negra para os estábulos, onde lhe deu comida e água, escovou o pelo e tirou as rédeas e sela.

—Foi uma boa corrida, garoto. —Disse para o cavalo, lhe acariciando a crina. Não podia deixar de sentir, no fundo de sua mente, o quanto era estúpido fazer isso, mas parecia simplesmente… certo, falar com Estrela. Sorriu, indo para casa.

Lá dentro, Pete comia seu almoço vorazmente, aparentemente com muita fome depois da corrida à cavalo, um prato quente de ensopado de carneiro com batatas sendo esvaziado com rapidez. Tentou dar a ele uma saudação e falar alguma coisa ainda com comida na boca, mas um olhar de falcão da mãe dos dois, Siobhan, fez o menino sinalizar um “mais tarde” e voltar humildemente para sua comida. Harley sorriu.

O ruivo andou pelo corredor, chegando ao segundo quarto da casa. Ali, como imaginava, repousava o pai, dormindo profundamente, grossas cortinas obscurecendo toda a luz. Hesitou um momento sobre a soleira, antes de avançar, o chapéu que havia ganhado na mão.

Dormindo, as linhas no rosto de seu pai se suavizavam, o cabelo negro bagunçado se espalhando e misturando-se à barba por fazer. Ele roncava levemente, e Harley percebeu com diversão que mesmo esse som era um tanto forte e estrondoso. Ficando de cócoras, o ruivo sorriu levemente.

— Obrigado por ser o melhor pai do mundo. — Falou baixinho. — Eu posso não mostrar como o Pete, pai, mas eu te amo muito. Obrigado. — Repetiu, passando o polegar pela borda de seu chapéu, antes de se levantar, subitamente envergonhado, com a intenção de sair do quarto. Antes que pudesse, porém, ouviu um murmúrio baixo e sonolento que se parecia com um “Também te amo, filho”. Corou ao perceber que foi ouvido, mas isso não impediu o sorriso de florescer em seu rosto.

Poucas semanas depois, quando Harley voltasse de uma corrida e um policial estivesse falando com sua mãe em prantos, quando Aidan Daves, seu pai, estivesse morto, ele iria recolher essa memória e guardá-la com o máximo de zelo e cuidado que poderia reunir.


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Notas finais do capítulo

Yep, eu amo um final dramático.

Esperam que tenham gostado desse prelúdio. As emoções começam a transbordar mesmo no capítulo seguinte.

Gostando ou não, deixem um comentário dizendo o que acharam ^-^

Até o próximo!



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