Bring Me Back To Life escrita por Elizabeth Watson


Capítulo 8
Capítulo 8.


Notas iniciais do capítulo

Heyy!Gostaram do último capítulo?Lá vai mais um novo!Espero que gostem.Enjoy and Enjoy.



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Oliver me levou embora duas horas depois. Pedi a ele uma cópia da poesia que ele leu para mim. Ele disse que leu em As Vantagens de Ser Invisível e releu o livro e a poesia tantas vezes que acabara decorando, mas que não estava totalmente feliz por dar-me uma cópia já que a poesia era depressiva demais. Eu disse que não me importava e depois de jurar que aquela não seria uma forma de me entristecer mais ainda ele me deu uma cópia manuscrita.

Eram três folhas com uma letra cursiva e bonita. Colei-as lado a lado na minha parede e eu lia sempre antes de dormi. E eu acabei descumprindo o juramento, pois aquela era uma forma poética de me entristecer e dava muito certo.

Em uma manhã dessas, depois de uma noite mal dormida e várias releituras da poesia eu me levantei para ir para escola em um horário consideravelmente bom, já que eu não teria que sair correndo as pressas com um coturno detonado ou quase desmaiar de fome no meio da aula.

Coloquei uma calça de couro, meu coturno preto e um suéter cinza. As ataduras ainda estavam nos meus pulsos. Eu preferia ver uma atadura em cada pulso do que ver os cortes semiabertos. Escovei os cabelos e contornei meus olhos azuis safiras com lápis preto. Se você vai voltar ao inferno, volte ao menos arrumado.

Desci. Meus pais estavam á mesa tomando café da manhã e me ignorando por completo. Eu não ligava então só me sentei e me servi com uma fatia de pão. O noticiário começou e eu estava perfeitamente mergulhada em minha ignorância até ouvir a palavra cadáver. Engasguei com o pão. Meus pais continuavam me ignorando. Eu poderia perfeitamente morrer engasgada ali mesmo, mas felizmente (ou infelizmente) me recuperei suficientemente bem para ouvir a notícia.

Um morador da cidade havia achado um corpo de uma garota enforcada em seu chuveiro no meio da madrugada. O rapaz de aparentemente 21 anos com pele bronzeada e olhos azuis quase no mesmo tom que os meus estava em choque e dizia freneticamente que o corpo aparecera do nada em seu banheiro já que ele estava acordado assistindo á um filme no momento e não ouviu o menor ruído. A única pessoa que tinha acesso à sua casa era uma colega minha de escola, que era sua namorada.

Estremeci com o fato de que o assassino resolvera passar dos limites da escola. Agora eu estava em perigo não somente na escola, mas em qualquer lugar. Não que eu saísse muito, mas de qualquer forma isso não me beneficiaria já que eu poderia ser morta dentro de casa também.

Enquanto meus pais debatiam sobre o misterioso assassino e continuavam a me ignorar peguei a mochila e antes de sair de casa peguei um canivete e um estilete, apenas por precaução. Já “armada” saí de casa sem ao menos me despedir das duas pessoas que conversavam avidamente na cozinha.

Então senti um arrepio me percorrer a espinha e olhei para trás. Uma caminhonete me perseguia já faziam dois quarteirões. Com a mão trêmula fingi que inspecionava minha mochila repleta de bottons e agarrei meu canivete. O segurei tão forte que meus dedos ficaram brancos. Olhei para trás de novo e a caminhonete continuava ao meu encalço. Parei repentinamente. Kill Me da The Pretty Reckless estava tocando nos meus fones e não ajudava em nada com o clima. A caminhonete parou ao meu lado e o vidro começou a baixar. É agora que eu corro? Perguntei-me mentalmente. A resposta com certeza era sim, mas minhas pernas estavam travadas.

Quando o vidro terminou de baixar, senti uma onda de alívio me invadindo. Relaxei a mão com o canivete empunhado e entrei no carro.

Oliver sorriu e colocou minha mochila no banco de trás. Depois seu olhar se dirigiu ao canivete e seu semblante mudou para confusão.

–Por que você anda armada por aí? - perguntou-me.

Dei uma risada fraca e guardei o canivete na mochila.

–Com esses assassinatos é melhor ter cuidado, não acha?

–Talvez... Desde que você não use esse canivete contra mim.

–Isso só dependerá de você. Agora, me diga, por que diabos você estava me seguindo?

–Eu ia te oferecer uma carona até a escola, mal-educada.

–Ligar ninguém quer, não é?

–O celular está descarregado. Agora fique quietinha e vamos logo. - ele deu a partida.

–Ei! Desde quando você manda em mim? - protestei.

–Tá bom,se quiser ficar falando, fale. Tudo bem?

–Depois do susto que você me deu? Não. E você?

–Depois do susto que você me deu? É claro que não. Como estão os pulsos?

–Estão fechando.

–E os seus pais?

–Me ignorando.

Ele pegou minha mão e beijou a palma. Depois entrelaçou nossos dedos e não soltou até chegarmos à escola.

Descemos e todos os olhares se dirigiram á nós. Revirei os olhos. Por que as pessoas nunca tem nada pra fazer no lugar de cuidar da vida dos outros?

Oliver passou o braço pelos meus ombros e entramos juntos, nos lixando para os murmúrios que estávamos causando. Sentamo-nos no banco e percebi que havia uma pequena cicatriz em sua bochecha.

–Oliver, o que é isso? - toquei a cicatriz.

–Um copo quebrou e o estilhaço cortou meu rosto.

–Como você fez isso?

–Eu não fiz.

Olhei-o muito séria.

–Quem fez isso, Oliver?

–Ninguém, Sarinha. Ninguém.

–Oliver, me diga. Quem fez isso com você?

O sinal bateu. Merda.

–Não se preocupe. - deu-me um beijo na testa. - Não é nada que eu não suporte, ok?

Ele foi embora para sua aula e eu me dirigi até a minha, tendo certeza de que não iria conseguir me concentrar com aquilo na cabeça.

...

Eu estava perdida demais em meus pensamentos, escrevendo minha nova música e pensando no que acontecera com Oliver. Mas acho que eu já sabia a resposta. Os pais dele deveriam ter feito isso.

“Nem todos os pais são como os seus, Sarah.” Uma nova voz ecoou na minha cabeça.

“Eu sei!” - respondi. - “Mas também sei que os pais dele são igualmente horríveis.”

–Sarah Jackman!

Dei um pulo e voltei a minha atenção à sra. Peter.

–O que foi?! - perguntei em tom alto. Um pequeno erro, nada demais.

–Talvez a senhorita fosse gostar de me dizer um pouco sobre automutilação.

Estremeci.

–Como é que é?

–É isso mesmo que você ouviu. Cite para mim ao menos duas causas que levam uma pessoa á fazer algo tão detestável consigo mesma.

Olhei-a feio. A professora de Estudos Sociais sempre foi detestável. Não pela aula ser chata ou coisa assim e sim porque ela poderia ser professora de qualquer outra merda, exceto algo que se relacione com sociedade já que ela não era alguém digno de falar sobre tal assunto.

–Não sei.

–Já era de se esperar... Alguém sabe?

Mergulhei em meus pensamentos novamente, voltando-me para a minha música e ansiando o intervalo.

Uma briga na sala ao lado me tirou dos meus pensamentos novamente. Uma versão alta e alterada da voz de Oliver gritava com o que parecia ser o professor de álgebra.

“Eu estou me lixando pras merdas das equações, caramba! Meus avós estão morrendo na droga do hospital e eu preciso ir lá agora!”

“Depois que você terminar as equações você pode ir pra onde você quiser, agora se sente, Sr. Fedrizzi.”

“Quer saber de uma coisa?! Dane-se essa merda! Vai para o inferno!”

Vi um Oliver furioso passando em frente á minha sala com a mochila nas costas. Ninguém o impediu de ir embora.

O sinal da troca de aula bateu. Saí correndo da sala e consegui alcançar Oliver antes que ele chegasse ao portão

–Oliver, o que aconteceu? - segurei seu braço.

Ele suspirou e sua expressão se suavizou. Passou a mão pelos cabelos e vi a cicatriz em sua bochecha novamente.

–Meus avós, eles estão no hospital. Minha avó teve um ataque de epilepsia e meu avô não aguentou e teve um infarto. A Maria ligou para o hospital e eles estão internados. Ligaram-me e eu quis sair daqui na mesma hora, mas o professor tentou me prender na sala. - ele cerrou os punhos.

–Shh, vai ficar tudo bem, tá? Vai lá e me ligue assim que puder tá bom? - dei um beijo em sua bochecha. - Mas você não pode dirigir assim, Oliver. Pegue um táxi.

–Não, Sarah. Não precisa. Eu posso dirigir.

–Você vai pegar um táxi sim nem que eu tenha que te jogar dentro dele. Não posso deixar você dirigir nesse estado.

Ele suspirou.

–Tá, tá bom. Obrigado, mesmo. Vou indo, quando eu tiver notícias eu te ligo,tá? Tchau. - me deu um beijo na bochecha e foi.

...

O barulho do ponteiro do relógio me agoniava mais ainda enquanto eu estava deitada na minha cama esperando Oliver me dar notícias. Não, eu não estava como uma donzela vitoriana ao lado do telefone, com as mãos suadas e tudo o mais, eu estava fazendo equações na verdade, mas tem como se concentrar quando você está preocupada com o seu melhor e único amigo?

“Sim idiota, tem. Pare de pensar nele e concentre-se em...”

A alucinação foi interrompida pelo toque do meu celular. Suspirei agradecida, ”te devo essa Oliver”, disse e atendi.

–Cara, você acabou de me salvar.

– Por quê?

Agradeci a Deus mais uma vez. Sua voz estava suave como sempre.

–Nada, esquece. E então, como estão seus avós?

–Bem, foi só um susto. Eles vão ficar essa noite em observação, mas estão bem.

–Isso é ótimo, Oliver. Então você está mais calmo agora?

–Sim. Obrigado por me acalmar. Quero te perguntar uma coisa.

–Diga.

–Ok. Se alguém fosse te dar um presente, o que você gostaria de ganhar?

–Que pergunta é essa?

–Só responda.

–Não sei... Um colar, uma palheta, não, uma palheta não, é muito barato, um livro, um cd, qualquer coisa.

–Ok. Obrigado.

–Espera, Oliver. Por que você queria... - ouvi o outro celular desligando antes que eu pudesse completar a frase.

Dei de ombros e resolvi terminar a minha lição e ir dormir. Amanhã a tarde Helena chegaria e eu precisava me preparar para isso.

Não que Helena fosse alguém problemática ou tão intensa que você deve se preparar bem para quando for ver ela, mas voltar a conviver com ela depois de anos seria um pouco complicado. Espero que o que venha com ela seja sua personalidade simples, divertida e sensual e que seus problemas (que agora eu compartilho com ela), tenham sido queimados temporariamente em meio ao incêndio.

Desejar isso fez eu me sentir mal, mas infelizmente é a verdade. Era uma boa parte do que sobrou...

...

Acordei no dia seguinte com um peso no peito e uma agonia enorme. Era tão sufocante que respirar me parecia difícil e cada passo era pesado e lento. Um banho quente. Era disso que eu precisava.

Tomar um banho quente ouvindo Cold Blooded da The Pretty Reckless ajudou de um jeito ótimo. A música era sensual e intensa. Lembrava Helena e lembrava um pouco a mim, até por que, eu compartilhava de grande parte da personalidade da minha querida prima, mas ela era mais louca (em todos os sentidos) do que eu.

Sequei meu cabelo e depois coloquei um short jeans um pouco curto, uma camiseta branca lisa, uma jaqueta de couro e os meus coturnos.

Peguei a mochila e desci as escadas de dois em dois, passei voando pela cozinha e peguei uma maçã verde para ir comendo no caminho. O luxo do banho quente com trilha sonora me atrasara consideravelmente.

Só comecei a comer a maçã quando cheguei à escola, Oliver ainda não chegara. Dei de ombros e coloquei meus fones. Like a Stone do Audioslave ajudou a me acalmar mais ainda, então eu fechei os olhos para que a única coisa que eu percebesse fosse a voz do Chris Cornell.

– Acorde bella raggaza. Tenho algo para você... - despertei com a voz de Oliver no meu ouvido.

Virei-me e o encarei, ele estava sorrindo e tinha um embrulho nas mãos.

– Oi! O que é isso?

– Feliz aniversário!

Congelei. “É meu aniversário?”

Meu Deus! Era meu aniversário e eu havia me esquecido!

– Como você soube? - abracei-o em agradecimento.

– Seu pai deixou escapar quando você estava no hospital. Você repetiu o terceiro ano também?

– Não, querido. Eu entrei na escola um ano atrasada.

– Ok, explicação aceita. Agora, abra a merda do presente.

Dei uma risada fraca e abri o embrulho desajeitado. Dentro havia uma caixinha de joia. Abri e havia um lindo colar de ouro com uma safira azul. Arquejei maravilhada.

– Oliver, é... É lindo! Você não precisava ter gastando tanto dinheiro!

– Eu não gastei nada, Sarinha. Esse colar era da minha avó, ela ganhou do pai dela quando fez dezoito. Ela não usa mais, então disse para eu dar para você.

– É lindo. Muito obrigada, Oliver. - abracei-o novamente.

– Disponha. Vem, eu te ajudo com isso. - ele pegou o colar das minhas mãos e foi para trás de mim. Em alguns segundos ele fechou o fecho e o colar caiu lindamente no meu pescoço até um pouco abaixo das minhas clavículas.

Dei um sorriso fraco.

– Eu nunca ganhei um presente. Nem ao menos já comemorei meu aniversário. Eu nem me lembrava de que era hoje.

Ele sorriu e passou os braços pelos meus ombros.

– Hoje você se lembrou. Se quiser que eu te leve para comemorar em algum lugar. Não se preocupe, enquanto eu estiver perto de você ficarei te enchendo o saco no seu aniversário.

– Obrigada, Oliver. Mesmo. Mas acho que hoje não dá porque a Helena chega de tarde.

– Tudo bem. Mas não pense que você se safou. Você ainda vai sair comigo, entendeu?

Dei uma risada fraca.

– Tudo bem. Um dia a gente sai.

–Sério? - ele parou.

–Sim.

Ele levantou o punho no ar em comemoração, chamando atenção de inúmeras pessoas junto com a minha risada. Mas o que mais chamava atenção (principalmente das garotas) era o meu lindo colar que contrastava com os meus olhos azuis. Com certeza o colar fez com que meus olhos chamassem mais atenção do que já chamavam.

O sinal bateu e eu e Oliver fomos para a quadra. Sentamo-nos nas arquibancadas e ficamos observando as outras pessoas jogando vôlei com o uniforme de educação física ridículo. São das cores da escola: azul e preto. Até aí tudo bem. Se não fossem como as roupas de uma stripper. O top só cobria os seios e o short era curtíssimo. Você poderia sair da educação física e ir direto para uma boate, mas ok.

Oliver e eu ficamos conversando por bastante tempo e eu realmente não conseguia ignorar a cicatriz em sua bochecha. Era impossível ignorar. Era impossível não pensar porque os pais dele haviam feito aquilo e era impossível não ter uma raiva insana dos pais dele. Simplesmente impossível.

...

Cheguei em casa às 6:45 e subi direto para o quarto. Nenhum sinal da Helena.

Então eu me deparei com ela deitada na minha cama, com uma calça jeans, meias e uma camiseta preta escrito “Heaven Knows, I’m Miserable”. Sorri e quando ela notou a minha presença pulou da cama e me abraçou forte.

– Prima, eu estava com tantas saudades! Feliz aniversário!

– Eu também estava Helena. Obrigada. Que horas você chegou?

– Às 15:00. Seu quarto não é tão entediante quanto eu pensei. Seus CDs são legais e você tem uns bons livros. Uou! Que colar é esse?

Toquei a safira azul e deixei escapar um sorriso bobo. Ela me olhou com seu típico sorriso torto.

– Eu ganhei de aniversário. De um amigo. Aquele que eu levei na clínica daquela vez.

– O garoto de olhos dourados?! Eu sabia que ele era incrível e fofo! Você está com ele?

– Não. Ele é meu amigo.

– Tá bom, mas enquanto eu estiver aqui, isso vai mudar.

– Como assim?

– Ligue para esse seu amigo fofo e diga que nós iremos sair.

– Espera. Para onde vamos?

Ela me olhou com um olhar enigmático e seu sorriso torto.

– Hoje você vai comemorar seu aniversário com os loucos.


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