Selfless and Brave. escrita por comfortablynumb


Capítulo 3
Hysteria


Notas iniciais do capítulo

Cap novo, espero que gostem!



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And I want you now

I want you now

I feel my heart implode

And I'm breaking out

Escaping now

Feeling my faith erode

Cerrei meus punhos assim que levantei, e soltei um olhar nervoso para a garota que estava ao meu lado. Ela retribuiu o olhar com uma expressão triste, mas dei de ombros e caminhei junto ao homem. Ele pôs a mão em meu ombro, como se eu estivesse em transe e tivesse parado ali. Suas mãos ásperas tocando meu braço fizeram com que eu retomasse o foco. Fui levado para uma das salas do lado de fora do refeitório, onde se realizariam os testes. Só então percebi que aquele homem não iria conduzi-lo, apenas me direcionou à sala. Olhei para trás, pela última vez, como se uma nova pessoa estivesse nascendo e todas as minhas lembranças ficassem para trás. Embora pensasse assim, sabia que meu passado era difícil demais para simplesmente jogá-lo no lixo.

Finalmente entrei na sala. Ela era totalmente diferente do que tivera imaginado, pois estava rodeada de espelhos. Qualquer abnegado, em seu primeiro contato com aquela sala, ficaria assustado. Eu só reprimi um olhar impressionado. Conseguia ver meu corpo magro e dentro de mim, uma alma abatida. Fechei meus olhos e olhei para a mulher, que pelas suas vestimentas, era da Audácia. Percebi uma tatuagem de gavião nela e preguei meus olhos ali, como se estivesse deslumbrado. Ela estava ocupada demais para prestar atenção em mim, pois estava ajustando alguma coisa numa espécie de máquina que eu não fazia a mínima ideia do que fazia. Quando tirou as mãos daquilo, automaticamente olhou para mim.

— Sente-se aqui, abnegado. — ela falou com um tom desprezível. Eu a obedeci, mas antes de sentar-me, reparei em seu rosto. Ela tinha descendência asiática e seus cabelos pretos e os olhos escuros a tornavam mais velha. Em seu olhar, conseguia perceber a superioridade de um erudito.

Por fim, atrevi-me a quebrar o silêncio.

— Você tem sangue erudito. — ela franziu o cenho.

— Facção antes do sangue. E não é sobre mim que iremos discutir.

— Por que a Audácia?

Ela não respondeu. Em vez disso, pegou um eletrodo e o conectou à minha testa. Fiquei em silêncio e ela também. Me ofereceu um copo com líquido transparente.

— Não questione. Apenas beba.

E eu fiz. Ingeri a bebida e fechei meus olhos, esperando que a tontura passasse. E eu estava em outro lugar.

Contido no meio de uma sala branca, olho para trás e vejo um garoto. Cerro os meus olhos para enxergar quem era e solto um soluço de surpresa: era o meu reflexo. Vestindo roupas da Abnegação, seu rosto estava mais pálido que o habitual e seus trajes estavam ensanguentados. Fiquei paralisado por alguns segundos, até perceber que mais quatro garotos iam surgindo ao meu redor. Podia observar várias personalidades minhas: uma vinda da Erudição, uma vinda da Audácia, uma vinda da Amizade e uma vinda da Franqueza. Eles estavam me cercando e eu estava prestes a gritar, até perceber que um machado estava no chão, e junto a ele, havia uma espécie de... fatias de pão, e ao meio delas uma grande carne. Uma voz ecoou em minha mente dizendo "Escolha o hambúrguer ou o machado".

Por impulso, escolhi o hambúrguer. Agachei-me, para pegar o alimento e quando já estava de pé, ouvi vários gritos de indignação e raiva. E todos os Tobias estavam vindo em minha direção. Arregalei os olhos e me abaixei novamente, só então percebendo que todos estavam com um machado. De repente, quatro deles caíram no chão, transformando-se em cinzas, como quando um corpo é queimado em uma fogueira. Meu rosto contorceu-se e minha representação também abnegada já não estava mais perto de mim;

Agora, ele estava estrangulando uma figura que reconheci na hora: era meu pai. Corri até ele portando o machado do erudito na mão, mas quando já estava perto dele, a arma sumira. Engoli em seco e percebi que minhas mãos estavam suadas. Dei de ombros, pois percebi que Marcus Eaton tinha acabado de ser arremessado no chão. Quem estava com a arma em punho era o outro Tobias e iria cravar o machado no peito de meu pai. Até eu jogar o meu corpo contra o dele e ser atingido em cheio por uma dor alucinante.

Mas eu não estava morto. Levantei-me e vi uma poça de sangue no chão, mas eu já não estava mais sangrando e meu pai já não estava mais lá. O sentimento de raiva invadiu meu corpo e lancei um olhar furioso para o garoto, que lançou um olhar menosprezante. Por impulso, lancei todo o meu corpo contra ele e ambos caímos no chão. Aquela situação, de fato, era surreal e ao mesmo tempo intrigante. Como algo daquele tipo poderia acontecer? Ignorei meus pensamentos e ajoelhei-me. Meu corpo estava sob o dele e então desferi um golpe em seu rosto. Uma, duas, três, quatro vezes, até seu rosto sangrar. Quando ele já estava praticamente zonzo, usou suas pernas, que estavam livres de meu peso para levar-me para trás. Ele envolveu-as sobre minha cabeça e puxou-me. A força era tão grande que fez com que eu desistisse. Estava deitado no chão, e agora quem estava me domando era ele.

— Você realmente achou que conseguiria me matar? — ele riu debochadamente. — Isso não foi nada inteligente, Tobias.

Sua voz era idêntica à minha. Limpei minha garganta e retruquei.

— O que é você? Como isso pode estar acontecendo?

— Eu sou... você! Agora, diga-me, por que atirou-se contra Marcus? Ele não é um dos seus medos? Deveria agradecer-me por tentar ter feito aquele gesto tão piedoso.

— Marcus é meu pai! Ele não é só mais um dos meus medos. Eu o amo. Eu o amo! — respondi, a última frase como um protesto. De repente, vejo que o machado em que ele estava segurando está ao meu lado.

— Pare de mentir! Nós dois sabemos o quanto você odeia aquele mísero governador da Abnegação. Qual é o problema de falar a verdade? Isso não vai sair daqui, eu lhe juro.

E de repente, tudo não é mais nada que uma lembrança que jamais aconteceu.

Estou na sala de espelhos novamente e enquanto a erudita retira o eletrodo de minha testa, percebo seu semblante preocupado. Uma ruga surge entre suas sobrancelhas e uma mecha de seu cabelo cai em seu rosto.

— Então, qual foi o resultado? — perguntei, sem mais delongas.

— Tobias... só um momento. — ela estava manuseando a máquina. Quando pronta, ela voltou seu olhar para mim. — Você tinha noção do que estava fazendo, sabia que aquilo tudo não era real?


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