A Nova Geração escrita por BlindBandit


Capítulo 28
Vida Nova.




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Dan acordou no meio da noite, deitada ao lado dele na cama estava uma garotinha de dois meses. Ela tinha o rosto gordinho, bochechuda, a pele lisa. Os cabelos dela eram compridos, um pouco abaixo das orelhas. Ela tinha grandes olhos azuis claro fitando-o. Quando ela notou que ele estava acordado, ela sorriu um sorriso banguela.

Isso fez com que Dan sorrisse. Ele sentou na cama e pegou a garota nos braços.

– Ei princesinha – ele disse – Também não consegue dormir?

Ela agarrou o dedo de Dan e colocou na boca.

– Não faça isso Yume - ele disse sorrindo. – Você quer ir ver sua mãe?

Daniel se levantou, com sua filha nos braços. Ele caminhou escadas abaixo, onde ficava o quarto que Kiyoko fora colocada. Lá estava ela, iluminada pela luz da lua, Kiyoko estava reencostada nos travesseiros. Seus cabelos haviam sido escovados e caiam por seus ombros. O peito dela subia e descia ritmadamente, quando ela respirava. A cor havia voltado ao seu rosto, e as olheiras haviam desaparecido uns dias depois. Ela podia se passar por uma pessoa normal, adormecida, se ela não estivesse adormecida dês do nascimento de Yume.

Os médicos haviam dito, que ela teria sofrido algum tipo de trauma, na hora do parto, ou antes, junto com toda a perda de sangue e as complicações cirúrgicas, haviam deixado Kiyoko em um tipo de coma. No começo, Dan se recusou a acreditar no que lhe foi dito. Ele passou os três primeiros dias sentado, ao lado da cama de Kiyoko. Bridget e Ryan cuidaram de Yume nesses dias. Quando ele notou que ficar ali não mudaria nada, ele se levantou, e, relutante, saiu do quarto. Mas ele ainda a visitava todos os dias, e levava Yume com ele. A garotinha reconhecia sua mãe, ela gostava de tocar-lhe o rosto e os cabelos, e não do jeito que fazia com todos, puxando as mechas, ela era delicada, encostava somente a ponta de deus dedos gorduchos na face de Kiyoko.

Ele voltou a se sentar na poltrona ao lado da cama. Yume segurou um dedo de sua mãe, com toda a delicadeza que uma menininha de dois meses poderia ter. Dan passou uma das mãos nos cabelos de kiyoko, suspirado.

– Oi amor – ele disse. – Como você vai? Yume está cada dia maior, agora ela já da risada das coisas, ela é tão linda... mal espero o dia em que você abra seus olhos para vê-la.

Kiyoko continuou com os olhos fechados. Dan suspirou.

Ele ficou ao lado dela até que Yume caísse no sono, deitada em seus braços.

– É melhor eu voltar, eu venho te visitar mais tarde. – ele disse, beijando-lhe a testa.

Ele fechou a porta atrás de si, levando sua filha adormecida em seus braços, e deixando, relutante, Kiyoko ainda deitada naquela cama.

Dan deitou-se na cama, seu coração doía, ele quase não conseguia se conter todas as vezes que a vida deitada naquela cama, sem falar, sem ouvir, sem viver. Todas as vezes que ele ia lá ele alimentava a esperança de encontra-la com os olhos vermelhos abertos, sorrindo maliciosamente e desafiadora, como ela costumava fazer, mas todas as vezes ele se decepcionava, encontrando olhos fechados.

Dan podia sentir as lágrimas queimando em seus olhos. Ele se recusara a chorar até então. O clima na casa ficara pesado depois do que acontecera com Kiyoko. As risadas haviam sumido, todos tinham rostos apagados e vozes fracas, até mesmo Haru parecia menos enérgico. Dan segurara as lágrimas, tentando se manter forte, positivo, tentando manter a esperança de que Kiyoko cedo ou tarde abriria os olhos e riria de todos eles. Mas dentro de seu quarto, escondido por quatro paredes, ele deixou as lágrimas rolarem por seu rosto.

Já se faziam três meses e Ryan ainda se recusava a entrar naquele quarto. Ele se recusava a acreditar que sua irmã estava a um fio entre a vida e a morte, que em qualquer momento ela poderia simplesmente parar de respirar. Ele se recusava.

Ryan preferia nutrir a ilusão de que Kiyoko ainda estava lá, em seu quarto, rindo com sua mais nova filha e com Dan. Que uma hora ou outra ela desceria as escadas para o jantar, ou entraria em seu quarto com Haru pendurado no pescoço.

Mas nada disso nunca acontecia. As suas esperanças diminuíam ao ponto que todos na casa caminhavam silenciosamente, com caras tristes. De repente, a mansão havia se tornado um cripta, cheia de seres vivos, vivendo discretamente. Era mais difícil ignorar os fatos, a cada dia que se passava.

Bridget tentou ajuda-lo, de todas as maneiras possíveis, mas ele não sentia que a ajuda dela surtia efeito. Ele agora trancava as palavras dentro de si.

– Ryan, já chega – ela disse em um tarde, Haru ao seu lado brincada com a espada de madeira. - Não da mais para ver você ai, com esse olhar triste, o tempo todo. Você tem que encarar os fatos.

– Você não entende – ele disse.

– É claro que eu te entendo – ela disse, seus olhos se enchendo de lágrimas. – Kiyoko é como uma irmã para mim. Ela é minha melhor amiga. Todos os dias eu a visito, converso com ela, eu sei que uma parte dela está me ouvindo. Não da mais para evitar tudo isso Ryan, vá vê-la antes que.... – ela engoliu seco, olhando para baixo. - antes que o pior aconteça.

Ela escondeu o rosto banhado de lágrimas nas mangas do agasalho e saiu do quarto com Haru em seu encalço.

Ryan sabia que era verdade. Ele suspirou e se levantou da cama, já era mais do que hora de ajudar sua irmãzinha.

Ele empurrou a porta do quarto devagar, como se tivesse medo de acordar alguém. Mesmo que encontrar alguém acordado seria tudo o que ele queria.

Kiyoko estava deitada na cama, a luz que passava pela cortina iluminava o quarto. Ele se aproximou dela, a passos vacilantes, esperando que ela abrisse os olhos de repente, e começasse a rir dele, de como ele tinha caído nessa brincadeira. Mas Kiyoko continuou imóvel, mesmo quando ele sentou-se ao lado dela.

– Kiyoko – ele disse como em um sussurro. – Ah Kiyoko, por favor, fale que você está brincando... você não pode estar desse jeito de verdade... você sempre foi a mandona, sempre tão cheia de energia, me dizendo o que fazer, inventando todas as nossas brincadeiras quando éramos crianças. Não faz sentido você ficar deitada nessa cama, incapaz nem de me responder. – as lágrimas corriam soltas pelo rosto de Ryan, sua voz estava alterada pelo choro. – Por favor, por favor abra os olhos, fale comigo, volte... eu não consigo ficar sem você. Nós dividimos um útero, um berço, uma vida inteira Kiyoko... você não pode me abandonar assim. Você é minha parceira, minha maninha, minha melhor amiga. Abra os olhos, é tudo que eu te peço. Sorria para mim outra vez, deboche das minhas piadas, faça piadas do meu visual, qualquer coisa... eu pago qualquer coisa, eu faço qualquer coisa para ter você de volta... por favor...

Ryan não conseguia mais falar. Ele soluçava. Ele deitou a cabeça na beirada da cama, deixando toda sua tristeza e todo seu ódio se esvair em lágrimas salgadas. Mas nem suas preces foram o suficiente para fazer com que a garota voltasse. Quando ele se recuperou, ele se levantou.

– Prometo não ser mais um péssimo irmão. Virei aqui todos os dias falar com você, até você acordar. – ele beijou a face dela e saiu pela porta.

Quando a porta se fechou, uma única lágrima, cristalina, escorreu dos olhos de Kiyoko, e caiu em sua blusa. Desaparecendo tão rápido como havia surgido.

Os três meses seguintes se passaram. A vida na mansão começava a se ajustar. Haru e Yume eram quem mantinham todos, seguindo com suas vidas. Nada impedia o crescimento deles, e eles riam e brincavam, mesmo com tudo o que havia acontecido. Eles voltaram aos seus trabalhos, as crianças ficavam sob os cuidados de Liz, Patty, kid e muitas vezes do shinigami-sama. Maka e Soul ficavam com eles algumas vezes. Kiyoko ainda recebia suas visitas diariamente. Eles falavam com ela, a deixavam a par das novidades, traziam flores, aromas, tudo para deixa-la mais confortável.

Kiyoko sentia-se como se estivesse sendo afogada. O ar faltava em seus pulmões, ela nadava desesperadamente, procurando por uma saída, mas era tudo negro a sua volta. Seu peito queimava com a falta de ar, cada vez mais, mas a morte não chegava. Até que ela inspirou a água negra.

Seus pulmões a aceitaram como ar fresco, ela sentiu-se aliviada, depois de conseguir respirar, ela conseguia concentrar seus pensamentos. Kiyoko não conseguia sentir, nem ver. Ela se apoiava nas memórias. Ela tinha vagas lembranças de muito sangue, pessoas gritando, um choro agudo.

“ Minha filha” ela lembrou-se de repente.

A criança no colo de Dan, com os tufos de cabelo brancos, era sua filha. Que ela havia esperado por tanto tempo.

Depois de algum tempo, Kiyoko começou a ouvir vozes, eram as vozes de seus amigos, de seus pais. Ela sabia a quem as vozes pertenciam, as lembranças eram claras como água em sua mente. Ela não entendia o que eles diziam, na maioria das vezes, mas era reconfortante saber que eles estavam por perto.

Kiyoko ouviu quase todas as vozes de suas lembranças, mas uma delas fazia muita ausência. A voz de um garoto que havia lhe acompanhado a vida inteira. A grande maioria de suas lembranças, Ryan estava lá, e era agonizante para Kiyoko não ouvir a voz dele.

Todas as vezes que alguém falava com ela, ela procurava sinais da voz de Ryan, mas ela parecia nunca vir.

Até que ela escutou. Ele chamou seu nome, ela entendeu, tinha certeza que sim. Kiyoko usou todas as suas forças e sua concentração para entender o que ele estava falando. E ela consegui. Kiyoko conseguiu entender que ele pedia, implorava para tê-la de volta, que ele daria de tudo para ela abrir os olhos...

Dês de então foi o que Kiyoko tentou fazer.

Sempre que estava consciente ela se esforçava para ouvir, para sentir. Um dia ela conseguiu perceber que estava em cima de uma superfície macia, provavelmente uma coberta. Em outro, ela conseguiu sentiu um cheiro doce.

“ Flores “ – ela pensou.

As vozes agora ficavam cada vez mais nítidas a seus ouvidos, ela distinguia quase tudo que falavam para ela. Mas seu corpo ainda se recusava a responder. Seus braços pendiam ao lado de seu corpo, pesando toneladas, suas pernas eram ainda mais pesadas.

Kiyoko decidiu começar aos poucos. Ela assumiu ser noite, pois tudo estava em silencio ao seu redor. Kiyoko usou toda sua concentração e conseguiu mexer os dedos.

Ela saltou e gritou dentro de sua mente. Sua prisão dentro de si estava começando a se dissolver.

Era dia e fazia sol quando, depois de muito treino e concentração, Kiyoko finalmente havia achado seus olhos.

A primeira coisa que ela viu, depois que sua visão ganhou foco, foi um par de olhos azuis, tão parecidos com os de Daniel, mas não pertenciam a ele, mas sim a uma garotinha de cabelos brancos, batendo em seus ombros. Eles eram lisos na raiz e tinha cachinhos nas pontas. Ela usavam um vestido da cor de seus olhos. A garotinha segurou um maço de cabelos de Kiyoko.

– Não faça isso com sua mãe Yume – disse a voz de Ryan. Ele tomou a garotinha em seus braços.

Yume, sua filha, era bem maior do que Kiyoko se lembrava. Kiyoko rolou os olhos até a poltrona ao seu lado, onde seu gêmeo estava sentado, e o olhou por muito tempo. Depois de tanto tempo com os olhos fechados, era muito bom observar alguma coisa. Havia também um garotinho sentado no chão, brincando com um carrinho.

– Essa menina está cada vez maior – ele disse fazendo cócegas em Yume. – Você precisa ver Kiyoko, daqui a pouco ela vai estar andando e falando.

Ryan olhou para Kiyoko. Não que ele esperasse vê-la acordada, ou ouvir sua resposta. Ele a olhou pelo simples fato de olhar, com um divertido sorriso no rosto.

Quando ele viu grandes olhos vermelhos o encarando, Ryan ficou petrificado. Ele a olhou com os olhos arregalados, como se estivesse vendo uma assombração.

– Kiyoko? - ele perguntou com a voz vacilante.

– Até onde eu me lembro sim – ela disse, sua garganta arranhou, um dor ardida, como aquela sensação de sufoco que ela havia sentido. Isso gerou uma crise de tosse. Ela curvou-se para frente, isso fez com que seus músculos doessem, como um formigamento forte, a dor era quase insuportável. Ryan segurava sua mão, com o olhar preocupado. Mas quando passou, ela sentiu que foi a melhor coisa. Depois que a dor se fora, seus músculos pareciam pesar como penas. Ela sorriu.

– A primeira coisa que você fala tem que ser uma piadinha sem graça – ele disse com a voz chorosa, as lágrimas escorriam por seus olhos.

– Oh, você está chorando por minha causa, que gracinha – ela disse acariciando o rosto dele, com uma voz irônica.

– Você é tão idiota – ele disse abraçando-a. – Eu senti tanto a sua falta.

Kiyoko focou seus olhos mais uma vez na menina sentada no colo de Ryan, ela olhava fixamente para Kiyoko.

– Ela... é... – ela disse.

– Sua filha, Yume. – ele disse com um sorriso no rosto.

– Ela é enorme... quanto tempo..?

– Seis meses – ele disse.

– Uau, eu fiquei fora por muito tempo – ela disse.

Ryan entregou Yume nos braços de Kiyoko. Ela segurou sua filha como se segurasse a joia mais preciosa do mundo, contemplando.

– Quanto tempo eu esperei – ela disse entre lágimas – Para te ter em meus braços.

A garota sorriu para ela. Kiyoko não podia se sentir mais feliz.

– Olá princesinha – ela sussurrou. – eu sou sua mamãe.

– Titia Kiyoko? – disse Haru, que estava brincando até agora.

– Esse ai é o Haru? – Kiyoko perguntou surpresa.

– É – Ryan respondeu pegando o garoto nos braços.

– Ele está enorme... e lindo! – Kiyoko riu, ah, como ela sentira falta de rir.

E por um momento, ela sentiu-se estranha. Estranhamente realizada, em ver a mais nova geração, bem ali, diante dos seus olhos, sorrindo em gengivas banguelas e dentes de leite. Kiyoko segurou a mão de seu irmão.

– Obrigada por ficar do meu lado todo esse tempo... minha vida toda – Kiyoko disse, Ryan sorriu entre as lágrimas.

– Agora vamos para a maior aventura de nossas vidas. – Kiyoko continuou.

– Qual? – Ryan perguntou curioso.

– Ser pais. – ela disse sorrindo. – Vamos ver se é tão difícil e to gratificante quando mamãe e papai costumavam dizer.

Então eles riram juntos, como fizeram a vida toda. Enquanto a mais nova geração nascia e crescia diante de seus olhos.


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Notas finais do capítulo

Bom galera, esse aqui é o ultimo capitulo!

Espero que tenham gostado de todo meu trabalho, e peço para que deixem seu comentario final aqui! sobre o que acharam *-*
Valeu!!!

Obrigada a todo mundo que leu até o fim *-*



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