Give In To Me escrita por DanyellaRomanoff


Capítulo 14
Vertigo


Notas iniciais do capítulo

Não me odeiem pela demora, eu estava esperando minhas férias chegarem D: Boa leitura, e espero que gostem. Leiam as notas finais!



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Diante da extrema ligação com o príncipe, Elsa o copiava inclusive em pensamentos. Retornando à realidade, emitia sonoras expirações a cada instante, arrancando indagações de suas amas, preocupadas em saber se a rainha estaria sentindo algum desconforto enquanto elas mexiam em seu cabelo, o que ela imediatamente negava, lançando-as sorrisos tranquilizantes através do espelho, admitindo a si mesma internamente que melhor caberia direcioná-los a ela do que às serventes. No entanto, seria ilusão da loira platinada acreditar que seus lábios, os mesmos que escondiam suas verdades relacionadas à traição ao seu próprio reino e à sua amada irmã, a acalentariam de alguma forma. Afinal, bastava mirar-se na superfície de seu espelho, e a projeção da carne rósea esticada suavemente em um riso, no lugar do acalanto oferecia um escárnio particular para ela, por ser o registro perfeito da sujeira de suas atitudes e, se ela prendesse o beiço inferior entre dentes, seria notificada também das últimas noites em que maltratava a própria boca, tanto por raiva quanto por rendição aos seus pensamentos pecaminosos que insistiam em visita-la, desde que, infeliz e irrevogavelmente, Hans adentrou sua vida uma segunda vez. Dizem que demônios assumem formas completamente atrativas e, ao contato, extasiantes, tornando sua clientela dependente e sedenta por mais. Como os de Elsa, que a envolviam, massageavam, agradavam e enfim, a entregavam nas mãos do rapaz. Outro ruído, desta vez, mais semelhante a um suspiro, e as servas não mais questionaram, uma vez que o levaram como um sinal de cansaço, o que não era algo errôneo, visto que a jovem mulher após divagar silenciosamente, como sempre apenas chegou ao fato de que haveria de se acostumar com a turbulência bipolar que enfrentaria repetidas vezes, fazendo dela um verdadeiro fantoche de si mesma. No entanto, teria apenas curtos momentos como aquele para refletir sobre as desvantagens de suas escolhas, antes de ser tomada novamente por suas altas doses de curiosidade, junto aos constantes calafrios confortáveis e formigamentos que anunciavam o que seu corpo voltava a pedir: um pouco mais. E ela estava sorrindo novamente, já sozinha enquanto aguardava a chegada de Anna para iniciarem sua refeição. O riso ampliou-se quando a ruiva a saudou com um gaguejar entre bom dia e boa tarde, chegando a falhar imperceptivelmente frente á lembrança de que há pouco tempo esteve desfrutando das costas do príncipe em seu quarto, antes de balançar a cabeça e firmar sua alegria em ver Anna mais uma vez. Se a caçula não deveria saber de nada, também não deveria se sentir desconfortável com qualquer demonstração de desconforto da mais velha.

– Oh Elsie, senti o frio abrandar esta manhã, o que deve significar que está se saindo bem com seu poder, não? Quero dizer, não que eu tenha sentido frio, aliás, eu sinto, mas não a ponto de incomodar... – Tagarelou Anna, bufando na própria confusão antes de recomeçar, acompanhada de um rolar de olhos de Elsa e um chacoalhar de ombros enquanto se divertia às custas da ruiva. – Uh, o que quero dizer é que senti que as coisas estão começando a ficar sob controle novamente. – Finalizou enquanto os olhos da primavera praticamente fechavam-se diante de um amplo sorriso que apenas a princesa era capaz de exibir de forma tão cômica e adorável ao mesmo tempo.

– Esta manhã? Você disse que o tempo melhorou esta manhã? Oh Deus... – Respondeu Elsa trêmula, sendo imediatamente tomada de uma exaltação rara por parte dela, mas inusitadamente incontrolável, ao passo que lhe crescia uma irrefreável e vibrante risada nervosa, mediante aos motivos que somente ela e mais outra pessoa saberiam. – Ahn, bem, eu fico feliz, muito feliz por isso. – Contornou enquanto a outra garota arqueava a sobrancelha anunciando estranhar tal reação atípica da rainha. Elsa, como conhecedora da inquietude nata da mais nova, saberia de sua instantânea necessidade de arquitetar, em poucos segundos, uma resposta coerente para o possível questionamento sobre o que deu nela para reagir desta forma, dado que ambas bem sabiam que Elsa não usufruía de descontrole emocional, tampouco de exaltações como aquela, ao contrário de Anna. Como esperado, a princesa chegou a abrir a boca para expressar sua curiosidade, até ser interrompida por um pigarreio de Kai, cuja chegada não fora notada pelas irmãs, e que, seguido por uma fileira de funcionários com bandejas, logo anunciou que a refeição seria servida, após Elsa assentir para ele quase em desespero.

Anna não deixou de encará-la, nem mesmo quando um convidativo pudim de chocolate fora servido como sobremesa. No entanto, Elsa fez por onde, afinal, não podia ajudar-se mediante os insistentes sorrisos que lhe brotavam nos lábios enquanto brincava com o próprio pedaço de pudim, antes de dar-se conta, pigarrear e voltar à costumeira feição parcial.

– Então... – Iniciou Anna, flagrando a rainha perdida na própria distração uma vez mais. Elsa virou-se para ela tentando não arregalar os olhos e disfarçar sua respiração arfante, encontrando uma ruiva aparentemente serena, com o queixo apoiado sobre uma mão, fugindo totalmente das normas de etiquetas que por ela, ambas ignoravam, e a sobrancelha arqueada apenas jogava-lhe a premissa de interrogatório. Em resposta a loira platinada apenas levou uma taça de água à boca, tomando a grandes goles que só faltavam esfolar a garganta, enquanto tentava manter o controle da situação sem entregar-se de bandeja à caçula. Anna insistiu, sabendo que se não o fizesse, Elsa faria questão de findar a conversa ali mesmo.

– Você está diferente. – Apontou a princesa.

– Hm, err... – Elsa afastou o copo apenas o suficiente para responder, as pupilas dançando de um canto ao outro das pálpebras, atrás de um desvio a que se agarrar, até pairarem em uma mecha platinada à vista, lembrando-a de seu visual atípico, oferecendo a desculpa perfeita para driblar Anna. – Achei que não fosse perceber afinal, você chegou e não me disse nada. Decidi deixá-los soltos por uns dias. – Disse não muito convencida de que a mais nova se daria por satisfeita. A moça ruiva estreitou o olhar, apoiando-se pelos cotovelos e inclinando-se na direção da mais velha, analisando-a tão rigorosamente que fora impossível encolher-se e a face contorcer-se em nervosismo.

De repente, um movimento diferente chamou a atenção de Elsa, que franzindo o cenho observou sua irmãzinha exibir lentamente um sorriso, um sorriso diferente, que ao que ela conhecia, mostrava-se apenas quando a princesa saía vitoriosa nos jogos de xadrez. Obviamente não se tratava disso, e a rainha manteve-se intimidada, na expectativa de qual seria o próximo ataque de sua irmã. Após breves momentos de silêncio, uma risadinha aguda fê-la quase saltar de seu assento.

– Qual é a graça? – Perguntou Elsa, olhando para os lados enquanto as duas mãos pálidas enrolavam-se em torno de um lado de seu cabelo, alisando-o. Anna continuava rindo de forma estranha, as duas mãos levadas à boca, e os ombros encolhidos, como uma criança que acaba de fazer uma traquinagem e ainda não fora descoberta. Elsa pôde apenas pegar sua taça para si, e leva-la aos lábios novamente a fim de esconder sua expressão de constrangimento.

– Sabe, irmãzinha, eu realmente... – Retomou Anna, após limpar a garganta e começar a brincar com o longo fitilho pêndulo de seu coque. – Realmente poderia afirmar com toda a certeza que você está sendo cortejada. – Elsa congelou em qualquer movimento que estava fazendo, ao ouvir as palavras da princesa. – Uh, minto, aliás, você já é bastante cortejada, mas... Na verdade, desta vez eu afirmaria que você está retribuindo. – Continuou a caçula, em tom alusivo, como quem praticamente implora para sua irmã mais velha confessar de uma vez o que ela achava ter certeza. No entanto, fora demais para Elsa, que no meio de mais um grande e nervoso gole, arquejou com tanta força que não pode impedir-se de engasgar.

Quanta previsibilidade... Pensou a jovem monarca. Ridícula, estava surtindo como um canhão, atirando em Anna todas as provas vivas de que algo estava fora do lugar. Além do mais, ela não estava sendo cortejada, tampouco retribuindo. Ela e Hans tinham um trato, apenas isso. Não é como se ela pudesse negar a agitação de seus ormaos, talvez apenas eles cortejassem o príncipe, não ela. E o sorriso malicioso da mais nova apenas cresceu em todas as dimensões enquanto observava sua irmã maior, desconcertada, tossir continuamente e pousar com força desnecessária uma taça recém-congelada de água na mesa, enquanto sua palidez era completamente maculada por um rubor gritante. Ela deveria dizer algo, contornar a situação, mas como poderia ajudar-se? Inútil, apenas conseguiu lançar um breve e desesperado olhar para a ruiva, que de repente deixou de judiar para mirá-la com carinho.

– Oh Elsa, eu estava brincando. Não precisa ficar assim. – Emitiu Anna calorosamente, enquanto levanta de onde estava e envolvia a loira esguia pelos ombros, puxando-a para fora da cadeira logo depois. – Está muito ocupada? Tem alguém que quer muito ver você! – De repente, não estavam mais no salão de refeições, e sim percorrendo o caminho até o pátio, Elsa ainda encarando a ruiva incrédula, enquanto esta, fingindo não perceber, arrastava-a consigo.

De fato, Anna não havia se dado por vencida, e após as reações peculiares de sua irmã mais velha, apenas veio-lhe a certeza de que havia algo acontecendo. Estava determinada a descobrir se suas suspeitas de que se tratava de um flerte eram verdadeiras, entretanto, para a sorte de Elsa, optou por apenas observá-la e aguardar o momento em que ela revelasse. Não queria pressioná-la a contar nada. Ela era sua irmã, era Elsa, tinha plena convicção de que logo saberia do que se passava, afinal, Elsa jamais a excluiria novamente de sua vida.

Não tardaram a rodear o pátio do castelo, chegando aos jardins, ecos da risada de Kristoff e de sua voz bronca dublando Sven foram facilmente reconhecidas pelas irmãs. No entanto, um espirro infantil e bizarro fora o que fez Elsa desprender-se das mãos da princesa, e acelerar o passo na direção do som. Em meio a um arbusto de flores roxas, uma nuvenzinha pairava alegremente, os espirros eram cada vez mais incessantes, no entanto o dono deles parecia insistir em ignorá-los e ficar ali apreciando o que era de seu agrado embora lhe fizesse mal.

– Ohhh! Eu devia saber como não pensei antes? Esta é a cor perfeita para combinar com a neve! Sabem, tudo branco fica sem graça, precisamos de uma corzinha na Montanha do Norte ou eu vou me sentir invisível quando estiver lá, e amarelo é claro que não poderia ser. Assim que eu voltar, levarei vocês pra enfeitar o castelo! – Tagarelava um agitado boneco de neve, em um tom de admiração exagerada, como quem descobre um mundo novo.

Elsa emitiu uma risadinha discreta sem intenção de atrapalhá-lo.

– Olaf... – Chamou-o carinhosamente, enquanto os dedos caminhavam até os joelhos puxando o vestido para que ela se ajoelhasse próximo ao arbusto onde o boneco estava embocado, certa de que ele não a notaria de primeira.

– Ah, eu tive uma grande ideia! Farei uma coroa floral para a Elsa, vai combinar com a decoração do palácio quando ela visitar a Montanha. Afinal, ela é a rainha, a rainha tem que ter uma coroa... – O boneco continuou divagando, enquanto suas mãos de gravetos percorriam as pétalas púrpura ansiosamente, escolhendo aquelas flores que iria arrancar para compor o arranjo da coroa.

– Olaf? – Elsa o chamou uma vez mais, ainda risonha, até que seu sorriso desmanchou-se em confusão, diante da interrupção dos pensamentos altos de Olaf.

–... Acho que ela vai me desculpar se eu a der uma linda laureia de presente! Se ficar bem bonita, eu a faço derreter rapidinho. – Cochichou Olaf para as flores. – Então, desculpem-me por arrancar vocês, é para uma ótima causa, é para a Elsa, ela vai ficar tão bonita que vocês vão me agradecer por isso! E... ELSA! – Gritou o boneco, finalmente se dando conta da presença da rainha, que estava absorta em suas memórias procurando qualquer indício de tê-lo feito alguma vez pensar que estava zangada com ele. Logo ele parava diante dela, seu corpinho de neve repleto de pétalas, folhas e pequenos gravetos, enquanto os bracinhos estendiam-se o mais amplo possível, acenando convidativos.

– Abraço quentinho? – Perguntou quase não contendo o êxtase de poder desfrutar de uma vez do que mais gostava.

Elsa o encarou imediatamente, e a conversão de sua distração em uma simples calentura, fora instantânea. Logo estava atirada na direção daquele que foi sua obra prima anos atrás. Os abraços de Olaf não eram, graficamente, os mais encaixáveis para ela, tampouco os mais quentinhos, mas, por ser a criatura mais adorável que Elsa já conheceu, atribuir a ele o prêmio de melhor abraçador caiu mais do que justo.

– Abraço quentinho. – Murmurou a jovem, enquanto alisava a neve nas costas esféricas do boneco.

– Uh, não posso esquecer! Marshmellow mandou um abraço enorme, mas eu não posso transmiti-lo porque não quero que você se quebre. – Disse Olaf, esboçando uma careta, e Elsa logo alargou o sorriso já presente em seus lábios, emitindo uma sonora gargalhada diante do pensamento de seu monstro de neve abraçar o boneco, esfarelando-o.

– Tudo bem Olaf, tudo bem. Então, me conta. Como está meu castelo? Marshmellow está se comportando? – Perguntou Elsa, apoiando-se sobre um braço estendido na grama.

– Marshmellow está super pacífico, eu o ensinei a dizer “Mamãe”! – Respondeu um Olaf entusiasmado, enquanto os bracinhos teimavam em agitar a cada palavra mencionada. – E seu castelo... Está esplêndido! Assim, reluzente e colorido, como um arco íris! – Continuou prolongando as vogais esbanjando deslumbre, o que chamou a atenção de Elsa, que arqueou a sobrancelha.

– Espera um momento... Meu palácio está colorido? – Questionou incrédula.

– Aham, por quê? – Sacudiu-se o homenzinho.

– Eu não sabia que ele poderia ficar assim, mesmo eu estando tão longe... Acho que meus problemas aqui refletiram nas montanhas. – Anuiu a jovem, enquanto Kristoff, Anna, e até Sven, que assistiam a conversa silenciosos, passaram a prestar mais atenção.

– Problemas? Aquele espetáculo de cores não pode ser um problema... Pode? – Questionou o homem de neve que ainda parecia lutar em endireitar a cenoura em sua cabeça, que provavelmente devia ter sacado da mesma pela indefinida vez. Mas não ofereceu tempo para respostas, logo se ocupando com uma nova euforia, que o fez abanar-se por inteiro. – Ah! E não foi só o castelo que ficou mais bonito, eu também fiquei! Por um momento eu estive forte, meu corpinho nunca esteve assim, cheguei a pensar que finalmente tinha criado ossos. – Gabou-se o boneco, os olhinhos negros brilhando em excitação por um breve momento antes de esmorecer aparentemente envergonhado. – Mas depois, eu comecei a ficar mole e quase derreti uma vez, daí pensei que devo ter feito algo errado antes de partir e você decidiu depois me deixar de castigo para que eu parasse, ou... – Concluiu cabisbaixo e pensativo, como um garotinho que espera ouvir sermão da mãe.

– Oh Olaf, você é maravilhoso, jamais o castigaria, e nunca estive brava com você, foi um mal entendido... – Tranquilizou-o Elsa, enquanto tomava um de seus gravetos pela mão, não deixando de franzir o nariz ao assimilar o que acabara de ouvir. – Mas se você derreteu... Oh minha nossa, Olaf, ainda bem que você está inteiro, eu jamais me perdoaria, eu... – Exaltou-se a rainha repentinamente, os olhos azuis-turquesa vidrados em uma habilidade única que a moça tinha de concentrar a culpa somente em si mesma. Até ser interrompida pelo detectar do graveto de Olaf em seus lábios, calando-a.

– Você é engraçada, se já passou, se está tudo bem, por que ainda está preocupada? – Perguntou simplesmente, em uma tentativa de dar de ombros. Elsa não conteve mais um sorriso, enquanto sua obra já começava a divagar alto sobre como todos eram tão complicados. Seus lábios ampliaram-se mais ao passo que a satisfação pôde finalmente toma-la, afinal, as cores do palácio, o derretimento de Olaf que ela certamente teria de ser mais cuidadosa para evitar que se repetisse, enfim, eram indícios de que tudo o que tinha feito nestes dias conturbados não fora em vão, que seu remorso poderia amaciar afinal.

Algo já não mais desconhecido repetiu-se. Um êxtase diferente, que fez seu coração palpitar e a respiração acelerar, os ombros tremerem em uma vibração interna e o sorriso escancarar-se de tal forma que, vindo de alguém como ela, era assustador. Elsa estava satisfeita. Não que jamais estivera, no entanto, tal sensação de equilíbrio e alegria, ao que lembrava, apenas sentira quando retornou para casa e para uma vida nova com sua irmã. Inclusive, talvez por estar tão elétrica diante de sua primeira vitória contra sua complicação, nasceu-lhe uma espécie de vontade, ou arriscaria admitir, necessidade, de encontrar o homem com o qual poderia compartilhar o sucesso por completo, ao menos era apenas este o motivo que ela queria enxergar para vê-lo sem culpa. Levou as mãos à boca, sem a sincera preocupação de recriminar-se pelo exagero, ao passo que sentia os olhares de Kristoff e Anna sobre si.

– Elsie?... – A caçula começou, sem saber de fato como abordar a segunda atitude estranha da irmã naquele dia.

Após uma breve espiada em Olaf para assegurar-se de que ele ainda jazia intacto ao seu lado, a rainha pôs-se de pé com um braço em torno do abdômen, enquanto uma mão ainda abarcava a boca em sinal de admiração profunda. O respirar entrecortado na tentativa de esconder a agitação, aos poucos se esvaneceu, acolhendo de volta a calmaria. Elsa engoliu sonoramente e finalmente deu atenção à Anna que franzia o cenho com expressão interrogativa e um sorriso débil teimando em surgir.

– Se sente bem? – Questionou a princesa, ainda hesitante, estendendo uma mão na direção da loira.

– Sim... – Murmurou em resposta, sentindo-se atordoada com o que acabara de pronunciar. Normalmente, quando lhe dirigiam perguntas do gênero, seu hábito era mentir para evitar preocupações desnecessárias, no entanto, estava sendo sincera no momento, com sua querida irmã, e consigo mesma. – Sim! – Repetiu um pouco mais firme, enquanto mordia o lábio e pousava seu olhar brilhante sobre Anna. Ela estava satisfeita com seu progresso tão rápido, fervorosa por percebê-lo finalmente, aliviada por isso amenizar seu pecado, e tudo o mais que nunca poderia repartir ali com aquelas pessoas, que embora amasse, teria de ocultar. – Me sinto... Leve, e orgulhosa com a melhora do clima. – Proclamou o que não era uma falsa afirmação, finalmente tomando a mão ainda elevada de sua caçula entre as suas próprias, depositando um terno beijo entre os dedos, em seguida afagando o grosso material de lã que encobria o ombro de Kristoff, despedindo-se. – Vejo-os hoje ao anoitecer. – Inclinou levemente a cabeça em um aceno, e por fim distanciou-se, acenando para projetar flocos nas mais belas formas pendentes sobre Sven e Olaf, agraciando-se com os sons de excitação por parte de ambos.

Anna que até então, observava sua irmã afastar-se, calada, apenas pôde bufar insatisfeita.

– Agora eu tenho certeza... – Chiou encruzando os braços sobre o peito, permitindo que as pupilas verdes dançassem de um lado ao outro.

– Hm? – Despertou igualmente um Kristoff que, mais do que todos , estava convicto de que Elsa escondia algo, além inclusive do que ele pôde tomar conhecimento brevemente noites atrás. – Disse alguma coisa?

– Nada, eu... Nada demais. – A ruiva optou por balançar a cabeça, e encolher-se timidamente no ombro de seu rapaz das montanhas, afagando-se entre um braço dele que já a envolvia. Era uma questão de tempo, e Elsa esclareceria suas dúvidas sem que ela a perturbasse. Pensou consigo mesma, readquirindo a confiança, algo que, por sua impaciência em saber o que se passava no interior de sua melhor amiga, havia quase sido destruído.

A rainha de Arendelle, embora totalmente revigorada com as recentes boas notícias, ainda não havia reunido confiança o suficiente para abdicar de seus calafrios sempre que encarava seus hóspedes. Estavam por todo o castelo, alguns passeavam pelo reino, outros mal saíam de seus aposentos em sinal de protesto. Aos mais compreensivos, a mulher sorria sincera e conversava brevemente; no entanto, encontrava bloqueios que lhe permitissem impor-se como soberana frente àqueles que a lançavam olhares acusadores ou insatisfeitos, restando a ela apenas um aceno cordial como boa moça educada que sempre foi. Próxima às portas que davam acesso ao interior do palácio, após subir a pequena escadaria, a jovem franziu o cenho e vasculhou todo o pátio com o olhar agitado, à procura do homem que poderia informa-la melhor do que ninguém sobre todas as perguntas que tinha em mente. E como sempre, ele estava lá, e ela riu-se com a ideia de que ele jamais esteve fora de seu campo de visão quando era necessário.

– Kai, venha aqui. – Chamou-o baixinho, assentindo com a cabeça, e ele mal precisou fazer leitura labial para apressar-se a subir atrás dela.

– Fractal, está encantadoramente brilhante hoje. – Proclamou o mordomo entre uma reverência, arrancando uma risada tímida da rainha que ainda corava e se sentia lisonjeada, mesmo ouvindo palavras semelhantes dele todos os dias. – Como está, sua majestade? – Perguntou por último, adquirindo um semblante de apreensão.

– Acredite, estou muito bem Kai, e você? – Perguntou enquanto observava o senhor de meia idade aliviar-se de sua tensão. Antes de atropelá-lo com sua primeira questão. – Oh, como estão meus convidados?

O homem corou, e seu olhar que a fitava de repente caiu ao chão, enquanto ele engasgava em uma resposta.

– Bem... Eu... Eu asseguro que não há reclamações sobre nossa hospitalidade, e muito menos sobre a alimentação. Mas, se me permite minha rainha, essa gente é muito difícil. Não falo de todos é claro, mas há um grupo, de homens... Eles me preocupam, ainda comentam muito sobre você-sabe-o-quê, e dizem coisas desagradáveis... Dizem... – Emitiu nervosamente, os grossos dedos passeando pela cabeleira rala, enquanto um suspiro pesado escapava. – Dizem que isto tudo é uma armadilha para dominar os reinos. Perdoe-me por ser o portador deste tipo de boato, a senhorita estava tão feliz, eu realmente não queria ser o responsável por...

– Oh não, não pense assim. Eu estou bem, estou segura de que logo provarei que estão enganados. – Apesar da acidez em sua boca em sinal de temor, assim como o ressurgir da velha angústia por pensarem mal dela, a jovem exibiu o mais tranquilizador semblante. E logo tratou de desviar do assunto, estava no caminho para solucionar seu problema, e uma preocupação sobre o que algumas pessoas influentes pensavam dela era a última coisa que precisava. Surgiu a segunda questão. – Então, eu também preciso saber algo... – Iniciou, limpando a garganta preparando-se para adquirir uma firmeza convincente.

– Diga, minha rainha. – Fungou Kai, ainda visivelmente chateado por ela, encarando os próprios pés.

– Sei que sabe os passos de qualquer um neste castelo, inclusive de alguém que eu preciso manter os olhos sobre. – Ela o fitou intensamente, fingindo uma seriedade até que conseguiu tê-lo olhando-a também expressivamente sabendo já do que se tratava. – Preciso saber onde está o príncipe das Ilhas do Sul. – Afirmou mordendo um lábio, enquanto observava o aborrecimento daquele senhor à sua frente, fundir-se completamente em uma confusão. Ele abriu a boca, provavelmente no ímpeto de adverti-la ou questioná-la do por que daquilo, mas ao olhá-la decidida daquela forma, optou por confiar na metodologia da rainha em vigia-lo pessoalmente.

– Pois bem, eu não o vi. Aparentemente ele perdeu a hora do almoço, eu realmente não sei o que este rapaz pretende... – Resmungou, até ser interrompido por uma Elsa que cantarolou seu nome suavemente, chamando-o ao foco. – Oh sim, sim. Ele está em seu quarto, com toda a certeza. Por agora, não há motivo para preocupações.

Seria muito suspeito questionar Kai sobre a localização exata dos aposentos de Hans, então a moça apenas assentiu, deixando que ele voltasse a seus afazeres. Por enquanto, o Conselho não havia sido convocado, ainda mais mediante a declaração da monarca de que resolveria por si só a atual situação. Ver-se com tempo de sobra, e a ocasião perfeita de ter praticamente todos fora da parte mais interna do castelo, deu-lhe uma saborosa sensação de vertigem. A adrenalina não mais estrangeira para ela fora completamente instigante na não repensada decisão de procurar seu mais novo sócio. A jovem abandonara por completo a mentalidade de que seu processo não era excitante, para dizer o mínimo. Se havia tempo ao mesmo tempo em que deveriam correr, se havia disposição ao passo que havia precisão, por que não ir em frente? Sem dar uma última olhada para o céu nublado, a rainha adentrou.

Há metros de distância dali, outro corpo fazia uso da mesma linha de raciocínio. O príncipe rondava seu cômodo mordendo a dobra do indicador, mirava o carpete estalando-se e pensava na maneira certa de importunar a rainha. Ela o intrigava, e era delicioso a forma meiga como ela reagia aos seus toques, o caminho até ela era maravilhoso e ele queria percorrê-lo. Ser um príncipe mesquinho não o ajudava, visto que a cautela exigia grande esforço por parte dele. E o encontro que tiveram horas atrás, a sensação de algo mal findado, era torturante. Ali, sozinho consigo, não pestanejou em concluir que se Elsa o surpreendesse no momento, a tomaria pra si sem piedade. Desculpe Elsa, vou ser hostil com você. Assim, ele irrompeu porta a fora, desnorteado, sem saber aonde ir, ou que iria fazer.

Para corações brutais, estavam sendo atípicos demais. Estavam se procurando, e as respirações ofegantes, enquanto ela apressava-se cada vez mais exasperada corredores adentro, e ele por sua vez, apenas rondava em torno de si, significava o perigo de uma eletricidade entre ambos. Perigoso ou não, estava acontecendo algo.


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Notas finais do capítulo

Estive muito sensível diante da decaída da média de comentários por capítulo, mas quando vi meu gerenciador de histórias foi bem gratificante. Fantasmas me entristecem, mas só de saber que existem, já é satisfatório. Mas ainda sim, ainda temos muito tempo para nos conhecer, espíritos s2 Outra coisa, demorei mais porque interrompi a escrita deste capítulo pra escrever capítulos posteriores e tcharaaam, mais oneshots. E desta vez, não é Jelsa. Vou postar minha primeira one Helsa, e deixarei o link assim que publicar :D Beijosmil *-*