Charles, eu estou feliz. Você está feliz?

Esse teu sorriso no rosto poderia iluminar toda as madrugadas naqueles becos escuros que passamos. Mas os teus olhos. Os teus olhos, Charles. Essas duas órbitas azuis estão tão escuras. Tão opacas. Tão sem vida. Tão tristes. Como pode, Charles? É possível sorrir com uma felicidade inegável, que se nega nos olhos?

Eu não sorrio, mas eu estou feliz de alguma forma. Porque o teu rosto é acalentador. O modo como esse sorriso paradoxal forma os mais lindos defeitos genéticos em suas bochechas preenche o meu coração.

Eu acho que ainda tenho um, Charles. Um coração. E a melhor parte é que ele parece sentir ainda. Isso é bom, não é? Um coração, um sorriso, sentir. Se não fossem esses teus olhos. Esses teus olhos acusatórios. Eu ainda não entendo. Você não foi embora. Eu posso perceber pelas suas roupas amassadas e o modo como seu cabelo está despenteado. Você ficou, mas não parece agradecido por eu também ter ficado. Esses tubos te chateiam, Charles? Não se preocupe, eles vão sair. Ah, não é isso? É porque eu acordei? Me desculpe. Eu morreria mil vezes para que teus olhos brilhassem novamente.

Dominika Barllet