Charles, eu queria poder ainda fingir que teu sorriso não me abala. Lembra que você disse que eu fui a primeira pessoa a não se importar com ele? Agora não faz mais diferença. Toda vez que eu te vejo ressurgir das lágrimas catastróficas para a sequência de sorrisos iluminados, isso enche a minha vida. A minha vida Charles. Eu que sempre fui tão vazia de sentimentos, ou qualquer coisa que preencha uma vida. Eu que era tão ao contrário que o coração batia no lado direito. Eu ficava feliz em te deixar feliz.

E a gente ressurgia todas as manhãs quando os meus braços estavam livres e sem marcas de recusa. A gente beijava, amava. Você voava saindo das cinzas renovando seu tom vermelho da vida, e me levava junto tentando tirar as cinzas dos dias ruins de mim que insistiam em levantar voo junto comigo.

Você era o ser mais bonito que eu já tinha visto na vida. Não falo dos teus olhos azuis com a peculiar escuridão, ou da forma perfeita do seu nariz, dos teus cílios longos, ou do teu... ah, do teu sorriso. Não, não falo deles. Digo da beleza dos seus atos, daquela que chamam beleza interior e você diz não possuir, da beleza quando você esquecia tudo, depositava um grande e sincero sorriso no rosto, um garrafa de bebida no braço e me arrastava em direção ao parque.

Eu, que não gostava de sentir a grama, e tinha receio de insetos, amava ficar ao seu lado naquela toalha cheia de margaridas brancas, me encolhendo nos teus braços, te observar tecer ideias da sua mente que não parava de formular outras realidades, observar o modo como você se fixava numa família perfeita naquele parque, e destruía a vida dela em sua mente. Eu amava você, e você me amava.

Querendo ou não, nossos momentos de sanidade não deixava que isso fosse embora mesmo apontando todos os problemas porque a insanidade os cobria. A sanidade nos ajudou, a insanidade nos manteve.

Dominika Barllet