Entro no meu quarto e me sento em frente à penteadeira. Os últimos dias têm sido extremamente exaustivos, afinal não é fácil acabar uma Turnê da Vitória e emendar um Massacre Quaternário. Penso nas crianças que estão na arena agora. Tudo isso é tão injusto. Eles são dois jovens adoráveis que não fizeram nada para ninguém, eles não merecem o que estão passando.

Tiro meus saltos, a maquiagem e a peruca cuidadosamente, liberando meus cachos dourados. Caminho em direção ao banheiro e ligo o chuveiro. Retiro minha camisa rosa e quando dirijo minha atenção para a saia ouço a porta do banheiro ser aberta. Pulo devido ao susto e me viro para ver quem é o mal-educado que está invadindo minha privacidade e tenho uma surpresa.

Haymitch está parado me olhando. Ele dá um passo na minha direção e fecha a porta e justamente quando vou gritar com ele sobre boas maneiras ele me levanta e me leva até o boxe.

– Mas o que é isso?- pergunto exaltada enquanto ele me coloca no chão molhado e me prensa na parede com seu corpo. A água do chuveiro está nos ensopando e eu estico minha mão para desligá-lo, mas ele segura meu braço, me impedindo. Abro minha boca, mas ele é mais rápido.

– Shh Trinket – ele sussurra no meu ouvido lançando arrepios por todo o meu corpo – eles estão ouvindo.

– Quem está ouvindo Haymitch? – pergunto em um tom baixo

– Eles. Snow – ele responde ríspido.

– Haymitch... – começo, mas ele me corta.

– Quieta princesa. Preciso que você me escute agora, ok? – ele diz olhando nos meus olhos.

Balanço a cabeça concordando e ele continua

– Eu acho que você já notou que algo está acontecendo. Alguns distritos estão se levantando contra a Capital e logo isso vai se espalhar. Você entende o que eu estou falando, não entende?

Flashes da Turnê da Vitória e das entrevistas dos tributos passam pela minha cabeça. Eu entendo sobre o que ele está falando. Rebelião

– Mas como? E as crianças? O que vai acontecer com elas? – indago-o com certo pânico na voz.

– Como, eu não posso te falar, mas as crianças vão ficar bem. – ele vê como estou nervosa e repete em um tom tranquilizador – eles vão ficar bem.

– Promete? – pergunto já a beira das lágrimas e seguro uma de suas mãos.

– Prometo – ele diz e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha com a mão livre. Ele segura meu rosto e diz em um tom sério:

– Escuta bem que eu só vou falar uma vez Effie. Eu estou indo embora agora e não sei quando vou voltar, mas eu quero que você faça uma coisa para mim. Eu quero que você fique segura. Que invente uma história e vá para a casa de algum amigo. Quero que você haja normalmente e não confie em ninguém. Você pode fazer isso?

– Posso, claro, mas você está me assustando Haymitch. Porque tudo isso?

– Porque eu preciso saber se você vai ficar bem. – ele me diz sem cortar o contato visual.

– Eu vou ficar – digo a ele e acaricio seu rosto.

– Ótimo – ele sorri para mim – eu preciso ir agora princesa – Haymitch diz e beija a minha testa. Ele se afasta de mim e está pronto para sair quando eu falo:

– Espera! – e o puxo para mim, unindo nossos corpos novamente.

– Quando eu vou te ver de novo? – pergunto

Ele olha para chão onde a água está começando a se acumular e diz:

– Eu não sei.

– Eu vou te ver de novo? – pergunto nervosa.

Ele olha no fundo dos meus olhos antes de responder e eu posso ver o medo nos olhos acinzentados dele.

– Eu não sei.

Olho atentamente para ele, sabendo que essa provavelmente é a última vez que o verei. Seus olhos me examinam detalhadamente. Acho que ele pensou o mesmo que eu. Seus cabelos loiros estão molhados e grudados no seu rosto. Suas roupas estão molhadas e marcam cada parte de seu corpo esguio.

Nesse momento tenho certeza de algo, não importa o quanto eu tentei negar todos esses anos, eu amo Haymitch Abernathy.

Meus olhos encontram os seus e sei o que devo fazer. Adianto-me em direção ao seu rosto e o beijo. Ao sentir meus lábios nos seus ele segura minha nuca aproximando ainda mais nossos rostos.

Nosso beijo é ardente, ávido por contato, carregado de sentimentos reprimidos. Nossas línguas se encontram e passo meus dedos por entre seus cabelos, sentindo sua textura pela última vez. Ele leva sua outra mão até minha cintura, puxando meu corpo para o seu. Essa mesma mão vai lentamente deslizando para minha coxa, a acariciando e acaba em minhas nádegas. Ele me levanta e me prensa na parede e eu prontamente entrelaço minhas pernas em sua cintura.

Nossos corpos molhados pela água quente do chuveiro imploram pelo contato um do outro. Ele desce seus beijos até o meu pescoço, onde alterna entre beijos quentes e pequenas mordidas.

– Haymitch – deixo seu nome escapar de minha boca entre suspiros.

Ele captura novamente minha boca com a sua em um beijo selvagem, onde demonstramos o quanto sentiremos falta um do outro.

Ele parte o beijo com um sorriso nos lábios. Eu olho para ele e encosto minha testa na sua. Uma lágrima solitária rola pela minha bochecha. Ele me beija uma última vez, dessa vez o beijo é calmo e apaixonado.

Quando ele parte esse beijo eu sei que é hora dele ir embora e que esse provavelmente foi o nosso último beijo. Sorrio para ele e liberto sua cintura. Ele me olha e posso ver uma lágrima percorrendo seu rosto já tão familiar para mim. Eu a seco com uma mão que ele logo captura nas suas e a leva até sua boca, encostando seus lábios suavemente nela. Ele solta minha mão e já sinto falta do seu toque. Ele dá um passo para trás e captura meu olhar uma última vez. Penso em pedir para ele ficar, mas sei que ele não pode. Dou um sorriso fraco, mas encorajador para ele. Ele me olha por mais alguns segundos, como se decidindo se fala algo ou não, mas nós dois sabemos que isso apenas tornaria tudo mais difícil. Ele se vira e caminha até a porta do banheiro.

Vou até ela e encosto-me no batente observando-o atravessar meu quarto. Ele para na porta e se vira. A simples visão do seu rosto já é o suficiente para que lágrimas saiam dos meus olhos. Eu o vejo ir embora e lentamente escorrego pela parede, ouvindo o som da água do chuveiro cair, enquanto processo o que acabou de acontecer.

Eu acabei de ver o homem da minha vida ir embora sem saber se ele vai voltar. Agora já não restam dúvidas, não há a necessidade de negar, eu amo Haymitch Abernathy. E o pior de tudo é que eu nem mesmo o deixei saber disso. Bem, agora é tarde de mais.