Uma viagem ao paraiso escrita por drivig


Capítulo 2
Capitulo II




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Blair acordou algumas horas depois com uma moleza no corpo. Procurou o relógio e lembrou-se de tudo quando viu o pulso vazio. É claro, estava em uma ilha desconhecida e tinha um anfitrião pouco amável.

Que horas seriam? Tomara que não fosse tarde demais para o jantar. O dono da casa não aceitaria essa desfeita. Levantou-se abruptamente.

Alguém estivera no quarto enquanto dormia. Haviam deixado vários vestidos havaianos na cadeira, com cores vivas e estampas alegres. Ela deu uma olhada na porta aberta para o hall. Qualquer um poderia ter entrado enquanto dormia.

Imaginou se teria sido Chuck Bass. O que teria pensado, ao vê-la estendida na cama, quase despida? Sentiu-se vulnerável naquela situação. Afinal, precisava de algumas roupas.

Fechou a porta e examinou os vestidos. Eram quatro, todos do mesmo estilo, belos trajes havaianos, curtos e soltos no corpo. Havia também algumas calcinhas em uma caixa, obviamente um presente nunca usado. Ficou tocada com a generosidade da mulher desconhecida.

Vinte minutos depois Blair já havia tomado banho e se vestido. As horas de exposição ao sol desde o começo da viagem haviam dado uma bela cor a sua pele, e um brilho especial nos cabelos. Tentou ajeitá-los com o que tinha ali à disposição. Não havia secador de cabelos, mas alguns poucos minutos ao sol deveriam ter o mesmo efeito. Não havia produtos de maquiagem, mas a cor em seu rosto fazia os olhos se salientarem naturalmente. De qualquer maneira, não havia ninguém a quem precisasse impressionar naquela ilha deserta.

Bem, hora de enfrentar o anfitrião.

Blair refez o percurso até a sala da frente, mas não viu ninguém. Continuando a caminhar, empurrou a porta de tela e foi até a varanda. As treliças protegiam o ambiente do sol e flores enfeitavam a bela paisagem em tons de verde e lilás. A brisa vinda do mar mantinha a varanda fresca e agradável, apesar do sol ainda quente.

Blair afundou em uma das cadeiras, aproveitando a sensação da brisa tropical que acariciava seu rosto. O clima era bem diferente de Iowa, onde morava. Deu uma olhada para o mar. Não havia nada visível, nenhum iate, nenhum barco de suprimentos. Só os variados tons de turquesa, mesclando-se com o azul do céu e o verde da abundante vegetação da ilha.

O silêncio foi interrompido pelo motor de um jipe que surgiu na pequena estrada de areia. Chuck Bass estava dirigindo; com ele, dois cães pastores alemães. Estacionou em frente à varanda.

Os cachorros pularam do jipe, e correram até Blair. Ela crescera cercada de cachorros, e não se assustou. “Devem ser os cachorros que ouvi, quando estava deitada na praia”, pensou.

— Sente, Marco. Sente, Rames.

A voz firme de Chuck foi imediatamente obedecida. Os dois se sentaram, com a língua para fora e os olhos fixos em Blair.

— São lindos — ela disse, quando Chuck se aproximou. — Posso acariciar?

— São cães de guarda. Não quero que sejam estragados.

— Como quiser.

Blair não achava que um pouco de carinho poderia estragá-los, mas Chuck era o dono, e queria manter as coisas tranqüilas. Apesar disso, notou que a atitude do anfitrião era amigável, quase cordial.

— O jantar será às sete — lembrou ele.

E entrou na casa. A camisa ainda aberta voava com a brisa e Blair teve que se esforçar para não segui-lo com os olhos.

Virou-se para os cachorros, que a observavam.

— Como se eu pudesse saber as horas pelo sol! — falou para si mesma.

Os cachorros balançaram a cabeça quando ouviram sua voz.

— Poderia ao menos ter nos apresentado — ela disse aos cachorros, com a voz suave e doce. — Meu nome é Blair; qual de vocês é Marco e qual é Rames?

Ao ouvirem os respectivos nomes, os cães balançaram o rabo.

— Como são ferozes! — Blair brincou.

Um deles, ela achou que fosse Marco, deu um passo à frente, e logo apoiou sua cabeça no braço da cadeira, com os olhos brilhantes.

— Que amor!

Lentamente ela deixou-o cheirar sua mão e depois começou a acariciá-lo no pescoço. Em um minuto, o outro também aproximou- se, disputando sua atenção. Blair riu, e generosamente distribuiu afagos aos dois.

— Afeição não está no regulamento — soou a voz de Chuck alguns minutos depois.

Blair ergueu a cabeça, assumindo a culpa.

— Desculpe, mas são tão amáveis...

— São cães de guarda; não devem ser amáveis! Pegue, não sabia se queria algo para beber, então trouxe uma limonada.

E estendeu um copo grande para ela, enquanto a encarava.

Blair quase deixou cair o copo: seus dedos roçaram nos dele e foi como se tivesse levado um pequeno choque. Deu um gole rápido enquanto ele se sentava na cadeira ao lado.

Havia tomado banho, pois o cabelo ainda estava molhado. O shorts proporcionava a visão de pernas longas, bronzeadas pelo sol. Usava uma camiseta que realçava os contornos dos ombros e dos músculos do peito. Blair estava atônita com aquela visão.

Quando os olhos se encontraram, virou-se rapidamente, esperando que ele não tivesse percebido sua excitação. Já vira vários homens atraentes antes. Mas não tão de perto!

— Fale-me sobre essas aulas particulares — ele pediu, ajeitando-se na cadeira.

Ela respirou fundo.

— Ah, foram um desastre total. Eu devia saber que era bom demais para ser verdade, mas estava fascinada com a possibilidade de vir até o Havaí, aproveitar dias ensolarados, praias maravilhosas, clima agradável, fazer um cruzeiro em um iate...

— E o que aconteceu na realidade?

Blair fitou-o, mas o olhar do anfitrião era sereno.

— Dan, o filho dos donos do iate, precisava de aulas particulares, mas prefere se divertir. Os pais não lhe dão o menor apoio, e fazê-lo parar por cinco minutos para estudar matemática era uma verdadeira batalha.

— É professora de matemática?

Chuck percorreu como os olhos as pernas bronzeadas de Blair, que estavam à mostra devido ao comprimento do vestido. Na hora, ela teve consciência disso, e sentiu-se tão exposta quanto com o biquíni. O sangue correu rápido por suas veias e sua face ardeu.

— Sou. Dou aulas para o colegial, em Ames, Iowa — declarou ela e aguardou o próximo comentário.

— Já ouvi falar em Ames. O garoto está só no colegial? Parecia mais velho...

— Ele deveria se formar agora... Na verdade, nem ligo para o que aconteça a ele. Estava cansada daquela viagem, mas minhas coisas ainda estão no iate.

Chuck deu um longo gole na limonada antes de falar outra vez. Os olhos estavam tão fixos em Blair que era como se tocassem sua pele.

— Não precisa de muita coisa por aqui. A temperatura é sempre agradável, e ninguém anda muito arrumado.

— Eu precisava muito telefonar... não existe mesmo nenhuma forma de comunicação com o mundo exterior?

Chuck ergueu uma sobrancelha.

— Para quem quer ligar? Um namorado?

— Meus pais. Talvez consigam localizar os Humphrey e deem um jeito de vir me buscar. Dan provavelmente deve achar isso muito divertido, abandonar a professora numa praia deserta. O que teria dito aos pais? — Blair percebeu que a raiva voltava e tentou se controlar.

— Disse a ele que nunca mais voltasse a essa ilha — Chuck falou em voz firme. — E não quero que volte.

Blair olhou para os cachorros.

— Quando estava adormecida na praia, pensei ter ouvido o latido de cachorros.

— Você tem dormido um bocado — ele murmurou.

Então ele a tinha visto dormindo, aquela tarde. Esse fato deu uma estranha sensação em Blair. Deveria ter fechado a porta, pensou.

— Posso ajudar a preparar o jantar? — Ela resolveu mudar de assunto.

— Não, Nora já deve ter aprontado tudo.

Blair suspirou.

— O que você faz aqui, Chuck? — Estava orgulhosa por ter pronunciado aquele nome com tanta naturalidade. Seria bom que aquele homem nunca soubesse que ela se sentia como uma adolescente.

— Tenho uma plantação de abacaxi.

— E cana-de-açúcar?

— Muito pouco. O principal é abacaxi.

— É dono de tudo por aqui?

Ele fez que sim com a cabeça.

— Será que poderia me mostrar a ilha?

— Por quê?

Blair ficou um tanto confusa com o tom rude dele.

— Ora, nunca estive em uma plantação de abacaxi. Tenho certeza de que é interessante.

— Vou pedir a um dos rapazes que lhe mostre. Não tenho tempo. Pode praticar flertando com ele. Escolherei um que não seja casado.

— Não estou interessada em flertar. Sou professora, logo estou interessada em aprender algumas coisas novas. É só.

— Já tive experiências com professoras. Sei exatamente como pensam e o que querem aprender quando vem para cá. E não tem nada a ver com abacaxis.

Blair lançou-lhe um olhar furioso. Mas, antes que ela pudesse responder à altura, ele sorriu e entrou na casa, caminhando lentamente.

— Logo será chamada para o jantar.

A porta de tela bateu atrás dele. Blair estava sozinha com os cães outra vez, imaginando o que Chuck tinha em mente ao falar de sua experiência com professoras. Deu um gole na limonada e continuou a pensar naquele estranho anfitrião.

Alguns minutos depois foi chamada por uma senhora de cabelos brancos, que se apresentou como Nora, a governanta da casa. Trajava um largo vestido típico havaiano, em cores alegres.

— Temos salada de galinha e pãezinhos frescos. Chá gelado está bem para acompanhar?

— Perfeito.

A boca de Blair encheu-se de água ao sentir o cheiro do pão fresco e ver a bela mesa posta. A mesa comprida de pinho estava tão polida que parecia um espelho. Havia flores recém-colhidas no centro. A porcelana era chinesa e os talheres de prata.

Chuck apareceu e cumprimentou Nora polidamente. Esperou que Blair sentasse para tomar seu lugar. A expressão parecia mais neutra que antes, e Blair esperou que o jantar fosse uma refeição tranqüila.

Nora os serviu em silêncio e se retirou. Blair experimentou a salada, que estava deliciosa. Os pãezinhos eram feitos em casa e bem crocantes. Chuck comia calmamente, com os olhos fixos na hóspede.

— Se o iate voltar, como entrarão em contato comigo? — ela quis saber.

— Alguém com certeza verá o barco, se ele chegar. Há trabalhadores por toda a ilha, e avisam quando alguma coisa estranha acontece.

Blair passou manteiga em um pãozinho. Estava curiosa sobre Chuck, mas não queria parecer intrometida.

— De onde vocês vieram? — Chuck perguntou. — Por que vieram até aqui?

— Eles já haviam viajado com o iate de Los Angeles até o Havaí, e depois fomos para Honolulu. Estivemos passeando por lá mais ou menos um mês, parando em um lugar ou outro, conforme escolha da Sra. Humphrey. Passamos alguns dias em Honolulu. Ela queria parar em todas as lojas e tivemos de ir embora, pois não havia mais lugar no iate para as compras.

— Quanto tempo ainda faltava para o término da viagem?

— Mais duas semanas. Depois eu tiraria alguns dias em Honolulu antes de voltar para casa. As aulas só começam em setembro.

— Bem, seus planos vão ter que mudar um pouco, uma vez que o barco de suprimentos só vai chegar em três semanas.

— Ainda tenho esperanças que os Humphrey voltem.

— Estou surpreso de que não estejam preocupados com um dos passageiros.

— Se você os conhecesse, não ficaria nada surpreso. O Sr. Humphrey só pensa em dinheiro. E Dan é o rapaz mais convencido que já conheci. Nunca lhes ocorreria que eu possa estar em apuros, pois para eles dinheiro é tudo. E com certeza devem achar que eu tenho dinheiro para resolver um eventual pDanlema como esse.

— De novo esse assunto. — O rosto de Chuck endureceu.

— Não quero nada de você — ela retrucou, sabendo no que ele estava pensando. — Se há trabalho que eu possa fazer, estou disposta. E posso pagar pelas refeições e a estadia também — acrescentou.

Um discreto sorriso surgiu no rosto de Chuck.

— Não é preciso, Srta. Waldorf. Acho que posso sobreviver a algumas refeições. — E empurrou a cadeira para trás. — Se me desculpar, tenho muito trabalho a fazer. — Cumprimentou-a com a cabeça e caminhou na direção da porta.

Blair observou-o. Parecia uma pantera. Ou um leopardo, pensou.

Desapontada por ele ter ido embora, Blair continuou lentamente a saborear o jantar. Tinha quase terminado quando Nora voltou, com dois pedaços de uma bela torta de morango nas mãos.

— Ora, ele já se foi, não é? Trabalha demais, esse rapaz. Poderia relaxar um pouco, tudo vai indo tão bem por aqui... Um pouco de sossego não faria mal.

— E por que ele é assim? — Blair não tirava os olhos da sobremesa. Era sua favorita.

— É por causa de uma desilusão amorosa — revelou Nora, servindo mais chá gelado.

— Ah, é? — Blair encostou-se na cadeira, fascinada com aquela revelação.

Não sabia o que dizer, mas não queria parecer curiosa demais. Nunca diria que... Aquele homem não agia como alguém abandonado por uma mulher. Na verdade, o que Blair achava era que ele nem tinha coração para ser partido...

— Hum... Aquele jeito agitado da Srta. Melissa. Esse lugar não era bom o suficiente para ela. Queria Honolulu, San Francisco. Estavam noivos, mas ela rompeu.

— Que triste.

Blair sentiu o coração acelerado. Não era à toa que Chuck não queria que ficasse, e nem tinha sido simpático. Estava abalado com o rompimento do noivado. Nesse momento, ela sentiu até um pouco de afeição.

— Talvez ela não fosse a mulher ideal para ele — comentou a governanta. — Quem sabe? Já faz anos. Tempo suficiente para ter encontrado outra pessoa. Quer mais alguma coisa?

— Não, obrigada, estou satisfeita.

Blair estava morta de curiosidade para saber mais sobre aquela história, mas Nora se retirou para a cozinha, deixando-a com seus pensamentos. Quantos anos faziam desde o rompimento? O que teria acontecido com Melissa? Será que era só essa a explicação para o mau humor do anfitrião? Se já fazia tanto tempo, por que ele ainda agia assim?

A noite já caía quando Blair levantou-se para levar o prato da sobremesa até a cozinha. Quem sabe assim conseguiria conversar um pouco mais com Nora.

— Estive em uma praia linda hoje pela manhã, mas era um pouco longe daqui — comentou, pondo o prato na pia. — Será que haveria outra mais perto?

— Claro, logo atrás do pátio. Uma bela praia...

— Há alguma vila ou cidade na ilha? — Blair perguntou.

Se ao menos pudesse ficar em um hotel até os Humphrey aparecerem para pegá-la. Poderia conseguir dinheiro com o cartão de crédito. Deveria haver algo a fazer para não ficar naquela situação.

— Não, só há um conjunto de casas onde nós moramos, não é bem uma vila. Um barco vem de vez em quando para trazer suprimentos. O que você precisa? Chuck disse para providenciarmos tudo o que você pedisse.

— Estou bem, por enquanto. Queria muito entrar em contato com o iate. Chuck disse que não há telefone na ilha.

— É muito longe para chegar o cabo — Nora disse, enquanto lavava os pratos. — Mas temos um rádio de ondas curtas.

Blair imaginou por que Chuck não lhe contara que havia um rádio de ondas curtas na ilha. Sabia que ela estava desesperada para entrar em contato com o iate.

— Estou indo embora agora. Voltarei pela manhã. — Nora acenou com a mão e saiu pela porta dos fundos arrastando as sandálias.

Então a governanta não morava na casa. Blair pensou nisso por um minuto, imaginando se deveria ficar preocupada. Chegou à conclusão de que não havia motivo para preocupação. Chuck Bass não queria muita conversa com ela, e isso significava que não avançaria o sinal.

Caminhou devagar pela sala de jantar, de volta à sala de vistas. Não havia nenhum livro, nenhuma revista, não havia televisão. A sala parecia um pouco fria e impessoal. Poderia ser o saguão de um pequeno hotel. Será que Chuck não gostaria de ter uma casa aconchegante, um lar?

Após alguns minutos ela desistiu de pensar naquilo e foi até a porta da frente. Ainda fazia calor e não estava totalmente escuro. Talvez devesse ir até a praia. Uma caminhada à beira-mar seria agradável.

Pena que estivesse sozinha. Seria gostoso compartilhar com alguém aquela bela noite enluarada. Quando a imagem de Chuck Bass surgiu a sua mente, ela rapidamente balançou a cabeça para afastá-la. Não queria se ver envolvida em uma fantasia com aquele anfitrião hostil. Mas lembrou-se daqueles olhos límpidos, o corpo sexy e o jeito de leopardo com que ele se movia.

Achou facilmente o caminho e seguiu até a praia. O lugar era lindo! A areia branquíssima, fina, e brilhava com o restinho de sol. O mar era de um azul sem igual. Algumas rochas em volta da pequena enseada detinham as ondas altas, e a maré chegava calmamente à praia.

Blair tirou as sandálias; a areia ainda estava morna pelo calor do dia. Foi até a beira da água, deixando-se relaxar com aquele cenário maravilhoso. O mar tocava carinhosamente seus pés. Era como se estivesse no paraíso.

Sentou-se na ponta da praia, onde a enseada voltava-se para o mar aberto. Ficou observando as ondas que batiam, e a espuma dava uma sensação serena de perenidade. Esqueceu-se de todas as preocupações e pDanlemas. Ficou sentada até o sol se pôr totalmente.

As estrelas começaram a brilhar. Não havia o menor indício de poluição para ocultá-las. Enquanto caminhava de volta, tentou lembrar-se das constelações que tinha aprendido quando era criança.

A noite estava quente, e o mar era convidativo. De repente, surgiu uma linda lua para completar o cenário.

Em um impulso, Blair retirou o vestido pela cabeça e entrou na água morna. O mar estava calmo, e a água aveludada agradável. Logo ficou fundo e ela começou a nadar. Que sensação...

Quando sentiu-se cansada, foi boiando na direção da praia, relaxando o mais que pôde.

— Precisa de uma toalha? — A voz de Chuck interrompeu o momento mágico.

Blair ficou de pé imediatamente, pois já estava perto da beira. Mas o corpo permaneceu dentro da água. Abriu os olhos para ver de onde vinha a voz. Ele estava na praia, uma silhueta alta e escura à sombra da lua.

— Você me assustou — ela disse, consciente de sua nudez.

Ele estava bem ao lado de seu vestido!

— Há quanto tempo está aí?

— Um pouco. É perigoso nadar sozinha, principalmente logo depois das refeições. Posso nadar junto?

— Não! Quer dizer, já estava saindo.

Blair caminhou um pouco na direção da praia, ainda com o corpo dentro da água. Como pegaria o vestido se ele continuasse lá parado?

— Não precisa esperar por mim — disse a ele, em desespero.

— Seu vestido está bem aqui. — Havia um tom de brincadeira naquele comentário?

— Deixe-o onde está. Já vou sair.

— Ora, Srta. Waldorf. Não seria tão indelicado a ponto de deixá-la sozinha. — O tom era mesmo de brincadeira.

— Não sei quanto tempo ainda vou ficar. A água está muito agradável. Por favor, vá embora.

— Tenho todo o tempo do mundo. Precisava mesmo de uma parada para descansar da papelada. Aqui é bastante agradável. Talvez até nade um pouco.

— Não! Se quer mesmo saber, estou nua.

É claro que ele estava provocando.

— Pensei que professoras de colégio fossem discretas e austeras. Não sabe que qualquer um poderia vir até aqui? Há uns duzentos homens que trabalham e moram na ilha.

— Mas ninguém veio, só você.

— Pensei que estava de biquini.

— Ótima idéia. Da próxima vez estarei de biquíni.

— Joyce lhe trouxe algumas roupas, não é? Deveria ter perguntado no jantar. Serviram bem? Ela tem os seios menores que os seus.

Blair corou. Que maravilha! Ele agora falava de seus seios!

— Pobre Roy — ele murmurou.

Ficou confusa com aquelas palavras. E também com a presença daquele homem. Estava satisfeita por ele não poder enxergar bem seu rosto na escuridão.

— Serviram muito bem — comentou, desejando ardentemente que ele se fosse.

Não poderia sair da água enquanto ele estivesse lá. Também não poderia ficar no mar a noite inteira. Já estava cansada e, apesar da temperatura agradável, começava a sentir frio.

— Saia da água; serei um cavalheiro e virarei de costas.

Desconfiada, ela aproximou-se devagar até a praia. A luz da lua fazia o corpo molhado brilhar. Sentiu como se estivesse em um palco iluminado.

Chuck segurou o vestido com o braço esticado e virou o rosto. Ela alcançou o traje e por um segundo ele não soltou. Blair puxou-o e vestiu-se imediatamente, apesar de o tecido colar à pele molhada.

— Obrigada. Pode virar-se. Já estou decente.

— Que pena.

Ele voltou-se para examiná-la à luz da lua. Seu rosto estava na sombra, mas Blair pôde sentir o olhar. Ele tirou os cabelos do rosto dela e correu os dedos até o pescoço. Lentamente, puxou-a para perto. Blair ficou em estado de choque com aquele toque e seu coração se acelerou. Mal conseguia respirar. Ele estava tão perto...

— Sua pele está fria — ele comentou delicadamente antes que seus lábios tocassem os de Blair.

Involuntariamente, ela respondeu aos movimentos ritmados que ele fazia com a língua. Mas, assim que percebeu o que estava acontecendo, desvencilhou-se dos braços e encarou-o. Sabia que ele poderia vê-la claramente e queria mesmo fitá-lo nos olhos.

— O que está querendo afirmar? —indagou, controlando as emoções. — Seu direito de propriedade? — Só porque era dono da ilha não significava que poderia fazer amor com ela.

— Se quiser chamar assim... — retrucou ele, com sarcasmo. — Não foi para isso que veio? Faço questão de que meus hóspedes sintam-se felizes.

— Não, não foi para isso que vim!

— Que jogo está fazendo? Que tática vai usar nas próximas semanas? Torcer para que eles não voltem antes que eu caia vítima de seu charme?

Blair estava chocada com aquelas ideias. Ele ainda não acreditava nela! Deu então mais um passo atrás, para distanciar-se daquele homem.

— Já vou indo. — Virou-se e começou a caminhar na direção da casa.

Ele ficou em silencio enquanto subia a pequena colina até a casa, ao lado de Blair. Ela tentou controlar-se, mas as emoções giravam como um turbilhão em sua mente. Como ele se atrevia a beijá-la? E como ela pudera corresponder daquela maneira? Havia conhecido aquele homem naquele dia! Tentou manter os olhos distantes, mas o corpo pedia sua presença. Não via a hora de chegar ao quarto.

Chuck parou no pátio, e ouviu o rápido boa-noite de Blair antes de deixá-lo.

Ela ainda esperou um pouco antes de acender a luz, tentando afastar os pensamentos daquela cena na praia. Parou diante do espelho. O vestido estava colado à pele, salientando os seios e marcando a cintura e os quadris bem-feitos. Não era à toa que ele a olhava enquanto caminhavam. A luz da lua não deve ter escondido muita coisa.

Havia aprendido aquela lição; não iria outra vez até a praia sem o biquíni. E manteria o olho bem aberto com Chuck Bass.

Tomou um banho e enrolou-se numa enorme toalha. Assim que voltou ao quarto, bateram à porta. Blair abriu cautelosamente.

Chuck!

Devagar, ele empurrou a porta.

— Achei que você não tinha uma roupa para dormir, então trouxe algumas camisetas. — Estendeu o braço, entregando-lhe as peças.

— Obrigada... — ela agradeceu, consciente da intimidade da situação, por estar vestindo apenas a toalha.

— Sobre o que aconteceu na praia... — ele começou.

Blair prendeu a respiração. Não queria mais saber daquele assunto, com medo dos próprios pensamentos.

Ele prosseguiu:

— Ia pedir desculpas, mas se continuar me olhando assim talvez não consiga. Fico imaginando como você ficaria com roupas normais...

Blair abaixou os olhos, confusa, enquanto ele falava. Sentiu o calor subir às faces.

— Talvez tenham esquecido de você, ou talvez tenha ficado porque quis, esperando ter algo mais excitante do que aulas particulares de matemática. Estou disposto a jogar do jeito que você quiser, mas entenda que, quando aquele barco de suprimentos chegar, você sairá da ilha nele. Sem compromissos, sem recriminações, nada restará dos dias que passar aqui.

Ele ignorou a expressão espantada de Blair e beijou-a outra vez, acariciando seu corpo sensualmente. A toalha caiu e Blair tentou apanhá-la, quando Chuck já ia saindo do quarto. Ela encarou-o, com o coração acelerado.

— Boa noite, Blair. — O tom era de zombaria outra vez.

E ele sumiu no corredor.

Ela bateu a porta do quarto, furiosa. Chuck ainda achava que ela estava lá em busca de alguma aventura amorosa. E estava brincando com ela.

Havia conhecido o homem naquele mesmo dia! E ele não tivera trabalho nenhum em beijá-la. No fundo, Chuck agia como um homem rico, igualzinho aos Humphrey, que acham que podem fazer o que quiserem com os outros.

Deu uma olhada nas camisetas. O anfitrião tivera uma impressão errada a seu respeito, e ela concertaria tudo no dia seguinte.

Pronta para dormir, relembrou todos os momentos daquele dia agitado. Não era culpa sua que os Humphrey a houvessem deixado na ilha. E deveria provar a Chuck que era a verdade. Mas não conseguia parar de pensar naqueles beijos ardentes.

Acendeu a luz e abriu as portas do pátio. O perfume doce das flores tomou conta do quarto e evocaram sonhos de amor e romance.

A camiseta de Chuck era grande, e sentiu a suavidade do algodão roçando sua pele. Uma sensação erótica tomou conta de seu corpo.

Era melhor ir embora dali, antes que a magia do lugar a impedisse de partir!


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