Ser escrita por Telsts


Capítulo 1
✞ A conversa ✞




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Sala branca. Quatro paredes. Luz incandescente. Duas cadeiras. Eu e ele.

-Nunca te perguntas-te porquê?

-Porquê o quê?!

-Porque és assim!

-Assim como?!

-Indecisa, ignorante, fria, distante!

-Nunca.

-E porquê?

-Porque não devo respostas do que sou ou deixo de ser a pessoas que fazem perguntas estúpidas.

-Que tipos de pessoas?

-Pessoas como tu.

-E como são as pessoas como eu?

-Chatas, irritantes com todas as suas perguntas que me deixam a cabeça em água e o sangue em vinho.

-Gostas de filosofar, pelo que vejo!

-Não, apenas gosto de ser explicita.

-Explicita em que?

-No que faço, no que quero, no que digo, no que sinto, no que sou.

-Então o que queres?

-Paz, sossego e que tu desapareças.

-AhAh! O que sentes?

-Porquê o riso?!

-Não é proibido!

-Sinto-me confusa, vazia, sozinha, e ligeiramente irritada.

-O que és afinal, miúda?

-Uma pessoa que não gosta que lhe digam o que fazer, o que ser. Como deve agir ou sentir. Sou apenas mais uma pessoa entre milhões.

-Mas és diferente!

-Não sei em que.

-Em tudo!

-Como assim?!

-Falas comigo e não sabes quem sou. Reages abertamente e não sabes onde estás. És apenas mais uma alma perdida na imensidão deste mundo!

-E como sabes?!

-Pela maneira como ages!

-E como é que ajo?!

-Diz-me tu?

-O que queres que te diga?!

-O motivo da falta de um sorriso!

-Sabes porque não sorrio?

-Não!

-Porque quando as pessoas vêem um sorriso esperam algo como alegria, não tristeza, algo como educação, não rudeza, algo como bondade, que já não existe mais.

-E como podes ter tanta certeza?

-Para alguém que faz muitas perguntas, não sabes muitas respostas!

-Não sabes!

-Num mundo, onde todos os sorrisos são programados. Num lugar onde hagimos mais como robôs do que como a insignificância da espécie humana que somos. Já não existe lugar para ilusão, falcidade ou mentira. Ou és tu o tempo todo, ou sê mais um robô neste mundo.

-Muitas palavras!

-Querias menos?

-Queria perceber-te!

-Para quê?!

-Para perceber como é sentir!

-Mas tu sentes.

-E como sabes?

-Pelos milhões de perguntas que fazes.

-Que tem isso a ver?

-Se não sentisses, não eras capaz de fazer essas perguntas.

-Tu não sentes e tens repostas filosificas como se não fosses deste mundo. Qual o segredo?

-Eu não tenho segredos. Apenas percebi que a nossa vida é feita de erros e ilusões e quanto mais cedo perceber-mos isso, menos nos magoa-mos.

-Se te disse-se que a tua vida agora já não é feita de dor e perda?

-Que não sabes o que falas.

-Porquê?

-Porque não são apenas os erros do passado, que nos mudam, mas sim os erros do presente.

-Cometes erros?

-O ser humano é a imperfeição reincarnada.

-E a perfeição?

-Não existe.

-Como sabes?

-Porque os mortos não caminham. Os seres misticos não são reais. E tu fazes muitas perguntas.

-Se te disse-se que as perguntas estão quase a acabar?

-Finalmente.

-Uma última palavra?

- Ódio.

-Um sentimento?

-Solidão.

-Uma caracterização?

-Medo.

-Obrigada, miúda. A tua ajuda foi essencial!

-Para quê?!

-Para perceber!

-O quê?!

-Como é ser humano!

Ele levanta-se. Olha-me e sorri. Recosto-me na cadeira. Fecho os olhos. Inspiro. Abro os olhos. Ele desapareceu.

-Como disse o ser humano é imperfeito.

Levanto-me. Saiu.


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