Ser escrita por Telsts
Sala branca. Quatro paredes. Luz incandescente. Duas cadeiras. Eu e ele.
-Nunca te perguntas-te porquê?
-Porquê o quê?!
-Porque és assim!
-Assim como?!
-Indecisa, ignorante, fria, distante!
-Nunca.
-E porquê?
-Porque não devo respostas do que sou ou deixo de ser a pessoas que fazem perguntas estúpidas.
-Que tipos de pessoas?
-Pessoas como tu.
-E como são as pessoas como eu?
-Chatas, irritantes com todas as suas perguntas que me deixam a cabeça em água e o sangue em vinho.
-Gostas de filosofar, pelo que vejo!
-Não, apenas gosto de ser explicita.
-Explicita em que?
-No que faço, no que quero, no que digo, no que sinto, no que sou.
-Então o que queres?
-Paz, sossego e que tu desapareças.
-AhAh! O que sentes?
-Porquê o riso?!
-Não é proibido!
-Sinto-me confusa, vazia, sozinha, e ligeiramente irritada.
-O que és afinal, miúda?
-Uma pessoa que não gosta que lhe digam o que fazer, o que ser. Como deve agir ou sentir. Sou apenas mais uma pessoa entre milhões.
-Mas és diferente!
-Não sei em que.
-Em tudo!
-Como assim?!
-Falas comigo e não sabes quem sou. Reages abertamente e não sabes onde estás. És apenas mais uma alma perdida na imensidão deste mundo!
-E como sabes?!
-Pela maneira como ages!
-E como é que ajo?!
-Diz-me tu?
-O que queres que te diga?!
-O motivo da falta de um sorriso!
-Sabes porque não sorrio?
-Não!
-Porque quando as pessoas vêem um sorriso esperam algo como alegria, não tristeza, algo como educação, não rudeza, algo como bondade, que já não existe mais.
-E como podes ter tanta certeza?
-Para alguém que faz muitas perguntas, não sabes muitas respostas!
-Não sabes!
-Num mundo, onde todos os sorrisos são programados. Num lugar onde hagimos mais como robôs do que como a insignificância da espécie humana que somos. Já não existe lugar para ilusão, falcidade ou mentira. Ou és tu o tempo todo, ou sê mais um robô neste mundo.
-Muitas palavras!
-Querias menos?
-Queria perceber-te!
-Para quê?!
-Para perceber como é sentir!
-Mas tu sentes.
-E como sabes?
-Pelos milhões de perguntas que fazes.
-Que tem isso a ver?
-Se não sentisses, não eras capaz de fazer essas perguntas.
-Tu não sentes e tens repostas filosificas como se não fosses deste mundo. Qual o segredo?
-Eu não tenho segredos. Apenas percebi que a nossa vida é feita de erros e ilusões e quanto mais cedo perceber-mos isso, menos nos magoa-mos.
-Se te disse-se que a tua vida agora já não é feita de dor e perda?
-Que não sabes o que falas.
-Porquê?
-Porque não são apenas os erros do passado, que nos mudam, mas sim os erros do presente.
-Cometes erros?
-O ser humano é a imperfeição reincarnada.
-E a perfeição?
-Não existe.
-Como sabes?
-Porque os mortos não caminham. Os seres misticos não são reais. E tu fazes muitas perguntas.
-Se te disse-se que as perguntas estão quase a acabar?
-Finalmente.
-Uma última palavra?
- Ódio.
-Um sentimento?
-Solidão.
-Uma caracterização?
-Medo.
-Obrigada, miúda. A tua ajuda foi essencial!
-Para quê?!
-Para perceber!
-O quê?!
-Como é ser humano!
Ele levanta-se. Olha-me e sorri. Recosto-me na cadeira. Fecho os olhos. Inspiro. Abro os olhos. Ele desapareceu.
-Como disse o ser humano é imperfeito.
Levanto-me. Saiu.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!