Ela chegou cedo. Quinn Fabray sentou-se na terceira fileira de cadeiras do grande auditório. Ela respirou fundo e mordeu o lábio inferior. Era isso. Aquele dia que ela vinha esperando por muito, muito tempo. Ou pelo menos, desde o colégio. Ali estava ela, competindo por uma chance que com mais outros 50 alunos que começavam a encher o resto do auditório. Seu coração estava mais acelerado que a bateria toda de uma escola de samba e nesse momento, observando enquanto cada vez mais gente aparecia ali. Tinham todas as idades e jeitos. Isso sempre a intrigou, como todos são tão iguais e tão diferentes. Viu algumas meninas que acabavam com as unhas pelo nervosismo. Alguns candidatos que pareciam não ligar para estar ali. E outros que tinham certeza que aquela batalha para eles já estava ganha. Reparou em pelo menos três que pareciam querer ser os próximos “Platões” ou “Aristóteles”. Foi aí que ela sentiu toda sua confiança abalar. E se ela não fosse boa o suficiente? E se não representasse concorrência nenhuma aos outros?

Obrigou-se a parar de pensar, antes que começasse a tremer e desistisse de tudo, mesmo antes de ter terminado. Obrigou-se a pensar que, depois de três rodadas de textos escritos e eliminações, pelo menos 1600 candidatos haviam sido eliminados. Obrigou-se a pensar que, se ela ainda estava ali, com certeza era porque tinha algo a mostrar. Eles gostavam dela, por algum motivo gostavam. E ela havia lutado para chegar até ali. Havia tido um numero incontável de bloqueios criativos. Perdido horas apenas sentada, olhando para a folha em branco, como se todas as idéias que a confundiam fossem magicamente se ajeitar e aparecer ali escritas. Havia tomado um numero incontável de xícaras de café e quase havia cedido à tentação de voltar a seu vicio em fumar do ensino médio. Se não fossem suas melhores amigas ao seu lado, ela teria facilmente acendido um cigarro, sentido a fumaça deslizando para dentro e para fora de seu corpo. Não. Não podia voltar. Havia prometido que iria parar. E aquela promessa em especial ela nunca poderia quebrar.

Ela abaixou a cabeça e deixou que seu próprio silêncio contrastasse com o barulho da sala. Sentiu o ar entrar e sair por suas narinas. Tentou ao máximo se concentrar em brincar de enrolar seus cachos loiros em seu dedo indicador.

Entre todo o barulho da sala, ela não soube como conseguiu distinguir o “psiu” de sua melhor amiga do de qualquer um. Mas conseguiu. Sorriu ao virar de costas e ver suas duas melhores amigas, Santana e sua namorada Brittany, sentadas a cinco fileiras de distância. Ajeitou seu cabelo e levantou a mão para um pequeno aceno. Brittany acenou de volta energeticamente. Santana apenas deu um sorrisinho de canto e “falou” algo que ela entendeu, por leitura labial, entendeu como “quebre a perna”. Podia ser algo sobre uma lanterna também, mas era um pouco mais improvável.

Enfim um homem alto e bem arrumado subiu no placo. As vozes foram sumindo como em um tipo de efeito sonoro até que cessaram totalmente. Quinn se viu batendo a perna esquerda no chão repetidamente para tentar espantar o nervoso.

– Boa tarde a todos. Meu nome é Maximiliam William – entre várias risadinhas abafadas, um riso um pouco escandaloso demais foi ouvido e Quinn nem precisou virar para trás para saber que havia sido obra de Santana. O homem suspirou – E eu sou o organizador deste evento, bem como o diretor da “New York, New Talents”. Eu creio que todos aqui estejam ansiosos, mas eu gostaria de falar algumas poucas palavras sobre nossa empresa antes. No dia...

Quinn parou de ouvir. Já tinha lido todos os sites que havia sobre a empresa na internet. Sabia sua origem, Seus objetivos. Seu modo de trabalho. Droga, ela sabia até mesmo o nome do designer do site, como se isso fosse ajudar em alguma coisa. Ela voltou sua atenção para o palco no momento que percebeu o homem ficando quieto por alguns segundos.

– E agora, o momento que todos estão esperando. – a loira mordeu o lábio inferior com tanta força que por um segundo esperou que começassem a sangrar – O resultado do edital das bolsas.

O silencio na sala era sepulcral, era quase um filme mudo. Mais de duzentos rostos fitavam Maximiliam, muitas respirações pesadas e a expectativa, que pairava como uma nuvem de tensão ali, acima de todos.

– Começaremos com a primeira, para estudantes do curso de Letras. A vaga é para nossa parceira NYAOL, New York Academy Of Letters. Foram três fases nesse processo seletivo e, para a fase final, os textos escritos foram avaliados por uma banca preparada pelos próprios professores da faculdade. - houve uma pausa e o apresentador pigarreou – E um texto foi escolhido. Senhoras e senhores... O ganhador da bolsa foi... – Quinn sentiu o ar lhe faltar nos pulmões e teve que se obrigar a respirar – Andrew McGregor!

Após uma leve salva de palmas, mais por educação do que qualquer outra coisa, algumas reclamações raivosas se espalhavam pela sala, mas Quinn apenas abaixou a cabeça e suspirou. Ela não havia conseguido. Maximiliam continuava chamando pelo nome do vencedor, o que fez com que a loira fechasse os olhos tentando absorver todo o amargo daquele nome. Andrew McGregor. Argh. Ela nem o conhecia, mas já o odiava.

Como estava com a cabeça baixa, ela não viu o apresentador saindo do palco. Não viu enquanto uma mulher e um homem diziam algumas palavras e ele assentia. Ela estava pensando em como iria encarar o pai. Russel Fabray era um homem que só aceitava a vitória, total e completa vitória. Por anos, ele fez questão de exibir pra Quinn o quanto sua irmã mais velha, Frannie, era melhor do que ela. Aquela bolsa de estudos era a chance de mudar tudo. Era a chance de provar que ela era boa o suficiente. Era uma chance de provar que...

– Peço um minuto da atenção de todos. – disse Maximiliam, de volta ao palco, ajeitando o terno, com um semblante sério – Eu fui informado que, por motivos pessoais, o senhor McGregor não receberá a bolsa de estudos. – houve, novamente, silêncio sagrado. – Portanto, o novo ganhador da bolsa é... A Srta Lucy Quinn Fabray.

Um grito se espalhou junto com os aplausos educados. Santana. Quinn demorou segundos para se levantar, o que fez todos os olhos da sala se virarem em sua direção. Ela só conseguia encarar boquiaberta enquanto Maximiliam sorria para ela no palco. Seguiu em sua direção e os dois apertaram as mãos, enquanto ela rezava para que o organizador não percebesse sua tremedeira.

– Obrigada – ela balbuciou, enquanto ele sorria e a indicava uma cadeira em cima do palco.

– Meus parabéns, Srta Fabray. – ele disse, voltando ao microfone. – E agora, a nossa bolsa de estudos na área de medicina.

Santana segurou a mão de Brittany com força. Era sua vez. Era sua chance. O projeto que ela havia montado tinha tudo para dar certo. Havia incluído todos os custos, as vantagens, as desvantagens, os efeitos colaterais. Era agora. Uma bolsa de pesquisas como aquela mudaria sua vida e, provavelmente, se tudo desse certo, a vida de milhões. Brittany sorriu de modo sincero, torcendo pela namorada. Quinn, do palco, olhou para a melhor amiga, com um sorriso bobo e brilhante que dizia “você vai ganhar.”

– E a vencedora é... Rachel Berry.