Imutável escrita por Segunda Estrela


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Buenas! Mais uma vez gostaria de agradecer a puca sophia1234567890
por comentar, você não faz idéia do quanto eu fico feliz.
Ah eu também percebi que as outras pessoas escrevem novos capítulos
quase todo dia, então eu vou me esforçar para fazer mais que um
capítulo por semana.
Ah, eu detesto admitir, mas eu gostei tanto desse capítulo. Eu ouvi um
recital inteiro de Chopin enquanto escrevia, acho que isso fez eu me
sentir mais inspirada.
Um beijo para todas as pessoas que lerem este capítulo.



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–Mas ele era muito resmungão, era irritadiço como nunca vi. Parecia um velho no corpo de um garotinho.

Dei uma risada ao ouvi-la falar tão intimamente e despreocupadamente de um dos seus queridos netos.

– Ele andava por aí arranjando confusões com todo mundo. Encarava a todos nos olhos e dizia o que pensava sem se preocupar nem um pouco com os sentimentos dos outros. E digamos que certos alguns não encaravam tão bem suas críticas.

Ela apoiou seu rosto entre as mãos enrugadas e seu olhar recebeu um tom disperso e pensativo, provavelmente lembrando-se daquelas memórias de tanto tempo atrás.

– O seu sonho era ser botânico, gostava mais deste assunto do que de pessoas. Mas sabe? Havia momentos... Em que eu podia ver certa pureza em seus olhos. Quando ele ia para o jardim e cuidava das flores e plantas, dava um sorriso tão sincero e compassivo que eu sabia que bem no fundo ele era boa gente.

Ela deu um sorriso ao rever aquelas cenas em sua mente. Eu ainda não conseguia entender como alguém se sacrificava tanto por pessoas com a qual não tinha nenhuma obrigação física. Mas considerando a estranheza da situação, talvez não fosse realmente com isso que eu devesse perder meus pensamentos.

– Como está a vida dele hoje em dia? Perguntei, por pura curiosidade de saber como uma pessoa tão anti-sociável convivia com, bem... A sociedade.

– Ele virou um rapaz elegante e esbelto, mas continua não sabendo como se relacionar com gente. Ele trabalha em uma divisão especial do governo, mas ás vezes toca músicas sombrias no piano de um bar para irritar os clientes.

Ela deu uma risadinha contida, imaginei o que ele já deveria ter feito nestas situações.

– Ah sim, ele também está noivo, mas sua noiva é tão afável e gentil que não sei como o suporta.

– Talvez ela o conheça tão bem quanto você.

Aaya alargou seu sorriso e seus olhos se encheram de um agradecimento sincero. Dei mais uma mordida na minha comida, e mais uma vez fui surpreendido pelo incrível sabor original do waffle belga. Não sabia como em trezentos anos de existência, nunca provara algo assim.

– Mas e você, o que faz da vida?

Engasguei com o leite que mal começara a beber. Precisava pensar em algo convincente rápido.

– Eu faço faculdade de... De... Arquitetura!

Praguejei mentalmente.

De onde eu tirara isso? Eu não sabia nada de arquitetura.

– Jura? Você não tem cara de um futuro arquiteto, seu estilo é tão... - Ela passou seus olhos pelos meus pés descalços- Alternativo. Quero dizer, você chama muita atenção.

Dei um sorriso de canto.

– Digamos que eu não goste de ser invisível.

Ficamos um tempo em um silêncio confortável, somente sendo interrompidos pelo bebericar em nossas canecas de leite. Ela respirou fundo, depois recomeçou a conversa.

– Um rapaz bonito como você deve ter uma namorada, me diga, como ela é?

Senti meu rosto enrubescer, não costumava pensar muito no assunto, vendo que havia poucas garotas que serviriam para mim.

– Na verdade não, eu não tenho uma namorada.

Ela tomou um longo gole enquanto me encarava séria. Remexi as mãos, nervoso por conta de seu olhar penetrante.

– Que desperdício.

– Como é?

Ela balançou as mãos levianamente.

– Você é do tipo que não gosta de relacionamentos sérios ou que não sabe falar com mulheres?

Neste ponto meu rosto encarei-a perplexo, parecia uma senhora de pensamentos modernos demais para mim. Não conseguia ao menos me lembrar de quando havia tido uma conversa sobre este assunto, uma vez que deixei de ser um simples humano, acreditava que tais tópicos haviam sido tomadas de mim.

– E-eu não sei qual dos dois.

– Ah, não se preocupe, se você for um rapaz charmoso e bonitinho, terá praticamente todas as mulheres que desejar. Mas se você quiser uma garota mais profunda ainda assim é simples, em tese.

Mergulhei meu rosto entre as mãos, não acreditava que estava mesmo ouvindo isso.

– Escute, para conquistar o coração de qualquer mulher só é preciso uma coisa...

Ela fez uma pequena pausa, como que para criar um suspense. Encarei-a pelas aberturas entre meus dedos.

–Você só precisa fazê-la se sentir amada.

Continuei fitando-a com um olhar cético.

– Só isso?

– Mulheres duvidam e são perspicazes, mas se todas as suas ações a levarem a uma confiança plena nos seus sentimentos, a ânsia pelo amor falará mais alto que qualquer outra coisa.

Dei uma risada, não querendo zombar do que ela dissera, mas por conta da ironia de suas palavras.

– Da próxima vez que eu for a uma boate encontrar garotas vou me lembrar disso.

Ela acabou levando meu comentário a sério, então deixei pra lá. Ficamos em silêncio por um tempo até que Aaya se levantou da cadeira e andou com seus passos vagarosos na direção de uma mesa repleta de livros. Ela pegou uma quantidade considerável para uma senhora e começou a andar cambaleante para a estante. Levantei-me e peguei os livros da sua mão.

– Deixa eu te ajudar.

– Ah, desculpe, é que eu tenho tantas coisas para arrumar nesta casa.

Franzi o cenho, tudo bem que ela não tivesse uma empregada, mas pelo menos um de seus netos poderia mostrar um gesto de gratidão, vindo cuidar dela.

– Seus netos ainda a visitam? - Perguntei receoso.

– Está preocupado com isso? Sim, eles vêm me visitar sempre que podem, me ligam e me enchem a paciência mais do que qualquer um. Pensam que só porque sou velha não sei me cuidar.

– Mas você parece tão...

– Sozinha?

Dei de ombros, não desejava fazê-la se sentir mal, mas estava começando a sentir certa raiva destes netos de quem ela ainda falava com tanto amor.

– Vamos, não é nada disso que deve estar pensando. Eles já tentaram me levar para morar com eles ou morar aqui comigo. Mas eu me recuso a interromper a vida de meus meninos para cuidar de uma velha. Eles ficam revoltados, pagam empregadas e enfermeiras, mas eu acabo dispensando todas. Mas mesmo assim, eles acabaram escolhendo alguém para morar aqui perto de mim. Minha neta mora nesta rua, ela vêm sempre aqui tomar chá e cuidara de mim, pelo menos é o que ela pensa. No entanto ela saiu agora, foi no mercado e na biblioteca devolver uns livros.

Pude dizer que senti alívio, me sentiria injustiçado no lugar de Aaya se todos a quem ela dedicara a sua vida virassem o rosto desta forma. Coloquei os livros na estante, então pude notar que ela possuía vários exemplares de livros sobre história e geografia. Livros de vários tamanhos e tipos que eu nem ao menos sabia que existiam.

– Parece que temos aqui uma aficionada.

Ela olhou para mim de cenho franzido.

– Sobre o que está falando querido?

Apontei para todos os livros de ciências humanas que eu via.

– Ah, não são meus, são de Pim, mais um dos meus netos. Ele era louco por esse assunto. Ele passava o dia todo lendo e depois nos bombardeando de informações. Adorava passar horas estudando a geografia de um lugar e as lendas que eles possuíam. E então, quando chegava a noite, ao invés de pedir que lhes contassem uma história ele reunia todos e falava os contos que havia lido durante o dia. As outras crianças adoravam.

Ela deu um suspiro pesado e colocou a mão nos livros.

– Mas havia uma história que ele adorava mais do que qualquer outra, me lembro como se fosse hoje, a Rainha de gelo.

Olhei para ela de soslaio, com um sorriso de canto nos meus lábios.

– Rainha de gelo?

– Ficou interessado rapaz?

Dei de ombros.

– Digamos que eu tenha um leve interesse em contos de fada sobre o inverno.

Ele me lançou um sorriso e sentou-se na cadeira de balanço que estava atrás de si.

– Uma vez Pim estava pesquisando a geografia de Oslo, uma cidade da Noruega e percebeu que há muito, muito tempo houve uma súbita e drástica mudança de clima na região. Os pesquisadores e cientistas tentaram de tudo, mas até hoje nunca descobriram porque em pleno verão a cidade foi tomada pelo inverno. Ele ficou fissurado pelo assunto e a única explicação que encontrou foi uma lenda que a população contava.

Apoiei-me no meu cajado com um sorriso em meus lábios. Adorava ver como a mente humana inventava histórias loucas e fictícias para explicar aquilo que não conseguiam.

– A lenda falava sobre a rainha daquela terra, uma jovem cruel que guardava um segredo obscuro. Desde que nasceu ela não gostava de falar com ninguém, se trancava em seu quarto e ficava exageradamente nervosa se alguém fosse incomodá-la, não gostava nem mesmo de sua irmã. Seus pais eram os que mantinham maior contato com ela, mas mesmo com eles, a princesa era fria. Então um dia, o rei e a rainha saíram para visitar uma terra vizinha, mas uma tempestade os atingiu e eles morreram. A futura rainha não mostrou nenhum interesse pela morte dos pais e não foi nem mesmo ao enterro. A sua irmã tentou falar com ela, mas não obteve nenhum sucesso. Muitos anos passaram sem que ninguém desconfiasse do segredo da princesa, mas então no dia da coroação a, agora rainha, atacou seus súditos em uma festa com terríveis poderes de neve e gelo. Todos tentaram pará-la, mas ela novamente atacou os guardas e cidadãos. Ela então fugiu e amaldiçoou aquela terra, levando-a para um inverno eterno. Todos estavam apavorados e morrendo de medo naquele frio, a única que manteve confiança na rainha foi sua irmã, que montou em seu cavalo e correu atrás dela. Mas chegando ao palácio que a rainha do gelo construíra, a princesa foi atacada, e acabou congelando seu coração. Ela tentou voltar para o castelo, mas acabou morrendo congelada. O noivo da princesa, imerso pelo desejo de vingança foi até o castelo e tornou a rainha prisioneira e depois a executou. A terra foi libertada da maldição, e o príncipe assumiu o trono como herói, mas continuou a lamentar-se para sempre da morte daquela que amava.

Olhei para a senhora surpreso, não era o tipo de conto de fadas que se costumava ouvir.

– Meio triste não é?

Acabei assentindo com a cabeça.

– Ah deixe-me lhe mostrar os desenhos e anotações que Pim costumava fazer.

Ela levantou-se mais uma vez e pegou um livro amarelado dentro da estante. Ela abriu as páginas, onde eu pude ver rabiscos e desenhos sobre o assunto. Um esboço particularmente me chamou a atenção, era de uma linda jovem de longos cabelos que lhe caíam pelas costas, mas o que mais me prendia aquele desenho eram seus olhos, pareciam tristes como jamais havia visto.

– Quem é esta?

– É a rainha de gelo.

Olhei para Aaya sem entender.

– Eu pensei que ela fosse uma vilã.

Ela deu de ombros.

– Pim gostava de dizer que as pessoas haviam relatado a história da forma errada, que alguém que vivera tão afastada de todos só podia ser muito triste e precisar de muito amor.

Aquelas palavras acabaram parecendo familiares para mim.

– O que Pim faz hoje?

O semblante de Aaya se tornou sombrio e seu sorriso desapareceu quase que terminara de falar. Temi ter dito algo que a tivesse magoado.

– Uma noite, ele voltava animado para casa porque tinha acabado de conseguir um estágio trabalhando em um museu. Ele acabou se perdendo e entrando em um beco, chegaram vários homens e o espancaram até a morte e nem ao menos levaram seu dinheiro.

Meus olhos se arregalaram, repreendi-me mentalmente por ter tocado neste assunto.

– E-eu... Sinto muito por...

– Não se preocupe com isso, foi há muito tempo. Ele era um rapaz muito alegre, não se perdoaria por me trazer tristeza ou lamúrias.

Mesmo ela dizendo aquelas palavras, eu podia sentir a mágoa melancólica que elas carregavam. Ela encarou o desenho em minhas mãos.

– Sabe o que ele costumava dizer? Ele dizia que quando tivesse uma filha daria para ela no mesmo nome da rainha de Arendelle.

Olhei para a mulher surpreso, será que eu ouvira certo? Parecia o mesmo nome que Breu...

– Qual era o nome desta rainha?

Minha voz acabou saindo ansiosa demais e ela olhou para mim sem entender aquela minha euforia repentina.

– O nome dela era Elsa... Elsa de Arendelle.


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Notas finais do capítulo

Vamos, por favooorzinho, não demora nem mesmo 30 segundos para colocar
um "." e clicar em comentar, só para eu saber que alguém leu.
Eu poderia dizer o quanto eu gosto de ler o que as outras pessoas
escrevem ou algo assim, mas sei que já sabem, só pensem que uma atitude
sua que não custa nada fará outra pessoa(eu) muito feliz.



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