Imutável escrita por Segunda Estrela


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Gente, que caô, no capítulo anterior eles criaram um link para a cidade. Peraí, uma pessoa favoritou? Caramba! Muito obrigada Letícia. Eu gostaria de agradecer a puca sophia1234567890, Authora, Real Die Pie, Pam Oswin e Ana Tonhetta por comentarem no outro capítulo, vocês não fazem idéia de quanto a opinião de vocês é importante para mim.
Eu demorei um pouco para postar não é? Desculpa, mas estou tão cheia de coisas para fazer, talvez eu só acabe postando um capítulo por semana, porque só estou entrando no final de semana, mas sempre que eu puder eu vou escrever alguma parte da história, vou me adiantar o máximo que conseguir.



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Pela que talvez fosse a milésima, porém não a última, encostei meus olhos no vidro da janela, tão ansiosa e agoniadamente que aqueles que me vissem julgar-me-iam em um desespero descontente e incompreensível. Por aquele vidro que me separava da liberdade e o contentamento completo eu podia ver os campos imersos naquela vastidão branca e fria que vinha junto ao passar das estações. Como eu desejava quebrar aquelas amarras que tão insistentemente me prendiam ao sofrimento e ver o que podia fazer junto aquele inverno. Atravessar aquelas portas e descer para me juntar ao vento e céu. Sem me preocupar com julgamentos e pressões, pela primeira vez na vida me sentir... Livre. Eu cobiçava desesperadamente pela liberdade, mas via-a em um futuro exageradamente distante ou impossível. Mal me deixara levar por estes pensamentos e a partir das minhas mãos a janela foi tomada por um branco insensível e frigido. O gelo se estendeu na minha direção como garras. Afastei-me abrupta e instintivamente daquele sortilégio que lançara sem consciência plena, apavorada.

Olhei horrorizada para as minhas mãos descobertas, tão cheias desse poder destrutivo. Corri apressadamente na direção do meu criado-mudo, deixando um rastro de neve branca em tudo que tocava.

Encubra, não sinta. Encubra, não sinta.

Peguei as luvas com minhas mãos tremendo e as coloquei com certa dificuldade. Não importa quanto tempo passasse, nunca me livraria daquelas algemas. As algemas que eu aceitara e teria de suportar por toda a minha vida. Eu as encarei tão amargamente que sentia que poderia começar a chorar a qualquer momento.

Não seja fraca a este ponto, o que você quer? Você é perigosa, não pode conviver com ninguém, nem mesmo com seus pais ou Anna.

Repreendi a mim mesma com certa dureza necessária, eu precisava me lembrar constantemente da verdade para que não me deixasse levar pelos impulsos.

Você tem de ser a garota que trará orgulho e segurança a sua família e reino, não pode se dar o luxo de colocar seus próprios desejos na frente dos outros.

Então, neste momento, ouvi batidas felizes na porta. Aquele som atravessou a madeira como uma flecha envenenada com dor e agonia.

Porque Deus zombava de mim tão cruelmente? Porque fazia tudo ser tão mais difícil?

– Elsa?

A voz da pequena Anna chegou até mim feliz, mas encheu-me de tristeza. Eu a ignoraria, então, Anna se cansaria e me deixaria aqui, aproveitando minha solidão.

– Elsa, por favor. Sei que está aí dentro. Vamos sair um pouco e brincar lá fora, vamos aproveitar a neve como costumávamos fazer.

Não me peça, por favor, não me peça isso, não piore o meu sofrimento. Aproximei-me da porta, tudo dentro de mim gritava para arrombar aquele agouro, atravessar o muro que se erguia a entre nós, abraçá-la forte e dizer que nunca mais a deixaria ir. Sentir-me feliz e livre como há muito tempo não fazia. Eu queria ansiosamente sair, tocá-la, sentir o sol e a neve, mas... Mas eu não podia, eu precisava me lembrar do que tinha feito, de quem eu era. Um monstro. Um monstro que quase matou a irmã e que deve ser contido.

– O que eu fiz Elsa? Não importa o que foi, eu peço desculpas bem do fundo do coração. É porque eu te acordo de noite? Ou eu sou muito irritante pra você?

Anna, minha querida irmãzinha, você não entende. Eu não posso lhe perdoar de nada, a culpa deste fardo que carrego não é sua. Você não vê, mas faço isso para o seu bem, eu não quero feri-la e a mais ninguém, eu preciso ser contida como a aberração que sou.

Encostei minha mão na porta, quanto sofrimento aquilo me causava, se ao menos eu pudesse lhe explicar.

– Olha... Eu te dou todo o chocolate que eu receber da minha vida inteirinha se me perdoar.

Se o que eu carrego pudesse ser barganhado com tão pouco.

– Eu... Eu sinto tanto a sua falta. Sinto falta das nossas brincadeiras, do seu rosto e da sua risada. Nós éramos tão próximas, por favor, me diga o que aconteceu. Eu prometo que vou mudar.

Anna pare. Ouvir seus pedidos e lamentações torna tudo tão mais cruel, deixe-me sozinha aqui. Eu me esforço tanto, porque você simplesmente não me esquece? As coisas nunca vão voltar a ser como eram, nem eu e nem você temos o poder de mudar isso, então apenas me deixe... Só.

– Vá embora Anna, e não volte a me incomodar.

Eu não posso e nunca vou poder sair, estou presa ao meu destino e não se pode mudar o destino.

Eu ouvi seus passos se afastando, como aquele som vinha cheio de agonia e alívio. Estava presa na dualidade do absurdo, meu coração desejava que ela ficasse, mas a mente sabia que isso jamais poderia acontecer.

A sua mente deve sobrepujar as emoções. Encubra, não sinta. Encubra, não sinta. Encubra...

Desabei naquele chão frio, tão frio como todo o quarto. As lágrimas dançaram traiçoeiras pelos meus olhos e caíram uma atrás das outras descontroladamente. Apertei minhas mãos junto ao peito, desejando tirar toda aquela agonia que me corroia por dentro e jogá-la longe o suficiente para nunca mais vê-la. Eu queria tanto amor eu queria tanto ser aceita, porque era tão difícil? Porque eu não podia me controlar? Porque eu tinha que ficar longe de todos que amava? Porque tinha de ser essa aberração?

Eu chorei e gritei a plenos pulmões. Não importava se ouvissem, não importava o que pensariam. Eu guardava tanta dor e sofrimento, eu não aguentava mais tudo isso dentro de mim.

Eu sou só uma criança, eles não podem me pedir para viver longe de todos assim. Eu não suporto, sinto que a cada minuto o sofrimento me enche tão profundamente que posso me afogar em mim mesma...

Mas você tem de suportar, pelo bem de Anna e do reino, você é uma princesa amaldiçoada, e por conta desta maldição, você viverá isolada de todos, a menos que queira machucar, ou mesmo matar alguém. Você pode matar Anna então será livre e não terá mais razões para se lamentar.

Olhei estagnada para o chão, eu precisava me lembrar, me lembrar da razão de me trancar para o mundo. Eu machucava as pessoas, apesar de não ser a minha intenção. O meu sofrimento não importava de verdade, eu deveria ser perfeita. Devia me esconder de todos e jamais deixá-los ver a verdade dentro de mim. Após algum tempo agonizando com meus próprios pensamentos, eu finalmente abri os olhos. O estado em que o quarto se encontrava apavorou-me, sem querer eu havia congelado o tapete e tudo no chão ao meu redor. Levantei-me com uma exclamação surpresa. Se meu poder continuasse a crescer desta forma, em algum tempo nem mesmo minhas luvas poderiam contê-lo e então aconteceria o que eu mais temia. Abracei meu corpo e voltei em direção à janela, ela era a única visão que eu teria do mundo lá fora. Continuei encarando a neve que caía lá fora por um tempo, conformando-me com meu destino. Então, um pequeno pássaro branco com as pontas das penas azuis pousou no parapeito da minha janela. Olhei surpresa para aquele animal.

– O que está fazendo aqui amiguinho? Neste frio, você vai acabar morrendo.

Pensei um pouco sobre o assunto e acabei abrindo a janela, esperando que ele entrasse. Ele virou sua cabeça e com alguns pulinhos entrou no meu quarto. Fiquei olhando aquele animal tão lindo, maravilhada. Não conseguia entender como ele sobrevivera aquele inverno.

– Um sobrevivente solitário, não é? Como eu.

O pássaro piou alguns sons e acabou trazendo um leve sorriso para o meu rosto. Ele balançou as asas e alçou um vôo breve pelo meu quarto.

– Você também não pode sair, mas quando o inverno passar você voará para longe e será livre. Como eu desejo voar para longe com você.

O pássaro me encarou sem entender nada do que eu dissera, obviamente. Talvez ele fosse o único para quem eu pudesse me confessar. Ele se aproximou de mim, sem demonstrar nenhum medo. Eu receei um segundo, mas levei minha mão na direção da sua cabeça pequenina. Ele não recuou, então eu estendi minha mão para acariciá-lo. Por um segundo fui inundada por uma paz que não sentia há muito tempo. Dei um suspiro leve. Mas então o pássaro voou rapidamente para centímetros do meu rosto, ele piou alto. Com o susto levantei bruscamente minhas mãos para proteger meus olhos. Depois de alguns segundos, eu descobri meu rosto novamente, então eu vi horrorizada o que fizera. O pássaro não deu ao menos um pio de dor, mesmo ao ver que todo o seu corpo estava congelado. Juntei minhas mãos junto ao peito, eu estava de luvas, porque isso acontecera? Tentei estender meus dedos para pegar o pássaro, mas então percebi a razão dele não se mexer.

Não, o que eu fizera?

Afastei-me dele desesperada. Eu destruíra qualquer chance que ele tinha de ser livre quando chegasse a primavera. Eu destruía tudo, não pude me controlar nem mesmo diante de um ser tão frágil. Ver aquele pássaro caído no chão me lembrou de todos os temores que me preenchiam todo o dia. Você o matou, como pôde?

Você é um monstro... Monstro... Monstro... Monstro... Monstro... Monstro... E nunca deve se esquecer disso.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? ou não? Não importa o quê, mas me digam o que acharam, por favor.



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