P.O.V. Anna

É, tava todo mundo meio assustado com aquela profecia, mas cara, eu não devia ter ido dormir naquela noite.

No meu sonho, eu estava sozinha em uma sala escura, iluminada apenas pela luz de uma vela distante. Ao longe duas silhuetas desconhecidas gritavam comigo.

– Você está em meu domínio, dê o fora daqui imediatamente.

Eu teria ido embora daquele lugar assustador sem pensar duas vezes, mas o problema é que eu não fazia ideia de como fazer isso. Eu apenas me agachei e fiquei rezando para acordar antes que aquelas silhuetas chegassem mais perto.

Acordei desesperada e ensopada de suor, não podia sair do chalé daquela maneira. Tomei a decisão de não contar para ninguém sobre meu sonho(ou melhor, pesadelo), sabia que os sonhos dos semideuses tinham um significado, um algo a mais...

Não me leve a mal, ser uma semideusa filha de Hefesto era demais, mas tinha duas coisinhas que sempre me incomodavam. A primeira era que os novatos sempre reclamavam do barulho que os veteranos faziam no chalé na hora de dormir, estavam sempre inventando alguma coisa, ou batendo com um martelo em uma placa de metal... Não demorei muito pra me acostumar com isso. A segunda coisa era que sempre que alguma coisa era quebrada no acampamento, era um de nós que tinha que ir consertar e cá entre nós, isso já estava ficando meio chato.

Tomei um chuveirada antes de ir tomar o café, afinal estava toda melada por causa do suor. Quando finalmente saí do chalé, o acampamento estava totalmente desordenado, estavam todos falando da profecia da noite anterior.

P.O.V. Danniel

Tomei o café tentando ignorar todo aquele bafafá(eu sei que a expressão é esquisita) sobre a profecia do dia anterior. Pra falar a verdade, meu espírito até se acendeu ao ouvir aquilo, espero até que eu seja selecionado pra missão...

O resto do dia foi igualmente chato, passei quase o dia todo treinando luta corpo a corpo com meu amigo Jet, um menino do chalé de Hermes. Na verdade ele não é filho de Hermes, mas ninguém sabe de quem ele é filho, então ele fica por lá mesmo.

Por mais que eu o derrubasse, aqueles malditos óculos escuros não caiam de seu rosto, parecia que aquele treco estava colado no rosto dele ou alguma coisa assim.

– O que você achou da profecia? – Jet me perguntou tentando me derrubar da maneira mais patética possível.

– Não me diga que você também tá com medo... – respondi derrubando ele no chão de novo.

– Não é medo, é que isso tudo vai dar ruim, entendeu? – ele disse se ajeitando e sentando no chão mesmo.

– Como assim vai dar ruim? – eu estava tão ansioso que não conseguia entender o porquê dele falar assim.

– Pessoas vão morrer. – ele fez uma pausa, parecia que ainda estava tentando pensar no que dizer. – Por mais que a gente complete essa missão, pessoas vão morrer... E por isso não vai ser uma vitória aproveitada.

Eu realmente não tinha parado pra pensar nisso. Aquelas palavras faziam muito sentido e eu fiquei pensativo por longos segundos.

– Bem... Eu não vou morrer! – falei de uma vez, mas depois percebi o quanto fui insensível.

– Vamos embora daqui, já cansei de apanhar. – ele disse ignorando totalmente o que eu tinha dito antes.

Éramos amigos há tanto tempo que Jet já sabia que as vezes eu falava sem pensar, ele apenas ignorava e partia pra próxima, e é isso que eu mais gostava nele.

Ele se levantou e saímos da Arena. Eu sempre ficava um pouco desconfortável do lado por ele ser muito alto, mas tentava não pensar nisso. Fomos direto para a praia onde soltavam os fogos, precisávamos de tirar aquele cheiro do corpo.

P.O.V. Maya

– Eu quero ordem nesse chalé – disse com a voz dura – Nenhum de vocês vai sair daqui sem que o chalé esteja tão limpo que eu possa ver meu reflexo nas paredes de mármore!

Não me leve a mal, talvez eu seja a pessoa mais selvagem de todo acampamento, mas se as harpias da limpeza reclamarem para Quíron do chalé de Ares de novo, eu juro que mato todos os meus irmãos. Por ser a conselheira do chalé, acho que eu meio que tenho que tomar as rédeas da situação, por isso passamos o dia inteiro limpando a bagunça(o que era bem impressionante, já que a maioria de nós só estava no acampamento desde ontem).

No final das contas, o chalé ficou tinindo.

– É bom vocês deixarem assim, se não eu vou arrancar a cabeça de cada um de vocês! – falei impondo medo e saindo do chalé para o jantar.

Comi um hambúrguer de bacon bem gorduroso dando mordidas bem lentas pra provocar as filhas de Afrodite, eu fazia isso toda noite e adorava ver a reação delas, faziam carrancas ou ficavam com a boca aberta. Sei que no fundo, o que elas mais queriam era estar no meu lugar.

Logo depois das oferendas eu fui pra reunião dos conselheiros que Quíron tinha marcado. Ele parecia muito bolado por causa da profecia, então decidi chegar na hora pra variar.

Tava todo mundo lá, inclusive aquela cabeça de onça(ou será que era um tigre) que eu nunca me lembrava o nome. A gente se sentou e Quíron começou a falar.

– Hoje passei o dia em conferências com os deuses – a voz dele estava um pouco tensa, na verdade não o culpo por isso. – Trago boas e más notícias.

Quíron parou de falar e começou a andar de um lado para o outro, enquanto nós, campistas, ficávamos esperando o velho centauro tomar alguma atitude.

– Desembucha Quíron! – explodiu Diggory, o conselheiro do chalé de Atena. Ele tinha os famosos olhos acinzentados dos filhos de Atena, mas as semelhanças paravam por aí. Claro que ele era um menino inteligente e tudo mais, mas não parava de aprontar, esse era dos meus.

– Passei o dia em uma conferência com os deuses – ele começou a frase repetindo o que ele já tinha falado antes, isso me irritava um pouco – Ainda não temos certeza do que estamos enfrentando. Mas fizemos uma estimativa, temos por volta de dois meses pra completarmos a missão que a profecia designa.

– Então não temos com o que nos preocupar, dois meses é muito tempo. – Era Danniel, ou Dan como gostava de ser chamado, o conselheiro do chalé de Zeus. Seu cabelo preto combinava muito com seus olhos azuis elétricos, se não estivesse sempre despenteado as meninas dariam em cima dele o tempo todo.

– Não é bem assim, Dan... – o centauro disse com uma voz triste, enquanto se aproximava da mesa onde todos estavam sentados. – O mal que vamos enfrentar dessa vez é diferente de qualquer mal que qualquer herói já ousou desafiar. A profecia diz que metade acabará no Tártaro, enquanto os outros procurarão por um deus que TALVEZ encontrem.

A ênfase que ele deu naquela palavra deixou todo mundo inquieto. Acho que ninguém tinha realmente se tocado que alguém ia parar no Tártaro...

– Quem vai? E quando partirão? – perguntei quebrando o silêncio.

– Ainda não tem nada certo. – Quíron disse preocupado. – A escolha será feita em um momento mais oportuno. Provavelmente a partida será no domingo, então... Só estejam preparados, tudo bem?

Todos assentimos, e voltamos um tanto desanimados para nossos respectivos chalés.

P.O.V. Kristen

Foi a reunião de conselheiros mais curta de todos os tempos, sem contar que na maioria do tempo estavam todos em silêncio.

Quando cheguei no chalé 13 minha irmã, Mariane, já estava dormindo. Decidi não acordá-la pra falar as poucas coisas que tinham sido faladas naquelas reunião, mas sim acompanhá-la num soninho gostoso. Acontece que não foi assim tão bom.

Estava em um lugar muito frio, tinha neve pra todos os lados e um menino falando alguma coisa comigo. Não dava pra entender direito porque o casaco estava tampando a boca dele, talvez alguma coisa ligada a salgadinhos.

Foi aí que o sonho virou um pesadelo.

Diversos esqueletos se levantaram do chão e nos cercaram em um beco. Normalmente eu não teria medo de esqueletos, afinal sou uma filha de Hades, mas por algum motivo eu estava apavorada. O menino segurou minha mão e eu a apartei com força, e enquanto um sabre atravessava seu coração, minha visão ficou turva e caí no chão desacordada.