Assim que saímos da cefeteria, percebemos que uma chuva gelada e fininha havia começado. Como minha casa era na esquina dali, deu para ela engrossar a tempo de nos molhar até demais. Meus cabelos pretos ficaram encharcados, minha pele, aliás, meu rosto, a únida parte não coberta minha, havia ficado muito gelado, a água não estava agradável, naquele frio. A Bel, ficou muito molhada também, chegamos enxarcados na minha casa, tive que oferecer para a Bel e o Dan um banho quente antes do filme.
–Vocês gostariam de tomar um banho quente? -Eu, perguntei, meio sem graça, sei lá, mais pelo Daniel mesmo. -É que, se não vocês podem se resfriar.
–Não, não, imagina Luce, estou bem. -O Dan logo se precipitou.
–Dan, dessa vez não posso deixar que você ganhe, você pode ficar doente e isso é sério, não fique tímido por favor, tome um banho. Vamos te esperar na sala e depois nós vamos, ok? -Tive que convence-lo, ele pagou para nós um café, ele foi gentil e amigo, agora eu tinha que retribuir.
–Ah, eu não posso, que tal eu não passo em casa e depois volto aqui? Estamos sendo babacas, afinal, eu sou seu vizinho. -Ele disse, com ar de deboche.
Ok, eu tinha me esquecido desse detalhe, fiz papel de idiota, mas, ele estava certo. Ele era meu vizinho, era o mais correto a fazer. Iria ser constrangedor.
–Ah, claro! Tinha me esquecido desse detalhe, com certeza é uma opção melhor. -Concordei.
–Então tá, nos vemos mais tarde. Agora é 13:43, te vejo 14:43 então ok? -Ele marcou.
–Tudo bem. -Falei.
–Ótimo. -A Bel concordou.
–Mal posso esperar para daqui á uma hora, tchau meninas. -Ele disse abrindo o maior sorriso, até pareceu que ele ia rir, mas se conteu.
Ele nos deu um abraço e saiu. Senti meu coração dar um pulo maior, ele mal podia esperar para me ver novamente, aliás, para nos ver. Eu também.

Resolvemos tomar um banho também e já aproveitar e ficar mais bonitinhas, para o nosso filme. Eu iria escolher um da minha coleção mais tarde, o meu preferido, como ele tinha sugerido. Enquanto uma tomava banho, a outra esperava sentada no chão do benheiro, e vice-versa, enquanto isso, conversávamos:
–É, o Daniel parece ser um cara bem legal. -Mas só passamos um pouco tempo juntos, mal sei do garoto. - A Bel concluiu.
–Bem, quer conhecer ele rápido? -Perguntei.
–Pode ser, mas quem parece ter se interessado nele mesmo é você, você olha para ele de um jeito... -Ela debochou de mim.
–Ei, não é verdade, mas enfim, se quer saber mais sobre o garoto leia as minhas mensagens com ele, meu celular está no bolso do meu shorts aí no chão.
Ela pegou meu celular e começou a ler meus SMS'S em voz alta não sei por que:
–Você: Oi, ta aí? Daniel: To sim, no tédio? Você: Sim, e a mudança? Daniel: Era pouca coisa, já terminaram de arrumar. Você: Daniel, se você é meu vizinho, por que estamos conversando por SMS? Daniel: Por que é tarde Luce, quer sair na rua? Eu topo olhar as estrelas. Você: Ah, é. Eu também toparia, se eu pudesse. Daniel: É, pois é. Você: Hum, e aí, o que tá fazendo? Daniel: Observando a minha estante de livros e conversando com você. Você: Ah, legal, ela é muito grande? Daniel: Digamos que sim. Lucinda, aquela sua amiga, a Bel né? Ela vai junto amanhã no almoço? Você: Vai sim, por que? Daniel: Ah, por nada, deixa. Quer tomar um café? Você: Como assim? Daniel: Ah, você toma aí, e eu aqui. Mas ambos tomamos café, no caso tomamos café juntos. Você: Acho uma má ideia. Daniel: Por que? Você: Ah, não sei. Só acho. Daniel: Ah. Estou logo aqui ao lado, se precisar. Você: Para que? Daniel: Companhia? Você: -Aí, Luce, essa conversa é muito longa, não vou ler tudo.
–Ok, nem sei por que lia em voz alta mesmo. -Falei, sem importância.
–É, nem eu. Ah, quer saber, acho que ele gostou de você, e você dele. Vou ir para casa e deixar vocês dois vendo um filme á sós. -Ela falou, convencida.
–Ei, não, espere. -Chamei-a. Não podia deixá-la sair assim.
–O que Luce? Você não gostou? -Ela me olhou, confusa.
–Sim, mas, eu não sei, né, vem, toma um banho primeiro, aí o que eu vou dizer para ele? -Falei indecisa, mas eu realmente gostaria de um tempinho sozinha com o Daniel.

Eu não sei por que, parecia que dez de a primeira vez que o vi, senti algo maior por ele do que parecia, era alto intenso, e que a cada palavra, cada olhar, aquele sentimento se aprofundava, parecia que, parecia que eu já tinha vivido aquilo, e que agora o sentimento teria voltado, e se aprofundado, mas eu tenho certeza, nesta vida, eu nunca o vi.
–Olha Lu. -Ela falou carinhosa. -Sua mãe chega ás nove da noite né? Vocês podem tirar a tarde para se conhecer, brincar na neve, tomar chocolate quente, e não ficar se paquerando por olhares e SMS'S, sei que eu ia atrapalhar. -Ela falou. -Só quero que você fique um tempinho com ele, e se um dia vocês ficarem juntos, quero os meus agradecimentos.
– Ok, pode ir, mas você vai tomar banho antes e me diz a desculpa que eu vou dar para ele. -Me convenci.
–Tá maluca? Olha a hora, vou tomar banho em casa, não se preocupe é pertinho e o sol está á raiar. A desculpa é: a mãe da Bel chamou ela para casa, ela teve que ir ajudar na limpeza. -Ela disse decidida. -Beijo, tchau, me liga.
Ela saiu porta afora, e como eu estava nua e molhada, não pude fazer nada, só posso a dar a desculpa inventada por ela mesmo e depois ligar.
Assim que eu saí do banho, escolhi uma blusa de manga comprida branca básica, para colocar por baixo de uma lãn rosinha claro com detalhes pretos. Em casa, como era quentinho, dava para ficar sem casaco. Coloquei um perfume importado francês, sequei e penteei meus fios, enrolando meus cachinhos negros. Coloquei meu tênis all star básico, da cor preta, novo, e quando olhei o relógio, era 14: 37. Havia tempo.
Depois de uns minutos, ouvi a campainha, levantei do sofá e olhei a hora, atrasado, 14: 59. Mas não importava. Abri a porta e encontrei ele ali, atrás dela.Sem querer no meu rosto, um sorriso enorme se brotou, eu não pude conter.

–Oi, Dan. -Falei lançando-o um olhar. -Preparado para o filme?
–Oi Luce, sim, até trouxe pipoca. -Ele sorriu. -Ahn, onde está a Bel?-Ele falou, me abraçando, senti o cheiro de seu perfume, o melhor que eu já tinha cheirado.

Seus cabelos loiros estavam molhados e um pouco puxados para o lado. Seu sorriso estava mais branco do que nunca. Ele vestia por cima de uma lân, uma jaqueta jeans preta, parecia que ela estava cheia, no canto, ele trazia algo com ele. Assim que analisei o resto, vi que usava uma jeans e um all star, exatamente como eu.
–Ah, a mãe dela a chamou, hoje é dia de limpeza na casa dela, sabe como é. -Eu minto mal, mas esperava que o convencesse.
–Ah, que pena, eu gostei dela. -Ele fez cara de pena. -Mas vamos nos divertir.
–Claro, a casa é toda nossa. -Só depois de um tempo, fui perceber o que parecia. Ele me lançou um sorrisinho e um olhar profundos, eu não tive coragem de retribuir, mas acabei deixando escapar uma risadinha.
–Ok. -Ele entrou. -Posso me sentar?
–É claro que pode. - Ele se sentou no sofá, logo depois eu me sentei.
Fiquei perdida em seu olhar, que apontava diretamente para mim, eu tenho certeza que estava corando. Me veio á pele um sentimento, muito forte, muito grande, eu o sentia, e acho que ainda sinto. Uma lembrança me pegou desprevenida. Nós dois juntos, em um lago, ele nadava, eu também, depois tivemos uma conversa, não me lembro das palavras mas lembro que senti algo ruim, a conversa não estava boa, ele levantou e depois, sumiu entre as árvores que tinham ao redor.
–Então, que filme vai ser? -Ele apontou para a TV.
Ele me despertou da lembrança, quer dizer, da imaginação, é claro.
–Ah, é claro, vou lá em cima buscar. -Me aprontei.