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Pov’s Peter:

– Ah, não Julie, espero que não seja o que eu estou...

– Ah é sim meu bem. – ela me beijou na bochecha – Hoje, logo antes da saída. Ok?

– Não sei...

Então era isso, ela ia aprontar como eu imaginei. Ela ia fazer o de sempre, recepcionar de um jeito marcante, uma coisa que eu nunca admirei na Julie era como as brincadeiras dela eram pesadas. Tanto pro emocional quanto.

E dessa vez, seria a gota d’água literalmente falando.

Depois que o sinal pra entrar na sala de aula tocou o sinal eu já ia virando quando vi a silhueta da Rosalie na porta, decidi entrar sem olhar pra ela afinal, ela não foi muito com minha cara mesmo. Era aula do Senhor Barriguinha. Ou Philips. Mas chamamos ele de barriguinha porque... Bem, ele tem uma “barriguinha.”

Apresentação dos calouros como sempre, e a Rosalie foi a segunda depois do James.

– Me chamo Rosalie Tames, tenho quinze anos, vim direto do – ela falhou nessas palavras e eu a encarei – da clínica de reabilitação de Ravenwood há um ano.

A sala inteira começou a rir e eu fiquei sério, não vi motivos pra rir, até a Julie me cutucar.

– Anda.

Ela disse e eu dei um pequeno sorriso.

Depois de cinqüenta minutos de aula:

– Encerramos.

Como sempre vi a Rosalie ser uma das primeiras a sair, não fui falar com ela.

– Você viu a cara dela de tipo “ai que vergonha meu Deus.” – o Vince ria pondo as mão na cara.

– Ou não, a vez que ela falou da reabilitação. “Ai meus pulsos.” – Dessa vez era o John.

– Ah gente, ela deve ser uma problemática. Não acha Peter?

Eu não entendia, por que me importar tanto como eu estava fazendo, não conseguia fazer da Rosalie mais uma das nerds que eu atormentava, ela era diferente, ou algo nela era diferente.

Meus pensamentos ficaram muito vagos, quando me acordei do transe quando vi que um armário tinha pulado do seu lugar, na parede.

– O que?

A Julie tinha dado um pulo de susto e olhou pra mim.

– O que? O que aconteceu? – perguntei.

– E eu vou saber? Talvez deva estar com defeito – ela chutou o armário – Vamos, a surpresa está prestes a começar.

Olhei mais uma vez para o armário e ele se mexeu, bem eu havia causado aquilo, não estava nem ai. Eu ainda não sei controlar meus poderes mesmo.

Dei de ombros.

A cantina estava cheia, várias pessoas, e o espetáculo ia ser grande. Como a Julie e o Vince haviam me contado, usaram a Taylor para distrair a Rosalie, o que estava indo bem. O John estava do outro lado com o balde quase cheio, e eu fui até ele.

– Tem certeza disso? – falei.

– O que há gostosão? Vai amarelar é? – ele riu sarcasticamente o que me deu muita raiva.

– Não. Só quero saber se isso não vai dar bronca com o diretor.

– E desde quando você se importa Peter? Olha só Julie, o carinha aqui ta com medo.

Ela vinha desfilando e eu me encostei numa coluna.

– Espere só até a Taylor dar o sinal, assim que ela levantar a cabeça você corre lá John, entendeu?

– Sim senhorita.

Dito e feito. A Taylor levantou a cabeça na mesma hora que a Rosalie se levantou, e a cena depois foi de pura pena. Ela estava encharcada com a água da pia da cantina.

A Rosalie se virou pra mim e a Julie me cutucou pra sorri, ela surtou, saiu correndo sem nem esperar ajuda – se é que ela ia receber – e eu me virei para a minha namorada.

– Você ta maluca? Se ela contar pro diretor estamos fritos.

– Ah Peter, deixa isso pra lá, foi divertido. – ela ainda gargalhava...

– Eu vou tratar de umas coisas ali Julie, não me espere.

– Espera... Peter. PETER.

Ouvi ela me chamar, mas ignorei completamente. Fui até a mesa que a Rosalie estava e peguei a mochila dela, tentei fazer o trajeto que ela fez, daí a chuva começou.

Provavelmente eu estava nervoso.

Muito nervoso.

Andei um pouco todo molhado, tentei proteger a bolsa dela embaixo da minha, estava funcionando.

“Se eu fosse uma garotinha assustada pra onde eu iria...?”

Pensei comigo mesmo, e segui pra um lugar aonde normalmente ninguém ia, instinto.

E o instinto estava certo.

Ali, naquele mesmo banco, eu a encontrei chorando. Sentada e se afundando na lama. Segui devagar sem tentar ser visto, falhei.

Ela nem levantou o rosto e gritou.

– VAI EMBORA DAQUI. ME DEIXA EM PAZ, JÁ NÃO BASTA O QUE ACONTECEU? VAI QUERER ME HUMILHAR MAIS?

O choro ficou alto, e meu nervosismo aumentando.

– Ei, calma. Vim te trazer a bolsa...

Dei a bolsa a ela que levantou o rosto e assim que me viu se assustou e jogou a mochila longe.

– Me deixa... Por favor... Eu não fiz nada... A ninguém...

Deixei-a falar e fui chegando mais perto. Ta bem que se alguém visse aquela cena nunca mais falaria comigo, mas algo me dizia que eu tinha que fazer aquilo. Tinha.

– Por que está me ajudando? Vai ser que nem a Taylor? Dessa vez um balde de tinta?

– Garota por que é tão difícil acreditar que eu posso ser uma pessoa legal?

Ela ergueu os olhos e limpou as lágrimas. Mas ainda chovia.

– Suas perguntas são muito idiotas.

– Talvez... – me sentei junto dela – Se você me dissesse por quê?

– Não devo satisfações.

Ela se levantou e pegou a mochila e ia direto pra estrada. A segui.

– Se quiser pegar carona, tenho uma péssima notícia.

Ela virou furiosa.

– E qual seria uma pior que essa?

– Os ônibus não passam mais essa hora.

Passei a mão no cabelo e fui mais perto da Rosalie.

– Conheço um atalho.

– Não, prefiro seguir meu caminho.

– Tem certeza?

– Dá pra tentar não me ajudar? Sei que isso vai dar em merda, então não quero depender de você.

Ri alto pra ela.

– É sério, por favor, posso te ajudar só uma vez? Será um presente de aniversário.

Ela me fuzilou com o olhar.

– Minha mãe disse que não devo falar com estranhos.

– E a minha mãe disse trate o próximo como gostaria de ser tratado.

– Eu acho que quem disse isso foi Deus.

– E eu acho que quem disse isso foi a mãe da Chapeuzinho Vermelho.

Pela primeira vez, a Rosalie Tames sorriu.