Sweeter Than Fiction escrita por Pérola


Capítulo 3
Capítulo 2 - A Escola Nova.


Notas iniciais do capítulo

"... Mas eu não vou esperar muito mais porque as paredes estão desabando..."



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****

Pov’s Peter:

Não olhei para trás assim que sai de casa.

Ainda ouvindo os gritos da minha mãe a chuva estava forte. Iria correr o mais rápido que pudesse pra pegar o ônibus.

Tive que correr mata adentro pra cortar caminho, ta na cara que eu não ia demorar cinco minutos embaixo daquela chuva apenas para abrir um portão de seis metros de altura – calma eu posso ter exagerado – então, se eu passasse pela mata eu poderia pular o muro de sempre.

E foi o que eu fiz, pulei já chegando à beirada da estrada, um vislumbre amarelo. Era o ônibus. Pedi parada, assim dito, assim feito.

O motorista carrancudo começou a reclamar que eu o assustei que eu quase fiz ele escorregar na pista, que eu fiz isso e aquilo e blá, blá, blá. Sorri achando graça e assim que entrei ouvi a voz do Vince, algo sobre uma nerd e a Julie.

Andei até ele e o motorista pisou no freio de uma vez só, senti um choque na minha perna, uma dor, mas contive o grito. Algumas imagens passaram pela minha frente, uma mulher correndo, casas pegando fogo. Acordei ouvindo um grito.

– Ei, ei garota! – falei me afastando com dificuldade da menina que gritava.

– Ei o que? Vai me zoar agora como seus amiguinhos? Ah, me poupe cara. – ela falou alto comigo.

Limpou o braço na calça – provavelmente havia sentido a mesma coisa que eu - e se levantou pra ir ao banco da frente, naquele momento ela bateu no meu ombro, não senti nada, apenas um leve empurrão.

– Ui, que estressadinha.

Levei as mãos ao alto e fui até o Vince. O Vince era um cara gorducho de bochechas rosadas, ele era bem valentão e vivia de olho na minha namorada, a Julie. Desde a quarta série.

– Quem era aquela? – disse jogando minha bolsa no banco a minha direita.

– Rosalie Tames. A nerd que eu te falei, vamos zoar ela o ano todo cara, vai ser demais.

Rosalie Tames... Esse era o nome, mas... Pra que me preocupar? Hump’f.

– Nerd? Sério? Não parece. – olhei para onde ela estava sentada.

Tinha o cabelo longo e castanho, uma cor parecida com a minha, porém mais clara.

– Você vai ver só, o quanto ela é nerd.

Meu celular tocou, mensagem da Julie.

“Ah, bebê, espero que não tenha esquecido o nosso encontro ok? Te vejo ás sete beijinhos :*”

– Odeio quando ela me chama de bebê. – joguei o celular na bolsa molhada.

– Aww. Meu baby quer colinho? – era a vez de o John me zoar, rimos alto com isso.

Cinco minutos depois a parada para o colégio Herbert Carlo, o renomado colégio de Ravenwood, um nome esquisito pra uma cidade não acham?

Corri os olhos pelo gramado do colégio, procurando a Rosalie, não tinha visto ela descer do ônibus.

– Vamos cara, a Julie ta ali.

O Vince ia me puxando, os grupos ali eram divididos em, nerds, normais, solitários e populares. Eu me encaixava no “populares” de acordo com a Julie. E falando nela...

– Meu pequetucho! – ela vinha correndo em minha direção e me deu um beijo.

– Oi Ju!

– Bebê você sumiu. Estava maluco? Depois daquele acidente perdi meu contato com você.

Ela balançava o celular numa mão enquanto mexia numa mecha do cabelo preto.

– Desculpa, é que eu meio que fui proibido de sair de casa, sabe, segurança e tal. – tentei enrolar ela, o que funcionou, ela nunca fora inteligente mesmo.

– Então está bem! Vamos recepcionar as pessoas novas, e ah, eu soube de uma garota que faz aniversário hoje. Que tal uma surpresinha? – ela tinha um sorriso maléfico com cara de “hoje vou aprontar.”

Dei de ombros e a Julie me arrastou até as outras pessoas. O sol começou a surgir, sinal de que eu estava me recuperando.

[...]

O sinal tocou, hora de abrir os portões da Herbert.

Os corredores ainda eram os mesmos, os armários ainda eram os mesmos, tudo ainda estava em perfeita ordem. Ainda.

Meu armário ainda era o mesmo, ufa. E longe da Julie. Ufa de novo. Claro ela é minha namorada, mas... Não gosto de estar com ela sempre. Guardei meus livros, úmidos, ali num canto. E achei incrível como minhas figurinhas do Homem-Aranha ainda estavam ali desde a quinta série. Não queria arrancá-las, eram lembranças.

Fechei a porta e tomei um susto ao olhar pro lado.

– Ah não. Você? – a Rosalie estava ali.

Agora eu podia vê-la bem, olhos castanhos claros, bochechas rosadas, ela era da minha altura, e pálida.

– Algum problema comigo? – sorri sem entender.

– Ah nenhum... – ela foi sarcástica – Só o de que você é amigo do Vince? Você é um deles? Você é um idiota? Nada demais.

– Ei, ei. – ela foi longe demais – Você não me conhece pra falar assim comigo.

– E precisa?

A Rosalie se virou e saiu andando com um livro embaixo dos braços. Fiquei calado, não falei mais nada, e nem iria. Não vou me misturar com gente desse tipo mesmo. Me virei e encontrei a Julie, hoje era o dia.

– Bebê, vi que você conheceu a novata, e a aniversariante.

****

Pov’s Rosalie:

Depois de ouvir aquelas risadas altas no ônibus, discutir com um cara que eu nem sei de onde surgiu, esse era meu aniversário. Parabéns para mim!

Desci correndo do ônibus, não queria ser vista por ninguém que me atormentasse até a hora da entrada no colégio. Fui até um lugar mais distante, não tinha muitas pessoas ali, que ótimo. Fiquei sentada lendo, mas não me concentrei direito.

Eu ouvia os meus gritos depois do choque. Eu via os olhos do Peter, e eu ouvia umas vozes que não fazia sentido nenhum.

Abri meu caderno pra tentar esquecer.

“... E eu espero um momento que você se lembre de mim...”

Só mais uma de tantas frases rabiscadas na última folha do caderno.

Ouvi o sinal tocando, andei sem a mínima vontade naqueles corredores. Armário 65. Estava no meu panfleto. Ótimo, várias pessoas ali. Combinação simples, 1991. Achei coincidência ser a data do aniversário de casamento dos meus pais. Dei de ombros e fui guardando minhas coisas.

Separei meu livro e meu caderno. Fechei a porta e dei de cara com o Peter. Droga, ele seria meu “vizinho”.

– Você? – disse sem nenhuma vontade de viver.

– Algum problema? – ele disse sorrindo como se aquilo fosse a coisa mais simples do mundo.

– Ah nenhum... Só o de que você é amigo do Vince? Você é um deles? Você é um idiota? Nada demais. – disse cruzando os braços e me preparando pra sair quando ele retrucou dizendo que eu não deveria falar assim com ele.

– E precisa?

Disse e sai sem esperar resposta. Pela primeira vez na vida eu tive coragem de enfrentar alguém daquele jeito.

Eu virei à esquerda e... Sala 1 – Secretaria.

Alguns pais estavam ali sentados de cara pra cima quando abri a porta, eu teria que falar com a secretaria e pedir o número da sala de aula.

– Com licença? – disse pra uma moça de óculos.

– Ah, você é a Rosalie não é? Sala oito.

Ela não havia esperado resposta e eu fiquei boquiaberta.

– Ah... Sim, é... Claro, obrigada. – ela me entregou uma ficha com o meu horário.

Sai da sala olhando o papel. Sala Oito.

Aquela escola parecia um labirinto, eram tantos corredores que eu estava perdida.

Sala seis... Sala sete... Sala Oito.

Até que enfim, só tinha umas três pessoas ali, uma menina ruiva com um coque, de óculos e saia longa, sentada na terceira cadeira da segunda fileira. Um garoto mais velho – bem mais velho – Sentado atrás segurando umas bolinhas de papel e por fim um garoto baixinho sentado bem em frente à mesa do professor.

Preferi ficar sentada na primeira fileira, segunda cadeira.

Estava lendo quando a ruiva veio até mim e se sentou na minha frente.

– Prazer, eu me chamo Taylor Moore e você deve ser a Rosalie...

– Tames! – disse a ela com um sorriso forçado no rosto.

– Ah, claro. Como eu poderia ter esquecido. Bem, Rosalie, seu primeiro dia aqui não é?

– Sim.

– Não fique acanhada, se você tiver uma boa participação aqui você poderá se dar bem com as outras pessoas.

– Não posso. – disse a Taylor – Algumas pessoas aqui me conhecem como uma esquisita desculpe, eu não vou mudar quem eu sou pra me tornar um desses...

– Populares? – ela completou - Ah Rosalie, você é tão linda, não tem como ser esquisita. Já viu o Peter? Aquele sim é um esquisito. Sempre que ele ta de mau humor chove.

Eu não contive o riso.

– Você é uma pessoa legal, Taylor. Eu achei que iria vir aqui pra me atirar pedras.

– Que nada! Eu gosto de recepcionar as pessoas.

Ela piscou pra mim e voltou pro lugar de onde veio, achei que isso já era um bom começo. Uma amiga. Taylor Moore tinha que decorar esse nome.

[...]

Mais um toque do sinal e as pessoas começaram a entrar. Eu ia julgando cada uma pelo pensamento.

“Um eu. Um eu. Um chato, um popular, um chato. Outro eu. Uma legal... Ah não, é um eu.”

Um eu, um como eu. Um da minha espécie como diziam na outras escola.

Um normal... Olha, nunca vi uma solitária. Um eu... Ai que merda, o Peter.”

Já não bastava o corredor agora era a sala de aula. Que legal meu dia. Ele passou por mim, mas não me olhou, e eu virei à cara pra frente.

Ouvi uns gritinhos e olhei para trás, o cara com as bolinhas de papel jogou todas no Peter. Um popular. Bufei. O professor entrou na sala e escreveu bem grande no quadro: Sr. Philips – Filosofia.

A aula foi longa, algumas apresentações dos novatos – sim, eu me inclui ai – Foi estranho falar para a sala toda, eu fiquei de cabeça baixa enquanto outros riam, apenas a Taylor parecia normal... E o Peter. Ele não tirava os olhos de mim, o que me irritou mais. Sentei-me e esperei o intervalo e a saída. Glória. Era a hora. Peguei uma bandeja e pus algumas das comidas – se podem chamar aquilo de comida – no meu prato. Sentei-me na única mesa vaga ali por sinal. Iria comer rápido o bastante pra poder ir para casa.

– Olá de novo, Rosalie. – a Taylor se sentou na minha frente.

– Oi Taylor! – engoli a comida que ainda descia.

– Então... – ela mordeu o sanduíche que queijo – O que vai fazer depois da aula?

Agora eu havia percebido que ela tinha soltado os cabelos ruivos, longos como a saia e lindos, os meus não eram nada comparado com os dela.

– Vou pra casa estudar!

– Estudar? Ah, não. Que tal ficar um pouco comigo? – ela riu.

– A gente deixa pra outro dia, Taylor.

– Que pena. – ela abaixou a cabeça e mordeu de novo o sanduíche.

– Seus cabelos são naturais mesmo? – confirmado, eu era péssima em fazer amizade.

– São sim. – ela riu – Lindos não é? Minha família toda é ruiva.

– São mesmo!

Ficamos um pouco em silêncio, quando eu me levantei pra ir embora.

– Já vai Rosalie? – ela se levantou junto comigo.

– Sim, tenho muita coisa pra fazer...

– Mas espera. Antes quero te dar uma coisa.

– O q...

Foi naquela hora que eu percebi que eu não me encaixava em lugar nenhum. Eu não tinha acabado de falar quando caiu sobre mim um balde de água fria. Não enxergava nada além de pessoas rindo de mim. Senti-me tão pequena quanto uma formiga, tão humilhada quanto qualquer um, era só o meu primeiro. Primeiro dia. De aula. É sério que eu precisava disso.

– PARABÉNS PRA VOCÊ... – as pessoas gritavam, mas como sabiam disso?

Eu acreditei na Taylor... Eu acreditei que ela poderia ser minha amiga e me ajudar em tudo ali.

Mas era só armação. De todos. Virei e vi o Peter sério encostado em uma coluna, uma garota ao seu lado ria loucamente e o cutucou para que fizesse o mesmo, assim como todas as outras pessoas.

Não aguentei mais ficar ali e corri. Corri o mais rápido que eu pude. Para longe. Para fora. Para o nada. Do jeito que eu estava.

Ainda ouvia uns murmúrios enquanto passava do corredor para fora. Passei dos limites do colégio, até um lugar isolado. Onde só havia árvores e um banco, onde eu me encostei, gritei para mim mesma:

– VIU ROSALIE TAMES, ESSA É A SUA VIDA ESSE É O SEU ANIVERSÁRIO. PARABÉNS SUA IDIOTA QUE QUIS CONTINUAR VIVA.

E chorei.


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Notas finais do capítulo

Sim gente. Mais um ai pra vocês *u* Tadinha da Rosalie não acharam? Fui muito mal? Bem, desculpem se eu escrevo os Pov's do Peter muito curtos, eles vão aumentar heuhe. Deixem Rewies se curtiram meu capítulo :3 Agradeço desde já *3*