O alarme do celular da Mônica tocou. Eram seis horas da manhã. Ela, que estava coberta até a cabeça, murmurou algo semelhante a palavrões. Seu braço saiu de baixo da coberta branca e tateou o criado mudo até achar o maldito e celular. Ela o desligou.

O quarto dela era um cômodo com paredes cor turquesa e com uma janela relativamente grande do lado esquerdo da cama. No lado direito ficava a porta. Acima da cama havia uma prateleira comprida repleta de livros, lembrancinhas e, na ponta, um coelho azul de pelúcia. Ela se levantou e se arrastou até o guarda roupa à procura de seu uniforme: Uma blusa de manga curta de cor branca em cima e que em degradê tornava-se vermelho em baixo. Ela pegou a blusa, uma calça jeans preta e um casaco leve de lã e também de cor preta.

Após ter tomado banho ela se vestiu e se maquiou. Tomou um rápido café da manhã e saiu trancando a porta. Já havia se tornado um ritual. Às vezes por força do hábito ela mal se dava conta daquilo que estava fazendo.

Ela atravessou o corredor e desceu as largas escadas em forma de espiral. Três andares depois chegou na recepção: Uma sala ampla rodeada de janelas com um enorme sofá rodeado de pufes e com um balcão de atendimento (agora vazio) à frente. Após se sentar no sofá ela pegou o seu celular, discou um número e levou ao seu ouvido.

— Oi. Aham... Tô aqui em baixo. Ok... Tchau Cebola.

Cebola, ou Leonardo, era o garoto do quinto andar (um acima de Mônica) que morava com os dois pais e a irmã mais nova, Maria Gabriela de dez anos. Eles se conheciam desde a segunda série e viviam no mesmo condomínio desde a quinta quando a mãe da Mônica se divorciou do pai dela e as duas passaram a viver sozinhas. Leonardo recebeu o apelido de "cebola" pelo fato de que quando era pequeno sempre voltava da escola com os cabelos desarrumados o que lembrava a raminhos de cebola.

Apareceu então, descendo as escadas, Magali, do terceiro andar. Ela morava com os dois pais e o gato de estimação. Quando a mãe de Mônica, amiga de infância da mãe de Magali, disse para esta muito bem do condomínio onde morava, ela não pensou duas vezes e se mudou.

— Bom dia Mô!

Mônica se levantou e as duas se abraçaram

— E aí, estudou pra prova de Inglês?

— Cheguei a pegar no livro, mas acabei dormindo na segunda página...

— Bom dia garotas!

As duas se viraram e viram Cascão e Cebola já bastante próximos.

Cascão era o melhor amigo do Cebola. Os dois sempre moraram no condomínio. Ele conhecia a Mônica e a Magali a tanto tempo quanto o Cebola. Não tinha irmãos e morava no quinto andar ao lado do amigo junto com os seus pais. Ele sempre chegava do futebol coberto de lama, o que irritava um pouco a sua mãe, o que inspirou o seu apelido "cascão", que ficou até hoje.

— Bora? — Indagou Cascão.