Semana Cultural do Santuário escrita por Chiisana Hana


Capítulo 2
Capítulo II




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SEMANA CULTURAL DO SANTUÁRIO

Chiisana Hana

CAPÍTULO II – PRIMEIRO ENSAIO

No dia combinado, o elenco de “Édipo Rei” reuniu-se na sala do Grande Mestre, exceto o “ator” principal.

– Onde está o Seiya? – Dohko perguntou. A turma já esperava por ele havia mais de meia hora.

– Provavelmente dormindo, Mestre – entregou Hyoga.

– Vá buscá-lo agora! – ordenou Dohko. Depois riu, pois já esperava isso do cavaleiro do Pégaso.

Hyoga voltou pouco tempo depois, trazendo o amigo descabelado, remelento e confuso.

– Que bonito! O senhor sabia que eu tinha marcado o ensaio! –Dohko ralhou.

Seiya esfregou os olhos e bocejou longamente.

– É, mas eu perdi a hora, ‘sacomé’.

– Não ‘seicomé’ nada. Estudou o texto?

– Ehr... um pouco... é que é meio... chato... na verdade, chato pra caralho.

Dohko revirou os olhos. Dava pra ver que teria muito trabalho com Seiya, mas ele não era de desistir. Tinha aceitado o desafio e estava determinado a fazer do cavaleiro um Édipo perfeito.

– Vamos ao resumo da peça – ele começou. – Tebas é assolada por uma peste e Édipo envia o cunhado Creonte ao oráculo de Delfos para saber o que fazer. Creonte volta dizendo que deverão vingar o crime cometido contra Laio, que era o rei de Tebas antes de Édipo. Então, o atual rei consulta o sábio Tirésias, que lhe revela todo o mistério. A primeira cena é um diálogo entre Édipo e o Sacerdote. Vamos começar. Seiya e Shura, por favor, aproximem-se.

Os dois atenderam ao pedido de Dohko com seus respectivos roteiros em mãos.

– Podem começar – Dohko disse.

– Essa primeira fala é tão grande... – resmungou Seiya. – Não posso resumir e dizer só “galera, o que cês querem? Fiquem frios que eu vou resolver a parada lá com o sacerdote, valeu?”

– Não! – disse Dohko. – Agora comece, seguindo o roteiro.

Seiya respirou fundo, coçou a cabeça e começou, lendo:

– “Ó meus filhos, gente nova desta velha cidade de Tebas, por que vos prosternais assim, junto a estes altares, tendo nas mãos os ramos dos suplicantes? Sente-se, por toda a cidade, o incenso dos sacrifícios; ouvem-se gemidos e cânticos fúnebres...

– Procure falar de forma mais natural, Seiya – Dohko disse. – Tente não ler o que está escrito. Tente incorporar o personagem, entendeu?

– Beleza. Saquei.

Ele recomeçou, lendo exatamente do mesmo jeito de antes.

– “Não quis que outros me informassem da causa de vosso desgosto; eu próprio aqui venho, eu, o rei Édipo, a quem todos vós conheceis. Eia! Responde tu, ó velho...”

– Está bem, vamos ter tempo de melhorar – Dohko murmurou.

Quando Seiya terminou, Shura entrou com sua fala, um pouco mais à vontade com o texto que o primeiro cavaleiro.

“Ó Édipo, tu que reinas em minha pátria, bem vês esta multidão prosternada diante dos altares de teu palácio.”

Os dois seguiram até o ponto em que Milo, que representaria Creonte, deveria se aproximar. Quando Seiya deu a deixa, ele entrou em cena, exagerando na impostação da voz.

“Uma excelente resposta. Há coisas decerto bem difíceis de fazer; mas acho que são boas, se forem bons os resultados.” – ele disse. Depois ergueu a mão.

– O que foi, Milo? – Dohko perguntou.

– Sabe, Mestre, eu imaginei que essa cena ficaria melhor se eu acrescentasse algumas palavrinhas às falas de Creonte. Até fiz umas anotações aqui no roteiro...

– Milo, esse é um texto clássico, não queremos nem temos competência para alterar o que Sófocles escreveu.

– Mas...

– Melhor não... Prossigam, por favor.

– Eu tinha umas ideias ótimas – ele ainda murmurou antes de prosseguir com o ensaio.

Eles continuaram o ensaio. Entretanto, na cena em que entrava o cego Tirésias, representado por Hyoga, Seiya manifestou-se:

– Eu realmente acho que o Shiryu devia fazer o ceguinho.

– No sorteio, Tirésias caiu para o Hyoga – Dohko disse. – Agora vão em frente.

Hyoga e Seiya obedecem e começaram a discussão acalorada entre o cego e o rei.

“Lanças-me em rosto a cólera que excito, mas ignoras a que hás de excitar nos outros. E ainda me censuras!” – recitou Hyoga a certa altura do diálogo.

Quando ele terminou sua fala, Seiya levantou a mão.

– Qual o problema, Seiya? – Dohko perguntou.

– Esse negócio de excitar não é legal, não... – comentou Seiya. – Por que o diabo do cego tá excitado com o rei? Ele nem vê o cara.

– Não se trata desse tipo de excitação, Seiya... – impacientou-se Hyoga.

– E de qual tipo?

– Deixa pra lá – Dohko disse. – Vamos continuar, sim?

A cena prosseguiu até a parte onde entraria Jocasta. Shina aproximou-se fazendo um bico de insatisfação, que todos podiam ver, já que as máscaras tinham sido abolidas desde que Dohko fora alçado ao posto de Grande Mestre.

– Ai, como eu queria não participar dessa palhaçada – murmurou a amazona.

– Como? – perguntou Dohko.

– Ah, isso é ridículo – ela respondeu. – Pronto, falei. Não somos atores, para quê essa porcaria?

– A deusa só quer nos entreter, Shina – argumentou o Mestre.

– Você quer dizer entreter-SE enquanto NOS tortura, não é?

– Não seja ranzinza. Vai ser interessante, Shina.

– Pra quem?

Dohko desistiu de tentar convencê-la.

– Estudou o texto? – ele perguntou.

– Claro. Não sou o Seiya. Apesar de achar uma imbecilidade sem tamanho e de não conseguir ficar calada, eu cumpro as ordens.

– Está bem assim, vamos começar.

“Ó desgraçados” – Shina começou –, “por que vos empenhais nessa insensata guerra de palavras?! Não vos envergonhais, em terra tão experimentada de desastres, de levantar questões particulares? Vamos, volta para o palácio; e tu, Creonte, vai para tua casa. Não armeis tamanha luta sobre o que nada vale.”

– Muito bem, Shina! – exclamou Dohko, satisfeito com a interpretação da amazona.

– Obrigada. Só preciso dizer que adorei o “desgraçados”.

Milo deu seguimento com a fala de Creonte, ainda exagerando.

– “Minha irmã, Édipo, teu marido, dispõe-se a tratar-me com toda a crueldade, pela escolha entre duas desgraças, o exílio ou a morte.”

Nessa hora, Seiya deveria falar como Édipo, mas estava distraído.

– Vai, Seiya! – Milo gritou.

– Ah, já? Erh... – Ele procura o texto no papel. – Ah, achei! “Confesso que assim é, porque o surpreendi a urdir contra mim uma conjura cheia de pérfidas manhas.

Então, ele ergueu a mão.

– O que foi?

– Eu não entendi o que eu disse, mestre. O que é urdir? E pérfidas?

– Já ouviu falar em dicionário? – Milo perguntou, impaciente.

– Ah, eu tenho preguiça. É mais fácil perguntar.

– Urdir é algo como “tramar, armar” – Dohko explicou. – E “pérfido” é aquele que é “infiel, que falta com a palavra dada, traidor”.

– Ah, saquei. Tipo, ele armou uma trairagem sinistra pro cara, né?

– Por aí... Prossiga...

“ Vai ser um trabalho duro...” Dohko pensou. “Muito duro...”

Continua...


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