"Nunca acredite em ninguém. Nem tudo é o que parece ser."

Hoje o dia amanheceu claro e fresco. Não frio,apenas fresco.

Resolvi vestir um short jeans,uma regata preta e um all star de cano longo preto também.

Mantive meus cabelos soltos pois odeio prender-los então os deixo assim.

No colégio foi normal,tirando os olhares nada discretos dos rapazes em minhas pernas.
Os garotos foram hoje,apenas Logan faltou já que teria alta hoje.

Tentaram se aproximar de mim mas eu não deixei.
Ainda tenho muito o que pensar.

No intervalo sentei em uma das mesas do pátio e fiquei sentindo o calor fraco do sol.
Fechei os olhos e apenas me concentrei na música que tocava em meus fones.

Sentia uma brisa leve e agradável balançar meus cabelos e o sol me aquecer até alguém bloquear sua luz.

– Sua sombra ta atrapalhando. - Disse ainda de olhos fechados.

A pessoa se sentou ao meu lado e senti um perfume masculino familiar.
Abri os olhos e olhei para o lado.

– O que faz aqui? - O olhei e ele sorriu fraco.
– Estou bem obrigado por perguntar! Meu braço está melhor também obrigado pela preocupação! - Disse irônico com um sorriso de canto.
– Achei que só sairia a tarde. - Disse e ele botou o braço enfaixado em cima da mesa.
– Viram que eu estava melhor e me liberaram mais cedo... - Disse olhando para os pés.
– Legal? - Perguntei e ele riu.
– Acho que sim. - Disse e eu encostei mais uma vez para sentir o sol.

O silêncio reinou entre nós.
Por um segundo achei que ele tivesse saído dali e ido embora então abri um olho e o espiei,ele ainda olhava para os pés com o braço machucado em cima da mesa.

– Ellen eu... - Estremeci com essas palavras. Foram as mesmas do hospital.
– Não começa assim por favor! Fala outra coisa! - Disse de olhos fechados.
– Ah... não sei como falar de outro jeito... - Disse e eu ri.
– Inventa.
– Olha... acho que de uma forma ou de outra devemos explicações um para o outro,primeiramente a respeito do Edward. - Disse ele e eu abri os olhos e o olhei pela primeira vez.
– Por que quer saber dele? - Perguntei com uma sobrancelha levantada.
– Porque ele ainda não foi preso Ellen? - Ignorou minha pergunta.- Ele é perigoso e todos sabem! - Disse me olhando.
– Pode me perguntar sobre o que for,menos sobre isso! - Disse me levantando.- Tenho meus motivos para não querer falar disso e não falo mais nada a respeito desse assunto. Tchau Logan! - Disse já caminhando com ele atrás de mim.
– O que há de errado Ellen? - Me segurou pelo braço.
– Por que teria algo errado? Eu tenho aula agora! - Puxei meu braço com força e ele me soltou.
– Não,o que você tem com o Edward? - Me fez olhar para ele.
– Eu não sou obrigada a responder nada a você! - Disse depois de um suspiro. Caminhei em direção a sala e me sentei na mesma cadeira.

(...)

Aquela era a última aula do dia,agora não me restava mais nada a não ser ir para casa e aproveitar a solidão.

Botei meus óculos escuros e fui para o estacionamento pegar meu carro.

Entrei no mesmo e estava saindo quando ouso um estrondo de algo se chocando contra ele.
Olhei para trás e saí rapidamente.

– Você é maluco? Eu não te vi! - Gritei e ele se levantou com dificuldade.
– Foi só uma batida! Não vou morrer! - Disse e eu revirei os olhos.
– Fala o que quer Knight! - Disse cruzando os braços.
– Em minha defesa James que me obrigou a vir! - Disse de braços levantados.
– Não sou vidente se é o que parece.- Disse e bufei.
– Não quer ir na agência com a gente? Para explicar melhor tudo isso. - Botou as maos mãos nos bolsos.
– Esse assunto não é meu Kendall,é seu e dos seus amigos! - Me encostei no carro.
– Eles também são seus amigos Ellen,por que insiste em se isolar? - Veio para a minha frente.
– É melhor... se você se apega muito a alguém ele arranja um modo de sumir da sua vida... - Disse desviando o olhar.
– Nos nunca vamos te deixar Ellen,eu prometo! - Disse e eu paralizei.

::Flashback on::

"Nunca vou deixar você minha flor,eu prometo! - Disse meu pai quando fui para o acampamento do colégio pela primeira vez.
– Eu te amo papai! - Disse alegre o abraçando.
– Eu também te amo! - Disse me soltando do abraço."

::Flashback off::

Pisquei os olhos rapidamente afastando essas lembranças e suspirei.

– Não faça promessas que não pode cumprir Kendall... - Disse e cruzei os braços.
– É difícil controlar isso... - Riu fraco.- mas vou fazer o possível e o impossível para cumprir essa promessa. - Disse me olhando. Respirei fundo.
– Estão indo agora? - Perguntei e ele sorriu fraco.
– Sim,tem vaga no carro se quiser. - Disse e eu neguei com a cabeça.
– Vou em casa pegar minha moto,nos encontramos lá. - Botei os óculos escuros novamente.
– Tudo bem. - Abaixou o rosto.
– Posso sair com o meu carro sem te atropelar? - Perguntei e ele riu.
– Já entendi! Te vejo lá! - Disse se afastando.

Entrei no carro e dirigi calmamente até em casa,entrei apenas para deixar minha mochila no meu quarto e logo estava pegando minha moto.

Ultrapassava entre os carros e sentia o vento através do capacete em meu rosto.
Pelo fato de ainda estar com aquele short sentia o vento em minhas pernas também.

Logo que cheguei fui para o elevador e fiz o mesmo de sempre.
Geralmente odeio a música de elevador que toca na agência mas dessa vez nem dei muita importância para a musica que tocava.

Quando as portas se abriram apareceram quatro garotos sorrindo igual a fugitivos do manicômio.

– Por que estão sorrindo assim? - Perguntei e eles apenas continuaram sorrindo. - parem estão me assustando. - Disse e Carlos me abraçou de lado.
– Apenas é diferente ver você por aqui. Estamos felizes que tenha vindo e não ignorado o convite. - Fomos caminhando pela agência.
– Depois de atropelar o Kendall era o mínimo que eu poderia fazer! - Disse rindo.
– Entendi o porque dele estar mancando! - Disse James rindo.
– Ok,agora licença que eu tenho que falar com uma pessoa. - Desfiz o abraço com Carlos e os deixei na minha sala.

Caminhei calmamente ate a sua sala e entrei.

– Preciso te apresentar uns amigos! - Disse parando a sua frente.
– Quem? - Se levantou e cruzou os braços.
– Já vai saber. Por que ta de terno? Geralmente só usa uma camisa social com uma gravata meio frouxa. - Disse sorrindo debochada.
– Eu sempre uso terno,mas eu tiro assim como vou fazer agora! - Disse puxando as mangas da peça preta e bem passada de seu corpo.
– Vem. - Disse indo para a porta.
– Espera,são aqueles agentes? - Perguntou enquanto dobrava as mangas da camisa até os cotovelos.
– Você tem que parar de ser tão adivinho sabia? - Disse.
– Apenas dei um palpite. - Disse afrouxando a gravata preta.
– Tanto faz! - Cruzei os braços. Bryan me olhou de cima a baixo e desviou o olhar rapidamente.
– Bela roupa. - Disse e veio até a porta lançando a gravata em cima de sua mesa.- Apenas achei o short meio curto. - Disse e eu revirei os olhos.
– Quando eu der importancia pra esse comentário inoportuno pensarei em usar shorts menos curtos! - Disse e saí de sua sala com ele me seguindo.

Entrei em minha sala e estavam os quatro sentados em um sofá preto de couro,fui para minha mesa e me sentei atrás dela em minha cadeira.
Bryan encostou as costas em minha mesa e olhou diretamente para os quatro.

– Bom rapazes primeiramente vou me apresentar,sou Bryan Finn,agente superior.- Disse sério.
– Bryan acho que depois você pode chamar eles pra um café e quem sabe até um encontro,mas agora é melhor falar o que tem que falar. - Disse e o vi revirar os olhos. Sorri satisfeita.
– Tudo bem! Vou direto ao ponto! Devem querer saber o porque de Edward ainda estar a solta certo? - Os olhou e eles acentiram.
– Bryan! Como você disse "direto ao ponto"! - Disse e revirei os olhos.- Eles sabem o porque de estarem aqui então responde logo isso! - Disse e ele me olhou com uma sobrancelha arqueada.
– Você quer falar? - Perguntou sorrindo.
– Esse não é meu departamento querido! Faça as honras! - Disse e ele riu.
– Estamos juntando informações sobre ele,qualquer coisa,simples planos,pistas,mercadorias que ele recebe... - Disse gesticulando com as mãos e eu ri baixo.
– Mas por que? Ele é o bandido mais procurado em L.A. já devia estar atrás das grades a muito tempo.- James se pronunciou.
– Acontece James que se o prendermos agora,vamos perder os contatos com seus fornecedores,ajudantes, aliados,inimigos... acredite ninguém quer ver ele dentro de uma cela tanto como eu quero. - Disse com os olhos em alguns papeis que estavam em cima de minha mesa.
– Exato! Então queria saber se notaram algo.- Disse Bryan e levantei o rosto para eles.
– Ele tem um capanga agora,o que pode dificultar o meu disfarce com ele! - Disse e todos me olharam.- Que foi?
– Disfarce? - Perguntou Kendall.
– Sim eu já falei sobre isso com vocês! - Disse normalmente.
– Mas não falou tudo não é Ellen? - Perguntou Carlos sério.
– Virou interrogatório pro meu lado agora? - Perguntei indignada.
– Olha,quando você explicou tudo eu não estava em meu estado normal então poderia explicar melhor? - Perguntou Logan calmamente. Bufei.
– Tudo bem! Tenho esse disfarce com o Edward por motivos que interessam somente a mim então não perguntem... - Disse quando percebi que Carlos iria se pronunciar a respeito daquilo.- Para o Edward eu sou uma "Serial Killer" como ele,que faz o trabalho sujo e faz se quiser. Se confundi vocês eu peço desculpas mas não é apenas isso que está em jogo,se ele descobrir quem eu realmente sou pode fazer de tudo para acabar comigo... e se ele sequer pensar em tocar na minha familia eu não vou responder docemente. - Disse séria e eles ficaram me encarando.
– Ellen... calma. - Sussurrou Bryan para mim e eu respirei fundo.
– A verdade é que eu apenas tolero isso porque sei que quando tudo acabar ele vai estar atrás das grades de uma cela.- Me levantei.- Com licença. - Sai da sala e respirei fundo novamente.

Fui para o único lugar aonde posso esfriar a cabeça e não causar dano a ninguém.

Peguei os óculos de proteção e minha pequena arma já carregada,fiquei de frente para o alvo a uma distância grande e dei o primeiro disparo fechando os olhos com o barulho,respirei fundo e dei o próximo disparo sentindo a raiva me subir a cabeça. Apertei o gatilho várias vezes seguidas ouvindo aquele estrondo e vendo a bala voar para o alvo em uma velocidade inumana,apenas dei conta de que a munição havia acabado quando ouvi o barulho do gatilho e nenhum estrondo.

Respirei o mais fundo possível e peguei o cartuxo de balas o colocando rapidamente na pistola e destravando a arma.

Mais uma vez atirei com toda a raiva que tinha,via o alvo e atirava sem dó imaginando que meus problemas estivessem naquele alvo preso a um gancho.
Logo esvaziei aquele cartuxo também e botei a arma em cima do suporte. Olhei para o alvo. Totalmente destruído.
O que antes era o círculo menor e mais difícil de acertar agora era apenas um grande buraco.

– Belo estrago! - Alguém falou me dando um susto.
– Tem sorte que já descarreguei a munição! - Disse depois de olhar para ele com raiva e suspirar.
– Com toda a raiva imagino. - Disse se aproximando.
– O que você quer? - Peguei a arma e tirei o cartuxo vazio.
– Apenas quero conversar! Em paz! - Levantou os braços em rendição e o olhei.
– Sobre? - Caminhei até a mesa de munições e peguei outro cartuxo.
– O seu disfarce... como é... trabalhar com "ele"? - Perguntou e sorriu travesso.
– Eu sei que você não veio até aqui para falar do meu disfarce Logan,vá direto ao assunto! - Disse sorrindo. Peguei a arma já carregada e o olhei.
– Eu to falando sério! Já que não posso perguntar dele e sobre o seu ódio mortal por ele,então queria saber sobre o seu disfarce. - Se apoiou no vidro de proteção ao meu lado e eu apenas mirei no alvo e dei o primeiro disparo.
– Por que quer saber disso? - Perguntei sem o olhar.
– O que custa me contar Ellen? - Perguntou e mesmo sem o olhar sei que ele sorriu de lado agora.
– Tudo bem. - Disparei mais uma vez.- a um ano e meio me chamaram na sala do Greg o chefe de todos,ele me disse que isso não era uma promoção e sim um trabalho perigoso,então eu comecei a trabalhar com ele,o conheci em um bar e quando ele tentou me beijar eu virei o pulso dele com uma chave de mão e ele sorriu,o sorriso mais falso que já existiu,então ele me perguntou se eu queria me juntar a ele e "interrogar" os seus reféns já que eu luto bem e eu disse que sim mas não trabalharia com ele,seriamos sócios e eu escolheria o que fazer.- Disse enquanto disparava,falar disso me dá raiva.- Eu apenas não tinha me tocado que fazer isso poderia acabar com a minha vida... como acabou. - Dei o ultimo disparo e tirei aqueles óculos deixando a arma em cima da mesa.- Feliz agora? - peguei a arma e os óculos os botando em cima do balcão me dirigindo para a saída.
– Espera! Como assim acabando com a sua vida? O que aconteceu de tão ruim? - Perguntou atrás de mim.
– Isso não diz respeito a
– Ele matou quem eu mais amei nessa vida. - Disse e saí dali o deixando sozinho

Passei a mão no cabelo e saí da agencia,dirigi minha moto sem direção e rumo,queria apenas sentir o vento em meu rosto e a adrenalina em meu corpo.

Encostei a moto em um lugar qualquer e apenas olhei para o céu agora meio acinzentado e azul claro.
Olhei em volta e vi o mar a minha frente,areia branca e palmeiras na calçada. Estou em frente a uma praia.
Olhei em volta e vi uma garotinha andando feliz ao lado de seu pai,sorri por impulso pela felicidade que vi neles mas parei e subi novamente em minha moto agora indo para casa.

Ao chegar a casa estava silenciosa tirando o barulho no quarto da minha irmã, barulho de conversas misturadas com musica. Provavelmente ela está com alguma amiga.

Fui para o meu quarto e tranquei a porta e me joguei na cama,fiquei olhando o teto.
Como sinto falta de como meu pai me consolava quando estava triste...

Peguei meu celular e vi uma mensagem.

Abri a mensagem: número desconhecido.

"Gostei bastante das respostas,imagino o que fez com aqueles cinco já que havia uma mancha de sangue no chão quando voltei mas pode manter seu mistério. Terei uma proposta para você em breve.
E."

Revirei os olhos.
Só pode ser o Edward.

Fui para o banheiro e joguei uma água no rosto,olhei meu reflexo no espelho e lembrei de meu pai. Sequei o rosto e peguei minha mochila para ver se tinha algo para fazer e não tinha então peguei meu caderno de desenhos e comecei a fazer um desenho qualquer apenas para me distrair.

Deixei minha mão vagar pela folha e abri minha mente mergulhando em meu mar de pensamentos.

Quando prestei atenção na folha lá havia coisas que me lembram minha infância,tudo reunido em um só desenho,minhas alegrias e medos,meus sonhos e pesadelos... tudo.

Sorri com o resultado e comecei a fazer as sombras e detalhes.

Olhei o relógio em cima do criado-mudo.
13:20 hs.
E eu ainda não comi nada.

Deixei tudo aquilo em cima da cama e sai do quarto.
Desci as escadas e fui para a cozinha.
Fiz um sanduíche,peguei uma maçã e uma garrafinha de suco. Quando estava voltando para o meu quarto a campainha toca. Ótimo! Boto o prato em cima da mesinha de centro e atendo a porta.

– Ah... oi? - Disse o olhando.
– Posso entrar? - Sorriu fraco e dei passagem na porta.
– Seja breve por favor! - Disse me sentando no sofá e ele me acompanhou.
– É que o Logan tá meio estranho depois que te seguiu quando você saiu da sua própria sala... parece meio... perturbado. - Disse me olhando.
– Apenas deixei claro o que ele queria saber... se ele entendeu errado... não posso fazer nada! - Desviei o olhar para o chão.
– É que ele tá como quando a mãe dele... - Disse mas se calou. Pigarreou.
– Como assim? Pensei que a Aline estivesse bem. - Disse o olhando confusa.
– A Aline não é a mãe dele... ela é a madrasta dele... - Disse e eu olhei o chão novamente.- A mãe dele sofreu um acidente de carro a dois anos. - Disse e o olhei.
– Acho melhor você ir Kendall... - Disse baixo.
– Ellen... sei que já sofreu muito,mas ele sentiu o mesmo... apenas peço que me diga o que falou pra ele. - Disse calmamente.
– Pergunte isso a ele... eu sinto muito pela mãe dele,mas isso não vai amolecer meu coração se é o que quer saber,a muito tempo uma coisa o congelou e não vai ser pena de alguém que mudará isso... - Disse e ele sorriu fraco e me abraçou.
– Nunca se sabe... eu tenho esperança que aos poucos a antiga Ellen volte para nós. - Disse e levantou meu rosto.- Se você acreditar pode mudar... bom já vou indo... até amanhã Ellen! - Me deu um beijo na testa e se foi.

Apenas fiquei parada. Estática no sofá.
Sempre pensei que fosse a única a ter essa dor repentina e insuportável da perda,mas agora entendo que por trás daqueles sorrisos tímidos existe alguém que já chorou por horas querendo recuperar o tempo perdido.
Por isso ele se importa tanto comigo.
Por termos a mesma dor no peito.

Agora entendo o porque de tantos olhares preocupados em meio ao silêncio.

Ele sempre está me acompanhando quando sinto saudade de meu pai.

Só que o acidente de sua mãe foi no transito e meu pai estava em outra situação no momento em que... se foi.
Formas diferentes... mesma dor.
Mesmo assim não posso me aproximar.

Sei que é arriscado e posso me machucar se me apegar demais a esse sentimento.

Preciso continuar sendo quem sou,mas agora não posso me apaixonar.
Pelo bem de todos.