A pequena Cath não se conteve, levantou-se da cama e começou a saltitar em volta da velha senhora, com os cachos loiros saltando para todos os lados enquanto ela sorria.

– se não se aquietar vou parar de ler – a senhora advertiu.

A menina parou no mesmo instante, com os olhos arregalados, correu para a cama, e ficou calada, mas ainda podia se ver o brilho em seus olhos.

– continue senhora – ela sussurrou – por favor.

A senhora deu um sorriso doce, e abaixou o olhar para o livro..

“ Meu corpo estava tremendo, me medo, não havia tantos quanto agora, e isso me assustava, eu sabia que Joshua era um bom soldado, mas ele era apenas um.

– Josh...

– shiiii – ele pós a mão na minha boca – precisa se esconder.

Peguei sua mão grossa do meu rosto.

– não vou sem você – sussurrei.

– isso não é discutível – Joshua – estou aqui para protege-la, e quando eu disser para correr você corre, se esconde, assim que estiver tudo bem eu pego você.

Ia protestar quando ouvi cachorros latindo, estava realmente assustada.

– agora – ela disse me dando um empurrão .

Levantei a saia do vestido e comecei a correr sem olhar para trás, eu não podia, senti as lagrimas invadindo meus olhos e transbordando, eu corri até cansar, a mata se estendia a minha frente e eu não aguentava mais correr, parei um instante para respirar quando ouvi as pessoas correndo, os cães.

– ela foi por ali.

Meu coração deu um salto.

Recomecei a correr, com a boca do estomago doendo, e meus pés ardiam, não conseguia correr direito e eles estavam me alcançando.

Encontrei um arbusto consideravelmente grande e corri em direção a ele, se continuasse correndo seria pega em alguns minutos.

Minha respiração estava acelerada e não conseguia respirar direito, os soldados passaram correndo por mim, mas quando os que tinham cachorros passaram os cachorros vieram na minha direção, mordi a mão para não gritar.

O soldado falou alguma coisa, que não era na minha língua, ele começou a fuçar o mato enquanto latia, o soldado começou a investigar o que o animal estava procurando.

Foi quando ouvi o barulho e um esquilo saiu do meu lado, ele se assustou com o latido do cachorro e correu, o animal foi atrás dele e o soldado falou algo que me parecia sinceramente com um xingamento e levou o cachorro embora, minhas mãos tremiam e meu coração batia descompassadamente, me sentia completamente mal, e estava cansada, fiquei deitada por um instante.

Uma mão forte me pegou pelo braço, fazendo-me levantar. Levei um susto e ia gritar mas minha boca foi tapada, Joshua estava com o braço machucado em dois lugares , e mancava um pouco, sua blusa que já era suja agora exibia um rio de sangue.

– você está...

– Shiii... – Joshua levantou a mão – eles estão por perto, e irritados por que vários de seus soldados estão mortos.

Eu poderia ter achado graça daquilo se ele estivesse bem, mas seus ferimentos me deixavam aflita.

Depois de alguns minutos ele me levou por dentro da floresta, o cavalo dele estava amarrado em um cipreste.

– onde está meu cavalo? – perguntei.

– ele foi atingido – Joshua fez uma careta enquanto ele punha no cavalo – eu sinto muito, mas tive eu sacrifica-o.

Concordei de leve quando ele montou , e começamos a cavalgar, estava com medo de encostar nele, não queria machuca-lo, cavalgamos o dia inteiro e ele não quis parar nem mesmo para almoçar, só paramos quando a noite já estava caindo.

Como de costume ele desceu, achei que ia montar a fogueira e me preparei para protestar quando Joshua avisou que não faríamos fogo, para não atrair nem uma atenção.

– como me encontrou? – perguntei

– você não se escondeu muito bem – ele sorriu– quem estava na estrada principal não podia te ver, mas quando passei pelo lado oposto e encontrei facilmente.

– fico feliz que tenha me encontrado primeiro.

– acredite Cath, eu também – ele ficou serio de repente.

não pude evitar, sorri também.

– gosto quando me chama assim –corei e mudei de assunto – venha, vamos cuidar dos seus ferimentos.

– não – ele se afastou – isso não é digno de uma princesa, por favor, não faça isso.

Respirei fundo e me aproximei.

– eu é quem peço, eu quero fazer isso.

Ele continuava distante.

– deixe-me cuidar de você – pedi.

Ele suspirou e retirou a camisa, me deixando completamente constrangida, Joshua tinha a frente do corpo tão trabalhada quanto a parte de traz, peguei nosso cantil e rasguei tiras do meu vestido molhando o pano.

– seria melhor se você tivesse alguma bebida alcoólica, para anestesiar e limpar melhor – falei tentando me concentrar propriamente no corte.

– tudo bem - ele falou enquanto limpava – mas acredite, eu queria ter.

Passei bastante água na ferida e depois fiz um curativo com as tiras de pano, não era grande coisa mas, era melhor do que deixar exposto.

Joshua falou que havia visto um lago próximo dali e me acompanhou até ele, tirei minhas roupas de bom grado e fui tomar um banho, eu me sentia imunda.

A água estava gelada, e revigorante, fazia tempo desde meu ultimo banho, deixei a água lavar meus cabelos, nadei até meus dedos enrugarem e começar a ficar com frio, peguei minha capa e enrolei meu corpo, peguei minhas roupas e caminhei com elas até Joshua.

Assim que me viu ele abaixou o olhar, parecia constrangido.

Corei instantaneamente, quase me esqueci que ele não podia me ver desse jeito, mesmo a capa cobrindo completamente meu corpo, as roupas em minhas mãos denunciavam que eu estava nua.

– eu...eu...- comecei a gaguejar.

Foi então que me veio a mente, se eu não fosse mais “pura” por assim dizer, meu pai não teria como me força a casar com o príncipe da França, é claro, isso acabaria com minha honra, com a dele, mas se fosse para perder alguma coisa, eu queria que fosse com ele.

Respirei fundo, varias vezes, isso era terrível, só que eu não me casaria sem amor, nunca.

Retirei a capa e deixei minhas roupas caírem no chão.

– olhe para mim – meu rosto estava em chamas.

Seu olhar se levantou e assim que me viu, Joshua se jogou no chão, com o rosto no chão.

– majestade não sou digno de vê-la.

Caminhei até ele tremendo, de medo, de frio, de vergonha, minhas pernas tremiam a ponto de me deixar cambaleante.

– olhe para mim – pedi.

Ele continuou olhando para baixo.

– Joshua eu lhe dou minha permissão para me olhar – continuei – levante-se.

Ele ficou de pé, mas ainda não me encarar.

– eu não quero fazer isso minha senhora – ele falou – não quero olha-la, não quero sua permissão.

A magoa me subiu pela garganta e de repente me senti a mais fácil das meretrizes, cobri meu corpo com as mãos.

– não me acha bonita? – sussurrei.

– a senhora é como um beija-flor, lindo e impossível de se alcançar – Joshua olhava para baixo – eu nunca desejei tanto outra mulher, mas sei que a senhora não me pertence, não sou digno de tal visão.

Me aproximei e peguei seu rosto com as mãos, ele era tão lindo olhando assim de perto.

– eu quero – falei devagar – que me faça sua.

Dessa vez ele me olhou, com os olhos arregalados pela surpresa.

– não acho que...

– se eu não for mais... – meu rosto queimava – pura, meu pai não poderá me casar com o príncipe da França, e para se livrar da desonra ele me casaria com você, não quer ficar comigo?

Joshua caminhou até onde estava minhas roupas e pegou minha capa, passando-a pelos meus ombros.

– por favor se vista – ele pediu.

Envergonhada e rejeitada coloquei minhas roupas, em nenhum momento eu conseguia acertar meus sentimentos, e sempre fazia coisas erradas, nem conseguia imaginar no que Joshua pensara de mim, ele deveria pensar que sou uma dessas mulheres da vida.

Me sentei em um tronco afastada dele, porém Joshua se aproximou, ficamos alguns minutos em silencio.

– nós dois sabemos que não será assim que isso vai acontecer – ele abriu um sorriso que não chegou aos seus olhos – assim que ele descobrir mandaria me matar e te prenderia numa torre, se não tirar sua vida também, o acordo com o rei francês estará desfeito e entraremos numa guerra já perdida.

– então vamos fugir – implorei – não me leve de volta para casa, eles me forçaram a casar com ele.

– eu não poderia querer outra coisa – Joshua suspirou – mas preste atenção, estaria disposta a sacrificar milhões de vidas inglesas para que fiquemos juntos? Pois se não se casar não haverá um acordo, sem o acordo todos vão morrer, seu povo, sua família, minha família, meus homens, está disposta a sacrificar a vida de todos?

Meu coração martelava na garganta, tudo o que ele dizia era doloroso, porem completamente verdadeiro, era quase como se ele tivesse pensado em todas essas opções antes, como se tivesse cogitado fugir comigo. E esse era um sacrifício que eu não estava disposta a fazer, não podia fazer isso com minha família, com meu povo.

Lagrimas silenciosas começaram a descer pelo meu rosto.

Senti seus braços envolverem minha cintura e me puxar contra seu corpo, ele era quente e reconfortante.

– eu daria qualquer coisa para ficar com você – ele sussurrou no meu ouvido – qualquer coisa minha, mas não posso sacrificar milhões de vidas, seria um egoísmo sem precedentes.

Concordei de leve.

– quanto tempo até chegarmos?- perguntei.

– estaremos no castelo ao fim da tarde.

Era oficial, eu estava chegando, indo direto para um casamento que não me agradava, não sei como me sentiria ao chegar, mas naquela noite, quando me deitei junto com Joshua para que não congelássemos, por causa da noite fria, eu me senti completamente vazia, estava deixando o homem que eu amava, e dessa vez era minha escolha.

Uma princesa sempre deve pensar no povo em primeiro lugar.”