Na casa de inverno um grito alegre percorreu os corredores silenciosos.

– Como ela pode? – Cath parecia assustada e excitada ao mesmo tempo – Minha senhora uma dama não deve fazer isso.

– é verdade – a senhora sorriu – o que será que aconteceu a ela?

– me conte – a menina estava sorrindo.

– então posso continuar?

A pequena menina estava completamente entusiasmada.

– por favor.

“ O general Joshua passou os outros dois dias da viagem sem falar comigo, ele estava em um modo congelado, como se tivesse se tornado um soldado e se esquecesse de tudo a sua volta, eu sabia que a culpa era minha, sabia que eu o havia desconcertado e ele não estava bem com a situação em que eu o havia colocado, era uma questão de honra, mas essa distancia toda me magoava muito, por que agora ele me conhecia e ainda sim me tratava como antigamente.

– o senhor poderia... – tentei falar enquanto ele arrumava as coisas para montar acampamento – será que o senhor poderia parar por um instante?

– senhor.... – chamei de novo.

Ele andava de um lado para o outro sem diminuir o ritmo.

– General eu...

Joshua continuou se movendo como se não tivesse me ouvido, fiquei irritada.

–General Joshua olhe para mim – falei – é uma ordem.

Ele estacou onde estava e se virou na minha direção, estava parecendo surpresa com minha reação autoritária.

E assim que vi seus olhos, poderosos e arrebatadores me encarando eu desmoronei, nunca forçara minha autoridade antes e não sabia como usa-la.

– desculpe – falei tentado agir de forma sensata – eu só quero que pare de agir assim, como se eu fosse um nada, eu sinto muito se eu o ofendi, apenas...apenas não me odeie.

Joshua suspirou e cruzou os braços, me preparei para ouvir seu sermão.

– não estou com raiva de você – ele começou – eu com raiva de mim mesmo por... Me deixar se atraído pelo que fez, quando na verdade, a senhorita está apenas querendo se livrar de um casamento arranjado, me submetendo aos seus caprichos.

Fiquei sinceramente chocada com o que ouvi, como assim meus caprichos? Ele achava que eu o havia beijado para não me casar? Que tipo de mulher ele acha que eu sou?

– está tremendamente enganado meu senhor - fique irritada e falei demais – eu o amo, a muito tempo para ser sincera, nunca pude lhe dirigir a palavra durante todo esse tempo, e sempre que o via em um baile ou no palácio eu sabia que não tinha permissão para me dirigir a palavra e ficava sempre constrangida de dar o primeiro passo, achava que me acharia oferecia, ou pior, apenas uma criança, ficava apenas o observando de longe, admirando, e no único momento que posso falar com você foi quando tive que passar por tudo isso, noites e mais noite enfurnada nessa floresta, dormindo no chão ou em cavernas, estou suja, cansada, e com roupas grosseiras, só para ter meu primeiro beijo rejeitado, tem certeza que sou tão caprichosa assim? Não me viu reclamando de algo viu? Não, por que sei que faz isso para salvar minha vida.

Parei para respirar, pois estava me sentindo tonta, como pudera simplesmente falar tudo para ele? Jogar na sua cara que eu sempre o amei, levantei o olhar e ele me encarava, estático, como se estivesse completamente em choque.

Fiquei mais constrangida e abaixei o olhar.

– Eu...

– não – interrompi –por favor, não diga nada.

Me virei para voltar para a fogueira que Joshua estava montando.

– eu sabia – o ouvi murmurar.

– Sabia o que? – parei.

– sabia que me observava – sabia que ele estava me encarando – sempre soube.

– do que está falando?

– Há muito tempo atrás eu estava numa luta comum com um dos meus alunos, sabia que podia vence-lo rapidamente, aquele insolente havia me desafiado – senti ele se aproximar – estava prestes a vence-lo quando a senhora chegou, com suas damas de companhia, passeando pelo jardim, me distraiu imediatamente, achei que fosse um anjo, que meu aluno havia me vencido que a senhora estava lá para me acompanhar ao céu, mas de um coisa eu estava convicto, não fui uma boa pessoa durante minha vida, para merecer o céu, então eu soube que deveria ser outra coisa.

Abri a boca para falar, mas ele me interrompeu.

– estava tão bela que não conseguia me concentrar direito.

– mas o senhor venceu, e me parecia estar lutado com maestria – ousei levantar a cabeça - parecia...focado.

– mas não estava não conseguia tirar os olhos de você.

Quando Joshua disse isso senti meu rosto corar, e abaixei os olhos.

– naquele mesmo dia fui procurar saber quem era a senhora – ele falava mansamente – se você filha de alguém da família nobre eu tinha certeza que os seus pais ficariam felizes se a vissem casada com um general, ainda mais o amigo intimo do rei, nunca usara minha posição para conseguir alguma coisa, mas você era essa exceção, a minha exceção, então quando ia ao palácio para conversar com o rei sobre a moça que eu vira, eu me deparei com você na sala de reuniões dele, me escondi como um menino travesso para ouvir o que ele lhe falava, no começo achei que o rei lhe desejava também e eu não me impressionaria, mas então ouvi a palavra “filha” e meu coração congelou, naquele momento eu soube que poderia ter qualquer mulher no reino, menos você.

Meu coração palpitava na garganta, nunca, nunca em minha vida eu imaginei que ele retribuía o sentimento que eu sentia por ele, que alguma vez havia me notado, porém aqui estávamos nós, nos declarando uma para o outro, no meio da floresta.

– Coloquei em mente que tinha que tira-la da cabeça que nunca deveria pensar na filha do rei desse, jeito, era imoral, uma traição com um amigo, com meu senhor –Joshua pegou minha mão, minha mão tremia – mas num dia quente de verão, estávamos num treinamento diário, quando a vi numa janela, de alguma forma eu sabia que estava olhando para mim, achei esse pensamento tolo e tentei afasta-lo da minha mente, porém no dia seguinte eu vi os servos levando e trazendo moveis pelo palácio, e quando perguntei o que se passava um deles me disse que a princesa havia trocado de quarto o quarto eu a vira me observando, então ordenei aos soldados que treinassem somente naquela área.

– você sabia - murmurei constrangida – fui tão obvia?

Fitei minhas mãos, que ele segurava.

– não – Joshua deveria está sorrindo – mas depois de cinco anos até uns soldados começaram a achar estranho que a senhorita sempre observava nossos treinamentos.

Não pude evitar sorrir também, o sol estava se ponto e tudo a nossa volta começou a escurecer, lembrando-nos onde estamos, não foram necessárias palavras para que eu soubesse que ele tinha que continuar trabalhando.

Joshua montou tudo, a fogueira, as camas de folha, e comemos os restos de um veado que ele pegara na noite anterior, ele havia secado a carne no sol, e o sabor não era tão horroroso depois de algumas mordidas, não conversamos mais, nem um de nós sabia bem o que dizer, ambos sabíamos que essa era uma situação em que não importava o que fizéssemos, nunca poderíamos ficar juntos, ele terminou de comer e se sentou perto de uma arvore para fazer vigia, peguei minha capa cobrindo meu corpo e fui me deitar, estava sonolenta mas simplesmente não conseguia dormir, ficava me remexendo e nada do sono vir, nós levantaríamos cedo, e eu precisava ficar descansada.

Ainda não tendo plena consciência da loucura que ia fazer eu me levantei, sentando-me ao lado de Joshua, ele me lançou um olhar questionador, mas o ignorei, peguei mina capa e me cobri, apoiando meu corpo em seu peito , no começo ele ficou duro, estático, mas minutos depois passou a mão sobre meus ombros, aninhando-me a ele, sentia sua respiração, tão descompassada quanto e minha, e seu coração batendo acelerado, me perguntei se alguma vez ele estivera com uma mulher.

Me acalmei e o sono veio instantaneamente, adormeci agradecida por ter me explodido, nunca teria contado a ele em condições normais, e minha noite teria terminado de forma diferente.

Senti uma mão cobrindo minha boca e acordei sobressaltada, Joshua me encarava serio e fez sinal de silencio, eu nem havia percebido, mas já o sol já estava nascendo, e trazendo consigo, muitos inimigos.