The Walking Dead - Rio de Janeiro escrita por HershelGreene


Capítulo 11
Capítulo Onze - Esperanças Perdidas




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Os salões do Centro Cultural estavam escuros e silenciosos. O fedor dos mortos comprimia minhas narinas, e eu fazia de tudo para não respirar. Clara e Gabriel estavam ao meu lado e seguravam o nariz para impedir a inalação do cheiro apodrecido. Nenhum de nos falava. Apenas escutávamos o som dos corações palpitando.

Clara havia me contado sobre a invasão do prédio. As mortes traumáticas atingiram a todos em um pesar silencioso que nós guardávamos em silêncio. Pedro e Bruno, pessoas próximas aos falecidos, não haviam falado nada e fuzilavam qualquer um que chegasse perto. Os dois se recusaram a entrar, mas aceitaram formar um vigia nas portas junto com Júlia e Felipe.

Expliquei rapidamente a entrada dos militares para os outros. Ao contrário de Gabriel, se mostraram felizes em ter aquela rota de fuga. Nenhum deles aguentava mais a pressão do apocalipse. Todos queriam fugir. Nosso plano dependia da presidente estar viva então, qualquer ruído naquela escuridão era um alerta de vida.

– Alguém sabe onde fica o salão?! – perguntou Gabriel – Eu estou perdido!

Os outros balançaram negativamente a cabeça.

Andamos por mais quinze minutos até Beto considerar aquela missão impossível. Havíamos revistado todos os salões do prédio e nenhum mordedor tinha a aparência de Michelle Martinez. Isso era uma boa notícia, ela ainda estava viva!

Nós voltamos à recepção para esperarmos o Sol surgir no horizonte e iluminar os corredores escuros. Pelos meus cálculos, faltava menos de uma hora para o dia amanhecer. Durante esse tempo, Gabriel começou a revirar as gavetas das mesas em busca de pistas. Revirei os olhos e percebi a figura de Pedro encostada contra o vidro. Achei que ele poderia estar menos irritado e me aproximei:

– Hã... Oi cara – cumprimentei-o.

Ele me olhou com olhos desesperados.

– Cara, quero que saiba! Ela vai estar em um lugar melhor agora – falei – Não vai mais precisar sofrer!

Ele abriu a boca para falar, mas não saiu som algum.

– Pense por esse lado! – continuei – Não se culpe pela morte dela!

– Não me culpo. – disse ele – Culpo esta merda que o governo fez com o mundo! Culpo a cientista desgraçada que criou este maldito vírus e culpo vocês por não estarem lá conosco! Vocês poderiam ter salvado eles dois!

Afastei-me dele. Entendia a perda dele, sofri aquilo com Sophia. Mas me culpar! Minha presença não poderia ter salvado Amanda e Patrick da morte! Ou será que poderia? Estávamos com quase todas as armas.

– Hugo! Hugo! – sussurrou Gabriel da recepção – Venha aqui!

Atravessei o saguão até as mesas e descansei a cabeça nos ombros. Estava exausto!

– Achei um folheto! – comentou ele – Sobre o tal evento!

Puxei a folha colorida de sua mão enquanto ele fazia sinal para os outros se aproximarem. A parte frontal mostrava uma arte abstrata e um título colorido: “A ciência medicinal”. O verso mostrava uma pilha de textos minúsculos e o local da festa. O salão citado no folheto ficava a três andares de distância na sala 10. Silas leu o folheto e sacou a arma.

– Vamos, temos uma festa para ir! – sorriu ele de um jeito maníaco.

Os corredores estavam lotados de corpos esguichando sangue. Um deles, o mais feio de todos, bombeava um líquido estranho do crânio que encharcava o carpete puído. Alguns ainda tinham um machado projetado na cabeça, indicando a causa de sua morte. O responsável das mortes não estava à vista, apenas o silêncio lotava o lugar. As portas da sala 10 estavam presas por uma barra de ferro que segurava as maçanetas. Elas sacudiam com força e um rosnado seco ecoava lá de dentro.

Silas se virou para o grupo.

– Ok, novo plano! Eu vou abrir as portas com cuidado para facilitar a procura – contou ele – Não hesitem em atirar e não deixem que eles cheguem perto de você!

Todos concordaram com um aceno. Ele se aproximou a porta e soltou a barra. Os primeiros mordedores a saírem foram atingidos por centenas de balas disparadas por cada um de nós. Júnior, Victor, Clara, Gabriel, Beto e eu. Cada um gastando as balas nas centenas de mortos que se acotovelavam para sair. Eram infinitos, cinquenta ou sessenta, não paravam de passar pelas portas babando sangue e rosnando para os atiradores. Quando finalmente os tiros sessaram foi que percebi vozes alteradas nos andares de baixo.

– O que está acontecendo lá embaixo?! – perguntou Júnior.

– Eu vou lá verificar – disse Gabriel – Provavelmente um mordedor atacou o Pedro!

Silas fez sinal para avançar e nós entramos na sala. Antes dos mortos, o salão parecia ser bem bonito. Grossas pilastras decoradas com fitas pretas e douradas, um palco em forma de L com luzes de neon e cadeiras de espaldar reto. Agora ele parecia um cemitério bombardeado. As cadeiras estavam espalhadas e quebradas, algumas pilastras estavam manchadas de sangue e o chão havia ficado lotado de corpos.

– Não vejo nenhum sinal da presidente – rosnou Silas para Victor – Cadê ela?!

– Eu não... Ahh!

Um mordedor agarrou a perna de Victor e cravou os dentes no calcanhar do militar. Sangue espirrou pelo chão e Victor deu outro berro de dor. Fiquei paralisado com a cena e ou outros seguiram meu exemplo. Foi uma tortura eterna até Beto descer seu bastão de beisebol na cabeça do morto.

– Meu Deus cara! Você foi mordido! – exclamou ele.

Victor olhou para mim, suplicando.

– Por favor, atire – disse ele – Na minha cabeça! Um só!

Balancei a cabeça negativamente.

– Você não está pensando direito! – respondi – Ainda podemos reverter isso e...

– Não! Precisa fazer isso! – suplicou ele – Não quero virar um destes monstros! Não quero causar mais sofrimento a ninguém!

Grossas lágrimas escorriam por seu rosto.

Silas apontou sua arma para o rosto de Victor. O tiro a queima-roupa atravessaria sua cabeça.

– Faça! – ordenou Victor

Silas foi impedido por um súbito movimento no canto da sala. Um mordedor havia se levantado e se arrastava para o grupo. Seus olhos eram verdes e vestia um vestido azul-turquesa simples, mas com certa dignidade. O choque de ver o mordedor tirou todos do transe. Até Victor se paralisou ao ver o corpo putrificado de Michelle Martinez.

– Ah não! – exclamou Silas – Não, não, não!

Puxei minha arma e disparei contra a presidente. O tiro explodiu em sua testa e ela caiu com um baque surdo no chão. Ouviu-se outro tiro e Victor caiu para o lado, morto. O cano da arma de Silas projetara a bala.

– Seu idiota! – berrou Beto – Nós podíamos salvá-lo!

– Você é mordido! – disse ele – Você morre!

O silêncio psicopata foi quebrado pela entrada esbaforida de Gabriel na sala. Ele respirava com dor e mal conseguiu pronunciar a frase:

– Tiros... Barulho... Mortos... Estamos ferrados! – disse ele.


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Notas finais do capítulo

Estou pensando em escrever uma fic contando histórias de outros sobreviventes da cidade. Peço que por favor, comentem sua opinião!!

Sr. Weasley



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