O dia já tinha começado bem, Percy Jackson havia me obrigado a colocar uma roupa igual a das outras garotas do acampamento. Calça e blusa. Para uma pessoa que tinha passado todos os anos de sua vida usando um vestido, aquilo era estranho.

Ao meu ver, acabar com a minha tranquilidade de vida dizendo que minha mãe não era quem eu pensava ser era pouco para aquele ´´filho de Poseidon´´, pois ele havia me dado uma ordem de ir até o campo de batalha para começar meu treinamento.

— Quem ele acha que é para ficar me dando ordens!? — sibilei enquanto tentava lutar com uma espada. — Filha de Atena... filha de Atena... como se isso fosse mesmo verdade!

Chutei o feno com força, fazendo o meu ´´poste´´ de treinamento cair no chão.

— Ora ora, a princesa está revoltada? — perguntou com sarcasmo um homem de cabelos longos e pretos, seu corpo era muito musculoso, até demais.

— Isso não é da sua conta — disse, ignorando sua provocação.

— Você é uma belezinha mesmo, entendo que o Percy te queira como um objeto. Mas fazer isso em plena guerra... ele está louco — o homem estava passando as mãos pelos meus cabelos presos com brutalidade, como se estivesse os analisando.

— Não encoste em mim! — gritei, tirando suas mãos de perto.

— Pare com isso alteza, se você pode ser o objeto da chefia pode ser o meu também... minha barraca é logo ali.

— QUIETO! — eu disse me afastando e apontando a espada.

— Você não sabe usar isso, meu anjo — ele tomou a espada da minha mão e jogou para o lado. — Mas se nossa alteza não quer fazer por liberdade, então será a força, o que acha?

— Eu me recuso a passar mais um segundo com você — eu disse com amargura e me dirigi para o centro de treinamento, contudo fui impedida quando ele segurou meu braço com força. — Me solta!

— Eu avisei. Estou pensando em te dopar e fazer o que quiser com esse corpinho, concorda?

— NÃO! PARE! — eu me soltei e fui para o lado do feno.

Por algum motivo, meus sentidos estavam mais aguçados. Consegui em poucos segundos analisar todo o ambiente a minha volta.

Madeira com feno do treinamento, estava jogada no chão, não daria tempo o suficiente para pegar e o atacar, sem contar que eu não era mais forte que ele. A espada, estava atrás do homem, impossível pegá-la sem que ele me pegasse primeiro. Cordas, avistei-as atrás do feno caído, estavam bem emboladas, eu conseguiria correr para trás delas, e com sorte ele tropeçaria no enrosco, caindo e possibilitando que eu o amarrasse ou fugisse. E assim eu fiz, ocorrendo o planejado, o homem havia caído com bruscamente no chão, e aquilo provavelmente tinha quebrado um de seus dentes.

— O QUE É ISSO? — perguntou uma voz que eu conhecia.

— Percy... — disse o homem limpando o sangue da boca — Essa garota é um monstro.

— O que você fez, Annabeth!?

— O QUE EU FIZ? Esse homem queria me assediar! — eu falei, apontando para ele.

— HECTOR! — Percy o levantou e segurou pela gola da blusa — Você fez o quê!?

— Chefia... escute...

— EU NÃO VOU ESCUTAR MERDA NENHUMA — Percy deu um soco no rosto do homem e o largou no chão. — Você acha que só por que é filho de um deus poderoso como Ares pode se aproveitar de uma garota!?

— Eu não... — o homem disse, se levantando — Essa garota bolou uma estratégia muito rápido, duvido que não seja semideu...

— CALA A BOCA! — gritou Percy — Pare de falar asneiras e volte ao trabalho!

Ele afirmou com a cabeça e saiu emburrado, encarando tanto a mim quanto a Percy.

— Obrigada... — eu falei.

— OBRIGADA!? Por que você não gritou!?

— Você não ia escutar!

Ele bufou e cruzou os braços, em seguida continuou com o tom de voz mais baixo, mas ainda em sermão.

— Annabeth, pare de bolar essas táticas perfeitas de filha de Atena.

— Como assim?

— Isso que você acabou de fazer foi um plano de fuga, mais rápido do que qualquer semideus faria, característica legítima de um filho da deusa da sabedoria.

— Por que eu deveria parar?

— As pessoas não podem saber que você é filha de Atena! Muitos dos nossos filhos dessa deusa morreram assassinados ou em combate, está difícil encontrar outros, as pessoas se aproveitariam fácil de você. Como você se diz filha da sabedoria e ainda não tinha pensado nisso?

— O quê!? Até agora você estava elogiando o meu plano.

Ele abriu a boca para argumentar comigo e suspirou, não encontrando algo bom para dizer.

— Isso não vem ao caso — ele disse enquanto olhava para os outros semideuses treinando — Chega, vá ajudar as outras no almoço, teremos uma visita especial hoje.

— Você quer parar de me dar ordens?

— Eu já disse que quem manda nesse acampamento sou eu — Percy falou e foi até os companheiros para ajudá-los com as espadas.

E eu, estava a caminho da cozinha, mas duvidava que me aceitariam para ajudar.

´´Filha da deusa da sabedoria...´´ pensei. ´´Isso não tem sentido!´´

´´Agora vou ter que ajudar a cozinhar porque uma pessoa importante vem ai, que tipo de pessoa importante? Uma namoradinha dele?´´

Continuei andando e vi uma luz vir do meio da floresta, uma luz muito clara.

Algo me dizia que estávamos recebendo visita de um deus pela euforia das pessoas e pela claridade imensa que a floresta estava exalando. Por algum motivo, a deusa que nos visitou me dava uma sensação de conforto, mas não era minha mãe.