A Última Filha de Perséfone escrita por Miss Jackson


Capítulo 5
Lembranças e mais lembranças




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Naquela noite eu não consegui dormir muito bem, era como se fantasmas me estivessem aterrorizando. Mas na verdade era algum tipo de fantasma, eu podia ouvi-los conversar, mas não sabia se eram homem ou mulher.

– Ela está acordada – disse a Voz1. – Vamos dar o fora daqui antes que ela nos veja.

– Ela não pode nos ver, N – bufou a Voz2. – Consegui dar um jeito nisso.

– Vocês dois, parem de discutir e observem! – mandou a Voz3.

– L, cale a boca – mandou a Voz2.

– N¹, você não vai me mandar calar a boca.

– Calem a boca vocês dois, garotos imprestáveis! – sibilou a Voz1.

– Quem está aí? – perguntei, sentindo-me uma garota inútil de filme de terror que pede piedade para o assassino. Revirei os olhos com esse pensamentos. As vozes ficaram quietas. – Saiam do meu chalé, seja lá quem são vocês.

– Sim, ela tem razão, vamos dar o fora daqui – disse a Voz1.

– Nat... – a Voz3 se interrompeu.

– Nat? – ergui as sobrancelhas e suspirei. – Natalie, Louis e Nico, podem parar de me espionar agora.

Natalie, Louis e Nico saíram das sombras e suspiraram, frustados, eu bufei e me sentei na cama.

– Por quê vocês estavam me espionando?

– Er, estávamos cuidando de você – disse Natalie, coçando a nuca. Nico revirou os olhos.

– A verdade é que precisávamos ter certeza de que você não iria sonhar com nada e falar em voz alta – disse ele, Louis o beliscou. – Ei!

– Nico, por quê você está assim? – perguntou Louis. – Você nunca foi assim.

Nico se afastou um pouco e abaixou a cabeça.

– Preciso ir – disse ele.

– Não – disse eu. – Agora você vai explicar para o Louis o que ele quer saber.

– Eu não vou explicar nada – retrucou Nico. – Por favor, me deixem ir.

– Nico, explique! – pediu Louis, pondo as mãos nos ombros de Nico. Nico o encarou, com raiva. Eu me levantei da cama e me pus entre os dois. – Anddie, sai daí, você vai apanhar.

Olhei para o Nico, erguendo as sobrancelhas e esperando que ele me batesse.

– Não – murmurou ele e se afastou um pouco mais.

– Pensei que uma briga estava se formando por aqui – disse Natalie. – O Nico está diferente.

– Eu não estou diferente! – insistiu ele.

– Nico – chamei com a voz mais suave que consegui. – Você está bem?

Ele hesitou.

– E-Estou...

– Cassino Lótus – disse e Nico arregalou os olhos. Uma dor de cabeça me invadiu. – E-Eu estou me lembrando...

Eu me sentei na cama e coloquei o rosto entre as mãos, um feixe de flashbacks atravessando minha cabeça.

– Flor de Lótus, Bianca... – disse, tirando o rosto das mãos e encarando os três, que agora estavam ajoelhados na minha frente lado a lado.

– Bianca – repetiu Louis. – Qual era o sobrenome dela?

Me esforcei um pouco.

– Di Ângelo – olhei para Nico. – Bianca di Ângelo e Nico di Ângelo, eu lembro.

– Ela está lembrando – disse Natalie. – De quê mais você lembra?

– Nico e Bianca eram meus amigos, Cassino Lótus, u-um desafio...

Nico grunhiu.

– Sim – concordou ele. – Galera, isso não vai poder sair daqui, o.k? Só nós podemos saber disso.

– Mas Quíron pode ajudar – protestou Louis.

– Não, Louis – disse Natalie. – Nico está certo, isso pode causar um problema. Continue, Anddie.

– Eu era uma criança, eu só tinha 10 anos! – exclamei. – Um desafio infantil, muito infantil, um jogo e um selinho. Depois uma separação, uma despedida e um desespero, e depois eu e meu pai fomos embora.

– Você não consegue se lembrar sobre o desafio, o jogo, o selinho, a separação, a despedida e o desespero? – perguntou Louis.

– A separação, sim – assenti. – Um homem foi buscar duas crianças, e eu nem pude me despedir direito. Bianca e Nico, sim, ele os buscou. – Olhei para Nico. – Nico, me explique isso.

– Não há como explicar, não agora – disse ele tristemente. – Mas o desafio...

– Foi proposto por Bianca – disse e ele assentiu. – Bianca era sua irmã, não era?

– Sim, ela morreu na época em que saímos do Cassino – respondeu. – Longa história.

– Sinto muito... – disse. – Eu gostava dela.

– Prossiga – pediu ele.

– Só me veio isso na cabeça – suspirei. – Não estou conseguindo entender mais nada.

Natalie pegou na minha mão.

– Anddie, sempre que você se lembrar de algo você deve nos chamar, ou chamar algum de nós três, está bem? – disse ela, eu assenti.

– Agora eu posso dormir? – perguntei, todos assentiram.

– Boa noite, Anddie – disseram em uníssono. Eu abracei Natalie e sussurrei:

– É tudo tão confuso...

Quando eu a soltei ela e Louis e se afastaram e Nico continuou ajoelhado na minha frente.

– Me faça uma promessa – pedi.

Ele corou.

– Qualquer coisa.

– Você vai me explicar tudo isso assim que der.

– Juro pelo Rio Estige – sorriu e se inclinou, dando-me um beijo na bochecha. – Olhe, eu sei que nós não temos muita intimidade, mas... Ah, tanto faz, desculpe.

Eu ri.

– Tudo bem. Acredito que se nós nos conhecíamos quando ambos nós dois tínhamos dez anos lá no Cassino Lótus nós tínhamos uma amizade, talvez.

Louis pigarreou.

– Vamos lá, Di Ângelo – disse ele, Nico me lançou um último olhar antes de dar as mãos com os dois e os três desaparecerem nas sombras.


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