A Última Filha de Perséfone escrita por Miss Jackson
Naquela noite eu não consegui dormir muito bem, era como se fantasmas me estivessem aterrorizando. Mas na verdade era algum tipo de fantasma, eu podia ouvi-los conversar, mas não sabia se eram homem ou mulher.
– Ela está acordada – disse a Voz1. – Vamos dar o fora daqui antes que ela nos veja.
– Ela não pode nos ver, N – bufou a Voz2. – Consegui dar um jeito nisso.
– Vocês dois, parem de discutir e observem! – mandou a Voz3.
– L, cale a boca – mandou a Voz2.
– N¹, você não vai me mandar calar a boca.
– Calem a boca vocês dois, garotos imprestáveis! – sibilou a Voz1.
– Quem está aí? – perguntei, sentindo-me uma garota inútil de filme de terror que pede piedade para o assassino. Revirei os olhos com esse pensamentos. As vozes ficaram quietas. – Saiam do meu chalé, seja lá quem são vocês.
– Sim, ela tem razão, vamos dar o fora daqui – disse a Voz1.
– Nat... – a Voz3 se interrompeu.
– Nat? – ergui as sobrancelhas e suspirei. – Natalie, Louis e Nico, podem parar de me espionar agora.
Natalie, Louis e Nico saíram das sombras e suspiraram, frustados, eu bufei e me sentei na cama.
– Por quê vocês estavam me espionando?
– Er, estávamos cuidando de você – disse Natalie, coçando a nuca. Nico revirou os olhos.
– A verdade é que precisávamos ter certeza de que você não iria sonhar com nada e falar em voz alta – disse ele, Louis o beliscou. – Ei!
– Nico, por quê você está assim? – perguntou Louis. – Você nunca foi assim.
Nico se afastou um pouco e abaixou a cabeça.
– Preciso ir – disse ele.
– Não – disse eu. – Agora você vai explicar para o Louis o que ele quer saber.
– Eu não vou explicar nada – retrucou Nico. – Por favor, me deixem ir.
– Nico, explique! – pediu Louis, pondo as mãos nos ombros de Nico. Nico o encarou, com raiva. Eu me levantei da cama e me pus entre os dois. – Anddie, sai daí, você vai apanhar.
Olhei para o Nico, erguendo as sobrancelhas e esperando que ele me batesse.
– Não – murmurou ele e se afastou um pouco mais.
– Pensei que uma briga estava se formando por aqui – disse Natalie. – O Nico está diferente.
– Eu não estou diferente! – insistiu ele.
– Nico – chamei com a voz mais suave que consegui. – Você está bem?
Ele hesitou.
– E-Estou...
– Cassino Lótus – disse e Nico arregalou os olhos. Uma dor de cabeça me invadiu. – E-Eu estou me lembrando...
Eu me sentei na cama e coloquei o rosto entre as mãos, um feixe de flashbacks atravessando minha cabeça.
– Flor de Lótus, Bianca... – disse, tirando o rosto das mãos e encarando os três, que agora estavam ajoelhados na minha frente lado a lado.
– Bianca – repetiu Louis. – Qual era o sobrenome dela?
Me esforcei um pouco.
– Di Ângelo – olhei para Nico. – Bianca di Ângelo e Nico di Ângelo, eu lembro.
– Ela está lembrando – disse Natalie. – De quê mais você lembra?
– Nico e Bianca eram meus amigos, Cassino Lótus, u-um desafio...
Nico grunhiu.
– Sim – concordou ele. – Galera, isso não vai poder sair daqui, o.k? Só nós podemos saber disso.
– Mas Quíron pode ajudar – protestou Louis.
– Não, Louis – disse Natalie. – Nico está certo, isso pode causar um problema. Continue, Anddie.
– Eu era uma criança, eu só tinha 10 anos! – exclamei. – Um desafio infantil, muito infantil, um jogo e um selinho. Depois uma separação, uma despedida e um desespero, e depois eu e meu pai fomos embora.
– Você não consegue se lembrar sobre o desafio, o jogo, o selinho, a separação, a despedida e o desespero? – perguntou Louis.
– A separação, sim – assenti. – Um homem foi buscar duas crianças, e eu nem pude me despedir direito. Bianca e Nico, sim, ele os buscou. – Olhei para Nico. – Nico, me explique isso.
– Não há como explicar, não agora – disse ele tristemente. – Mas o desafio...
– Foi proposto por Bianca – disse e ele assentiu. – Bianca era sua irmã, não era?
– Sim, ela morreu na época em que saímos do Cassino – respondeu. – Longa história.
– Sinto muito... – disse. – Eu gostava dela.
– Prossiga – pediu ele.
– Só me veio isso na cabeça – suspirei. – Não estou conseguindo entender mais nada.
Natalie pegou na minha mão.
– Anddie, sempre que você se lembrar de algo você deve nos chamar, ou chamar algum de nós três, está bem? – disse ela, eu assenti.
– Agora eu posso dormir? – perguntei, todos assentiram.
– Boa noite, Anddie – disseram em uníssono. Eu abracei Natalie e sussurrei:
– É tudo tão confuso...
Quando eu a soltei ela e Louis e se afastaram e Nico continuou ajoelhado na minha frente.
– Me faça uma promessa – pedi.
Ele corou.
– Qualquer coisa.
– Você vai me explicar tudo isso assim que der.
– Juro pelo Rio Estige – sorriu e se inclinou, dando-me um beijo na bochecha. – Olhe, eu sei que nós não temos muita intimidade, mas... Ah, tanto faz, desculpe.
Eu ri.
– Tudo bem. Acredito que se nós nos conhecíamos quando ambos nós dois tínhamos dez anos lá no Cassino Lótus nós tínhamos uma amizade, talvez.
Louis pigarreou.
– Vamos lá, Di Ângelo – disse ele, Nico me lançou um último olhar antes de dar as mãos com os dois e os três desaparecerem nas sombras.
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