Doce Inverno de Eternas Lembranças escrita por ju_mysczak


Capítulo 9
Vermelho


Notas iniciais do capítulo

Cara de paaau! Volteei :D
Ok, não me matem! O capítulo ficou curtinho sim, estava sem criatividade :/ Demorei um século para escrever! E fiquei um tempo sem nem entrar no Nyah por problemas de saúde :P
Boa leitura, lindos! *.*



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Ciel demorou para se acostumar à luz forte das velas que preenchiam a sala de sua mansão. Acabara dormindo no caminho e ainda se sentia atordoado por ter sido acordado de seu sonho pacífico. Com as mãos protegendo os olhos, cambaleou pelo corredor até conseguir adentrar o quarto e se jogar na cama, permitindo que o mordomo trocasse suas roupas na mesma posição.

O dia fora cansativo e a única coisa que o garoto desejava era dormir.

– Sebastian, não me traga o jantar. Estou sem fome.

– O jovem mestre deve saber que sua alimentação correta agora que está se recuperando é de suma importância para que tenha força em suas obrigações. – Respondeu complacente o outro.

– Está bem. – Decidiu depois de pensar. – Prepare algo simples.

...

As longas penas do animal estavam sujas de sangue. Sebastian o carregava pelas pernas, balançando o bico do animal enquanto gotas carmesins pingavam na relva úmida. O machado em uma de suas mãos caiu ao chão, fazendo um baque surdo e espantando alguns pintinhos que, curiosos e horrorizados, rondavam o estranho acontecimento.

A figura negra e alta encaminhou-se à porta dos fundos da casa principal, adentrando a cozinha enquanto cuidava para não sujar o piso cinza de sangue. Deixou a presa pendurada de cabeça para baixo sobre um balde e começou a depená-la.

Cortou os pedaços e os deixou de molho. Depois de remover o gosto forte da carne, passou a descascar e espremer as laranjas. Pincelou os pedaços alvos da ave com o suco, deixando o gosto suave e amaciando o músculo ao mesmo tempo. Guardou tudo e chamou o chef de cozinha para lavar a louça.

Após terminar suas obrigações na cozinha, encheu o bule com a água da chaleira, colocou-o sobre a bandeja e dirigiu-se ao quarto, batendo levemente na porta antes de entrar. Abriu as cortinas e as janelas, puxou os lençóis que cobriam o rosto de seu mestre e o chamou. O garoto ouviu, mas não se deu o trabalho de responder, apenas para irritar o mordomo.

– Mestre, o café da manhã está pronto e já está tarde.

– Cancele todos os meus compromissos de hoje, não farei mais nada.

– E deixar todas as suas obrigações de lado por um mero dia qualquer? Não é o jovem mestre que conheço.

– Dia qualquer? Por mais que eu tente me enganar e finja, hipocritamente, este nunca será um dia qualquer, esta semana nunca será uma semana qualquer enquanto eu viver! – Ciel disse, frio. Mas o olhar que direcionou ao mordomo provava toda sua angústia interna, mesmo que o resto de seu rosto mentisse, e isso abalou a certeza do mais velho.

Sem dizer mais uma palavra, Michaelis deixou o chá e os pãezinhos sobre a mesa de cabeceira e passou a escolher a roupa que o jovem usaria. Era um dia especial, uma ocasião especial, e pedia um traje mais delicado.

Após o desjejum do pequeno, deu-lhe banho e o vestiu. Primeiro a camisa preta, depois a meia cinza, presa com couro escuro, seguida pela calça comprida também negra e um casaco Midnight Blue.

Ciel permaneceu calado durante todo o caminho. Levava em seu colo o grande buquê de rosas vermelhas, como ela gostaria que fossem. Seu olho queimava, mas ele ainda não choraria. Memórias invadiam sua mente a todo instante. Olhou para seus pés, os sapatos perfeitamente lustrados, o frio fazendo doerem seus dedos.

Os portões do cemitério foram abertos e, ao chegarem à lápide, viram que vários já haviam passado por lá e deixado flores. Ciel depositou sua humilde oferenda e ajoelhou-se. Sebastian afastou-se para dar privacidade ao mestre. Uma grande estátua de Astreia, segurando sua balança, em mármore cinza.

“O vermelho a preencheu então, pela última vez. Inundou todas as partes mais íntimas de seu corpo e a beijou serenamente. O vermelho uma última vez a amou.”

Sinto sua falta. Oh, como sinto... Minha tia.

Desde a morte de sua tia, prometera a si mesmo voltar todos os anos ao local onde fora enterrada, para lembrar-se de sua história. Madame Red fora irmã de sua mãe e apaixonada por seu pai. Por amor e ódio, ela fez coisas terríveis, mas as memórias ternas e vagas de uma infância feliz ao seu lado eram o suficiente para o conde. Por mais de uma vez sua tia o cuidou como a um filho e, antes de morrer, mostrou compaixão e piedade para com o sobrinho.

“Ciel permaneceu ao seu lado apenas durante a primeira missa. Não precisava de tudo aquilo para se despedir. O vestido carmesim ficou esticado sobre o corpo inerte e, conforme as ordens do conde, foi enterrado da mesma forma.”

O vermelho sempre combinou com a madame.

Um barulho alto de folhas pisadas chamou a atenção do amo e seu servo. Alguém mais estava presente. Uma figura alta, encapuzada, com as mãos no bolso e visivelmente de uma classe social bastante inferior, espreitava por entre as árvores.

– Olá! Me desculpem o incômodo. – Pediu o homem educadamente enquanto dava um passo à frente.

– Quem é você? – Ciel indagou, surpreso com a aparição do homem que se mostrou fardado.

– Meu nome é Henry Kelly. Estive observando o cemitério desde cedo. Tenho razões para crer que conheceu minha irmã. – Retirou seu chapéu puído e sujo.

– Não exatamente. Iríamos para lá agora mesmo.

– Então faço questão de acompanha-los. – O homem inclinou-se em uma referência, permitindo que os outros dois tomassem a frente. Caminharam até uma parte mais afastada, onde os túmulos eram simples e, muitas vezes, inespecíficos. – Eu estava servindo o exército da rainha quando isso aconteceu. Fui descobrir apenas em junho, quando voltei ao país. Tive de investigar tudo por conta própria, já que a polícia não foi de grande utilidade. Sua tia a matou.

O homem encarava Ciel com olhos plácidos. Não havia rancor ali, nem ódio ou qualquer outro sentimento referente ao conde.

– Não o culpo pelo que aconteceu. Nem tenho quem vingar, já que todos os envolvidos morreram. A morte muitas vezes é liberdade, não? Pelo menos eu penso assim. Ela não era feliz com a vida que levava. – Se ajoelhou, acariciando a lápide. Passou seus dedos sobre o baixo relevo, onde se lia “Mary Jane Kelly 1863-1888”.

– Eu tenho alguns compromissos agora, mas se o senhor precisar de qualquer coisa, eu, o conde da família Phantomhive, estou disposto a tentar de alguma forma reparar as consequências do ato de minha tia. Mande uma carta para minha mansão e esteja certo de receber auxílio, dentro do que for possível.

– O conde é gentil para mim. É fato que Mary era tudo o que me havia restado de família e agora estou à própria sorte. Caso precise de ajuda, o deixarei saber.

Ciel acenou e partiu. Era incrível aquele homem saber tanto quando nem a polícia descobrira a verdade. Estava curioso, mas também não podia perguntar abertamente. Ciel aprendera a ser mais cuidadoso com o que falava.


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Notas finais do capítulo

Tudo certo, pessoal? E aí? Como vai a vida? Estão todos vivos, né? e.e
Agradecendo novamente à nossa Midi-chan, pelas betagens perfeitas!