Doce Inverno de Eternas Lembranças escrita por ju_mysczak


Capítulo 7
Tímido sentimento


Notas iniciais do capítulo

“Toda alma viva procura a verdadeira luz. Mas quando você as deixa brilhar, as sombras mais escuras as escondem." Through the Ages.



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O dia amanheceu úmido e nublado. As flores flavescentes no exterior inundavam-se em orvalho. Os únicos pássaros que ousavam se aproximar eram carniceiros de longas penas sombrias.

Ciel acordou sentindo um imenso peso em seu peito. Uma aflição percorria sua espinha. Mas estava calmo, estranhamente tranquilo. Sentou-se, esperando o mordomo, que não tardou a aparecer.

Sebastian, ao contrário dos dias anteriores, abriu todas as janelas e cortinas, recebendo urros de reclamação de seu mestre. Serviu um chá forte e croissants recheados com queijo branco, para dar mais energia ao conde.

– O que é isso, Sebastian? Pergunta, abismado com a ousadia do outro em mudar de atitude repentinamente.

– Jovem mestre possui tarefas hoje. Uma carta da rainha acabou de chegar de Londres.

Os olhos do menor se arregalaram imediatamente e ele passou da calma para a euforia tão rápido quanto o trajeto de uma bala.

– Dê-me!

Com um sorriso satisfeito, o mordomo entregou a carta deslacrada. Já lera o conteúdo e sabia que era exatamente o que eles precisavam no momento.

– Tráfico? Outro caso sobre tráfico? Sebastian, prepare tudo! Iremos à capital hoje!

Uma felicidade genuína transparecia no mordomo em ver o mestre diferente, o que o assustava. Poderia ele ficar feliz pela simples mudança de humor do menor?

...

Ciel precisou de ajuda para levantar da cama e ir até o banheiro. A fragilidade dele preocupou tanto Sebastian que chegou a perguntar se o garoto não preferiria adiar a viagem para o dia seguinte, recebendo um olhar mortífero em resposta.

Lavando cada parte de seu pequeno corpo, o mordomo não pôde deixar de perceber cada osso proeminente, sua pele seca colada como a de uma criança passando fome. A barriga, já lisa de um adulto, estava então ligeiramente inchada. Os braços mal tinham forças para se erguerem sozinhos. O maior sentia ânsias com a visão. Doente.

Devidamente arrumado, Ciel foi apoiado por Sebastian até a floresta, onde caminhou por algum tempo. Já conseguindo andar sozinho e recuperando aos poucos a força muscular nas pernas, foi descansar no alpendre. O almoço foi reforçado e se obrigou a comer mais do que queria e aguentava no momento. Nenhum comentário foi feito por parte dos empregados, que observavam tudo com alegria.

...

Calma foi a viagem até a grande cidade. Os dois passageiros observavam pela janela o clima úmido do outono enquanto o cocheiro estalava por vezes o chicote. As folhas acumulavam pela estrada a deixando em tons de amarelo e laranja. Os cavalos relinchavam em nervosismo e se apressavam.

Em Londres nenhum tempo foi perdido. Diretamente em East End, interrogaram pessoas e analisaram pistas, mas nenhum resultado foi sucedido. Todos diziam a mesma coisa: três vezes por semana homens vestidos de negro levavam caixas grandes e pesadas até um pequeno pub onde, misteriosamente, desapareciam.

Poderia ser apenas mercadoria justa sendo vendida, mas o conteúdo nunca era encontrado pelas autoridades. Simplesmente some... Muita pesquisa foi feita pelos dois durante a longa tarde. Quando escureceu, encontraram com o chefe da Scotland Yard para uma pequena conversa. Como sempre acontecia, o homem não se sentiu nem um pouco a vontade em falar sobre seu caso e até um tanto intimidado.

– É apenas isso que sabe, Cão. Não há mais nada, nenhuma pista, nada! Respondia, irritado.

– Esta bem, não há a necessidade de ser tão rude. Ciel aponta, entediado com a falta de capacidade do outro. Se fui chamado é porque novamente não conseguiu fazer seu trabalho, não é?

– Oras, seu...

– Bem, já estamos de saída mesmo. Venha, Sebastian.

– Sim, meu lorde.

O caminho para a mansão da cidade foi cheio de conversas a respeito do caso. Ciel não parava de olhar pela janela do carro, espiando por entre as cortinas pretas com uma sensação estranha preenchendo sua barriga e lhe causando náuseas.

– Estranho é o fato de nenhum homicídio ter sido envolvido. - Se fosse o caso, Undertaker poderia ajudar como o informante que era. - Por que a rainha se incomoda tanto com um tráfico que mal deu repercussão nos jornais a ponto de me chamar?

– Talvez ela tenha outros motivos além de parar esse comércio ilegal.

Sebastian se sentia de alguma forma reconfortado ao ver seu mestre pensando em algo além de seus remédios. Estava há algum tempo ignorando essa vontade tímida de proteger o garoto, mas ela estava aumentando e ele já não conseguia mais entender o que acontecia consigo. Akumas como ele não deveriam se importar tanto com a presa.

– Mestre, deixe-me fechar a janela. Esse vento de outono não fará bem a sua saúde.

Um olhar espantado por parte de Ciel o fez aquietar-se rapidamente após correr o vidro. Permaneceu sentindo o olhar constante e desconfiado sobre si.

O cocheiro parou os cavalos e o mordomo ajudou o menor a descer. Imediatamente seu servo fiel e amigo, o príncipe de Soma, veio recebê-los com um abraço caloroso demais para o momento, logo seguido por seu próprio companheiro. Pisando em pequenas poças de água, caminharam até a sala, onde Agni e Sebastian serviram chá quente e biscoitos.

Com a desculpa de querer descansar melhor para o trabalho que seria realizado no dia seguinte, o conde se retirou para seus aposentos, deixando o clima pesado e monótono que sua presença sempre marcava nos lugares.

"– Eu não posso correr, eu não posso fugir. Sei que está tudo acabado para mim, mas não permitirei que meu filho sofra o mesmo que eu!

– Você sequer sabe o que está dizendo. Ciel é uma criança e terá o mesmo futuro que o pai. Ele dizia calmamente, sem perder a compostura.

– Eu realmente espero que não, Vincent. Eu realmente espero que não. Olhe no que você se tornou! Onde está seu amor?

– O amor não sobrevive a esse mundo. Uma hora ou outra temos de encarar a realidade.

A mulher chorosa caiu de bruços, escondendo a face sobre os pés do marido. Atrás da porta, a pequena cabeça observava a cena, triste por ver sua mãe chorar de novo. Papai sempre a fazia chorar. Por que ele não era tão legal com a esposa quanto era com o filho?"

Ciel não pôde concluir seu raciocínio, a porta foi aberta e Sebastian entrava, trazendo a lista de suspeitos que lhe fora ordenada. O menor percorreu os nomes com o olhar e deixou-a sobre o criado-mudo.

– Amanhã verei isso. Sebastian... Começou sem saber ao certo como continuar. Pensei que tivesse mandado você parar de fingir preocupação comigo.

– Ordenou sim, meu lorde.

– Então o que foi aquilo no carro?

– Eu estava verdadeiramente preocupado. Apenas isto.

Ciel abriu a boca algumas vezes, mas nada saia. Embasbacado com a reação do outro, dispensou-o. Passou os dedos sobre o olho nu, onde ficava o selo maldito, se perguntando o que significava aquilo. Ele não entendia o que estava acontecendo. Desconfiava de algo, pois percebia os olhares diferentes que o mordomo lançava, por mais discretos que fossem. Não era a primeira vez que algo assim acontecia. Mas o que esse demônio quer? Ele não tinha o direito de ludibria-lo e nem conseguiria. Ciel sabia que não poderia nunca contar com ninguém para se importar com ele, muito menos com Sebastian.

...

– Senhor Sebastian, o que houve com o mestre Ciel?

– Ele ficou doente por alguns dias e se recusa a seguir as precauções necessárias para evitar maiores problemas. Respondeu à mão direita divina enquanto misturava os ingredientes.

– Perdoe-me, senhor. Não quero criticá-lo de forma alguma, mas não seria a saúde de seu senhor de importância máxima ao mordomo? Afinal, sem forças do jeito que ele anda, mal conseguiria sobreviver alguns dias sem sua presença. Ciel está demasiado fraco, precisa comer.

O mordomo teve que parar de parar de enrolar as massas de torta para encarar o outro. Seus olhos arregalados pela súbita revelação logo voltaram ao normal.

– Bem, Agni. Parece que você está certo afinal. É sim meu dever cuidar de sua saúde. Falou, mais para si que para o colega. Não pôde evitar o alívio que sentiu depois do pequeno discurso da Mão de Deus. Era apenas isto então. Estou preocupado porque sei ser minha obrigação. O instinto akuma está apenas me guiando. É uma mera obrigação...


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Notas finais do capítulo

Obrigada especial a Lucas Lima e Viic, que sempre comentam os capítulos. Vocês fazem juju muito feliz, viu? ^.^