New Age escrita por Rafaela


Capítulo 12
Capítulo 11 - Enterro


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora da atualização, talvez agora fique mais difícil de postar e só dê para fazê-lo nos finais de semana.
Enfim, espero que gostem. Beijos



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Eu fui uma das primeira a levantar, estava decidida a saber o que aconteceu -se havia sido proposital ou um ataque. Eu faria isso por mim e por Lia.
Nunca havia me sentido tão determinada a fazer algo, sem medo e sem confusão. Meu corpo não doía mais tanto, levantei-me e peguei uma blusa de manga comprida preta junto com a calça moletom.
Fui até Lia e coloquei as mãos em seus ombros,sacudi-a.
–Vamos. Pegue sua roupa. -Falei, minha voz firme. Ela me olhou nos olhos e assentiu. Talvez ela tenha compreendido que eu não estava brincando, que eu queria saber algo... Só, talvez.
Lia colocou os pés para fora da cama e se pôs em pé. Direcionou-se a sua mala e retirou lá de dentro um vestido preto e curto. Olhei meio incrédula e então acenei para saírmos do quarto.

Andamos pelo corredor em silêncio, Lia me seguindo e eu ''guiando-a'', havia apenas o barulho dos nossos pés batendo no chão.

Seguro a maçaneta e abro a porta do banheiro, cada uma de nós se direciona a uma porta. Tiro a roupa que estava e passoa blusa de manga comprida pela cabeça, logo após os braçose então coloco minhas pernas dentro do moletom. Tiro meus cabelos de dentro da blusa e largo meus braços ao lado do corpo.
Quando saio, vejo Lia olhando-se no espelho. Por um segundo senti inveja. Ela tinha a mesma altura que eu, talvez alguns poucos centímetros mais baixa, mas ela tinha mais corpo que eu. Seu vestido parava na metade de sua coxa, grudando-lhe por todo o corpo e se ajustando na cintura, modulando e destacando suas curvas. Seus cabelos loiros caido no meio de suas costas... Enquanto eu usava minha blusa preta larga e calça moletom.
–Precisamos comprar roupas novas para você. -Eram as primeiras palavras que ela pronunciava em horas, e isso me fez sorrir, mesmo sendo o sem tom de frustração.
–Não vamos á uma festa. -Digo.
–Mas você tem que aprender a se vestir. Faremos isso assim que tivermos um tempinho. - ''Um tempinho'', nós... Eles, Crânios, não temos... Tem, ''tempinhos''. Ficávamos estudando o tempo todo ou ajudando as pessoas.
Lia se virou para sair mas eu a impedi, colocando a mão em seu braço nu -diferente do meu. Ela aprou e olhou para mim.
–Lia. -Falei. -Eu... Nós precisamos descobrir oque aconteceu. -Falei, a voz ficando fraca. Ela assentiu.
–Nós eramos amigos antes de chegarmos aqui. -Falou ela, sua voz falhando. -Nos conhecíamos desde pequenos, íamos para a escola juntos. Não sabia que iríamos acabar na mesma Província mas paramos... E eu fiquei feliz por isso, ao ver que ele estava aqui comigo como um amigo que sempre esteve presente. -Ela pausou tentando segurar o choro. -E agora eu vejo que não era para mim ter ficado feliz com isso. Aqui não é um lugar para brincadeiras, Candy. Não posso... Não vou conseguir ficar aqui por muito tempo mais. -Ela soluçou, mas não chorou. -Não sem ele, não lembrando do que eu vi acontecer bem na minha frente. -E então ela passou as mãos nos olhos. Eu assenti, contendo a vontade de chorar. -Talvez eu não consiga te ajudar com isso, digo, a tentar de ajudar a descobrir o que se passou lá fora. -Ela respirou fundo. -Você não o conhecia tão bem quanto eu e não pode sentir o que eu estou sentindo. Você nem ao menos chorou e eu não te culpo por isso, vocês se conehceram por um dia. -Ela fez uma pequena pausa, mas me impedindo de falar, ela prosseguiu. -No entando eu ficaria imensamente agradecida se você realmente tentasse. -Finalizou.
–Lia, eu vou tentar. Vou dar o meu melhor, todo o possível e até mesmo o impossível, mas eu vou descobrir o que aconteceu. -Garanti-lhe. Minha amiga loira deu um pequeno sorriso e então saímos.
...
Encontramos Thiago no nosso quarto junto com os outros Iniciados já prontos. O Instrutor me olhou de cima a baixo e pude vê-lo reprimindo um sorriso.
Qual o problema com as minhas roupas?!
–Tudo bem, as duas estão aqui. Vamos. -Ele fez um movimento com a mão e se retirou, nós o seguimos pelos corredores com um único barulho: Dos nossos pés batendo no chão e nossa respiração.
Nós encontramos Everton no meio do caminho e outras pessoas da Força que eu não reconhecia por nome.
Saímos da Província pela segunda vez no dia e isso me deu um calafrio só de pensar no que aconteceu pela manhã, quando saímos pela primeira vez.
Fomos em direção ao trem. Alguns pularam e eu esperei a minha vez.
Pulei.
Pulei sem dificuldade nenhuma. Thiago segurou meus braços e rápidamente me soltou, arranjei um cantinho e me sentei enquanto Lia vinha para o meu lado.

Ficamos em silêncio o período todo, observei a paisagem cinza lá fora, e chegamos a um lugar quase fora de todo o território das províncias. O cemitério.
Thiago e Everton foram os primeiros a pularem do trem. Logo em seguida começaram a sair os outros, eu fui uma das últimas.
Meu Instrutor bipolar me olhou como se perguntasse se eu precisava de ajuda. Neguei com a cabeça e saltei. Acabei caindo na frente dele, mas não liguei. Olhei para os lados e a paisagem me arrepiou. Então começamos a andar e eu não escutava mais as instruções. Era um local completamente cinza, um pouco escuro e cheio de lápides nas paredes.
Tentei não ler os nomes, tentei não reparar em nada. E não reparei, tanto que não notei que Thiago estava me observando, ao meu lado, enquanto caminhávamos até ele falar:
–Está tudo bem?
Eu dei um pulo com o susto e tampei a boca para não sair som do que poderia vir a ser um grito.
Nunca fui em um local como esses antes e era de dar arrepios. Não sabia o que responder a ele, não queria responder.
Ele soltou um suspiro e olhou para frente. Nós estávamos para trás, todos os outros já haviam virado o corredor e isso, ficar somente com Thiago, naquele ambiente, me deixou completamente arrepiada. Fui dar o primeiro passo, mas ele encostou a mão em meu ombro.
–Candy. -Chamou. Me virei para trás, para ele.
Ele não prosseguiu.
–O que foi? -Questionei, por fim.
Ele respirou fundo.
–O que está tentando fazer, aliás? -Mas eu senti que não era essa a pergunta.
–Não... Não era isso que você ia me perguntar, você ia falar outra coisa. -Falei, esquecendo-me de onde estava.
–Mas foi isso que eu perguntei, então responde. -Seu tom de voz era autoritário e isso me irritou profundamente.
–Você é o quê? Bipolar? Porque é o que está parecendo, o que você tem? -Perguntei tentando não soar histérica.
–O que eu tenho? O que você tem? Você acha que eu sou um dos seus amigos, que pode me falar comigo como bem quiser mas eu sou o seu Instrutor, entenda isso. Candy. -Levantei as sobrancelhas, incrédula.
–Meus amigos? Está falando de quem, afinal? Porque um deles acaba de morrer e estamos discutindo no enterro dele! E se você acha que só porque é meu Instrutor pode falar comigo como bem quiser, então... Bem.. -Tentei me acalmar, respirei fundo e murmurei um ''está enganado'', e então me virei para seguir adiante. Não iria discutir como ele, não nesta hora e muito menos neste local.
...

Lia colocou seu rosto em meu ombro e começou a chorar desesperadamente quando começaram a enterrá-lo. Fechei os olhos com força e a abracei tentando conter o meu choro. Eu poderia me trancar no banheiro e chorar depois. Não agora, nem na frente deles.
A família de Sam estava toda, ou pelo menos eu acho, lá. Sua mãe, seu pai, uma menina um pouco mais nova que nós com cabelos loiros no ombro e olhos claros, um menino mais novo que ela, com cabelos castanhos caindo nos olhos. Ambos estavam chorando, mas se contendo.
Lia havia ido falar com eles, como se se conhecessem a muito tempo e deduzi que se conheciam mesmo, pelo fato de Lia e Samuel se conhecerem desde pequenos, segundo ela.

Quando tudo acabou, os Iniciados e seus Instrutores se dirigiram para á Força. Nem todos os Iniciados foram, não éramos obrigados, sabíamos disso.
Novamente caminhamos em silêncio. Lia com a cara inchada de tanto chorar, eu com as mãos nos bolsos do moletom e de cabeça baixa. Thiago e Everton guiando o pequeno grupo -alguns Iniciados que foram acabaram voltando com Iniciados nascidos na Força ou com os poucos membros da Força que acabaram indo embora junto com eles - que sobrou, para dentro da Província.
Everton nos deixou no meio do caminho, Thiago nos levou até o quarto e quando entramos ele nos lembrou do treinamento mais tarde. Concordamos e então ele saiu.

Lia desabou na sua cama, olhando para cima. Respirei fundo, esfreguei os olhos e então fui até minha mala, pegando uma blusa de regata preta e uma jaqueta.
Dei uma ultima olhada em Lia,respirei fundo e me retirei do quarto, caminhei até o banheiro, tranquei a porta atrás de mim e me permiti chorar enquanto me trocava. Havia sido um dia cheio... Dois dias extremamente cheios e eu precisava fazer isso, precisava chorar. Mas não esfreguei o rosto, se esfregasse iria ficar vermelha e me entregar.

Respirei fundo duas vezes, abri a torneira e lavei o rosto. Ao lado esquerdo tinha uma toalha branca, peguei-a e coloquei no rosto enxugando a água delicadamente para que não deixasse minha pele vermelha.
Abanei meu rosto para diminuir o inchasso e respirei fundo mais uma vez.
Destranquei a porta e girei a maçaneta. Andei em direção ao quarto e deixei minha blusa em cima da cama.
Eu iria treinar. Talvez eu me desligasse desses últimos acontecimentos.
Talvez me fizesse bem.


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