Thalia III

After my dreaming / I woke with this fear
What am I leaving / When I'm done here?

Tentei abrir os olhos que pesavam de mais, lentamente fui me acostumando com a claridade enquanto minhas pupilas dilatavam. Apalpei o lugar ao meu redor. Meus olhos se abriram violentamente.

– Merda, onde eu to? – levantei em um pulo e fiquei tonta, aos poucos fui lembrando-me da noite passada, e de como apaguei rápido. – Certo, eu ainda não fui sequestrada nem nada do tipo, é só a minha casa. – falava como um mantra para acalmar meus pensamentos que não funcionavam bem com a maldita dor de cabeça que eu sentia.

Que horas devem ser? Busquei meu celular. A luz atrapalhou um pouco meus olhos pouco acostumados. Duas ligações da Art. 5 mensagens.

Onde você tá?

Art.

Está disponível agora? Me liga.

Apolo.

Eu to ficando preocupada, vai ficar na casa de um amigo hoje?

Art.

Se você estiver morta eu vou te dar uma surra na outra vida.

Art. Tive que rir dessa.

Tim informa, se não quiser que sua linha seja bloqueada
faça uma nova recarga em até 3 dias.

Fala sério.

Eram 6h da manhã, e nenhuma ligação de Dona Hera, não que eu ligasse, já estava acostumada.

Comecei a juntar minhas coisas enquanto mandava uma mensagem para Ártemis dizendo que estava viva. Dirigi até a lanchonete mais próxima. Pedi dois hambúrgueres que devorei tão rapidamente que deixei a atendente de olhos arregalados, mas eu estava faminta.

Na escola foi o mesmo tédio de sempre, se já não tivesse recebido uma advertência da policia eu não apareceria mais por ali.

Tudo corria dentro do normal para os padrões da Goode até a terceira aula, maldita aula de Francês que ia fazer tudo mudar.

– Turma, vocês poderiam entregar os trabalhos?

Um a um, os todos os trios entregaram o trabalho. Menos o meu, até que a nerd se levantou e entregou o trabalho, sussurrando algo com Sr. Brunner que não consegui entender, mas pelo jeito que ele me olhou eu soube que não era bom, na mesma hora.

– Senhorita Chase isso é inaceitável, - falou ele em tom calmo – devo comunicar que a Senhorita Grace e a Senhorita McLean não receberão notas.

– Mas o quê? – exclamei, como assim ela nos entregou? Estamos falando de Annabeth Chase, as pessoas podiam cuspir na cara dela que ela não faria nada.

– Por que não vamos receber nota? – perguntou a rainha da beleza, agora ela se faz de burra por acaso? Era obvio o motivo da nota em branco, e para a minha surpresa quem respondeu foi a loira.

– Fala sério, vocês esperavam mesmo que eu fizesse tudo sozinha e as levassem nas costas? – era exatamente isso o que achávamos, era o que ela sempre fazia com os outros.

– Chase, eu falei que estava ocupada! – McLean, você só piora as coisas.

– Ocupada com o que? Namorando? Isso não parece importante. – até que ela soube responder bem.

– Garota, você tem namorado? Ah, não tem? Já sei o motivo. – fechou a cara e se sentou, eu nunca tinha visto a rainha da beleza ser grossa com alguém, ao menos, não descaradamente.

Preferi não abrir a boca, sabia que perderia a discussão e ainda iria para a direção. Esperei a aula acabar com um plano surgindo em minha mente.

***

Sentei em uma mesa bebendo minha água, enquanto esperava pacientemente a garota passar, ela vinha com uma bandeja com algo que achei ser macarrão com carne moída, o especial de hoje. Eu sabia que isso não mudaria em nada o que houve, mas não pude evitar. Foi tão simples, tão estupidamente fácil que chego a me surpreender. Foi só esticar o pezinho para ver uma loira ao chão com macarrão em toda a roupa, sem saber ao certo o que fazer, todo o refeitório ria.

– Isso foi por me dedurar no trabalho. – Sussurei para que só ela ouvisse, quando levantei para sair, a estabanada da McLean vinha correndo olhando para o celular com um copo de suco na mão. Quando percebemos foi tarde, só pudemos ver uma Piper “voando” e uma certa loira com suco escorrendo pelo cabelo.

Deu pra ver que Piper até tentou se desculpar, eu particularmente achei ótimo. Mas, de repente todo o refeitório pareceu prender a respiração, e me virei para ver o porque. Afrodite estava ali. E eu soube que aquilo não iria ser bom.

– As três, para a minha sala. Agora.

***

Annabeth estava numa situação deplorável de se ver, ela tinha vários fios de macarrão no corpo todo, manchas de molho, carne nas roupas, fora o fato de seu cabelo estar molhado em algumas partes devido ao suco. Afrodite iria me expulsar, com certeza.

– Mas que... O que vocês estavam pensando? – Nossa psicóloga era uma mulher bonita, com certeza, com a pele bem conservada, que tinha o tom perfeito de bronzeado de dar inveja à qualquer mulher, tinha olhos surpreendentemente verdes, de um tipo difícil de encontrar, seus cabelos desciam em cascatas castanhas, moldando-se perfeitamente ao rosto de boneca. Igual à filha, era tanta beleza que chegava a me dar nojo.

Silêncio completo. Ninguém abria a boca.

– Andem, podem ir falando, não tenho o dia todo.

– Olha só, eu não fiz nada, estava apenas passando e ai tropecei nela que estava no chão e meu suco voou. Nem sei por que estou aqui. – ótimo rainha da beleza, dificulte para mim...

– É o seguinte Afrodite, - tentei uma desculpa – eu fui levantar, não vi a Chase vindo, ela tropeçou e fim. Foi tudo um mal entendido, e podemos todos ir. – encarei a loira vendo se ela teria coragem de me responder, e para o meu azar ela tinha. Aquela não era mais Annabeth Chase.

– Não foi nada disso dona Afrodite – disse ela se exaltando, levantando a voz, algo que achei que ela não fazia – Thalia colocou o pé para eu cair de propósito. Sobre Piper eu não sei, mas acho que ela não fez nada.

– Viu mãe? Até ela admitiu que eu não fiz nada. Me libera vai.

– Senhorita McLean, cale-se, não é a sua vez de falar, e aqui não sou sua mãe, sou a psicóloga escolar. Senhorita Chase, tem certeza disso? Thalia realmente fez isso?

– Fez.

– Sua louca – interrompi – eu não fiz nada disso! Você tem provas do que está falando?

– Não, mas...

– Sem “mas” garotinha, a tansa da McLean pode tropeçar, fazer algo sem querer, e eu não?

– Quem você chamou de tansa?

Continuamos discutindo enquanto Afrodite só olhava para nossas caras, até que nos interrompeu.

– Já chega. Eu disse já chega! Caladas. Vocês precisam de algo para concertar isso, claramente existem problemas graves entre vocês. Começou com um empurrão hoje. O que estarão fazendo amanha? – ela sentou e começou a pensar, até que levantou e começou a dar pulinhos de felicidade, típico dela quando tem alguma ideia. – já sei, já sei, eu sou demais. Vocês três suas pestinhas, irão fazer um... Trabalho. Sobre a vida das outras.

Ficamos sem entender nada.

– Trabalho? Como trabalho? Valendo nota? – loira, sempre fazendo perguntas.

– Notas? Querida, vale mais do que isso, vocês irão ver, e vão me agradecer no futuro. Mas, por agora, terá de valer algum incentivo. Se o trabalho for entregue direito, estarão garantidos três As em matérias que irei escolher. O trabalho consistirá em passarem um tempo juntas e escreverem o que aprenderam. Tem que ser algo consistente, e não qualquer bobagem. Vocês terão um mês para fazê-lo. Agora sem mais perguntas, saiam.

Levantamos uma a uma e saímos. Pasmas de mais.

– Eu vou ter que passar um mês com uma nerd e uma garota que só vive em torno de um cara?

– Do que você ta reclamando morcega gótica? Tem noção do quanto isso vai atrapalhar minha rotina? E minha popularidade então? Estou acabada, com certeza.

A loira ainda não havia aberto a boca.

– E você Chase? Não vai reclamar de como a sua vida é sofrida por ter que passar um tempo conosco? - ela respirou fundo e olhou em minha direção, e pude ver os olhos dela, azuis, quase cinzas, quando falou calmamente:

– Não, e você também não devia reclamar, afinal, isso é tudo culpa sua. Exclusivamente sua então se conforme com a sua estupidez.

E simplesmente saiu. Pela primeira vez na vida, Annabeth estava voltando a parecer uma garota comum.