Destinos Interligados escrita por Risurn


Capítulo 31
Capitulo 30


Notas iniciais do capítulo

Genteeeeeeeeeeeeeeeeeee, eu consegui. Sério. Me amem. Eu fiz esse capítulo gigantesco, lindo maravilhoso. Ah, é o último POV da Thalia, ok?
E, gente, gente, eu tô' tão empolgada.
Boas vindas para as minhas duas leitoras novas (que se manifestaram), bem vindas meus amores!
E, MrsMary, tá aí. Pra você. Agora quero ver a recomends vir mesmo *ri* Pode mudar. Eu não ligooo. Vai ser especial igual!
Vou esclarecer tudo lá nas notas finais. Até o/
P.S.: Para esclarecimento: caso alguém não saiba estou seguindo o calendário americano, então as aulas delas começaram no fim de Agosto e já se passaram quase três meses na história então estamos no fim de Novembro, ok? Por isso tá tão frio na história :3



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Thalia IX

God knows how I could have missed
Something as simple as this

Entrei no banco detrás do carro e fiquei olhando para o carpete em silêncio. Sentia Nico tenso no banco a minha frente. Agora eu me perguntava se aquilo havia sido realmente o certo a se fazer. Na hora que Percy falou sobre Luke - sobre o que ele fez com Annabeth - eu não pensei em mais nada. Tudo o que eu queria era vingança. Mesmo que ela não fosse mesmo minha. Esfreguei minhas mãos na calça preta, Nico suspirou, e pude ver a fumacinha branca escorrer para fora de sua boca devido ao frio.

– Eu... Eu pensei que você tivesse mudado. Agora você faz isso.

Mordi o lábio, sem levantar os olhos. Queria dizer que havia mudado! Que agora era diferente, gritar que ele era um estúpido por não ter notado. Mas no fundo eu sabia que ele estava certo, eu havia sido impulsiva. De novo. Como sempre. E, por mais que eu não pudesse evitar, acima daquilo tudo eu queria beijá-lo. E lhe dar uns bons tapas. Gritei comigo mesma por pensar naquilo. Como podia pensar numa coisa dessas? Suspirei.

– Não vai nem tentar se defender? – não levantei os olhos para lhe responder.

– Porque eu faria isso? Eu fiz o que fiz e não vou negar e nem colocar pretexto no que faço. E se você é cego o suficiente para não enxergar o que acontece comigo, o problema é seu. Além de que “pensei que você tivesse mudado” – fiz uma imitação genérica de sua voz – você ficou comigo pelo que sou ou pelo que achou que eu poderia me tornar? – dessa vez levantei a cabeça sustentando seu olhar através do espelho retrovisor. Aqueles olhos negros estampavam indignação. Quando ele abriu a boca para falar, Jason entrou no carro.

– Vamos? – ele estava estranhamente satisfeito e soube que ele havia feito algo com Piper.

– Se você fizer algo para ela, algo que a magoe, eu juro que te mato. – sussurrei entre dentes.

– Cuidado Jason, ela é bem capaz de cumprir a ameaça. – falou Nico, irônico.

Bufei e me recostei ao banco do carro, esperando chegar até minha casa. Nico estava impossível e aquilo por algum motivo contraproducente estava me matando.

Eles seguiram uma conversa mecânica da qual não fiz questão em prestar atenção. Meus pensamentos me levaram para longe. E eu queria um cigarro. Comecei a batucar meus dedos no encosto do braço para aliviar meu suposto estresse. Aquilo não fazia sentido. Não era a primeira vez que eu fazia algo naquela escala, na verdade, já fiz coisa muito pior.

Direcionei minha cabeça para Percy. Será que era isso que ele queria? Eu o carreguei para lá sem nem perguntar sua opinião. Annabeth estava abalada com tudo aquilo e acho que Percy está numa enrascada. Ela estava realmente furiosa com ele, mas ela precisa entender que só queríamos o bem dela. Sua segurança. Espero que um dia ela nos perdoe. Porque se não fizer isso Percy nunca irá me perdoar. E nem eu.

Suspirei. Eu havia me desligado completamente, Jason já nem estava no carro e estávamos a apenas uma quadra da minha casa.

– Thalia... – fechei os olhos com força.

– Não.

– Mas...

– Não. Eu não quero ouvir. Agora não. Eu estou cansada e você também deve estar, além de que, não estou com a menor vontade de ouvir bronca sua.

Nico estacionou o carro e não lhe dei nem chance de resposta: simplesmente pulei do carro e corri em direção à minha casa, trancando a porta atrás de mim.

Encostei a cabeça na mesma e suspirei. Porque aquilo estava acontecendo justo agora? Certo. Eu merecia. Mas prefiro fantasiar que ainda tenho alguma chance, vou me agarrar à promessa de Zeus.

Subi em direção ao meu quarto e olhei para minha cama, nem ao menos troquei de roupa. Simplesmente me joguei e esperei o cansaço me abraçar. Aquela havia sido uma longa segunda-feira e tudo o que eu queria era dormir.

(...)

Acordei com o sol de quase inverno queimando minha perna, me mexi na cama e entrei mais fundo em minhas cobertas. Eu só quero dormir. Meu celular vibrava histericamente ao meu lado.

Havia algumas ligações perdidas, mensagens de voz e de texto (que em grande parte diziam a mesma coisa: precisamos conversar). Mas eu não quero conversar. Não quero sair. Não quero ver ninguém. Só quero... Paz.

Levantei e fui cambaleante em direção à minha penteadeira. Abri a gaveta e achei o que procurava. Meu cigarro. Peguei um da caixinha e coloquei entre os lábios procurando um isqueiro. Finalmente achei e me preparei para acendê-lo: uma mão em forma de concha na frente do cigarro e a outra indo acender a chama. Mas me detive no meio do caminho. Aquilo não era o que eu queria de verdade.

Olhei para a mesinha do outro lado do quarto, que agora estava bem organizado por Ártemis. Havia uma folha em branco e uma caneta ao lado dela. No topo da folha, em uma caligrafia elegante que identifiquei como a de Art havia uma frase.

O que aprendi?

Fiquei pensando no peso daquelas palavras. O que, afinal, eu aprendi com aquilo tudo? O que Afrodite esperava com isso? Ela precisa entender que nós três não temos nada em comum, não importa o quanto ela se esforce. Somos opostas. Os opostos podem se atrair, mas isso nunca significou que eles dão certo e a maioria das pessoas se nega a ver isso. Quando vão entender que o mundo não é uma fábrica de realização de desejos? A vida é cruel, injusta.

Ouvi meu estômago roncar e olhei as horas. 15h37min. Bem, hoje eu não estava a fim de ir para a escola mesmo. Coloquei o cigarro de volta em sua caixinha, não seria hoje que eu o fumaria.

Desci para o andar da cozinha e vi que Art já havia deixado algumas coisas prontas para mim. Comi em silêncio, como sempre. Nas últimas semanas eu vinha evitando bebidas e drogas de todo tipo e tentado me alimentar melhor, o resultado já era visível à distância. Havia ganhado alguns quilos e uma aparência mais saudável, apenas o tom pálido de minha pele havia continuado, mas não me importei. Gostava dele.

Fiquei em minha casa a tarde toda, andando de um lado para o outro, explorando, como uma criança.

Quando achei que fosse morrer de tédio recebi uma mensagem, era de Piper.

Eu sei que tá meio tarde, mas você pode me encontrar no Starbucks em 20 min?

Olhei as horas e bufei. Desde quando nove horas eram tarde? Só para a Piper mesmo.

Coloquei uma calça de couro e um casaco pesado sob a roupa e sai. A temperatura continuava a cair, cada vez mais frio.

O outono estava chegando ao fim e o ar gelado era cortante. Dirigi até o café e entrei acreditando que teria de esperar por muito mais tempo até vê-la chegando, mas me enganei, ela já estava lá. Sentada, apenas me esperando.

Ela usava toucas e cachecóis, o que eu achei exagero. Mas estava linda como sempre.

– Oi. – disse me sentando, enquanto tirava o casaco.

– Pedi Cappuccino de Chocolate para nós todas, tudo bem?

Franzi o cenho.

– Nós todas?

– É. – ela mordeu o lábio. – Annabeth também vem.

Praticamente escancarei meus olhos. Annabeth estava vindo? Eu não estava preparada para conversar com ela ou vê-la. Ela me mataria na certa. A loira era uma menina doce, mas não queira ser fuzilada por aqueles olhos cinza. São assustadores, parece que ela consegue ler sua alma e sabe encontrar exatamente aonde vai te machucar para poder saber onde bater.

Engoli em seco quando ouvi a sineta indicar que alguém havia entrado no estabelecimento e eu soube que seria ela, sem sombra de dúvida.

Ela sentou ao lado de Piper e lhe deu um abraço e então olhou para mim, parecendo notar a minha presença, e foi ai que os olhos entraram em ação. Oh não, os olhos. Eles iam ver minha alma e eu não quero a Annabeth lendo a minha alma. Ela é boazinha demais para saber o que corre lá dentro. Se bem que eu acho que ela pode matar com aquelas orbes cinza. Acho que prevenir é melhor que remediar, então fechei os olhos esperando que ela desviasse o olhar frio.

Depois de alguns segundos achei que era seguro o suficiente olhá-las novamente e então abri um dos olhos. Tanto o cinza da Annabeth quanto o caleidoscópio de Piper me encaravam divertidos. Bufei.

– O que foi isso Thals? Acho que eu ia morder?

– Honestamente?

Os Cappuccinos chegaram e bebi em gole do meu. Quente e saboroso. Passei a língua pelos lábios.

– Então, o que estou fazendo aqui ao invés de estar no calor das minhas cobertas?

Elas me olharam descrentes.

– Vai dizer que não estava sem fazer nada em casa?

Franzi a testa novamente, descrente.

– Vocês estão me espionando ou algo assim?

Ambas rolaram os olhos.

– Não, - explicou Annabeth – é apenas o mesmo que estávamos fazendo. Eu não estava em condições de ir para a escola e o dia acabou como um tédio.

– O meu também.

Assenti com a cabeça. O nosso dia não havia sido tão diferente então. Sorri com isso, ao menos eu não era a única entediada por ali.

– Bem, vocês ainda não responderam o que estamos fazendo aqui.

– Olha, nós temos que escrever aquela maldita redação. – pensei naquilo. Acho que a folhinha em branco estava atormentando a todas nós. – E acho bom começarmos logo. Assim acabamos com toda essa coisa forçada.

Annabeth achava nossa relação forçada? Ela é a única que eu achava que poderia achar que aquilo era algo bom. Pelo visto, me enganei.

– E... Vocês tem alguma ideia?

Ambas ficaram em silêncio olhando para mim, e levei aquilo como um não. Elas não tinham ideias, assim como eu. Ferrou.

–Certo. Vamos pular essa parte – disse Piper, fazendo com que eu e Annabeth ficássemos confusas, bebi mais um gole do meu cappuccino – Eu chamei vocês aqui para perguntar algo mais importante que isso.

Franzi o cenho. Eu faço muito isso, acho que vou ficar com rugas antes da minha mãe, por Zeus!

Quer dizer, por Zeus não. Meu deus, quem dá a ideia para as pessoas colocarem nome de deuses nos filhos? Agora não vou mais poder falar Zeus em paz. Que droga.

Annabeth estalou os dedos na frente dos meus olhos me fazendo voltar a realidade. Pisquei.

– Não é segredo para nenhuma de nós que é realmente difícil passarmos tempo juntas. – ergui uma sobrancelha, que ótimo modo de começar uma frase – E que nós podemos nos matar se ficarmos muito tempo juntas e sozinhas. Então... Depois... Depois que o trabalho acabar, como... C-como ficamos? – senti a insegurança em sua voz. Ultimamente eu vinha me perguntando à mesma coisa. E o que vinha depois? Depois de o último verso ser lido, depois de o último fonema ser pronunciado.

Fiquei em silêncio. Eu havia me acostumado àquilo. Aquela rotina. Visitá-las, aguentar Percy e Jason. Até mesmo Piper. E, Deus, como isso foi bom. Mesmo que nunca vá admitir isso em voz alta eu sentia falta dela. Senti falta da rainha da beleza e tudo o que ela me trouxe de bom. Agora... Estranhamente um grupo de pessoas que não combinavam em absolutamente nada viviam juntas e incrivelmente se davam bem e só quem estava no meio de tudo sabia como era. Na verdade, nem quem estava no meio sabia direito como era. Confuso, não? É. Eu sei que não.

– Não sei. – disse Annabeth mordendo o lábio. – Está tudo tão... Confuso na minha vida. Não sei... Mas... Podemos tentar, não é?

Suspirei exasperada. Tentar? Tentar o que? Fazer um bando de lunáticos se enquadrarem? Nós parecemos o bando dA Era do Gelo. Sério. Você já viu? Porque se já, deve saber sobre o que estou falando.

– E vocês acham mesmo que isso seria produtivo? – elas me olharam em duvida. Levantei as mãos – Quer dizer, acham que isso daria certo? Por que, é como você disse. Nenhuma de nós se suporta.

Piper ficou vermelha de raiva e não entendi bem o porquê. Ela também disse isso, não?

– Se você não quiser mais falar com a gente, pode falar de uma vez!

– Eu não falei isso – rolei os olhos – Eu quero estar aqui. Entenda que se eu não quisesse vocês nem veriam a minha cara. Ou minha sombra ou qualquer coisa minha.

Elas me encararam e então bufei.

– Olhem, vamos deixar as coisas acontecerem, se for pra ser... Será. Entenderam? - Elas assentiram lentamente. Assim como eu. – Olha... Eu acho melhor ir para minha casa... Não quero mais ficar aqui. Desculpem.

Então levantei e sai. Entrei no meu carro e dirigi o mais rápido que pude. Não queria mais ficar ali. Queria ir para outro lugar, dormir, sumir. Não queria pensar em nada também. Cheguei a minha casa e fiz o que mais queria: deitei até não sentir mais nada e finalmente dormir.

(...)

Quinta feira. Já era quinta feira e minha vida ainda estava um inferno. Minha quarta feira foi tão tediosa que prefiro poupa-los da tristeza de saber sobre ela. Na verdade acho que vocês vão se interessar muito mais por fazer qualquer outra coisa.

Suspirei, levantando da minha cama e indo até meu notebook. Ativei uma playlist do Spotify sem nem ao menos olhar sobre o que se tratava. As músicas começaram a tocar e descobri qual era. A trilha sonora daquele filme de menininhas que estava passando agora. Se eu ouvisse mais um “O.K.” por ai eu mataria alguém. Mas eu tinha de admitir que as músicas eram boas. Acho que só pelo fato de começarem com músicas da Birdy já fazia valer a pena.

Peguei meu celular e fui checar meus recados. Havia uma pilha de mensagens e ligações perdidas que eu não fazia questão de atender. Eu não havia aparecido na escola desde o incidente com Percy na segunda, presumindo que ninguém ache que eu morri está tudo certo.

Na verdade, está sendo maravilhoso ficar em casa todos esses dias. Só tinha um problema. Uma coisa faltando. Aqueles olhos negros me perseguiam em meus sonhos, mas eu não daria o braço a torcer. Não seria eu a fazer isso. Recuso-me totalmente.

Sacudi a cabeça para afastar aqueles pensamentos até ouvir o barulho de algo sendo despedaçado. Franzi a sobrancelha.

– Artie? – grite. – Está tudo bem?

Estranhei. Ela não respondeu de volta. Aliás, ela nem está na casa, hoje é a noite de folga dela.

Abri a porta do meu quarto e olhei à minha volta. Não vi nada. Fui em direção às escadas, mas nem precisei ir longe. Hera estava caída ao chão, havia uma mancha de vinho na parede e uma garrafa estraçalhada ao chão, em sua mão esquerda uma taça estava quebrada e um pedaço do vidro estava dentro de sua pele. Franzi o nariz.

Eu odiava vê-la daquela forma. Eu queria mesmo saber o que aconteceu a ela para que ficasse daquele jeito.

Caminhei até ela e juntei os cacos da garrafa e os joguei no lixo. Tirei a taça de sua mão e a coloquei sob uma mesinha. Analisei sua mão e vi que aquilo era mais grave do que pensei. Eu ia ter que tirar os pedacinhos. Suspirei.

Arrastei-a até seu quarto comecei a despi-la. Odiava aquelas roupas, ela parecia uma prostituta dentro delas. Olhei para um quadro na parede, Hera em seu tempo de glória era muito bela. E elegante. Aquela mulher a minha frente não chegava nem aos seus pés.

Enfiei-a embaixo do chuveiro e deixei que se molhasse um pouco, tentei limpar sua mão o máximo que pude. Depois do desagradável banho que a submeti coloquei-a na cama, com muito esforço. Andei até o material de primeiros socorros no quarto da Art e voltei. Ela estava do mesmo jeito que a deixei. Podre de bêbada.

Sentei na sua cama e peguei uma pinça para tirar os cacos. Eu sabia que aquilo iria doer. Minha vontade era deixa-la onde a encontrei para que Ártemis cuidasse dela pela manhã, como sempre fazia. Mas ela andava tão cansada que seria egoísmo demais da minha parte fazer isso.

Suspirei, vidro corta para entrar e para sair. Concentre-se nisso. Vai doer bastante. E então comecei.

Um a um os cacos foram enchendo a vasilha e havia mais do que eu tinha percebido. O sangue voltou a correr. Peguei um algodão e comecei a limpar. Não havia deixado nenhum vidro sequer.

Joguei álcool ali, sabia que arderia, mas era necessário limpar. Percebi que um dos cortes era grande demais. Precisaria de um ponto. Fiz uma careta. Odiava pontos, já havia feito alguns algumas vezes e sem dúvidas eu os odiava.

– Quando... Quando você aprendeu a fazer pontos? – uma voz rouca perguntou próxima a mim, fazendo com que eu levasse um susto. Os olhos cor de mel de Hera encaravam-me fixamente.

– Há quanto tempo está acordada?

– Tempo suficiente. Porque está fazendo isso?

Não respondi. Dei a última volta para finalizar o ponto e guardei tudo. Ela suspirou.

– Você nunca vai me perdoar?

– Porque eu faria isso? – respondi, sem nem ao menos levantar meus olhos do que estava fazendo.

– Porque eu sou sua mãe. Você não pode me odiar. Leve isso em conta.

– Levar em conta? – levantei a cabeça e encarei firmemente seus olhos. – Você levou algo em conta quando fez o que fez? O fato de eu ser sua filha não lhe impediu de fazer nada. Porque o fato de ser minha mãe me impediria de fazer algo?

Ela não respondeu, cansei de ficar ali, me preparei para sair.

– Espere! – ela quase gritou – Não vá. Você... Nunca fala comigo. Fique mais um pouco.

– Se você estivesse sóbria o suficiente para perceber o porquê não falo com você tudo seria diferente.

– Quando foi que você ficou tão crescida? – ela tinha algo em seus olhos, algo que nunca vi ali. Satisfação.

– A partir do momento em que você me obrigou a isso, caindo bêbada pela casa e se comendo com estranhos em todos os cantos possíveis dessa repugnante mansão.

– Mas... Por favor. Vamos... Começar de novo.

– Você está se enxergando? Sinto seu hálito podre de bebida daqui onde estou. Você só está falando essas coisas por que está bêbada.

– Claro que não... Eu... Eu... Estou diferente, e...

– Não. Não fale mais nada. Repita isso amanhã de manhã. Quando estiver sóbria o suficiente. Ai sim verá alguma coisa.

Sai de seu quarto batendo a porta. Quando entrei em meu quarto conseguia ouvi-la chorar. Deitei em minha cama e esperei. Depois de meia hora os soluços pararam. Acho que ela finalmente dormiu. E, eu irei segui-la.

(...)

O mundo dos sonhos era realmente confuso. Acho que ele gosta de tirar sarro da minha cara. Na verdade, o mundo todo gosta de fazer isso. E é isso que eu fico pensando nessa sexta feira. Todas as pessoas que eu conheço devem estar se aprontando para sair para as nossas raves. Bufei. Aquilo não me atraia mais. Agora eu só conseguia pensar em suas coisas. Certo moreno de olhos negros e em Hera.

Como aquela mulher havia virado tudo de uma noite para a outra. Na verdade, as coisas só têm acontecido durante a noite essa semana. Estou encolhida debaixo das minhas cobertas esperando que algo realmente ruim aconteça. E com a minha sorte vai acontecer mesmo.

Bem, talvez, talvez apenas, seja porque eu só durmo de dia, então não me sobra nada pra fazer. E ficar vegetando em minha casa não me parece uma boa ideia.

Levantei de minha cama, torcendo para que não acontecesse nenhuma coisa doida essa noite. Peguei meu celular e os fones. Vesti uma roupa de frio e sai da casa.

Comecei a andar pelas ruas de Upper East Side tentando organizar meus pensamentos. Aquilo tudo era tão confuso... E sem nexo. Eu havia evitado Hera o dia todo, e eu continuaria evitando ela o máximo que pudesse. A verdade é que eu não estou pronta.

É isso ai, não estou mesmo. Não estou pronta para ouvir as desculpas dela, para vê-la, ou qualquer coisa. Simplesmente porque eu não estou pronta para perdoá-la. Ela pode tentar me comprar. Pode virar a melhor mãe do mundo que eu não ia conseguir perdoá-la. Nada vai mudar as coisas que ela fez. Nada vai fazer tudo ficar certo outra vez. Nada. Nunca. Não importa o quanto ela tente. O quanto ela se esforce. Não importa.

O vento frio vinha cortando em todas as direções. Eu via adolescentes caídos no chão. Chapados demais para fazerem qualquer coisa. Vi uma briga em um beco escuro. Ouvi alguém gritar por socorro. Percebi que eu já havia estado presente ali naquele cenário. Eram apenas personagens diferentes da mesma história. Já havia ficado escorada no mesmo poste onde um rapazinho está agora. Já havia transado com alguns caras no mesmo beco onde uma ruiva está tendo os peitos apertados, quase um filme pornográfico grátis. Já havia fumado com os mesmos caras que um homem alto e magrelo está andando em direção. Já havia gritado por socorro muitas vezes também, assim como fiz outros gritarem. Eu não me orgulho das coisas que fiz. Nem nunca vou me orgulhar. Mas tudo aquilo teve que ter um inicio.

Eu pude sentir os olhares de homens sobre mim. De mulheres. E não sentia mais medo. Já não sentia mais. Eles não podem me machucar mais do que já fui machucada. Nem se tentarem para valer.

Tudo por culpa dela. Se... Tivesse feito seu papel de mãe. Se tivesse feito tudo direito. Eu não estaria aqui. Eu não teria estado ali anos atrás.

Escorei-me em um muro e fiquei olhando o movimento. Outros adolescentes repetindo os mesmos erros que eu. Alguns conseguiriam se sair bem dessa, outros, nem tão bem assim.

Vi uma menininha. Não podia ter mais de quatorze anos. Não mesmo. Ela estava encolhida dentro de seus casacos. A segui com os olhos. Ela olhava para todos os lados, parecia assustada. Por um segundo tive pena dela. Era quase como se me visse ali. Uma mulher lhe convidou para chegar mais perto. A menina pareceu analisa-la de cima a baixo. A mulher era loira, vestia roupas minúsculas e parecia não sentir frio. A menina deu um passo para trás e negou com a cabeça. Deu o primeiro passo certo, sorri. Percebi que um cara ao meu lado a seguia com os olhos também. Olhei bem para ele. Apertava seu membro com as mãos, sob a calça. Seu “amiguinho” estava ereto, pude ver. Franzi o nariz, homem nojento. Ele deu um passo em direção à menina.

– Se eu fosse você, - falei em tom controlado e baixo – nem pensaria em fazer isso. Se você frequenta esse lugar, deve saber quem sou. – levantei o casaco, mostrei-lhe a faca presa à minha cinta-liga. – Estamos entendidos?

Ele engoliu em seco, assentindo, e voltou às sombras.

Continuei a acompanhar a menina. Torcia para que ela conseguisse sair integra daquele bairro. Aliás, o que ela estava fazendo aqui a essa hora?

De repente, ela viu algo e começou a correr. Parou então em frente a um homem que estava caído no chão, com uma garrafa de bebida em uma das mãos.

– Papai! – pude ouvi-la choramingar – Anda, levanta daí. O senhor consegue sair dessa. Vamos logo. É só uma bebida idiota!

Ela continuou a chamá-lo por um tempo até que ele finalmente levantou a olhando em surpresa e observou a nossa volta, assustado. Pude vê-lo formar com os lábios “você não devia estar aqui. É perigoso”.

E então a levou para fora dali, cambaleando. Ela sorria. A última coisa que a ouvi dizer foi: “Eu sabia que ia conseguir leva-lo para casa papai”.

Aquilo foi a minha deixa. Comecei a caminhar em direção à minha casa. Aquela menina tinha algo que eu não tinha. Algo que queria ter. Talvez eu devesse aprender com ela.

(...)

Sábados à noite. Eu sempre detestei sábados à noite. Pelo menos hoje eu estou mais tranquila, acho que aquela história de que coisas acontecem durante a noite era paranoia da minha cabeça. Está tudo correndo muito bem. Suspirei, trocando os canais da TV. Hoje eu havia decidido passar o dia fora da bolha que era meu quarto. (Mentira. Ártemis me obrigou a sair porque ela queria limpar tudo e agora estou com pena de subir e bagunça-lo).

A campainha tocou. Eram duas horas da manhã. Porque alguém viria aqui às duas da manhã? Eu nunca entendi esse esquema de “da manhã” afinal, é noite ainda. A campainha soou outra vez. Arrepiei-me. Talvez a maldição de coisas acontecendo durante a noite ainda não tivesse passado.

Fui em passos pequenos e controlados até a porta, toquei a maçaneta. Respirei devagar. Abri.

Um par de olhos encarava o chão, mesmo sem olhar eu sabia de que cor eram, estava com uma mão para trás e parecia nervoso. Quando finalmente percebeu que eu estava ali e abriu a boca para falar algo, fechei a porta em sua cara. Foi mal educado? Eu sei.

Voltei ao meu sofá e tirei a TV no mudo. A campainha soou outra vez. E outra. Bufei.

Abri a porta de supetão.

– O que você quer? – exclamei, exasperada.

Foi então que me dei conta do buquê em sua mão. Mordi o lábio. Eu não ia ceder por causa de um buquê realmente lindo de rosas negras. Aliás, aquilo ali deve ter sido caro.

– Oi pra você também. – ele parecia indignado porque fechei a porta. Mas, por que eu não faria isso? – Não vai me convidar para entrar? – bufei, lhe dando passagem.

– Olha, fala de uma vez o que você quer...

Ele colocou o buque em cima da mesa e se virou para mim, bufando também.

– Olha, eu tinha planejado algo bem romântico. Mas você não está ajudando, então vai ser do seu jeito.

E então me beijou. Assim. Do nada. Nem tive chance de resistir. Antes mesmo de perceber, já estava com as pernas enroladas em sua cintura, com os dedos em seu ralo cabelo da nuca, o puxando para mais perto. Tola, estúpida. Como eu senti falta disso.

– Sua cabeça dura – disse ele enquanto me beijava – custava mesmo atender o telefone?

Desceu os beijos para meu pescoço.

– Porque... Porque eu atenderia? – disse entre ofegos, enquanto ele me pressionava na parede.

– Porque você é a minha namorada.

– Sua namorada? Não fiquei sabendo de nada sobre isso.

– Ah, eu não te comuniquei? – ele perguntou, virando a cabeça de lado. Parecia tão fofo. Se não fosse eu ali, nem diria que ele está fazendo o que está fazendo.

– Comunicou? Como pode ter tanta certeza de que vou aceitar?

– Porque, - disse ele calmamente, me beijando – eu sei que você adora isso – ele removeu minha blusa – que nós temos.

Me beijou outra vez, apertando os dedos na minha cintura.

– Adoro é? – perguntei, arrancando sua blusa também – Quem te garante isso? – o puxei para meus lábios e ele começou a rir.

– Você acha que eu tenho alguma dúvida? – ele me desceu de seu colo e removeu minha calça.

– Você não deveria ter surtado daquele jeito na segunda! – chutei minha calça longe e comecei a desabotoar a dele.

– Eu sei, me desculpe. Eu fiquei preocupado com você. Com o que podia ter acontecido com você. – ele me beijou novamente chutando sua calça longe e me pegando no colo outra vez. – Onde é o seu quarto mesmo? – começou a distribuir beijos no meu colo.

– Se-segundo andar. Terceira porta à esquerda.

Não tive tempo nem de pensar, antes de perceber Nico já havia me jogado em minha cama. Aquele corpo... Não podia ser humano.

E me beijou mais uma vez. E outra. E nos amamos ali mesmo. No meu quarto. Na semana mais conturbada da minha vida. Eu simplesmente adoro reconciliações.


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Notas finais do capítulo

GENTE VOCÊS LERAM O ESPECIAL DO DIA 12? COM AS ESCRITORAS MAIS MARAVILHOSAMENTE MARAVILHOSAS? Não? Vão lá ler então!! (lá da Juhjackson)
E, ok. Foi lindo né? Ai ai.
A fic tá na reta final povo. Tem mais: Um POV Annie. Um POV Piper. O capítulo final e o epílogo.
Desculpem se parece muito rápido, mas pra mim foi ótimo e maravilhoso...

Qualquer dúvida. QUALQUER DÚVIDA que tiverem, me chamem, ok?

Ai. OK? :') Eu assisti A Culpa é das Estrelas. Tô' in love. Gente. Vão assistir e chorem, chorem, chorem muito. Ai ai.

Espero que gostem, de verdade...
Favoritem, deixem review, tô aqui pra isso (recomendações são bem vindas)