Thalia VII

Are you stuck inside a world you hate? / Are you sick of everyone around?
With their big fake smiles and stupid lies / While deep inside you're bleeding

Peguei minha bolsa e enfiei tudo que estava envolta dentro dela. Se eu ouvisse aquela garota falar mais uma coisa se quer eu iria pular no pescoço dela. Fiz o que era mais sensato: corri.

Mas... Ela acha mesmo, mesmo, que eu vou perdoar ela assim? “Oi Thalia, que pena que você precisava de mim, só que eu tava com a agenda lotada, sabe? Mas que tal ser minha amiga agora?”.

Tá. Olhando assim nem parece tão ruim. Mas quando desci correndo pareceu ser pior.

Mas ainda é ruim, né?

Meu deus, eu to’ enlouquecendo. To’ falando comigo mesma!

Sacudi a cabeça para afastar aqueles pensamentos. Descia as escadas correndo com Nico nos meus calcanhares. Literalmente.

– Nico! Dá pra ir mais pra trás? Eu vou cair desse jeito.

Eu tenho uma boca santa, só pode. Foi só falar e minhas pernas se enrolaram com as de Nico e, adivinhe, saímos rolando escada abaixo.

Nico estava resmungando, assim como eu. Paramos quando nos chocamos a uma parede, com ele em cima de mim.

– Pelo menos cai em cima de algo macio – ele riu – Tá precisando de um regime né?

– Dá. Pra. Sair. De. Cima. De. Mim?

– Onde você tá indo correndo desse jeito?

– Vou falar com o Chris! Eu quero saber que porra tá rolando aqui!

– Olha a boca.

– Nicholas, fica quietinho ai. – sim, o nome dele era Nicholas, ele me contou alguns dias atrás quando... Bem, não importa quando.

– Eu? Ficar quieto? Mas não vou mes...

I used to think one day we'd tell the story of us

Aquela voz continuou a cantar e minha bolça vibrava. Nico fez uma careta.

– Sério Thalia? Taylor Swift?

– Isso não é meu! – comecei a revirar a bolsa. Uma coisa rosa estava brilhando lá dentro e eu mostrei a Nico.

– “Casa do Percy chamando”. – ele leu - Acho que é o celular da Pips.

– Sério? Sério mesmo? Você acha que é dela? O que denunciou isso Niquinho? A capa rosa? O som de Taylor Swift? – ri revirando os olhos. – Eu vou é... – franzi as sobrancelhas. O toque já havia parado, mas o que me chamava atenção era o papel de parede do celular. Estavam ali Afrodite, Tristan, Piper, Jason. E mais duas pessoas. Um homem e uma mulher. Eu já vi esse homem antes. – Nico? Quem é esse?

Ele pegou o aparelho das minhas mãos e olhou.

– São os pais da Piper e do Jason. Certeza. Afrodite e McLean, “Tia” Rosa e o “tio” Zeus.

– Zeus. – saboreei a palavra. Era esse seu nome?

– Por quê?

– Espera. – Me senti lerda, acho que estou passando muito tempo com o Percy - Pai do Jason? Esse tal de Zeus é pai do Jason?

– Sim, eu já disse isso, mas...

– Ah não.

– Thals, eu to’ ficando preocupado.

– O Jason não. Qualquer um. Ele não. Pensando bem, o Nico também não, ia ser super estranho se o Nico fosse. – a essa altura eu já olhava para cima, jogando meus braços. – Vocês tão de zoação comigo né? Caras... Torçam pra que eu não possa chegar até ai quando morrer.

– Do que você tá falando? Ou... Com quem?

– Eu? – dei uma risada sem graça. – Só descobri a última coisa que eu queria saber.

– O que?

Comecei a remexer minha bolça e de lá tirei um papel amaçado. Uma foto.

– Pega. Parece familiar?

Nico ficou estudando a foto e levantou os olhos para mim. Eu já falei o quanto ele fica sexy quando está confuso? Dá vontade de morder aquela boca e...

– É o tio Zeus. Mas quem é a outra?

– A “outra” é ninguém mais, ninguém menos que Hera Grace.

– Grace? – ele continuava franzindo as sobrancelhas, meu deus, vou agarrar ele ali mesmo se esse garoto continuar com isso. O lerdinho é o Percy. – Mas... Você não é Grace?

– Sim.

– Mas o que...

Bom, eu avisei. Juro. Quando vi já estava beijando aquela boquinha maravilhosa e mãos curiosas exploravam meu corpo.

– Nico... Ele não é realmente seu tio não é? – disse entre ofegos. Aquela mãozinha era bem curiosa.

– Não... Eu só o chamo assim porque ele e meu pai eram próximos quando eu era pequeno.

– Ótimo. – então lhe beijei de novo.

– Mas... – como ele consegue falar numa hora dessas? - Thalia, o que significa tudo isso?

– Ah sim, - me afastei dele. – Isso significa que eu tenho que ter uma conversinha com a dona Hera.

– E sobre o que exatamente? – levantei uma sobrancelha.

– Nico sua voz afinou?

– A minha voz o que? Cabeça oca, não fui eu que falei.

– Fui eu. – Piper estava de pé atrás de mim e pegou seu celular das minhas mãos. – O que você estava fazendo no meu celular?

– Esse cara ai é o pai do Jason mesmo?

– É. Por quê?

– É. Então crianças... Eu vou indo. Nico me dá uma carona até em casa?

– Sim, mas...

– Ei! – aquela voz já estava me irritando. – E eu?

– Você o que?

– Tá, vai me deixar aqui?

– Vou. O quê que tem?

– Argh. Mas nós precisamos conversar.

– Não precisamos não.

– Precisamos sim.

– Não.

– Sim.

– Não.

– Não.

– Sim.

– Há!

Rolei os olhos, não acredito que cai nessa, Nico estava escorado com uma cara de entediado.

– Vamos logo e parem com isso.

***

Eu já falei que eu tenho um autocontrole incrível? Não? Pois então, aqui vai: Eu tenho um autocontrole incrível.

A “rainha da beleza” estava no banco de trás com um bico que quase saia do carro. Afinal, ela quer conversar o que? A conversa ali já acabou.

– O que você vai fazer? – Era a quinquagésima vez que ela me perguntava isso, e seria a quinquagésima vez que eu a deixaria sem resposta.

Minhas mãos começaram a suar. Eu ia mesmo falar com ela? Afinal, eu preciso saber?

Preciso. Não vou dar pra trás agora. Quero explicações. Já. Pra ontem.

Quando chegamos até minha casa fui direto para o quarto da minha mãe, onde sabia que ela estaria. Certo, agora eu estava nervosa.

A porta estava fechada, mas não trancada. Havia roupas em todo canto, no chão. E um cheiro horrível de bebida.

– Você me deve explicações Hera.

A mulher levantou a cabeça parecendo finalmente perceber minha presença, seu cabelo estava bagunçado e seu roupão cheio de manchas, em uma das mãos tinha algo que acredito ser bebida. Ela está sempre bebendo.

– Olhe o seu tom comigo mocinha.

– Olhe você o seu tom comigo! Quer saber? Direto ao ponto. Reconhece? – joguei a foto velha e amassada para ela, que se esticou para ver, quando finalmente distinguiu quem era engoliu em seco e me olhou de olhos arregalados.

– Onde achou isto?

– Onde você acha? No lugar que você escondeu!

– Quando?

– Faz algum tempo.

– E o que você quer?

– A verdade.

– Eu já lhe disse a verdade. – era claro seu nervosismo. Tremia. Estava pálida. Engolia em seco. Que feio mamãe.

– Tem certeza? Então ele está mesmo morto?

– Mas que pergunta! Você sabe que está.

– Tem certeza mamãe? – não reconheci minha própria voz. Ela engoliu em seco, de novo.

– Tenho.

– Então como explica isto? – joguei meu celular que agora tinha aquela foto. Achei que ela fosse desmaiar ali mesmo.

– Onde você conseguiu isso?

– Não interessa.

– Claro que interessa.

– Acho que não. Afinal, pessoas mortas já não interessam. – ela sorriu debochada.

– Então você já sabia pirralha?

– Porque você não me contou? – gritei.

– O que você queria que eu tivesse falado?

– Qualquer coisa! Qualquer coisa! Ele... Ele poderia ter feito o que você não fez.

– O que? Ele? Ele não faria nada. Acredite.

– Como você pode saber? Você não faz nada! Não ele! Ele sequer sabe que eu existo?

– E pra que ele iria querer saber? Uma pirralha como você... Não faria a menor diferença.

– Para! – nós duas estávamos alteradas e gritando. Ela pela bebida. Eu, pelo ódio.

– Parar com o que? Ainda nem comecei... Se ele realmente soubesse que você existe teria vergonha. Está ouvindo? Vergonha.

– Cala a boca! – ela estava tão perto que eu conseguia sentir seu hálito de bebida, fétido, invadindo minhas narinas.

– Ele teria vergonha de te mostrar para os outros. De saberem que...

Um estalo soou pelo quarto e meus dedos estavam desenhados no rosto de Hera.

– Como você ousa...

– Como ousa você! Sua... Irresponsável! Sabe tudo o que me fez passar? Essa... Sua pose de mãe, mas que de mãe não tem nada! Você ao menos se preocupa? Sei lá. Pensa no quanto talvez isso tivesse me ajudado? Mas não... Preferiu me ver... Detonando a minha vida e não estava nem ai. – maldita. Não merecia nenhuma daquelas lagrimas que estavam escorrendo. – Eu me ACABEI. Você não consegue nem sonhar com tudo o que fiz, sem ninguém, ninguém pra me ajudar. Eu não sei qual dos dois é pior.

Levantei a cabeça e sai. Minhas perguntas foram respondidas. Ou não. Mas foi bom que ela soubesse que foi tudo culpa dela. Afinal, a culpa é dela, não é?

– Tá tudo bem? – Nico, suspirei. – Nós ouvimos gritos e...

– Não. Tá tudo bem.

– Thalia... Seus olhos estão inchados. – Sério Piper? Como você descobriu isso sozinha? Funguei.

– É. Eu sei.

– Então... Pra onde vamos agora?

Levantei os olhos para Piper, e sorri de canto. Uma ideia surgindo.

– Cunhadinha, acho que está na hora de fazer uma visita pro seu sogrinho.

Preciso dizer que os dois ficaram de boca aberta? Pelos deuses! Eles não tinham mesmo descoberto antes?