“ ... Então, Athena nos enviou de volta para o Santuário, ficando lá apenas ela, Pégaso e Hades. Não sei o que aconteceu lá, mas sei que a alma de Hades não está sob aquele selo. Espero que isto não signifique um problema mais futuramente...”

Essas palavras foram escritas pelo ultimo mestre, o antigo cavaleiro de ouro e um dos únicos sobreviventes da ultima guerra santa, Shion de Áries. Seus temores estavam certos. A enorme desordem formada ao fim da guerra, a alma de Hades foi mandada para o inferno e apenas seu cosmo foi selado sob a torre, junto às almas de seus espectros mortos na guerra santa.

Então foi isso. Sua alma subjugada pela Deusa foi enviada de volta aos seus domínios, enfraquecida foi atirada novamente no fundo do inferno, para ser esquecida por mais de duzentos anos. Sem seu cosmo, nada poderia fazer. E com isso se fez a paz. Até agora.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

O céu estava diferente pela manhã. Grandes e pesadas nuvens cobriam o céu em torno do castelo e aquilo se espalhava. O sol por entre elas deixava tudo com um tom envelhecido. Aquele clima pesado, aqueles cosmos todos em torno do lugar, era algo diferente. Algo que Shun ainda não havia presenciado.

Sob a sacada no topo da entrada do castelo, sentia aquela explosão de cosmos. A floresta em torno do lugar se tornara mais sombria, as plantas, as pedras, o vilarejo próximo tudo devagar perdia a cor. Mas ele sabia que aquilo iria acontecer. Ele o dizia isso, sempre disse. Era por isso que ele estava esperando por mais de seis anos.

- Senhor Hades... Finalmente – Sussurava para si mesmo. –... Começou.

Os portões do castelo se abriram devagar, liberando as trevas que predominavam dentro do lugar. Delas surgiram centenas de vultos, que se espalharam. Para todos os lados, em alta velocidade, com destino a cada canto do planeta. Aquela não era uma guerra direta e sim uma guerra de conquista de território. Quanto mais lugares dominados, mais difícil seria para Athena. Logo o santuário mobilizaria vários cavaleiros para reconquistarem os locais, porém será tarde.

Aquela energia era contagiante, e aquele sentimento de empolgação fez com que sentisse novamente aquela dor. A fisgada do lado esquerdo do peito o fez segurar com força o batente da sacada. Mas aquela dor não era nada comparada com o que já passou. Aliás, se fosse necessário, faria tudo de novo.

A última vez que havia sentido aquela dor já fazia um tempo. Estava um pouco longe do castelo, perto de um braço de rio que corria fervorosamente mesmo sem uma grande extensão. Não só doía o coração, como este se apertava dentro da Sapuris. Na margem do rio, o corpo inerte de Ikki de Fênix. O sangue já não corria mais dos ferimentos no peito e cabeça. Não havia mais cosmo nele. Não restara nada mais do que um corpo com um retalho de armadura. O rio o empurrava com a força da água, e lentamente ele sumia rio adentro. Ali o sepultava, em silêncio. Seu rosto sério não demonstrava nada. O adeus foi dito por apenas uma lágrima que escapou dos olhos frios de Shun.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Não era só na Alemanha que havia um alvoroço dês de o dia amanhecer. O céu escurecido na Grécia também causou uma euforia geral. Cavaleiros subiam e desciam as escadarias para o santuário, nervosos. No topo, sob os pés da estatua que regia o santuário, A jovem Athena observava o horizonte. Em sua mão, o Báculo dourado reluzia, e suas vestes brancas esvoaçavam ao vento. Dês de que o selo se libertou aquela garota não parecia à mesma. Atrás dela, O grande mestre, com suas vestes brancas e seu elmo dourado, frete a uma linha de cavaleiros em silêncio a observavam. Com suas armaduras brilhantes e seus cosmos poderosos, preparados para este momento tão importante. Os cavaleiros de ouro, a elite do Santuário aguardavam as ordens da deusa.

- O que devemos fazer, Athena? – Questionou Mu de Áries. Todos ali perguntavam ou tentavam dar opiniões a Deusa e ao Mestre.

- Devíamos nos espalhar pelo mundo e acabar com cada espectro que surgir – Disse Milo de escorpião.

- O melhor seria permanecer e proteger a Deusa Athena. – Respondeu Aldebaran de Touro. Os dez cavaleiros de ouro se questionavam sob a melhor opção.

- Esperem, Athena deve decidir isso. – Shura de Capricórnio interrompeu uma discussão entre os cavaleiros.

- Ele tem razão, ela saberá o melhor para a terra. – Camus de Aquário concordou.

- Então, Athena? – Shaka de virgem, em silêncio até então a questionou.

A jovem de costas, transbordava de apreensão. Apreensão notada apenas por Dohko e Mestre Ares. Os outros, cegos por sua esperança naquela garota, esperavam uma decisão. Saori fechou os olhos, e meditou por alguns minutos. Depois, sem se virar, respondeu.

- Vamos aguardar. Ainda não sentimos seus cosmos. Não vamos nos precipitar. – Disse simplesmente. Não ouve resposta dos cavaleiros. Alguns pensaram em retrucar, mas foram impedidos por outros.

- A decisão de Athena é absoluta – Disse Aioria, ainda que no fundo estivesse contrariado.

Retiraram-se, deixando Athena sozinha com o grande mestre.

- Sabia decisão Athena. – Disse o mestre, embora a jovem continuasse em silêncio.  Sua falta de experiência já era esperada, e sabia que com o tempo ela aprenderia. Saga então se retirou. Deixando a jovem sozinha. O céu logo escureceria, mas ela permaneceu ali, imóvel.

Algum tempo depois, já em seus aposentos, recebeu a visita de Seiya. Fazia tempo que não o via, andava sempre ocupada com o mestre e Dohko. Ambos conversaram na sacada do templo de Athena, falando do torneio e sobre os amigos que se foram. Tudo havia mudado tanto em tão pouco tempo.

- É incrível não é? – Disse o cavaleiro de Pégasus.

- É sim. – Disse Saori, observando o luar. O céu continuava com uma cor diferente. – Eu tenho medo, Seiya...

- Medo? –

- Sim... Medo de não conseguir protegê-los... – Falou, apreensiva.

- Saori, não se preocupe. Você não tem que nos proteger, tem que nos guiar. Nós a protegeremos. – Disse o cavaleiro de bronze sorrindo, o que fez a garota sorrir junto. Continuaram ali, observando as estrelas por um bom tempo, como se não houvesse mais nada em volta.

A mesma serenidade também se refletia em outro lugar do planeta. A música suave que vinha do fundo do local sombrio parecia dar vida a tudo. A luz do luar iluminava a sala inteira graças à bela cúpula de vitrais decorados no teto, sob a harpa de onde nascia tal melodia. De olhos fechados, Pandora parecia desligar-se do resto do mundo naquele momento de tranqüilidade. Junto à base de pedra onde ficava o instrumento estava Shun. Sentado ao lado da jovem, seus olhos curtiam os raios de luz branca que iluminavam o local. Suas vestes simples – uma calça e uma camiseta sem mangas, negras, surradas e desbotadas, com uma sandália grega – se destacava entre os outros, com vestes finas e ornadas.

- Fazia tempo que o castelo não ficava tão silencioso. – Disse pandora, entre as notas da harpa. Dês de que os espectros começaram a chegar o local havia ficado bastante conturbado.

- Tem razão. – Respondeu o jovem, pensativo. – Vários espectros já partiram.

- E logo mais irão. Senhor Hades está certo em deixar os deuses gêmeos encarregados por enquanto. – Falava, ainda de olhos fechados. Não precisava enxergar as notas que tocava.

- Sim. Principalmente mestre Hypnos. – Respondeu, agora levantando a cabeça para ver Pandora. – Mestre Thanatos é um tanto nervoso.

- Você é louco de falar uma coisa dessas. – A resposta foi seguida por algumas risadas de ambos e logo após de um silêncio. Shun se mantinha pensativo, perdido na musica da jovem, até retomar a conversa.

- Quando acha que terei que lutar novamente? – A pergunta foi simples, mas Pandora pensou um pouco antes de responder.

- Eu não sei. Creio que quando os espectros já estiverem por todo o mundo, se iniciará as batalhas.

- Atacaremos o santuário?

- Não, não, acho que não. É algo arriscado. – Disse, terminando a musica e abrindo os olhos. – E você sabe que o Senhor Hades não gosta de perder seus espectros em vão.

Shun esboçou um sorriso.

-Eu sei.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Não demorou nada para os espectros se espalharem e começarem a aterrorizar as pessoas. Por onde passavam destruíam tudo e deixavam um rastro de sangue e morte. Isso logo chegou ao conhecimento do santuário, e com isso grupos de cavaleiro foram enviados a diversos lugares para conter o avanço dos inimigos. A região em torno do castelo Heinstein era inatingível, e cada vez piorava. O local foi isolado sob cadeias de montanhas graças ao poder dos deuses gêmeos, estes que observavam toda a movimentação por seus poderosos cosmos. Eles eram a autoridade máxima ali, eram os auxiliares mais confiáveis de Hades, mesmo que nem sempre entendessem completamente suas ações.

A jovem Athena agora ordenará varias expedições com o intuito de proteger as pessoas,um grupo  de soldados e cavaleiros de prata e de bronze, com sorte liderados por um cavaleiro de ouro. Vários lugares, já bastante destruídos eram palco para batalhas desiguais. Em numero, os espectros de Hades eram invencíveis, quanto aos cavaleiros permaneciam desvantagem constante. Qualquer perda era significativa para um exercito de tamanho reduzido.

- Nós não temos cavaleiros suficientes para perdas inúteis. – Lembrava Camus de Aquário, reunido com os cavaleiros de ouro no salão de Athena.

- Ele tem razão. Nos últimos anos o número de recrutas para aprendizes e soldados diminuiu muito. – Completou Shura de Capricórnio.

- Deve ser graças ao comando do Grande mestre quando tomou posse... – Alfinetou Milo de Escorpião. O grande mestre nada disse. – E aos treinamentos muito rígidos que são impostos aqui no santuário.

- Sem falar em batalhas contra os cavaleiros negros. – Completou Afrodite de peixes.

- Tem razão. – A jovem Athena disse, concordando com todos.- O importante é que não podemos ter baixas nos números.

O pensamento de Athena se estendeu pelo santuário que já sentia as mudanças. Vários cavaleiros e soldados voltavam feridos ou não voltavam, Rodorio teve sua vigília reforçada, mas as pessoas continuavam com medo de uma guerra estourar. Os cavaleiros passavam agora a maior parte do tempo treinando e alertas, para estar pronto a qualquer sinal de tormenta.

- Nessas condições, cada cavaleiro aqui deverá dar o máximo de si, por seus companheiros e pela terra. – Continuava Athena. – E eu acredito que todos estão dispostos a isso, e eu confio em vocês.

Os cavaleiros de ouro concordaram com gestos e seus cosmos também transpassavam essa confiança. A garota que havia chegado a pouco mais de mês ali já se tornava mais forte.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

O castelo que servia de abrigo ao exército de Hades era rodeado de cosmos malignos, vindos dos inúmeros espectros que ali se encontravam. Dês do inicio, era o maior numero que Shun já havia visto juntos. Faziam mais de seis anos que estava lá, e havia vários rostos estranhos para ele. Andava por um corredor escuro agora melhor iluminado. O som dos seus passos ecoava pelo lugar, mas se perdia no som de vozes e ruídos daquele enorme grupo reunido no hall principal do castelo.

Ali o cenário resguardava ainda um pouco da riqueza dos seus tempos de ouro. Adornos tornavam as pilastras que formavam um corredor no grande salão em imensas obras de arte; as grandes janelas de vidro iluminavam o local com a fraca luz de um sol apagado pelas nuvens. O tapete escuro no chão já estava desgastado, mas ainda era belo. Os vultos negros se amontoavam com suas vestes de guerra, falavam alto ou não. Mantinham-se em grupos, e outros se isolavam. Em maior numero do que espectros, os soldados menores permaneciam em silencio, no fundo apenas observando. E ali não estavam todos os espectros, pelo contrario: Grande parte estava em outros lugares. Aquele era apenas o grupo convocado pelos deuses gêmeos.

Shun seguia pelo centro do corredor formado pelos servidores dos deuses. Sua sapuris destacava as quatro asas negras dobradas de forma sublime, e carregava seu elmo em uma das mãos. A sua frente, a massa de soldados se abriu, revelando sob a escadaria, a figura dos dois comandantes daquele grande grupo. O jovem juntou-se a Pandora do lado esquerdo do local, fechando assim novamente o circulo formado pelos espectros.

- Por que fomos chamados? – o jovem perguntou discretamente a pandora, que deu de ombros.

- Convocação urgente. Devem ter decidido uma estratégia.- Respondeu, enquanto os espectros aguardavam o inicio do discurso.

No topo da escadaria, junto a Harpa da jovem herdeira, suas armaduras reluziam. Não era como o brilho de uma sapuris, e sim algo maior, divino. Uma Kamui, com adornos fantásticos, feita pelos deuses e usada apenas por eles. Observando de cima a formação de guerreiros: Ao fundo, um sem numero de soldados rasos armados com foices e lanças e protegidos por vestes simples; mais a frente deles, vários espectros de sapuris brilhantes e escuras como a noite em pé formavam um meio circulo, no qual o centro era ocupado pelos mais importantes ali; Os três juízes do inferno.

- Finalmente todos estão aqui. – Começou Hypnos, o deus do sono. – Como representantes do imperador Hades e generais do exército, iremos começar imediatamente a exercer essa função.

- Os espectros já se espalharam por grande parte do planeta, o que já era esperado. Agora, é a hora de começarmos a agir.

Os espectros murmuraram algo, em concordância com os deuses. Os juízes porém se mantinham em silêncio, e apenas ouviam as ordens. Nenhum rosto ficou surpreso com o anuncio seguinte, exceto Shun.

- Nos decidimos que este é o momento. – Dizia Thanatos, Deus da morte, concluindo o que o irmão dizia. – Iremos atacar o Santuário! Que a batalha comece!!