O sol da manhã era bloqueado pelas grossas cortinas do quarto de Eveline. Ela estava semiacordada quando uma criada abriu um pouco cortinas, com um irritante som. Eveline semicerrou os olhos e enterrou o rosto um pouco no travesseiro. Estava com tanto sono. Não havia dormido muito bem, por que estava ansiosa para aquele. O que tinha aquele dia de tão especial, ela não recordava por causa do sono que preenchia sua cabeça.

_Acorde senhorita. _ Disse uma de suas criadas. A mais nova.

Eveline suspirou resignada. Assim que se espreguiçou, sentiu sua mente clarear. “O que vai acontecer hoje mesmo?”. E a lembrança veio quase com um estalo.

As famílias chegavam hoje!

Eveline saltou da cama.

_As famílias chegam hoje!_ Disse ela animada para suas criadas. Estas riram da sua súbita explosão de felicidade.

Ela tomou seu banho e se arrumou. Um vestido creme era perfeito para a ocasião. Por um momento se olhou no espelho. Será que seus pais iriam achar que ela havia mudado muito. Evy era uma Três. Ela não era pobre nem nada parecido. Talvez as mudanças pelas quais ela havia passado eram mais psicológicas do que físicas.

Eveline sacudiu um pouco a cabeça acordando. De que adiantava perder tempo com pensamentos como aquele? Hoje era um dia feliz

***

Todas as selecionadas estavam nervosas. A maioria delas não aguentava estar paradas no Salão. Janine conduziu todas elas para fora do palácio. A cadência dos saltos as transformava em um exército robótico de princesas. A fila ficou disposta ao longo do tapete vermelho. Em primeiro lugar estava a família real. Depois a fileira de Selecionadas. E então do portão principal um vulto preto ficou visível. Minutos depois a sombra tornou-se uma caravana de sete limusines. Elas estacionaram na frente do tapete vermelho. Os choferes desceram do carro e abriram as portas. As famílias saíram dos carros.

Eveline perscrutou a multidão em busca de sua família. E finalmente encontrou seus pais e seus irmãos. Ela correu até eles se atrapalhando um pouco com os saltos. E por fim alcançou sua mãe e a abraçou. O resto da família juntou-se as duas naquele abraço coletivo.

Assim que ela matou a saudade desesperada que sentia, lembrou-se da recomendação de Janine. Olhou ao redor e percebeu que todas as selecionadas tinham feito a mesma coisa. Ao lado da família real, Janine sorria. Nunca tinha achado que as Selecionadas iriam aceitar a recomendação mesmo.

_Filha!_ Disse a mãe de Eveline e a abraçou novamente. _ Você está tão magrinha!

Eveline revirou os olhos e sorriu.

_Mãe, eu estou do mesmo jeito...

_Eles estão te obrigando a fazer dieta?

_Claro que não mãe. Eu continuo pesando o mesmo. _ respondeu ela

_É querida _ Intrometeu-se o pai de Eveline. _ Deixe de paranoia aposto que todos aqui no palácio tratam muito bem ela.

Eveline assentiu confirmando a afirmação do pai.

_Evy! _Disse por fim seu irmão ele a abraçou. Philip era mais velho que ela um ano. _Então esses príncipes não fizeram nada com você não é?

_ Claro que não! Que pergunta. Todos aqui são muito respeitosos.

_Mas você acha que ele gosta de você? _ Perguntou Eloíse, sua irmãzinha mais nova.

_ Não sei Lizie _ Respondeu Eveline com sinceridade.

Ela pegou a irmã no colo, e os cinco seguiram em direção ao palácio.

***

O Salão principal estava repleto de pessoas. Eveline estava sentada em um grande sofá conversando com Philip. Ela estava tomando conta de Eloíse que brincava com irmãos de outras Selecionadas mais a frente. Eveline havia concordado de ficar de olho nela enquanto seus pais conversavam com a família Real.

_Então, não tem nenhuma amiga para me apresentar?_ Perguntou ele com um sorriso torto.

_Não!_ Respondeu Eveline dando-lhe um soco no ombro de brincadeira.

_Aut!_ Reclamou ele enquanto ria.

_Bom, se você não vai me apresentar, eu vou ter que fazer isso sozinho..._ Disse ele levantando-se do sofá e se dirigindo as mesas.

_Philip, não vai fazer besteira, hein?_ Pediu Evy.

_Está bem_ Respondeu ele distraído.

Evy suspirou de tédio. Ela tinha de ficar olhando a sua irmã. De repente um garoto deixou-se cair ao seu lado. Ele olhou para ela deixando-a incomodada.

_ Selecionada?

Ela olhou para ele para confirmar que a pergunta havia sido dirigida para ela.

_S-sim. Eveline Wright.

Ele sorriu. Tinha sardinhas. Seus olhos eram castanhos e ele tinha cabelos ruivos.

_Você deve ser irmão da Mellanny, não é?_ Palpitou ela.

_Como sabe?_ Perguntou ele surpreso.

_O cabelo..._ disse ela sorrindo.

_Ah..._ Entendeu ele. _ Mas qual deles, você sabe?

_Ah, isso não. Eu não saberia nem se vocês me fossem me apresentados..._ Respondeu ela.

Os dois irmãos de Mellanny eram gêmeos idênticos. Ela não recordava o nome deles, mas sabia que eles eram mais velhos que a amiga.

_Todo mundo acha que só porque somos gêmeos idênticos, é impossível nos diferenciar.

_Mas, não é impossível?_ Perguntou ela fingindo surpresa.

_Não! _ Disse ele ultrajado enquanto ria.

_Eu sei. Estou só brincando...

Ele sorriu.

_Ah, é... Eu sou o Drew. O meu irmão é o Jacob

Ela assentiu.

_Mas então como se diferencia um do outro?_ Perguntou Evy.

_Bem o nosso corte de cabelo é diferente._ Disse ele pensativo. _ E eu tenho essa cicatriz_ Ele apontou para a linha da mandíbula esquerda, onde se via uma cicatriz fina disfarçada pelas sardinhas.

_Como eu vou enxergar ela?_ Perguntou Eveline rindo.

_É por isso que é mais fácil reconhecer pelo cabelo._ Respondeu ele.

Eveline sorriu. Estava prestes a perguntar como ele tinha arranjado aquela cicatriz quando uma mulher mais velha apareceu. Talvez fosse a mãe de Mellanny.

_Drew, ande logo filho._ Pediu ela. _ Eles vão mostrar nossos quartos.

Drew olhou para Evy meio desapontado.

_Bem, foi um prazer te conhecer Eveline. A gente se vê depois._ Disse Drew antes de seguir a mãe.

Evy assentiu, já só, no sofá.

***

Era cerca de seis horas da tarde. O sol preguiçoso trocava de turno com as estrelas, enquanto a lua já começara sua vigília há muito. Admirando tal espetáculo, estava Evy. Ela estava escorada na varanda observando não só o céu como o jardim.

Dentro de seu quarto estava sua família. Há pouco tempo também ela estivera lá dentro, mas seu pai havia começado a conversar com seu irmão e ela aproveitara para tomar um ar fresco. Aquele havia sido um dia cansativo. Feliz, mas cansativo.

A mãe de Eveline saiu à varanda.

_Tudo bem Evy?_ Perguntou ela preocupada.

_Sim._ Respondeu Eveline._ Por quê?

_ Não é que você parece diferente. Está preocupada?

_Um pouco. _ Disse ela e voltou a fitar o céu noturno. Depois de um tempo continuou. _ Mãe, não tem problema se eu não ganhar a Seleção, tem?

_Claro que não!_ Disse sua mãe prontamente._ O que importa filha é que você seja feliz. Seja ao lado de um príncipe ou ao lado de outra pessoa. Não se preocupe com isso...

_Obrigada mãe._ Disse Eveline.

As duas se abraçaram por um bom tempo.

_Vamos entrar._ Disse sua mãe._ Senão eles vão sentir nossa falta.